IsabelaNão sei o porquê estou fazendo tudo isso. Com certeza era um erro, já que não costumo dar ouvidos para William. Com o que concordei? Ficou meio vagou e não sei como reagir agora. Esse jantar estava sendo uma tortura. Geralmente gosto de estar sob controle de tudo, não ser a vítima aqui.Eu poderia dizer que a comida estava excelente, só que eu nem estava prestando atenção no sabor, pois minha cabeça não deixava, um segundo, o pensamento de que, a qualquer momento, esse homem iria aprontar algo.Tudo isso é culpa sua, Isabela. Se não tivesse concordado com, seja lá o que for, estaria comentando sobre o contrato, seria seca e iria embora, antes que ele achasse que teria chance de te capturar. Contudo, foi aceitar algo perigoso, e agora está na teia de aranha.- Parece tensa. – Ele comentou, me trazendo de volta a realidade. – Com medo de algo?Respirei fundo, revirando os olhos. O idiota nunca deixaria de ser o que é. Sempre com piadas e provocações. Me pergunto sobre o porquê c
Eu precisava desabafar de alguma forma. Talvez por isso eu tenha convidado minha cunhada para vir até minha casa, ainda com o filho no colo, e contar para ela a loucura que fiz. Foi impulso. Ela me pegou desprevenida em um momento de fragilidade, quando minha cabeça estava uma confusão, mas, no fundo, a culpa era minha. Não podia culpar ninguém, nem o destino, nem as circunstâncias. Foi minha escolha, e as consequências também eram minhas. Todas as culpas, na verdade.Samanta me olhava com aquele olhar dela. Não era ameaçador, mas carregava algo que me fazia tremer por dentro: aquele olhar de mãe. Desde que meu sobrinho nasceu, ela ficou ótima nisso. Ele, aliás, é a luz desta casa. Algo que eu não esperava, mas que trouxe um calor que eu nem sabia que sentia falta. As cores frias e o silêncio que antes pareciam um abrigo, agora me incomodavam. Percebi que eu me acostumei a viver com alguém. Quando não eram meus pais, era uma colega de quarto. Quando não era uma colega de quarto, era u
Tanta coisa se passava na minha cabeça desde aquela conversa com a Samanta. Ela estava certa. Sempre que o William aparecia na história, eu não sabia o que fazer. Eu mudava. Não importava o quanto eu me preparasse, meu plano desmoronava como areia entre os dedos. E eu me odiava por isso. Porque ele me prendia — cada dia, cada segundo — por mais tempo do que eu queria admitir.Eu tentava me convencer de que já bastava. Que o sentimento que gritava em meu peito poderia ser apagado com a força da minha raiva, com o peso das lembranças do que ele fez. Eu listava cada dor, cada ferida. Mas era inútil. Porque toda vez que ele chegava perto de mim, era como se meu corpo se rebelasse. O calor tomava conta de mim, o perfume dele me envolvia, e de repente eu não era mais dona de mim mesma.Era inebriante, como uma droga que eu nunca pedi para provar, mas que agora corria pelas minhas veias. A liberdade que eu tanto defendia parecia se perder no instante em que ele estava perto. E mesmo assim, o
Eu odeio não saber das coisas. Gosto de me preparar. E essa situação é desconfortável, como se já não fosse o bastante. William sabe como planejar as coisas com precisão para me desarmar, criando situações onde eu perco qualquer controle. Ele é tão... frustrante. Mas, ao mesmo tempo, ele faz meu coração disparar de uma maneira que eu não consigo ignorar.Eu tenho algum problema. Como posso sentir emoções tão contraditórias? Eu odeio aquele homem. Tenho certeza disso. Mas, aqui estou eu, trocando de roupa, me arrumando com uma ansiedade que não faz sentido. Vou subir naquela moto — uma moto, de todas as coisas — mesmo sem confiar plenamente nela. Ainda que eu saiba que ele dirige bem, não me sinto confortável. As estatísticas não ajudam, claro. A chance de um acidente de moto é muito maior do que de carro. Mas preciso parar de pensar nisso. Preciso respirar fundo e seguir em frente.Me encaro no espelho uma última vez. Calça jeans, justa, básica, mas que molda bem o corpo. Uma blusa si
O som do motor da moto ecoava pelas ruas ensolaradas de Nova York. O céu estava claro, com algumas nuvens dispersas, e o vento quente do início da primavera bagunçava os cabelos de Isabella. Ela não sabia exatamente por que havia aceitado o convite de William, mas algo nele sempre a fazia ceder, mesmo que fosse só para calá-lo por alguns minutos.Ela estava agarrada à cintura dele, fingindo que era só pelo movimento da moto. Ele, por sua vez, parecia no controle de tudo, uma confiança descontraída que a irritava e, de certa forma, a intrigava.— Segura firme, docinho. Não quero que você diga que eu te derrubei. — A voz dele, com aquele tom ligeiramente provocador, cortou o som do vento.— Só estou segurando porque você dirige como um maníaco, — ela rebateu, mas sentiu o sorriso que ele lançou por cima do ombro.Eles atravessaram a ponte de Manhattan, deixando para trás o burburinho da cidade e seguindo por ruas menos movimentadas, com árvores alinhadas e uma leve tranquilidade que con
Eu não deveria estar aqui. Com certeza estou cometendo um grande erro. Não posso ficar a um metro desse homem, ou tudo pelo que lutei, estará perdido.Meu corpo, mesmo debaixo d'água, ainda está quente e vibrando. Eu tento me concentrar em alguma coisa ruim, lembrando do que William já fez, contudo, nem isso ajuda.— Docinho — ouço sua voz. Olho em sua direção assustada. — Está tudo bem?Sinto vontade de bater nele. Como pode me fazer essa pergunta?Seus olhos são realmente de preocupação. Seu cenho franzido, os olhos fixos em mim. Will se aproxima, ameaçando a minha segurança emocional.Não consigo pedir para que ele se afaste. Parece que meu celebro congelou.— Sinceramente — pigarrei, voltando ao meu estado natural. Como se eu conseguisse. Na verdade, estou tentando. — Com você, eu não fico nada bem.Ele soltou um sorriso. Mas não aquele convencido, de sempre. Dessa vez, ele pareceu desanimado.— Eu já te fiz tanto mal — jogou, me confundindo. Tudo o que nos ouvíamos era o natural.
Achei que me arrependeria de ter feito isso, mas, na verdade, não sinto culpa alguma. Foi um dos melhores momentos depois do nosso reencontro. E eu sei que, novamente, mudei todo o plano e o projeto que criei, mas eu já não via mais necessidade. Era apenas uma tortura, e eu não queria mais ficar nisso. Tortura.Ao sair da água, depois daquele momento maravilhoso em que nossos corpos ficaram totalmente relaxados, parecia que eu estava rindo à toa. Meus passos eram lentos, como se a gravidade tivesse mudado, e eu precisasse se ajustar a um novo peso que só eu sentia. As gotas escorriam pelo meu corpo, refletindo a luz em pequenos brilhos, e por um instante, me vi completamente absorta, incapaz de lembrar do passado.Já estava na hora de deixar o passado no passado e mudar as coisas.Estando ali, naquele ambiente tão sozinho e natural, William e eu parecíamos dois namorados que tinham acabado de assumir um relacionamento, quando, na verdade, eu nem sabia o que aconteceria ao sair de casa
Jamais imaginei que me apaixonaria por alguém em toda a minha vida. Sempre me enxerguei como uma alma livre, destinada a viver sem amarras. Nunca pensei muito no meu futuro, em família ou algo do tipo. Claro, era algo que eu queria, mas a ideia parecia tão distante quanto inatingível. A verdade é que, como todo mundo adora apontar, eu sou um cara inconsequente. Falo uma coisa, faço outra. A minha vida sempre foi movida pelo impulso, pela necessidade de sentir algo — qualquer coisa. E, se algo dava errado, bem, o álcool, as mulheres e as festas estavam sempre lá para preencher o vazio.Mas nem isso bastava. Eu me joguei no trabalho, me tornei bom no que faço. Muito bom, para ser honesto. Só que, ainda assim, não era suficiente. Pelo menos, não para meu pai. Ele sempre me via como uma promessa quebrada, alguém incapaz de seguir um caminho sólido. E sabe, não posso culpá-lo. Ele tinha motivos. Meu histórico era, no mínimo, problemático.Então, Isabela apareceu. De repente, sem aviso, com