Eu odeio não saber das coisas. Gosto de me preparar. E essa situação é desconfortável, como se já não fosse o bastante. William sabe como planejar as coisas com precisão para me desarmar, criando situações onde eu perco qualquer controle. Ele é tão... frustrante. Mas, ao mesmo tempo, ele faz meu coração disparar de uma maneira que eu não consigo ignorar.Eu tenho algum problema. Como posso sentir emoções tão contraditórias? Eu odeio aquele homem. Tenho certeza disso. Mas, aqui estou eu, trocando de roupa, me arrumando com uma ansiedade que não faz sentido. Vou subir naquela moto — uma moto, de todas as coisas — mesmo sem confiar plenamente nela. Ainda que eu saiba que ele dirige bem, não me sinto confortável. As estatísticas não ajudam, claro. A chance de um acidente de moto é muito maior do que de carro. Mas preciso parar de pensar nisso. Preciso respirar fundo e seguir em frente.Me encaro no espelho uma última vez. Calça jeans, justa, básica, mas que molda bem o corpo. Uma blusa si
O som do motor da moto ecoava pelas ruas ensolaradas de Nova York. O céu estava claro, com algumas nuvens dispersas, e o vento quente do início da primavera bagunçava os cabelos de Isabella. Ela não sabia exatamente por que havia aceitado o convite de William, mas algo nele sempre a fazia ceder, mesmo que fosse só para calá-lo por alguns minutos.Ela estava agarrada à cintura dele, fingindo que era só pelo movimento da moto. Ele, por sua vez, parecia no controle de tudo, uma confiança descontraída que a irritava e, de certa forma, a intrigava.— Segura firme, docinho. Não quero que você diga que eu te derrubei. — A voz dele, com aquele tom ligeiramente provocador, cortou o som do vento.— Só estou segurando porque você dirige como um maníaco, — ela rebateu, mas sentiu o sorriso que ele lançou por cima do ombro.Eles atravessaram a ponte de Manhattan, deixando para trás o burburinho da cidade e seguindo por ruas menos movimentadas, com árvores alinhadas e uma leve tranquilidade que con
Eu não deveria estar aqui. Com certeza estou cometendo um grande erro. Não posso ficar a um metro desse homem, ou tudo pelo que lutei, estará perdido.Meu corpo, mesmo debaixo d'água, ainda está quente e vibrando. Eu tento me concentrar em alguma coisa ruim, lembrando do que William já fez, contudo, nem isso ajuda.— Docinho — ouço sua voz. Olho em sua direção assustada. — Está tudo bem?Sinto vontade de bater nele. Como pode me fazer essa pergunta?Seus olhos são realmente de preocupação. Seu cenho franzido, os olhos fixos em mim. Will se aproxima, ameaçando a minha segurança emocional.Não consigo pedir para que ele se afaste. Parece que meu celebro congelou.— Sinceramente — pigarrei, voltando ao meu estado natural. Como se eu conseguisse. Na verdade, estou tentando. — Com você, eu não fico nada bem.Ele soltou um sorriso. Mas não aquele convencido, de sempre. Dessa vez, ele pareceu desanimado.— Eu já te fiz tanto mal — jogou, me confundindo. Tudo o que nos ouvíamos era o natural.
Achei que me arrependeria de ter feito isso, mas, na verdade, não sinto culpa alguma. Foi um dos melhores momentos depois do nosso reencontro. E eu sei que, novamente, mudei todo o plano e o projeto que criei, mas eu já não via mais necessidade. Era apenas uma tortura, e eu não queria mais ficar nisso. Tortura.Ao sair da água, depois daquele momento maravilhoso em que nossos corpos ficaram totalmente relaxados, parecia que eu estava rindo à toa. Meus passos eram lentos, como se a gravidade tivesse mudado, e eu precisasse se ajustar a um novo peso que só eu sentia. As gotas escorriam pelo meu corpo, refletindo a luz em pequenos brilhos, e por um instante, me vi completamente absorta, incapaz de lembrar do passado.Já estava na hora de deixar o passado no passado e mudar as coisas.Estando ali, naquele ambiente tão sozinho e natural, William e eu parecíamos dois namorados que tinham acabado de assumir um relacionamento, quando, na verdade, eu nem sabia o que aconteceria ao sair de casa
Jamais imaginei que me apaixonaria por alguém em toda a minha vida. Sempre me enxerguei como uma alma livre, destinada a viver sem amarras. Nunca pensei muito no meu futuro, em família ou algo do tipo. Claro, era algo que eu queria, mas a ideia parecia tão distante quanto inatingível. A verdade é que, como todo mundo adora apontar, eu sou um cara inconsequente. Falo uma coisa, faço outra. A minha vida sempre foi movida pelo impulso, pela necessidade de sentir algo — qualquer coisa. E, se algo dava errado, bem, o álcool, as mulheres e as festas estavam sempre lá para preencher o vazio.Mas nem isso bastava. Eu me joguei no trabalho, me tornei bom no que faço. Muito bom, para ser honesto. Só que, ainda assim, não era suficiente. Pelo menos, não para meu pai. Ele sempre me via como uma promessa quebrada, alguém incapaz de seguir um caminho sólido. E sabe, não posso culpá-lo. Ele tinha motivos. Meu histórico era, no mínimo, problemático.Então, Isabela apareceu. De repente, sem aviso, com
Infelizmente, tivemos que voltar para o centro de Nova York, com todo o seu caos habitual: o barulho incessante, as luzes fluorescentes piscando como se nunca quisessem apagar, pessoas bêbadas cambaleando pelas calçadas ou apressadas rumo às baladas. Entre elas, claro, também estavam aquelas que apenas voltavam do trabalho, carregando sacolas e olhares cansados. Mas nada disso me interessava. Tudo o que eu queria era estar longe. Longe de toda essa confusão, longe das pessoas, e, acima de tudo, longe dos meus próprios pensamentos.William. Ele me surpreendeu de tantas formas que eu nem sei dizer onde isso começou. Deixei-me levar por essa paixão avassaladora que ele provocou em mim, e, pela primeira vez em muito tempo, me senti viva. Não apenas viva — feliz. Mas havia o passado dele, como uma sombra pairando sobre nós. Um caçador incorrigível de aventuras, já envolvido com praticamente todas as mulheres da alta sociedade. Era por isso, talvez, que eu não queria voltar para a cidade. E
Nosso dia tinha sido perfeito. Havíamos deixado todas as intrigas e mágoas do passado onde pertenciam—no passado. Acreditei, com toda a ingenuidade do momento, que aquela noite seria uma entrega mútua, algo mais profundo, mais intelectual, mais divertido e provocativo. Mas jamais imaginei que terminaria assim.Eu sabia que tinha muito a ensinar a William. Ele era um cafajeste assumido, alguém que jamais havia experimentado a verdadeira responsabilidade de um relacionamento. Na verdade, ele nunca havia tido um relacionamento real. E, por mais contraditório que pareça, eu estava orgulhosa dele. Afinal, ele tinha se esforçado. Tinha colocado um inferno bonito para me pegar em casa, escolhido o restaurante perfeito, e estava se empenhando em ser o cavalheiro atencioso que eu sempre soube que ele podia ser.Mas então aquele bilhete chegou.O garçom o entregou com uma delicadeza exagerada, como se carregasse dinamite. E, de certa forma, carregava. A expressão de William mudou no instante em
- O que está fazendo? – Voltei a prestar atenção no caminho já quando estávamos indo, quase, para o lado oposto de onde eu morava. Olhei na direção do idiota, com fogo nos olhos. Já não bastasse o que me aconteceu naquele restaurante, agora ele testa a minha paciência. – Pedi para me levar para a minha casa.- Isabela – O tom foi duro, sem paciência, assim como eu. Repentinamente, Will pisa no acelerador, me fazendo arregalar os olhos. Ele era um ótimo motorista, a pista estava livre, contudo, meu coração ameaçou sair pela boca. – Como você disse, tivemos um ótimo dia.- Que foi estragado pela aparição de uma das suas ficantes. – Apontei, ainda assustada.- Eu não tive culpa nisso – Lembrou – E foi você quem explodiu com seus ciúmes.- Você quem me acusa, como se...- Poderíamos ter ignorado – Interrompeu. – Poderíamos ter saído daquele restaurante com uma energia a mais, um fim de noite agradável, onde passaríamos uma noite maravilhosa em uma cama. – Revirei os olhos, tentando me aca