Jamais imaginei que me apaixonaria por alguém em toda a minha vida. Sempre me enxerguei como uma alma livre, destinada a viver sem amarras. Nunca pensei muito no meu futuro, em família ou algo do tipo. Claro, era algo que eu queria, mas a ideia parecia tão distante quanto inatingível. A verdade é que, como todo mundo adora apontar, eu sou um cara inconsequente. Falo uma coisa, faço outra. A minha vida sempre foi movida pelo impulso, pela necessidade de sentir algo — qualquer coisa. E, se algo dava errado, bem, o álcool, as mulheres e as festas estavam sempre lá para preencher o vazio.Mas nem isso bastava. Eu me joguei no trabalho, me tornei bom no que faço. Muito bom, para ser honesto. Só que, ainda assim, não era suficiente. Pelo menos, não para meu pai. Ele sempre me via como uma promessa quebrada, alguém incapaz de seguir um caminho sólido. E sabe, não posso culpá-lo. Ele tinha motivos. Meu histórico era, no mínimo, problemático.Então, Isabela apareceu. De repente, sem aviso, com
Infelizmente, tivemos que voltar para o centro de Nova York, com todo o seu caos habitual: o barulho incessante, as luzes fluorescentes piscando como se nunca quisessem apagar, pessoas bêbadas cambaleando pelas calçadas ou apressadas rumo às baladas. Entre elas, claro, também estavam aquelas que apenas voltavam do trabalho, carregando sacolas e olhares cansados. Mas nada disso me interessava. Tudo o que eu queria era estar longe. Longe de toda essa confusão, longe das pessoas, e, acima de tudo, longe dos meus próprios pensamentos.William. Ele me surpreendeu de tantas formas que eu nem sei dizer onde isso começou. Deixei-me levar por essa paixão avassaladora que ele provocou em mim, e, pela primeira vez em muito tempo, me senti viva. Não apenas viva — feliz. Mas havia o passado dele, como uma sombra pairando sobre nós. Um caçador incorrigível de aventuras, já envolvido com praticamente todas as mulheres da alta sociedade. Era por isso, talvez, que eu não queria voltar para a cidade. E
Nosso dia tinha sido perfeito. Havíamos deixado todas as intrigas e mágoas do passado onde pertenciam—no passado. Acreditei, com toda a ingenuidade do momento, que aquela noite seria uma entrega mútua, algo mais profundo, mais intelectual, mais divertido e provocativo. Mas jamais imaginei que terminaria assim.Eu sabia que tinha muito a ensinar a William. Ele era um cafajeste assumido, alguém que jamais havia experimentado a verdadeira responsabilidade de um relacionamento. Na verdade, ele nunca havia tido um relacionamento real. E, por mais contraditório que pareça, eu estava orgulhosa dele. Afinal, ele tinha se esforçado. Tinha colocado um inferno bonito para me pegar em casa, escolhido o restaurante perfeito, e estava se empenhando em ser o cavalheiro atencioso que eu sempre soube que ele podia ser.Mas então aquele bilhete chegou.O garçom o entregou com uma delicadeza exagerada, como se carregasse dinamite. E, de certa forma, carregava. A expressão de William mudou no instante em
- O que está fazendo? – Voltei a prestar atenção no caminho já quando estávamos indo, quase, para o lado oposto de onde eu morava. Olhei na direção do idiota, com fogo nos olhos. Já não bastasse o que me aconteceu naquele restaurante, agora ele testa a minha paciência. – Pedi para me levar para a minha casa.- Isabela – O tom foi duro, sem paciência, assim como eu. Repentinamente, Will pisa no acelerador, me fazendo arregalar os olhos. Ele era um ótimo motorista, a pista estava livre, contudo, meu coração ameaçou sair pela boca. – Como você disse, tivemos um ótimo dia.- Que foi estragado pela aparição de uma das suas ficantes. – Apontei, ainda assustada.- Eu não tive culpa nisso – Lembrou – E foi você quem explodiu com seus ciúmes.- Você quem me acusa, como se...- Poderíamos ter ignorado – Interrompeu. – Poderíamos ter saído daquele restaurante com uma energia a mais, um fim de noite agradável, onde passaríamos uma noite maravilhosa em uma cama. – Revirei os olhos, tentando me aca
Eu acreditava que ela estava fazendo papel de idiota. Talvez fosse verdade, mas naquele momento, quem se sentia mais idiota era eu. Não queria que ele estragasse tudo, não queria que seu passado cheio de mulheres interferisse no que estávamos construindo. Mas, pensando bem, talvez fosse eu quem poderia destruir tudo isso.Deitada em sua cama, sentindo o calor de seus braços ao meu redor, sua respiração profunda e serena ecoando no silêncio da noite, meus pensamentos se transformaram em um emaranhado de reflexões. William não me deixou ficar em casa naquela noite, e talvez isso tenha sido o melhor que poderia ter acontecido. Tivemos uma noite incrível juntos, algo que eu não imaginava precisar tanto até acontecer.Foi nesse momento que percebi. Percebi que poderia ter perdido tudo. Ou pior, que ainda poderia perder o que mal havia começado. A ideia me atormentava. Me julgava mentalmente por minhas inseguranças, por achar que tinha o controle absoluto sobre tudo, quando a verdade era qu
Estava no carro, os dedos apertando o volante com força, como se isso pudesse me dar coragem suficiente para enfrentar o que vinha a seguir. A mansão à minha frente parecia ainda maior do que de costume, como se tivesse crescido de propósito para me intimidar. Não era apenas uma casa. Era o território dele. E entrar ali para contar que estava namorando o melhor amigo do meu irmão mais velho era praticamente um convite ao caos.Harvey sempre foi esquentado. Protegia a família como se fosse seu dever sagrado. Não importava se era algo pequeno ou grande, ele sempre estava pronto para intervir, especialmente quando se tratava de mim. Por isso, sabia que contar a verdade para ele primeiro era a decisão mais sensata – ou talvez a menos arriscada. Se ele surtasse, eu ainda teria meu pai como uma espécie de “último recurso” para tentar amenizar as coisas. Mas, mesmo assim, o peso daquela conversa me esmagava.William era outra história. Sua fama o precedia, e não era boa. Meu pai jamais permi
A conversa que eu precisava ter com meu irmão foi muito mais difícil do que eu previa. Nem chegamos a jantar. Harvey mal disfarçava o descontentamento, e eu sabia exatamente o motivo: ele nunca aceitaria o que eu tinha para confessar. Estava cometendo o erro de me apaixonar pelo melhor amigo dele, e isso por si só já era complicado. Mas o problema real era o que Harvey não sabia. Se soubesse a verdade inteira, a situação ficaria insustentável.Sentindo que não conseguiria manter a calma e temendo dizer algo que não devia, simplesmente fui embora. Chateada, entrei no carro e dirigi por horas sem destino. Acabei parando no alto de uma montanha, de onde pude ver Nova York iluminada, brilhando como um antídoto contra o peso que carregava. O vento frio batia no meu rosto, como se quisesse apagar os vestígios da discussão que sequer aconteceu.Quando voltei para casa, tentei dormir. Surpreendentemente, consegui. Mas assim que o dia clareou e me arrumei para o trabalho, tudo voltou à tona, c
Eu estava um poço de nervosismo, como se minha mente fosse uma corda esticada ao máximo, pronta para arrebentar. Meu coração batia tão rápido que parecia uma sequência descompassada de tambores dentro do meu peito. O chão do apartamento, coitado, já estava quase criando um buraco de tanto que eu andava de um lado para o outro, repetindo o mesmo trajeto como se isso fosse me levar a algum lugar ou a alguma solução.Meus pés descalços estavam vermelhos, doendo a cada passo firme no piso gelado. Se eu estivesse de salto, provavelmente já teria despencado. Minhas unhas estavam roídas até o limite, mas nem isso aliviava a sensação esmagadora que crescia dentro de mim. O medo de tudo dar errado pairava no ar, sufocante.William, por outro lado, estava encostado no sofá, as pernas cruzadas e os braços apoiados sobre os joelhos, me encarando com aquela expressão típica de quem tentava me decifrar. Ele parecia calmo demais para o furacão que girava na minha cabeça.— Eu acho que você já caminh