Voltei para o trabalho, mas a verdade era que eu não conseguia me concentrar em nada. Minha cabeça latejava, pesada, preenchida por pensamentos que se atropelavam sem chegar a lugar algum. A decisão de voltar para casa mais cedo foi inevitável; minha presença ali era inútil, só um corpo ocupando espaço. Depois daquela conversa, eu não tinha forças para ser produtiva.Enquanto dirigia, o som abafado do motor parecia amplificar a confusão dentro de mim. Aquele homem. Ele era praticamente um psicopata. Ou pior, talvez me conhecesse bem demais. E isso... isso significava perigo. Um risco iminente. Como se eu já não tivesse caído completamente na sua armadilha. Mas ele não podia saber disso. Não mesmo. Eu precisava de controle, de poder, e para isso tinha que encontrar uma forma de colocá-lo na linha. Ele não podia me vencer. Apesar da sensação amarga de derrota que me perseguia, não deixaria que essa vitória fosse dele.Quando cheguei em casa, fui direto para o computador. Precisava de um
Essa mulher ainda vai me enlouquecer. Isabela. Eu sei que a culpa foi minha. Foi ideia minha, afinal. Achei que seria uma solução prática, até brilhante. Eles—meu pai e todos à nossa volta—acreditariam que estávamos juntos, que éramos um casal perfeito. Mas, na verdade, nem cheguei a pensar direito. Apenas agi. Achei que assim ela estaria presa a mim e a tudo isso, sem possibilidade de fuga. Uma obrigação social, uma armadilha gentil. E, claro, imaginei que ela, como a princesa impecável que sempre aparentava ser, não se oporia. Ela não enfrentaria meu pai nem diria que era mentira.Mas agora... agora eu vejo que subestimei Isabela. A nova Isabela está me tirando das órbitas. Essa mulher parece outra pessoa, completamente diferente daquela que eu conhecia. Ou talvez o problema seja que eu nunca realmente a conheci. Ela não é mais uma garota, isso é evidente. Até antes de ela ir para Londres, eu já não a via mais assim—ou eu nunca teria me permitido dormir com ela naquela noite.É clar
O reflexo no espelho parecia outra mulher. Eu forcei um sorriso, tentando encontrar dentro de mim a força que sabia existir, mas que, naquele momento, parecia tão distante quanto a certeza de que isso daria certo. O mantra ecoava na minha cabeça: Se concentre no plano, seja determinada, não baixe a cabeça. Repeti essas palavras como um escudo contra os pensamentos traiçoeiros que insistiam em se infiltrar.O vestido vinho abraçava meu corpo como uma segunda pele, cada curva destacada de forma calculada. O decote profundo na frente e as costas nuas pareciam ousados, mas eram mais do que uma arma de sedução: eram uma armadura. O colar banhado a ouro que descia pelo meu colo até o centro dos seios era a peça final, um lembrete de que eu era a mulher no controle, mesmo que, por dentro, meu coração martelasse de medo.Enquanto ajustava o salto escuro e passava um último olhar pelo cabelo solto e o batom vermelho, respirei fundo. Não era o momento de hesitar. Eu tinha que me lembrar de quem
Passei o caminho toda de cara fechada, e, devo admitir, até eu me incomodava com meu próprio comportamento. Como uma criança mimada, não queria parecer assim. Eu odiava a ideia de parecer infantil na frente dele, mas, honestamente, não estava ajudando. E William, claro, não seguiria nenhuma regra que eu tivesse estabelecido. Era tão óbvio quanto o ar que eu respirava: ele vivia pelas próprias regras, e quando via barreiras, sua diversão era derrubá-las. Como pude ser tão tola ao achar que ele mudaria por mim? Que me respeitaria de verdade?Esse era apenas mais um lembrete incômodo de que ele jamais mudaria. Que eu carregaria essa dor de cabeça até o momento em que tivesse coragem de dizer a verdade para todos. Mas agora não era o momento. Não me sentia pronta, nem confortável. E talvez nunca me sentiria. Pior do que isso era o pensamento que surgia toda vez que ele estava por perto. A constatação, ainda mais irritante, de que, no fundo, eu gostava. Era uma tortura admitir, mas havia a
Esse homem testa a minha paciência a cada segundo, mas não vou deixar que as suas provocações me atinjam. Mentira. Era exatamente isso que ele fazia, me atingia, mesmo que eu me recusasse a admitir. Cruzei os braços, recostando-me na cadeira, encarando-o com firmeza.— Coloca na sua cabeça, William, que eu nunca mais vou cair no seu papo. Afinal, por que você insiste tanto nesse assunto de relacionamento se você é contra tudo que envolve isso? Você simplesmente foge de compromissos, de responsabilidades. Ou será que a ameaça do seu pai te assustou tanto a ponto de considerar...Ele ergueu o dedo, me interrompendo. Sua voz veio calma, mas carregada de algo que me fazia querer socá-lo e, ao mesmo tempo, fugir dali.— Meu pai foi só uma peça no nosso jogo, querida. Não se esqueça: foi você que começou com tudo isso. As flores, os presentes... e aquelas mensagens.Senti meu rosto esquentar, a vergonha subindo como fogo pelas minhas bochechas, mas mantive o que restava da minha dignidade.
IsabelaNão sei o porquê estou fazendo tudo isso. Com certeza era um erro, já que não costumo dar ouvidos para William. Com o que concordei? Ficou meio vagou e não sei como reagir agora. Esse jantar estava sendo uma tortura. Geralmente gosto de estar sob controle de tudo, não ser a vítima aqui.Eu poderia dizer que a comida estava excelente, só que eu nem estava prestando atenção no sabor, pois minha cabeça não deixava, um segundo, o pensamento de que, a qualquer momento, esse homem iria aprontar algo.Tudo isso é culpa sua, Isabela. Se não tivesse concordado com, seja lá o que for, estaria comentando sobre o contrato, seria seca e iria embora, antes que ele achasse que teria chance de te capturar. Contudo, foi aceitar algo perigoso, e agora está na teia de aranha.- Parece tensa. – Ele comentou, me trazendo de volta a realidade. – Com medo de algo?Respirei fundo, revirando os olhos. O idiota nunca deixaria de ser o que é. Sempre com piadas e provocações. Me pergunto sobre o porquê c
Eu precisava desabafar de alguma forma. Talvez por isso eu tenha convidado minha cunhada para vir até minha casa, ainda com o filho no colo, e contar para ela a loucura que fiz. Foi impulso. Ela me pegou desprevenida em um momento de fragilidade, quando minha cabeça estava uma confusão, mas, no fundo, a culpa era minha. Não podia culpar ninguém, nem o destino, nem as circunstâncias. Foi minha escolha, e as consequências também eram minhas. Todas as culpas, na verdade.Samanta me olhava com aquele olhar dela. Não era ameaçador, mas carregava algo que me fazia tremer por dentro: aquele olhar de mãe. Desde que meu sobrinho nasceu, ela ficou ótima nisso. Ele, aliás, é a luz desta casa. Algo que eu não esperava, mas que trouxe um calor que eu nem sabia que sentia falta. As cores frias e o silêncio que antes pareciam um abrigo, agora me incomodavam. Percebi que eu me acostumei a viver com alguém. Quando não eram meus pais, era uma colega de quarto. Quando não era uma colega de quarto, era u
Tanta coisa se passava na minha cabeça desde aquela conversa com a Samanta. Ela estava certa. Sempre que o William aparecia na história, eu não sabia o que fazer. Eu mudava. Não importava o quanto eu me preparasse, meu plano desmoronava como areia entre os dedos. E eu me odiava por isso. Porque ele me prendia — cada dia, cada segundo — por mais tempo do que eu queria admitir.Eu tentava me convencer de que já bastava. Que o sentimento que gritava em meu peito poderia ser apagado com a força da minha raiva, com o peso das lembranças do que ele fez. Eu listava cada dor, cada ferida. Mas era inútil. Porque toda vez que ele chegava perto de mim, era como se meu corpo se rebelasse. O calor tomava conta de mim, o perfume dele me envolvia, e de repente eu não era mais dona de mim mesma.Era inebriante, como uma droga que eu nunca pedi para provar, mas que agora corria pelas minhas veias. A liberdade que eu tanto defendia parecia se perder no instante em que ele estava perto. E mesmo assim, o