Não imaginei que isso poderia acontecer comigo. Jamais pensei que a mulher que estava me enlouquecendo durante dias e semanas era Isabela. Quando percebi, o arrependimento não foi por tê-la desejado ou ficado com ela, mas pela maneira como tudo aconteceu. Errado. Depois que acabou. Ela merecia mais, muito mais. E eu gostava dela. Gostar é complicado. É um sentimento que não sei administrar. Assim como não sei lidar com pressão, com silêncios, com palavras difíceis que ficam presas na garganta.Na época, me torturei mentalmente por semanas. Revivia cada detalhe daquela noite. Cada toque. Cada palavra. E o que eu fiz depois. Isabela mudou completamente. Me ignorou como se eu fosse um fantasma. Então foi embora. Londres. Eu sabia que era minha culpa. Totalmente minha. Por isso, me afastei do meu melhor amigo. Não conseguia encará-lo. O que fiz era imperdoável, e se ele descobrisse agora, depois de tantos anos... Ele me mataria sem hesitar. Era um risco que eu não podia correr.Mas ontem
Passei a manhã toda tentando me concentrar no trabalho, mas falhei miseravelmente. Eu queria me condenar por tudo isso. Afinal, a culpa foi minha. Eu que comecei com essa ideia maluca e agora estava afundada, dentro de um poço, e não tinha como subir. Mesmo avaliando os prós e os contras, sabendo que em algum momento eu teria que me revelar para pôr em prática a próxima etapa do plano, eu hesitava. Neste exato momento, não sei se vou conseguir concluir. Nem ele, o idiota, acabou me dando uma pista concreta.Pelo menos, William Morson estava enfeitiçado por mim. Ou era o que eu pensava. Só que essa incerteza me corroía. Não sabia se o que ele sentia era real ou se era apenas uma faísca de desejo alimentada pelo mistério. E se fosse algo passageiro? Algo que se apagaria assim que ele descobrisse tudo? Porque o William não é homem de simplesmente se apaixonar e abandonar a vida que ele sempre amou: a liberdade, as festas, as mulheres.Me sinto cansada com tanta coisa na cabeça. É exausti
— Não toda — Dei um sorriso malicioso. — Se eu contasse uma história bastante elaborada, com detalhes, mesmo que falsos, em quem o Sr. Morson acreditaria?William mordeu a mandíbula. Aposto que está arrependido do que fez.— Você é uma ótima jogadora. — Admitiu, mesmo não querendo. — Mas saiba que se eu cair, você também caí.— Não seja tão dramático — Revirei os olhos. — Foi você quem escolheu, ao contar essa mentira.— Vai valer a pena. — Era incrível o quanto ele era inabalável ou dava passos para trás, nesse quesito. Will nunca deixou seu lado competitivo e cafajeste. Acredito que ele vá jogar sujo e se aproveitar de tudo isso, se divertindo. — Então, quando começamos?Confesso que fiquei um pouco nervosa. Não tinha um plano em mente, e ele me pegou de surpresa. Eu odiava isso mais do que tudo. William sabia disso, e com certeza aproveitaria essa oportunidade em que eu estava tão frágil para me manipular. Ele era assim, um estrategista nato, alguém que sabia jogar quando os outros
Voltei para o trabalho, mas a verdade era que eu não conseguia me concentrar em nada. Minha cabeça latejava, pesada, preenchida por pensamentos que se atropelavam sem chegar a lugar algum. A decisão de voltar para casa mais cedo foi inevitável; minha presença ali era inútil, só um corpo ocupando espaço. Depois daquela conversa, eu não tinha forças para ser produtiva.Enquanto dirigia, o som abafado do motor parecia amplificar a confusão dentro de mim. Aquele homem. Ele era praticamente um psicopata. Ou pior, talvez me conhecesse bem demais. E isso... isso significava perigo. Um risco iminente. Como se eu já não tivesse caído completamente na sua armadilha. Mas ele não podia saber disso. Não mesmo. Eu precisava de controle, de poder, e para isso tinha que encontrar uma forma de colocá-lo na linha. Ele não podia me vencer. Apesar da sensação amarga de derrota que me perseguia, não deixaria que essa vitória fosse dele.Quando cheguei em casa, fui direto para o computador. Precisava de um
Essa mulher ainda vai me enlouquecer. Isabela. Eu sei que a culpa foi minha. Foi ideia minha, afinal. Achei que seria uma solução prática, até brilhante. Eles—meu pai e todos à nossa volta—acreditariam que estávamos juntos, que éramos um casal perfeito. Mas, na verdade, nem cheguei a pensar direito. Apenas agi. Achei que assim ela estaria presa a mim e a tudo isso, sem possibilidade de fuga. Uma obrigação social, uma armadilha gentil. E, claro, imaginei que ela, como a princesa impecável que sempre aparentava ser, não se oporia. Ela não enfrentaria meu pai nem diria que era mentira.Mas agora... agora eu vejo que subestimei Isabela. A nova Isabela está me tirando das órbitas. Essa mulher parece outra pessoa, completamente diferente daquela que eu conhecia. Ou talvez o problema seja que eu nunca realmente a conheci. Ela não é mais uma garota, isso é evidente. Até antes de ela ir para Londres, eu já não a via mais assim—ou eu nunca teria me permitido dormir com ela naquela noite.É clar
O reflexo no espelho parecia outra mulher. Eu forcei um sorriso, tentando encontrar dentro de mim a força que sabia existir, mas que, naquele momento, parecia tão distante quanto a certeza de que isso daria certo. O mantra ecoava na minha cabeça: Se concentre no plano, seja determinada, não baixe a cabeça. Repeti essas palavras como um escudo contra os pensamentos traiçoeiros que insistiam em se infiltrar.O vestido vinho abraçava meu corpo como uma segunda pele, cada curva destacada de forma calculada. O decote profundo na frente e as costas nuas pareciam ousados, mas eram mais do que uma arma de sedução: eram uma armadura. O colar banhado a ouro que descia pelo meu colo até o centro dos seios era a peça final, um lembrete de que eu era a mulher no controle, mesmo que, por dentro, meu coração martelasse de medo.Enquanto ajustava o salto escuro e passava um último olhar pelo cabelo solto e o batom vermelho, respirei fundo. Não era o momento de hesitar. Eu tinha que me lembrar de quem
Passei o caminho toda de cara fechada, e, devo admitir, até eu me incomodava com meu próprio comportamento. Como uma criança mimada, não queria parecer assim. Eu odiava a ideia de parecer infantil na frente dele, mas, honestamente, não estava ajudando. E William, claro, não seguiria nenhuma regra que eu tivesse estabelecido. Era tão óbvio quanto o ar que eu respirava: ele vivia pelas próprias regras, e quando via barreiras, sua diversão era derrubá-las. Como pude ser tão tola ao achar que ele mudaria por mim? Que me respeitaria de verdade?Esse era apenas mais um lembrete incômodo de que ele jamais mudaria. Que eu carregaria essa dor de cabeça até o momento em que tivesse coragem de dizer a verdade para todos. Mas agora não era o momento. Não me sentia pronta, nem confortável. E talvez nunca me sentiria. Pior do que isso era o pensamento que surgia toda vez que ele estava por perto. A constatação, ainda mais irritante, de que, no fundo, eu gostava. Era uma tortura admitir, mas havia a
Esse homem testa a minha paciência a cada segundo, mas não vou deixar que as suas provocações me atinjam. Mentira. Era exatamente isso que ele fazia, me atingia, mesmo que eu me recusasse a admitir. Cruzei os braços, recostando-me na cadeira, encarando-o com firmeza.— Coloca na sua cabeça, William, que eu nunca mais vou cair no seu papo. Afinal, por que você insiste tanto nesse assunto de relacionamento se você é contra tudo que envolve isso? Você simplesmente foge de compromissos, de responsabilidades. Ou será que a ameaça do seu pai te assustou tanto a ponto de considerar...Ele ergueu o dedo, me interrompendo. Sua voz veio calma, mas carregada de algo que me fazia querer socá-lo e, ao mesmo tempo, fugir dali.— Meu pai foi só uma peça no nosso jogo, querida. Não se esqueça: foi você que começou com tudo isso. As flores, os presentes... e aquelas mensagens.Senti meu rosto esquentar, a vergonha subindo como fogo pelas minhas bochechas, mas mantive o que restava da minha dignidade.