Esther Mendonça
Tento me equilibrar nos saltos finos enquanto observo todos parados na calçada ao meu lado se apressarem em atravessar a avenida movimentada quando o semáforo se fecha, indicando que finalmente poríamos passar sem correr o risco se sermos atropelados.
Aperto minha bolsa firmemente contra o corpo quando paro de frente ao enorme prédio que ficava em um ponto estratégico da Avenida Paulista, de longe já se podia avistar a enorme estrutura do lugar com os letreiros que exibiam o sobrenome Ferraz acompanhados de alguns grãos de café estrategicamente colocados, apenas a fachada ostentosa do local já mostrava o quanto de dinheiro e renome os donos tinham.
- Vamos lá, você esperou todo esse tempo por isso e não pode vacilar agora. - Digo para mim mesma quando sinto meu estômago revirar e minhas mãos soarem. Caminho lentamente até estar na recepção do lugar e observo o grande letreiro acima dos móveis planejados luxuosos que compunham o lugar.
- Seja bem vinda a Café Ferraz. - Uma das mulheres que está posicionada atrás de um balcão cumprimenta simpática e sinto minha pele inteira se arrepiar quando escuto o maldito sobrenome Ferraz. - Senhora? - A moça loira estala os dedos em minha frente e pareço finalmente sair do meu estado inerte, eu havia ficado literalmente paralisada. - A senhora está bem? - Volta a perguntar e seus olhos mostram preocupação enquanto me analisam cima a baixo.
- E-eu...- Tento recuperar um pouco do fôlego que sequer percebi que estava prendendo. - Estou bem sim, me desculpe, só fiquei um pouco afoita demais por estar aqui. - Digo enquanto abano as mãos na frente do meu rosto. - Vim para a entrevista de vaga de emprego para secretária. - Explico.
- Ah sim, isso a senhora teria que ver diretamente com a área que cuida de entrevistas e contratação, mas para não a fazer perder tempo sinto muito em informar que a vaga já foi ocupada ainda hoje de manhã. - Ela dá um sorriso contido, como se pedisse desculpa em informar a ocupação da vaga.
Nesse momento sinto minha boca secar por completo, receber a informação de que a vaga que me faria ter o mínimo de proximidade que eu precisava do herdeiro Ferraz foi ocupada me devasta, aquela era a única maneira de que eu ainda poderia ter esperança de finalmente colocar toda minha fúria e vingança em ação.
- E-eu preciso sentar um pouco. - Digo atordoada e caminho até o outro lado do lugar e me sento em uma das poltronas acolchoadas dali enquanto vejo a loira sair do seu lugar e vir para perto de mim.
- A senhora está realmente bem? Está pálida. - Olha para mim. - Vou trazer uma água. - Sequer consigo balbuciar uma só palavra e ela sai, voltando poucos minutos depois carregando uma bandeja com uma jarra pequena de água e um copo.
- Muito obrigada. - Agradeço assim que termino de beber meu segundo copo de água. - Tem certeza que a vaga foi ocupada? - Pergunto esperançosa e ela assente.
- Tenho sim, foi uma moça indicado de um dos associados da empresa, sinto muito. - Ela sorri fraco e provavelmente com pena de mim. - Ah, quase ia me esquecendo, mas não tenho certeza se irá te interessar. - Parece se lembrar de algo. - Ainda há algumas vagas para trabalhar na lanchonete que temos no quarto piso. - Conta.
- Pode ser sim. - Aceito sem pensar duas vezes. - Onde consigo fazer essa entrevista com o Sr Ferraz? - Pergunto animada.
- Com o Sr Ferraz? - Ri e assinto. - Sequer nós que já estamos aqui há muito tempo o vemos, quem dirá ele iria fazer entrevista com algum novo funcionário. - Ela nega.
- Então ele não cuida diretamente dessa parte? - Ela nega.
- Não mesmo, ele tem uma equipe somente para isso aqui na empresa que é responsável pela contratação e controle de funcionários. - Explica e assinto.
Passo pelo menos mais meia hora conversando e tentando absorver o máximo de informações da mulher que se chamava Mariella e era uma das várias recepcionistas que o lugar tinha. Por fim ela me ajudou a conseguir marcar uma entrevista no dia seguinte para a vaga de ajudante de cozinha da lanchonete e sai de lá a agradecendo várias e várias vezes seguidas.
De volta ao pequeno flat que tinha conseguido alugar finalmente consigo me sentar um pouco e tentar descansar, desde o primeiro minuto em que pisei em São Paulo definitivamente não havia conseguido parar quieta.
Estou de olhos fechados enquanto tenho a cabeça jogada para trás no encosto do sofá quando escuto meu celular tocar, coisa que me arranca um resmungo antes que eu finalmente crie coragem para levantar e ir quase que cambaleando até a bolsa jogada no canto do chão e pegar o aparelho vendo o nome da minha tia piscar na tela.
- Meu amor, estava preocupada com você. - Começa a falar assim que atendo. - Não me deu nenhuma notícia desde que chegou aí, isso não se faz com uma velha como eu, Esther. - Dramatiza e sorrio.
- Me desculpe por isso, Tia Lu. - Me desculpo. - Eu realmente não tive tempo nenhum desde que pisei aqui, mas prometo que agora sempre irei dar notícias sobre tudo. - Escuto por mais uma hora suas conversas e novidades que a mulher fazia questão de contar. - Preciso tentar dormir um pouco, amanhã te ligo. - Digo ao me despedir, ou melhor, tentar me despedir.
- Claro, meu amor, aproveite e descanse. - Ela diz enquanto caminho até o quarto improvisado e minúsculo do lugar e troco minhas roupas, tudo isso sem largar o aparelho. - E lembre-se, sua irmã estaria orgulhosa de você. - Ela diz por fim antes de desligarmos a chamada. E é pensando em sua frase que prometo mais uma vez antes de me render ao sono que me vingaria do CEO, me vingaria do maldito herdeiro que através do seu dinheiro e sobrenome não pagou pelo seu crime, não pagou por ter me tirado a única família que havia sobrado, a minha irmã.
Sou tomada pela ansiedade quando piso novamente na empresa, no dia seguinte. Aquela vaga na lanchonete era a minha última e única oportunidade de conseguir ficar aqui e concretizar o meu plano, eu dependia disso, e precisava fazer o máximo possível para conseguí-la.
Mariella havia me guiado sobre onde era a lanchonete e a quem eu deveria procurar quando chegasse lá. O lugar parecia mais um restaurante, enorme e luxuoso assim como todo o restante da empresa, isso tudo ainda era impressionante demais para mim.
Avisto a mulher loira que pela descrição de Mariella deveria ser Ana e me aproximo.
- Ah, olá.- Minha voz é tímida e a mulher se vira para mim ao escutá-la, fazendo uma análise completa de mim de cima a baixo - Eu vim para a vaga de ajudante.-
- Está atrasada.- Ela reclama se direcionando a uma caixa em cima do balcão, repleta de ingredientes. Ela praticamente j**a a caixa em meus braços, me obrigando a segurá-la- Reponha os ingredientes e deixe tudo limpo, não quero ver uma mísera sujeira nesse lugar.-
- Espere aí, então eu estou contratada?-Pergunto e ela me olha com descrença
- Não ouviu o que eu disse garota? vamos, se mexe. Posso mudar de ideia rápido.-
Então eu começo a me mover de imediato, entrando para a cozinha sem saber de absolutamente nada, mas eu estava disposta a me virar e aprender. Sem dar tempo para outra reclamação de Ana eu faço o que ela havia pedido, abro os armários e retiro ingrediente por ingrediente da caixa, organizando todos devidamente dentro das partes corretas e termino em poucos minutos tudo.
- Você é rápida.- Uma espécie de elogio que não soava bem como um
- Obrigada.-
- Não é um elogio, você tem que ser se quiser se manter nesse emprego.-
- É claro.-
- Ouça, você vai cuidar de ajudar na organização da lanchonete. Temos cozinheiras e funcionárias da limpeza, mas a parte de auxiliar será sua, assim como também irá atender as mesas e levar os pedidos dos clientes.- Ela passa as instruções apontando para cada parte - Você deve ser rápida e ágil, os nossos clientes não estão aqui para esperarem e devem ter o melhor tratamento possível. Você não fala com nenhum deles a não ser sobre os pedidos.-
- Entendido.- Confirmo com ambas as mãos atrás do corpo
- Você também não sai da lanchonete, se precisar usar o banheiro use o daqui. Não é permitido que fique vagando pelos outros andares da empresa, então se limite a ficar apenas onde é o seu trabalho.-
- Isso não vai ser um problema.- Asseguro e vejo seu olhar de desconfiança a mim
- Pois bem, então ao trabalho.- Ela b**e palmas sinalizando
A primeira coisa que faço quando vejo um cliente sentado em uma das mesas esperando é ir até ele e anotar o seu pedido. Era apenas o meu primeiro dia de trabalho e eu já estava me dividindo em múltiplas tarefas, em apenas duas horas que eu estava aqui eu já pude perceber que esse trabalho seria pesado e que exigiria muito de mim, mas eu estava disposta a enfrentar o que fosse pra conseguir o mínimo de proximidade com o CEO que fosse. Estar na mesma empresa que ele já era uma vitória e agora era questão de tempo até que eu encontrasse uma maneira melhor de me aproximar e destruir a vida dele.
Com tanto trabalho sendo feito o tempo inteiro o tempo parecia passar rápido e quando me dei conta já se haviam passado várias horas, mas eu já estava pegando o jeito. Nesse meio tempo consegui atender diversas mesas e auxiliar na organização e preparo das comidas, tudo estava caminhando bem por enquanto.
Já está no final da tarde quando um dos homens bem vestidos da empresa se aproxima do balcão da lanchonete, ele parecia ser alguém importante, a julgar pela forma que Ana estava o olhando e praticamente se derretendo pelo homem. Ele era de fato bonito, a barba bem feita, cabelos escuros e pele branca.
- Não sabia que tinha contratado novas funcionárias.- Ele comenta com Ana me analisando com um sorriso malicioso
- Como posso te ajudar, Diogo?- Ela pergunta
- Estamos em uma reunião chatíssima e vamos precisar de comida pra aguentar, leve alguns petiscos e uma boa garrafa de café lá pra cima.-
- Claro que sim, será preparado imediatamente.- Ana garante sorrindo como uma tola para o homem, a sua mudança de comportamento diante da presença dele me dava vontade de rir
- Tudo bem, por favor não demore, estou morto de fome.- Ele pede e antes de se afastar volta a me dar uma boa olhada
Continuo focada em meus afazeres de auxiliar a cozinheira cortando algumas frutas e colocando outras coisas em ordem na cozinha, Ana para me olhando como se eu estivesse praticando algum crime e fico sem entender.
- O que você está fazendo, garota? Não viu que o Diogo pediu que levasse a comida lá pra cima?-
- Mas você disse que eu nunca deveria ir para outros andares.- A relembro e ela revira os olhos com o comentário
- Você deve entender uma coisa se realmente vai continuar trabalhando aqui: Quando os clientes pedem, você simplesmente faz, principalmente se forem os chefes como o senhor Diogo.-
- Tudo bem, então eu levo.-
- Apresse-se, não podemos fazê-los esperar. O Diogo é um dos sócios dessa empresa, e a reunião em que ele está é com os membros dos mais altos cargos, se algo sair mal nós simplesmente podemos ser mandadas embora a qualquer hora, principalmente você, então seja esperta e os agrade.-
Assinto antes de entrar para a cozinha e começar a selecionar as melhores comidas, segundo as instruções de Ana, para levar para um dos andares de cima, que eu nem fazia ideia de qual era, já que essa empresa tinha mais de 30 andares e ainda me restava descobrir qual era o certo. Ana não parava de acrescentar coisas nos recipientes e os meus braços já estavam cheios de tantos potes e coisas para levar sabe-se lá para onde.
Não ousei reclamar do peso das coisas que carregava, era só o meu primeiro dia aqui e eu não poderia reclamar e arriscar perder esse emprego logo no início. Ainda mais porque eu sabia bem que Ana ainda duvidava da minha capacidade de conseguir lidar com o cargo, mas eu iria provar para ela que era mais do que apta para estar ali.
Me lembro de Mariella e do quanto ela havia sido gentil comigo no dia anterior, e até ela que eu vou a fim de pedir ajuda e descobrir para onde eu deveria levar todas essas coisas. Aproveito para descansar os meus braços e depositar os diversos recipientes em cima do balcão da recepção quando me aproximo.
- Veja só, parece que você conseguiu o cargo na lanchonete.- Ela diz após observar toda a comida que agora estava em sua frente e me reconhecer do dia anterior
- Consegui sim, inclusive te agradeço por isso. - Sorrio- Eu quero saber se pode me ajudar em mais uma coisa.-
- Claro, é só falar. Se estiver ao meu alcance ajudarei com prazer.- A mulher diz sorridente, eu ainda não a conhecia bem mas era impressionante que houvesse alguém tão gentil em um lugar como esse, todos os outros que eu havia visto ou conhecido pareciam arrogantes e soberbos, o que não me surpreendia.
- Me mandaram levar isso até uma reunião do senhor Diogo, mas eu não faço a mínima ideia de em qual das dezenas de andares isso fica.-
- Ah, o senhor Diogo Albuquerque tem o seu escritório situado no trigésimo segundo andar, a reunião certamente é lá.-
- Tri-trigésimo segundo?- Não contenho o meu espanto com o que a mulher acabava de me dizer, eu havia esquecido completamente do meu medo de elevador - Tem escadas?- A minha pergunta faz com que ela franze o cenho, e com razão, que tipo de pessoa subiria trinta e dois andares de escadas?
- Bem, eu acho que vai ser um pouco complicado você subir trinta e dois andares de escada carregando isso tudo.- Ela aponta para os recipientes em cima do balcão, e ela tinha razão. Eu mal conseguiria subir tudo isso sem carregar nada, imagine carregando tudo isso, estava completamente fora de cogitação - Não se preocupe, os elevadores daqui são extremamente seguros.- Ela sorri parecendo ler a minha mente e adivinhar o meu medo
- Obrigada, Mariella.- Agradeço agarrando todos os potes novamente
Paro em frente ao elevador e fecho os olhos inspirando antes de entrar, eu nunca havia entrado em um elevador em minha vida, e meu corpo estremecia só de pensar na possibilidade de estar em um. E agora prestes a colocar os meus pés dentro dele e enfrentar o meu medo tudo parecia pior, mas eu precisava fazer isso.
- Você vai ficar aí ou vai entrar?- Uma voz masculina surge logo atrás de mim me despertando e me obrigo a dar um passo a frente e entrar no elevador, vendo o homem loiro e de olhos claros fazer o mesmo.
Abraço os recipientes contra o meu corpo, como se aquilo fosse aliviar o meu medo e quando me dou conta tenho os meus olhos fechados novamente. Me assusto quando o elevador começa a se mover e não contenho a minha reação, provocando uma risada no homem que estava ao meu lado e parecia se divertir com a situação.
- Algo engraçado, senhor?- O questiono
- Não, nada.- Ele nega tentando conter a risada e me deixando ainda mais irritada
Saio do elevador com as pernas cambaleando e agradeço aos céus por aquele tormento ter acabado, eu esperava não ter que colocar os meus pés naquela caixa voadora novamente.
Percebo a porta da sala em que eu deveria levar as comidas fechada, o que só aumenta a minha impaciência. A abro com brutalidade com uma das mãos e assim que entro sinto o meu corpo colidir com algo e todas as caixas que eu carregava caírem no chão.
Ergo os olhos para ver em que eu tinha e esbarrado e estremeço quando vejo o homem que estava a minha frente, era Victor Hugo Ferraz, o maldito CEO.
Victor HugoO barulho do pi pi pi que insistia em se repetir no relógio que tocava ao meu lado já estava me irritando quando bati a mão nele ainda sonolento.- Mas já? - Alissa resmunga baixinho ao meu lado com a voz ainda sonolenta. - Vamos dormir só mais cinco minutinhos, amor. - Propõe levando a mão até meu peito e fazendo um carinho ali ainda de olhos fechados.Estou pensamento seriamente em concordar com sua proposta e me render novamente ao sono quando escuto não o despertador tocas dessa vez, mas sim meu celular.- Bom dia, Sr Victor Hugo. - A voz conhecida soa e é de Eva, a velha e fiel secretária pessoal do meu pai.- O que você quer me ligando nessa hora da manhã? - Acabo sendo grosso, tudo que envolvia meu pai me desanimava de uma maneira extrema e me irritava de certa forma, ainda mais se isso fosse em plena seis da manhã.- Agradeço por me atender com tão bom humor de sempre. - A forma irônica que fala me faz revirar os olhos. - Seu pai mandou que eu o ligasse e pedisse q
Esther MendonçaQuando percebi quem estava em minha frente, fiquei simplesmente paralisada. Apesar do meu objetivo o tempo todo ter sido encontrá-lo, vê-lo agora diante de mim era completamente diferente. Ele também permanecia em silêncio me encarando, ainda sem entender o que tinha acontecido. Quando notei as suas mãos em minha cintura me segurando, o pânico tomou conta de mim.- Tire suas mãos de mim.- Ordenei, a ideia de pensar naquele homem me tocando sabendo que essas mesmas mãos foram usadas para matar a minha irmã me enlouquecia. Ele me olhou confuso, sem entender a minha reação e eu me apressei para me livrar do seu aperto, agarrando suas mãos e as afastando de meu corpo com brutalidade.- Olha só o que você fez.- Reclamei me ajoelhando e começando a juntar tudo o que tinha caído no chão quando nos esbarramos- O que eu fiz?- Ele riu com escárnio, desacreditado - Você entra como uma louca na sala, eu te seguro pra você não cair no chão e eu que sou o culpado?-- Eu não pedi a
Victor Hugo - Esther disse que os senhores adoraram as comidas enviadas por mim ontem, eu realmente fico muito feliz por isso. Eu mesma fiz questão de selecionar uma por uma. - Ana comenta de forma entusiasmada e não consigo segurar meu olhar que para automáticamente na mulher que se vira nesse mesmo momento com uma xícara de café nas mãos.- Ah, ela disse isso? - Continuo com meus olhos focados na mulher que demonstra tamanho nervosismo pelas mãos que tremem fazendo com que um baixo tintilhar da xícara no pires soe, e parece só piorar quando sorrio ironicamente. - Esther, não é? - Ela apenas assente com um movimento de cabeça, sem sequer pronunciar uma única palavra. - Fico feliz que tenha dado nosso feedback para a Ana, realmente estava tudo ótimo. - Volto a desdenhar, mas Ana não parece perceber pois quando volto minha atenção para ela o seu sorriso convencido continua do mesmo jeito. - Meu café, por favor. - Aponto para a xícara nas mãos da mulher que parece estática no lugar.-
Esther MendonçaEu entrei em uma éspecie de transe quando vi a foto de Cecília ali, ele tinha uma foto dela no seu escritório. Eu não sabia se chorava ou se matava aquele cretino, ele não tinha esse direito. Como é que ele podia ter uma foto dela? O seu próprio assassino.- Cecília.- Deixo escapar o seu nome e sinto as lágrimas molharem as minhas bochechas- O que disse?- Ele pergunta e só então me dou conta do que eu tinha feito, do que tinha falado. Me viro para ele e o vejo com os olhos arregalados - Repete o que você falou.-- E-eu não disse nada.-- Você disse Cecília.-- Não.-- Você...- ele está prestes a falar mas eu não dou chance que termineSaio disparada de seu escritório, se eu ficasse ali mais um minuto eu acabaria estragando tudo. Victor Hugo não podia saber que eu era irmã de Cecília, isso acabaria com qualquer chance que eu ainda tinha de me vigar dele, sem contar que ele podia muito bem me dar o mesmo fim que deu a Cecília. Ele saberia que me ter aqui representaria
Victor HugoA reunião que novamente acontecia em minha presença parecia não fazer o mínimo sentido, não quando minha cabeça insistia em retornar seguidas e seguidas vezes a cena do qual a mulher paralisada, quase que em choque sussurrava o nome da minha falecida namorada.Tentei ao decorrer do restante do dia não apenas uma, mas várias vezes conversar com ela, esclarecer o porquê daquela reação e ainda mais, o porquê dela saber o nome de Cecília.- Vamos lá, agora vou apresentar para os senhores um projeto que poderíamos encaixar na rede de cafeterias. - Lilianne chama nossa atenção quando se levanta e pega um pequeno controle acionando uma tela que desce e reflete algumas imagens do seu projeto.O novo projeto consistia em uma rede de cafeteria que íriamos lançar nos próximos meses, as cafeterias teriam uma sede distribuída por todo o país, onde já havíamos conseguido vários sócios interessados, então agora nosso trabalho era apenas fazer acontecer, já que a aprovação já havia sido f
Esther MendonçaEu tinha conseguido inventar alguma desculpa quando Victor Hugo me questionou, ele pareceu ter acreditado. Por sorte Cecília e eu éramos filhas de pais diferentes, dessa forma não tínhamos o mesmo sobrenome, o que facilitava que eu mantivesse o meu disfarce. Já era cedo novamente quando eu cheguei na lanchonete, até mesmo a cozinheira estava ali. Desde que eu cheguei, eu havia a encontrado poucas vezes devido aos nossos horários diferentes, e não tínhamos trocado palavra alguma.- Você deve ser a nova ajudante que Ana falou.- Ela diz quando me vê- Esther.-- Eu sou Antonella.- As palavras ditas pela mulher eram carregadas de um sotaque diferente, assim como o seu nome que não era nada comum em nosso país.- Você deve ser italiana.- Sugiro e ela concorda com a cabeça, sorrindoA mulher já não era tão jovem e devia ter por volta de quase cinquenta anos, o que provavelmente deveria tornar ela ainda mais experiente na cozinha. Sua aparência no entanto não estava das mel
Victor HugoFechei meus olhos por longos segundos e quase coloquei as mãos unidas em frente ao corpo para uma breve oração, pedindo para que isso tudo fosse um maldito sonho, ou melhor, um pesadelo e quando voltasse a abrir os olhos Diego já haveria evaporado da minha frente, mas para meu total desgosto quando voltei a focar as vistas na imagem em minha frente Diego continuava lá, mas agora segurando a caixa nas mãos e os filhotes lá dentro miavam em um som extremamente alto que soou por todo o corredor.- Entra logo antes que eu leve uma multa pelo barulho essa hora da manhã, e de quebra ainda te esgane. - Bufo me encostando para o lado e lhe dando caminho para passar.- Multa? - Ri. - Até parece né, riquinho e chato como você é pegou logo a cobertura do final do prédio inteira pra você, não tem mais ninguém nesse andar pra reclamar do barulho além de você. - Debocha abraçando a caixa e passando por mim.- Você pode repetir o que quer aqui mesmo essa hora? - Peço mais uma vez ainda d
Esther Mendonça Oito anos atrásAs vozes altas em discussão podiam ser ouvidas já do lado de fora, eu estava voltando do meu trabalho no restaurante e já podia decifrar que tia Lu e Cecília discutiam antes mesmo de passar pela porta. Quando entrei na sala, tia Luiza já estava em prantos e Cecília ainda discutia apontando o dedo para a sua cara, era evidente a raiva que a dominava naquele momento. Com todo o amor e carinho que tia Luiza sempre tinha dado a nós duas, desde a perda de nossos pais, nós sempre tínhamos vivido em harmonia morando com ela, o que me deixava ainda mais surpresa por vê-las nessa estado, em tamanha discussão.- O que está acontecendo aqui?- Pergunto assim que fecho a porta ao entrar- A sua irmã está cega, é isso que está acontecendo.- Tia Luiza se queixa, as lágrimas ainda escorrem por suas bochechas- Você não me apoia em nada, você quer que eu seja infeliz aqui.- Cecília a acusa gritando- Já chega.- Eu caminho até elas e me coloco entre as duas - Vocês vão