Esther Mendonça
Eu não imaginava o quanto desejava ter Victor Hugo e senti-lo em mim até ter, eu ainda podia sentir o seu toque em minha pele, o seu cheiro se misturando ao meu, os seus lábios percorrendo cada parte de mim e se encontrando com os meus. A noite tinha sido longa e a passamos inteiramente perdidos um no outro e isso tinha me deixado mais feliz do que eu esperava.
Abri os olhos e fiquei por alguns minutos na mesma posição, apenas o observando dormir, até que os seus olhos castanhos também se abriram e ele esboçou um sorriso. Nós tínhamos apenas um lençol cobrindo os nossos corpos, e o deixei para trás assim que me levantei e entrei no banheiro, para debaixo do chuveiro.
Senti a água gelada cair contra a minha pele ao lavar todo o meu corpo, as gotas já encharcavam o meu cabelo e deslizavam po
Victor HugoO restante do almoço foi cheio de dúvidas sobre o que aconteceria dali em diante, principalmente agora que o carteiro que havia sido o responsável por entregar o bilhete ser achado e assim conseguiríamos saber quem foi a pessoa que enviou o pedaço de papel com uma ameaça nele.Mas decidi deixar isso de lado e pensar amanhã quando estivesse frente a frente com o investigador, agora só queria focar na mulher bonita com a cabeça em meu colo enquanto ria de um filme que colocamos de forma aleátoria na tela em nossa frente, meus dedos estavam enlaçados nos fios macios do seu cabelo enquanto eu fazia um carinho ali. Esther tinha sua atenção focada na tela em nossa frente e ria animada quando algo acontecia, mas eu sequer me dava o trabalho de prestar a atenção no motivo daqueles sorrisos quando a única
Esther MendonçaEraestranho estar com Victor Hugo, eu finalmente podia me permitir sentir o que eu sabia que sentia por ele há muito tempo, sentir e desfrutar disso sem culpar a mim mesma por isso. Nós tínhamos passado uma ótima noite juntos e eu havia voltado para o meu apartamento, acompanhada de seus seguranças como ele insistiu. Era estranho estarmos juntos até agora há pouco e eu já estar sentindo saudades, eu percebi que realmente não havia sentido o que eu sentia por ele por nenhuma outra pessoa, nem mesmo Nicolas que havia sido o meu primeiro e único namorado desde então.Estava distraída no sofá quando ouvi o celular tocar e assim que o alcancei, vi o nome de minha tia piscar na tela, percebi que havia alguns dias que eu não falava com ela.- O que houve, Esther? Eu t
Victor HugoO caminho nas longas estradas que percorro parece demorar mais que o habitual quando ainda estou dentro do carro e a poucos metros de distância da propriedade do interior de São Paulo onde meu pai vivia agora, não pensei duas vezes antes de vir até ele e mais uma vez tentar fazer com que o homem falasse de tudo o que havia acontecido naquele maldito dia, ainda mais agora depois de ter os papéis que provavam que ele apenas não esteve com Cecília horas antes de irmos para a cachoeira, mas que esteve literalmente no mesmo lugar em que o crime aconteceu, e era óbvio que tudo o indicava como autor daquilo, mas ainda sim me negava a acreditar nisso, pelo menos até ouvir da sua boca que tinha tido a coragem de tirar a vida da jovem menina que até então parecia ser tão inocente, e por mais erros que tenha cometido não merecia aquilo que
Esther MendonçaEu podia sentir os meus batimentos se agitarem dentro de mim a cada palavra que ouvia da boca de Henrico, não era possível que ele estivesse falando a verdade e esse tempo todo quem era a assassina de Cecília era tia Luiza, a doce tia Luiza que tinha nos criado com tanto amor e sempre cuidado tanto de nós, não, eu me recusava a acreditar nisso.- Isso não faz sentido.- Nego com a cabeça sentindo as lágrimas deixarem os meus olhos e escorrerem pelas bochechas - Você tá inventando isso tudo pra se safar.- O acuso, vendo o velho revirar os olhos com preguiça- Acredite no que quiser, garota burra, continue achando que a sua tiazinha é um anjo e você vai ser a próxima a morrer.-- Cala a boca.- Victor Hugo grita com ele- Ele está falando a verdade.- É a voz d
São Paulo, 2014Cachoeira do saltão, BrotasVictor HugoA água fresca banhava nossos pés conforme caia da enorme queda d´água para a pequena lagoa que se formava ao redor da cachoeira, nos dando uma sensação extremamente boa. O lugar estava vazio, provavelmente por ser um meio de tarde de uma terça feira, durante as sextas e finais de semana o lugar lotava pelas pessoas que aproveitavam suas folgas do serviço, coisa que eu deveria fazer também, mas definitivamente valeria a pena aguentar cada reclamação do meu pai por ter faltado um dia de estágio em sua empresa para levar como dizia ele, minha namoradinha mimada, para passear.Meu pai claramente não era fã e muito menos apoiava nosso namoro, essa negação vinha desde o início quando nos conhecemos ainda no final do ensino médio. Na época a garota de família humilde havia se mudado a pouco tempo para São Paulo após perder os pais e ter a guarda dada a uma tia materna, acabou conseguindo uma bolsa para concluir o ensino médio no colégio
Oito anos depois...Esther MendonçaTermino de calçar o meu par de sandálias e antes de sair do quarto me vejo na obrigação de agarrar o canivete que sempre ficava na segunda gaveta de minha penteadeira, eu o seguro e repito o meu hábito diário, o enfiando naquelas fotos que ficavam na parede do meu quarto. As fotos do homem que eu mais odiava no mundo já possuiam diversos furos, todos frutos do canivete que eu sempre usava para rasgá-las e relembrar a mim mesma que eu tinha que odiá-lo para sempre pelo o que ele fez com a minha irmã, pelo que fez comigo.Procuro deixar toda a minha raiva dentro daquele quarto quando saio dele e me deparo com a tia Luiza na cozinha, colocando a mesa de café da manhã. Deposito um beijo em seu rosto e me sento em uma das cadeiras.- Nadja ligou enquanto você estava no banho, disse que tinha algo que você ia gostar.- Ela avisa enquanto deposita uma jarra de suco de laranja em cima da mesa- Ela não disse o que era?- Pergunto enquanto arranco um pedaço de
São Paulo, Dias atuaisVictor HugoPareço estar inerte no meio de todo barulho que a sala de reunião tem, o lugar parece insuportável para os meus ouvidos devido todo os burburinhos que os sócios presentes ali fazem enquanto discutem sobre os novos projetos da empresa, fora o som de pastas abrindo, folhas sendo passadas, risadas altas.Me levanto em um movimento rápido e apoio as mãos na enorme mesa em minha frente, projetada exclusivamente para aquela sala, onde abrigava mais de vinte cadeiras. O silêncio toma a sala barulhenta quando o barulho do aparelho celular colide contra a parede e cai no chão despedaçado, agora todos tem a atenção focada em mim, chocados com minha reação.- Você está se sentindo bem? - Sinto uma mão ser colocada em minhas costas e me viro vendo Diego, que me olhava preocupado. - Victor? - Chama novamente e pareço acordar do meu pequeno desvaneio.- Eu preciso respirar um pouco longe daqui. - Deixo todas as minhas coisas em cima da mesa e saio apressado, escut
Esther MendonçaTento me equilibrar nos saltos finos enquanto observo todos parados na calçada ao meu lado se apressarem em atravessar a avenida movimentada quando o semáforo se fecha, indicando que finalmente poríamos passar sem correr o risco se sermos atropelados.Aperto minha bolsa firmemente contra o corpo quando paro de frente ao enorme prédio que ficava em um ponto estratégico da Avenida Paulista, de longe já se podia avistar a enorme estrutura do lugar com os letreiros que exibiam o sobrenome Ferraz acompanhados de alguns grãos de café estrategicamente colocados, apenas a fachada ostentosa do local já mostrava o quanto de dinheiro e renome os donos tinham.- Vamos lá, você esperou todo esse tempo por isso e não pode vacilar agora. - Digo para mim mesma quando sinto meu estômago revirar e minhas mãos soarem. Caminho lentamente até estar na recepção do lugar e observo o grande letreiro acima dos móveis planejados luxuosos que compunham o lugar.- Seja bem vinda a Café Ferraz. -