Rose
Meu olhar estava fixo na série de peças de xadrez apoiadas em um aparador ao lado do meu cavalete de desenho enquanto minha mão se movia instintivamente com o lápis sobre o papel.
Eu tentava comandar minha mão a replicar cada detalhe daquela cena, mesmo sabendo que quando finalmente olhasse para a folha ao fim do exercício de desenho cego, seria impossível reconhecer o pequeno peão.
— Com licença, senhorita… — a voz de Philip Black, nosso professor de desenho artístico fez com que eu desviasse minha atenção do peão.
Ele estava parado a alguns metros de distância, chamando atenção de uma outra garota.
— Ramirez, Susan Ramirez— Ela se apresentou.
— Senhorita Ramirez, o seu desenho está perfeito — ele elogiou.
— Obrigada — um sorriso brotou em seu rosto.
— Não é um elogio, qual foi a parte do exercício de desenho cego você não entendeu? — ele cruzou os braços, a encarando com uma carranca.
— O que? — ela balbuciou, voltando a olhar para sua folha.
— Eu pedi um desenho cego e não um desenho de observação, apaga e começa outra vez — ele murmurou, vindo em minha direção.
Eu voltei a desenhar, tentando não manter contato visual com o homem, mas isso não impediu que ele parasse ao meu lado, observando a folha.
— Isso sim é um desenho cego. Uma pena que parece estar sendo feito por uma lesma — ele murmurou — Você não terminou nem um peão, seus colegas já fizeram três vezes mais que você.
Aquele era nosso primeiro dia de aula, e o nosso professor de desenho artístico pensou que seria bom passar um pequeno exercício para nos avaliar melhor.
Eu engoli todas as respostas que surgiram em minha mente, tentando não arrumar confusão logo no primeiro dia.
— Sinto muito, Senhor Black. Eu só estava tentando…
— Então pare de tentar e faça — ele murmurou, não permitindo que eu concluísse meu pensamento.
Ele se afastou, fazendo com que eu respirasse fundo, já elegendo o professor que eu odiaria pelo restante de minha vida acadêmica.
Na verdade, eu me sentia exausta, ao contrário da maioria dos outros calouros que chegaram ao campus na última sexta, eu vim apenas no fim da tarde de ontem, já que estava "aproveitando" os últimos dias com meus pais em Rochester, uma cidade no norte do estado de New York.
Então eu sabia que no fim, eu teria que sair da aula e voltar para arrumar o meu lado do quarto, que ainda estava uma bagunça de malas e caixas.
Com um suspiro eu voltei a desenhar, dando uma breve olhada nos traços desconexos que representavam o peão que eu tentava ilustrar.
Algum tempo depois, eu estava caminhando pelos corredores do prédio de departamento artístico, onde eu tinha a maior parte de minhas aulas, quando meu celular vibrou.
"Me encontre no segundo refeitório, quero te apresentar algumas pessoas"
Minha colega de quarto mandou.
Ela era uma das que tiveram sorte de chegar ao campus com antecedência, então o seu lado do quarto estava perfeitamente organizado, contrastando com o caos que dominava o meu lado.
"Estou a caminho"
Eu respondi antes de guardar o celular. Caminhando de maneira despretensiosa pelos corredores agitados do prédio.
Alicia Waldorf era a típica garota que conquistava a todos com seu sorriso doce e modos gentis. Nós duas estudamos na mesma escola desde o primário, mas nunca fomos próximas, muito pelo contrário. Pelo menos, até descobrirmos que fomos aceitas pela mesma faculdade.
Aquilo acabou nos inspirando para ignorar nossas diferenças e tentar uma aproximação, assim, não estaríamos sozinhas nessa nova fase de nossas vidas.
Nós éramos completos opostos, Allie era considerada a garota mais popular do colégio, fazia parte de todas as equipes importantes, namorava o capitão do time e tinha um grupo de amigas inseparáveis.
Quanto a mim… não posso dizer que eu era a garota excluída e que não tinha amigos. Eu era rodeada de pessoas, e adorava festas. Creio que no fim, nós apenas pertencíamos a um núcleo social diferente que nos impossibilitava de sermos amigas.
Mas, deixamos todas aquelas diferenças em Rochester e assumimos que nos aproximar em Grayfox Mills, a pequena cidade no interior do estado de New York, onde ficava o campus da Dalton University, seria o mais acertado a se fazer.
Eu caminhei depressa e alguns minutos depois estava chegando ao lugar onde combinei de encontrá-la.
Não demorei a avistar os longos fios rubros de Allie em meio aos calouros que iam em direção ao refeitório, ela estava parada próximo a porta conversando com um rapaz de cabelos negros e olhos azuis.
Eu diminuí meus passos, estranhando aquela interação. Não que ele fosse algum esquisitão, ou algo assim, na verdade ele era bem bonito, muito bonito mesmo, mas era bem diferente dos caras que ela costumava namorar no High School.
Realmente era bem fácil ver a diferença entre os dois, enquanto Allie vestia um conjunto de saia xadrez e camisa branca perfeitamente alinhados, com um par de sapatos que certamente custaram mais do que qualquer peça que eu tenha no meu closet, ele vestia uma camiseta azul marinho, jeans de lavagem escura e carregava o que parecia ser uma jaqueta de couro, o que era estranho, já que o dia estava ensolarado.
Mas, aquilo estava longe de ser da minha conta, eu decidi entrar no refeitório e esperá-la lá dentro, mas Allie percebeu minha aproximação, se despedindo do rapaz.
— Hey, você chegou rápido — ela envolveu meu braço com entusiasmo.
— Se eu soubesse que você tinha companhia, teria demorado mais — eu a provoquei.
Eu olhei para trás e meu olhar cruzou com o do rapaz que nos observava enquanto nós nos afastavamos.
— Ahhh é o Chris. Ele vive na mesma moradia que a gente e me ajudou com as minhas caixas na sexta — ela explicou, acompanhando meu olhar, acenando para o rapaz — Já é a terceira vez que nós nos vemos e ele sempre pára para conversar.
Eu olhei para trás uma última vez, vendo o rapaz se afastar, antes de entrar no refeitório que já estava cheio.
— Você disse que queria me apresentar alguém e eu duvido que seja ele — eu comentei, entrando na fila de um dos quiosques espalhados pelo lugar que parecia uma praça de alimentação de shopping.
— É o meu primo, ele é veterano aqui e prometeu para meus pais que apresentaria tudo para nós — ela explicou.
Por um lado, ela tinha sorte de ter alguém para guiá-la, mas por outro, não sei se gostaria de ter alguém da minha família me controlando em todos os passos.
Não demorou até que estivéssemos carregando bandejas com nossas comidas entre as mesas lotadas.
Allie se acomodou em uma mesa onde um pequeno grupo estava, um dos rapazes, que tinha olhos esmeralda e um cabelo castanho cuidadosamente bagunçados soltou um suspiro assim que nos viu, demonstrando todo o seu descontentamento por ter que cuidar da prima caloura.
Ao seu lado, uma garota loira que parecia ter a nossa idade, nos observava com diversão. Seus traços eram delicados e seus olhos quase dourados lhe davam um charme quase único, ela colocou uma mecha de cabelos atrás da orelha, revelando um belo lírio vermelho tatuado ali.
— Achei que você tinha desistido do almoço, prima — ele ironizou antes de seu olhar se focar em mim, me oferecendo um sorriso galante — e você, é nossa nova amiga?
— Rosemarie Miller-Campbell, mas eu prefiro apenas Rose Campbell — eu tomei a dianteira, me apresentando ao rapaz.
A garota foi mais rápida em se apresentar, tirando o foco dele.
— Skyller Baker. É um prazer conhecê-la, Rose. Você também é uma caloura do pré med? — ela citou a futura formação de Allie.
— Medicina? De jeito nenhum eu detesto sangue. Eu sou caloura em Artes Visuais — eu expliquei.
— Theo Peterson. Estamos praticamente na mesma área, Rose. Sky e eu estamos no segundo ano de arquitetura — o outro rapaz sorriu.
Eu me senti bem em conhecer outras pessoas da minha área. No fundo, eu pensava que Allie tentaria me colocar com seu grupo de pré med, mas ao olhar para ela, soube que minha mais nova amiga é quem se sentia deslocada ali.
— Liam Van Der Waal. Estou no terceiro ano de Artes Visuais — ele estendeu a mão para mim, levando a minha até os lábios quando eu retribui o gesto.
— Por que eu não recebi uma recepção como essa? — Allie reclamou ao meu lado.
— Porque nós já nos conhecemos, e apesar de ser uma garota bonita, eu acho que seria muito inadequado flertar com uma prima que eu já troquei as fraldas — Ele garantiu.
Eu olhei para Allie, achando graça da interação dos dois.
— Eu não quero que você flerte comigo, que nojo, e você nunca trocou minhas fraldas, é apenas três anos mais velho que eu.
— Bom, eu estive presente enquanto trocavam, então é a mesma coisa — ele garantiu
Eu decidi intervir naquele embate enquanto os outros dois membros do grupo os observavam com diversão.
— Espera, isso é você flertando comigo?
Aquele comentário fez Theo gargalhar enquanto Liam me dava mais um de seus sorrisos preguiçosos, mantendo o cenho franzido.
— Se você ficou com dúvidas sobre isso, eu preciso me esforçar mais — ele zombou, fazendo Skyller revirar os olhos ao seu lado.
— Ai Liam, apenas deixe-a em paz — ela suspirou.
Um sorriso surgiu em meus lábios enquanto eu encarava o rapaz, eu sabia muito bem lidar com aquele tipo, e sabia que ele não me daria paz se eu não entrasse em seu jogo.
— E qual é a sua proposta, Liam Van Der Waal? — eu o encarei.
Allie arregalou os olhos diante de minha frase, enquanto Liam continuou olhando em meus olhos, não se importando com a presença dos outros.
— Eu te ofereço o melhor sexo casual da sua vida, e se você for tão boa quanto eu imagino que seja, nós podemos repetir — ele piscou um olho para mim.
— Liam! — Allie exclamou horrorizada.
— Cara essa foi a coisa mais idiota que eu já ouvi, Rose, não ligue.. — Theo murmurou, parecendo incomodado com os modos do amigo.
Mas eu não permiti que ele terminasse sua frase.
— Em primeiro lugar, eu sou muito melhor do que a sua imaginação pode alcançar, só não tenho certeza se você pode entregar o que promete — eu não desviei o olhar dele enquanto falava.
Seu sorriso apenas se alargou com minha resposta, me incentivando a continuar.
— E em segundo lugar?
— A sua oferta é realmente irrecusável, mas eu terei que recusar. Talvez você tenha sorte quando eu estiver bêbada, ou extremamente desesperada — eu pisquei para ele, fazendo o rapaz gargalhar.
— Sinto muito te decepcionar, mas eu não sou o tipo de cara que se envolve com garotas bêbadas, e em todo caso vou te passar meu número de telefone e o do meu quarto — Ele pegou um guardanapo, rabiscando algo nele antes de me estender — se um dia você estiver entediada sem nada para assistir na TV, ou deprimida depois de levar um fora…
Não pude evitar rir enquanto aceitava o guardanapo. Eu poderia me ofender com sua maneira direta, mas algo em sua sinceridade acabou me divertindo.
— Depois de levar um fora? — eu ergui ambas as sobrancelhas, tentando me fazer de ofendida.
— Acontece até mesmo com as mais bonitas, e saiba que eu sou especialista no assunto, sou uma ótima fonte de consolo — ele piscou para mim.
Eu guardei o guardanapo no bolso da calça jeans que eu vestia, ainda rindo do jeito direto e incomum do rapaz, mas ao me virar, Allie estava me encarando com ambas as sobrancelhas erguidas em uma expressão questionadora.
— O que foi? Foi uma proposta válida — eu dei de ombros, colocando uma batata frita na boca.
— Mesmo? Porque eu posso te passar meu número, eu também sou uma ótima fonte de consolo — Theo me encarou.
— Sinto muito, ele chegou primeiro — eu fiz um beicinho, recebendo uma risada em troca.
Allie parecia incomodada com a interação, mas antes que pudesse esboçar alguma reação, Skyller se levantou.
— Não se incomode com isso, você vai se acostumar com esse tipo de coisa acontecendo quando se está perto dele — ela avisou Allie, apontando para Liam — eu preciso ir, tenho que passar na biblioteca. Rose, nós almoçamos aqui todos os dias esse horário, e nos encontramos às sete no refeitório principal para o jantar.
— Obrigada — eu franzi o cenho ao notar o prato de batatas fritas quase intocado que ela deixou para trás sem a menor cerimônia.
Ela deu um pequeno tapinha no ombro de Theo antes de bagunçar os cabelos de Liam, que inclinou a cabeça para trás, a observando se afastar.
— Eu te levo um café mais tarde, Baker — ele avisou para a garota que apenas acenou discretamente em resposta.
Liam ficou com os olhos grudados nela por alguns segundos antes de retornar sua atenção para nós, fazendo com que eu suspeitasse que talvez seu coração já estivesse comprometido.
— Onde estávamos?
— Você devia falar com ela de uma vez — Theo murmurou, confirmando minhas suspeitas.
— Então, prima… quais são os seus planos? Já se instalou bem em seu quarto? — ele ignorou a provocação do amigo, dedicando sua atenção à prima pela primeira vez desde que chegamos.
Allie finalmente parece ter relaxado, decidindo se abrir com o primo sobre todo o progresso feito em tão pouco tempo, um grande contraste com a bagunça que ainda estava todas as minhas coisas em minha nova vida acadêmica, mas eu sabia que conseguiria arrumar tudo com calma, não precisaria me desesperar.
Pelo menos era o que eu esperava.
Rose Os dias passaram depressa naquela primeira semana, quando menos esperei, já era sexta feira e eu finalmente tinha conseguido esvaziar a última caixa com meus pertences. Ao terminar a organização eu observei o contraste entre o lado de Alicia do quarto e o meu. Todos os pertences da minha colega eram organizados por cores, inclusive suas roupas, as paredes brancas estavam completamente limpas sem nenhum pôster sequer, sua cama parecia feita para um comercial, cheia de almofadas e com uma grande colcha florida em tons de rosa. A sua escrivaninha seguia o mesmo padrão de organização, em um canto posicionado em um ângulo exato de 45 graus, estava um porta retrato com uma foto completa da família Waldorf, ao centro, o livro que ela usou para estudar na noite anterior estava fechado com um pequeno bloco de notas personalizado com seu nome em cima. Ao lado do livro, uma caneta, uma lapiseira e um marca texto estavam alinhados por ordem de tamanho. — Ela deve passar mais tempo organizan
Rose Eu digitei uma mensagem rápida para minha mãe, avisando que ela deveria ir ao encontro duplo com meu pai, guardando o celular em seguida, desviando de um aglomerado de alunos que pareciam entusiasmados com alguma coisa quando um corpo se chocou contra o meu. Em um segundo eu senti o impacto da grama com a lateral do meu corpo, fazendo uma dor aguda surgir. Eu me sentei, olhando a lateral do meu braço esfolada e o meu jantar todo no chão. Hoje com certeza não é meu dia! — Cuidado aí, gatinha. Você quase fez eu perder uma recepção — O rapaz que me atropelou gracejou, se afastando sem sequer me ajudar a me levantar. — Gatinha? Qual é o seu problema, seu imbecil — eu me levantei, gritando em resposta. O babaca que já tinha se afastado alguns passos parou, se virando para mim com um sorriso no rosto antes de me medir descaradamente, voltando a se aproximar. — Docinho, eu realmente não tenho tempo para te dar atenção agora, mas eu posso te passar meu número, então nós marcamos alg
Rose A festa do último final de semana teve bons resultados para Allie, que encantou a presidente da irmandade que ela tanto idolatrava com seu carisma incrível. Audrey Dixon era a evolução de suas amigas do High School, ela era perfeita e idolatrada por todos, e me deu a impressão de que faria qualquer coisa para manter as aparências. Foi aquela percepção que fez com que eu recusasse gentilmente a oferta de participar da quinzena infernal de iniciação na irmandade, para surpresa de Allie, que ficou extasiada com a oportunidade. — Rose, você tem certeza sobre isso? Entrar para uma boa irmandade é um benefício para toda a vida — Allie perguntou na quinta, após o término das aulas do dia enquanto arrumavamos suas malas para que ela se mudasse para a casa da Sigma Sigma Kapa. — Allie, não me leve a mal, mas eu não estou afim de abrir mão da minha vaga na moradia e me humilhar para dezenas de garotas que se consideram superiores. Eu estou bem aqui — eu neguei, fazendo Liam gargalhar.
Rose E Liam tinha razão, eu não tive notícias dela no dia seguinte e apenas voltei a encontrá-la no sábado, durante a festa que ele fez questão de me levar. Eu estacionei o meu Mustang 66 vermelho na porta da fraternidade, onde uma música alta soava. Algumas garotas de biquini passaram por nós, atraindo a atenção do rapaz. Eu peguei meu celular, ativando a câmera dianteira, checando minha aparência. Depois de passar as mãos pelos meus cabelos soltos, eu ajeitei o tecido florido da blusa que eu vestia, checando se o nó entre meus seios que a mantinha fechada estava firme. — Vamos lá, pequena aspirante a Michelangelo, esteja pronta para virar as cabeças por onde passar — ele piscou para mim antes de sair do carro. Não pude conter um pequeno sorriso ao ouvir aquele apelido ridículo, eu saí do carro, caminhando ao seu lado enquanto observava a movimentação ao nosso redor. Eu pude ver dois rapazes sendo barrados por não pertencerem a nenhuma fraternidade, e por um momento, pensei que o
Christian Eu bati a porta com força ao entrar no carro, o que eu fiz para merecer tudo o que estava acontecendo? Um misto de sentimentos dançava em meu interior. Por um lado eu estava surpreso, magoado e com o orgulho ferido com a atitude de Alicia, por outro lado, a presença de Rose conseguia aplacar aqueles sentimentos, já que a irritação por sua atitude abafava tudo o que aconteceu. — Hey, cuidado com a Brigitte — Rose ralhou antes de voltar a dirigir. Eu observei seu perfil enquanto ela dirigia, seus cabelos negros e espessos me impediam de ter uma visão clara de seu rosto, como se quisesse facilitar as coisas para mim, a garota colocou o cabelo atrás da orelha, me lançando um olhar enviesado. Eu não podia negar que ela era bonita, ela tinha traços perfeitos e delicados em seu rosto, mas para mim, toda aquela beleza era ofuscada por uma aura de petulância e prepotência que dominava o seu mau gênio. — Eu sinto muito pela situação na festa — Rose puxou assunto depois de dirig
Christian Nós fomos chamados, entrando na sala em seguida. Eu observei algumas fotos e artes espalhadas nas paredes enquanto Rose explicava para o tatuador, que era um rapaz apenas alguns anos mais velho que nós dois, o que ela queria. — Você vai ficar aqui com ela? — O rapaz chamou minha atenção. Em um primeiro momento pensei em negar, mas ao pensar na área que seria tatuada, não me senti confortável em deixá-la sozinha com um completo desconhecido. Não que nós dois nos conhecêssemos há muito tempo, mas eu decidi ficar mesmo assim. — Sim — Eu dei de ombros, recebendo um olhar divertido em troca. — E eu pensando que você tinha escolhido esse lugar porque ficaria bom, no fim, você só quer me ver sem blusa — Rose ironizou enquanto o tatuador lhe instruiu a tirar a peça e se acomodar na maca, onde tinha um lençol para ela se cobrir enquanto ele ajustava o desenho em seu computador. — Não foi por isso que eu escolhi — eu me aproximei dela, olhando em seus olhos. — Por que então? —
Rose Comecei a revirar meu armário em busca de uma roupa ainda enrolada em uma toalha após sair do banho. Eu tinha decidido aproveitar o domingo e dormir até tarde, me esquecendo que tinha combinado de sair com Liam e os outros. Eu tirei a toalha, me virando de lado em frente ao espelho para passar a pomada cicatrizante na tatuagem antes de colocar um novo curativo transparente sobre ela. Eu espalhei a pomada com delicadeza sobre a pele, resistindo a tentação de coçar a área, admirando o delicado desenho do girassol rodeado de duas margaridas, formando um pequeno buquê. — Ele é irritante mas tem bom gosto — eu contornei o pequeno desenho com a ponta do dedo. Coloquei o curativo com cuidado, sorrindo ao me lembrar de tudo o que aconteceu ontem, desde aquela festa desastrosa até o momento em que eu estive a um passo de beijar Christian. Eu com certeza teria feito se aquela dor irritante não tivesse recomeçado naquele momento. Christian Davis tinha despertado um misto de emoções
Rose Nós nos acomodamos na mesa, e não demorou para que um jovem garçom se aproximasse. — Van Derr Wall, o mesmo de sempre? — Apenas duas cerveja dessa vez, e suco de amora para as garotas — Ele decidiu. — Ele tem idade para beber? — O garçom olhou desconfiado para Theo. — E quem disse que é para ele? Eu vou beber as duas — Liam garantiu. Aquela era a desculpa mais ridícula que eu já tinha ouvido, mas parece ter convencido o garçom, que anotou os pedidos e se afastou após nos entregar o cardápio. — Você vai beber as duas? — eu ironizei. — Eu poderia pedir três, se você não tivesse feito uma tatuagem — Ele piscou para mim. — E a Sky? — Eu não bebo — ela explicou. — Ela pensa que bebidas alcoólicas são satanás em seu estado líquido — Liam provocou a amiga, que teve todo o prazer em ignorá-lo. Mais uma vez eu me peguei pensando em como era possível aqueles dois não serem um casal. E pela expressão exasperada no rosto de Theo, ele pensava o mesmo. — Eu poderia dizer que me su