Rose
Eu digitei uma mensagem rápida para minha mãe, avisando que ela deveria ir ao encontro duplo com meu pai, guardando o celular em seguida, desviando de um aglomerado de alunos que pareciam entusiasmados com alguma coisa quando um corpo se chocou contra o meu. Em um segundo eu senti o impacto da grama com a lateral do meu corpo, fazendo uma dor aguda surgir.
Eu me sentei, olhando a lateral do meu braço esfolada e o meu jantar todo no chão. Hoje com certeza não é meu dia!
— Cuidado aí, gatinha. Você quase fez eu perder uma recepção — O rapaz que me atropelou gracejou, se afastando sem sequer me ajudar a me levantar.
— Gatinha? Qual é o seu problema, seu imbecil — eu me levantei, gritando em resposta.
O babaca que já tinha se afastado alguns passos parou, se virando para mim com um sorriso no rosto antes de me medir descaradamente, voltando a se aproximar.
— Docinho, eu realmente não tenho tempo para te dar atenção agora, mas eu posso te passar meu número, então nós marcamos alguma coisa em outro momento — ele passou o braço por meu ombro, fazendo com que eu lançasse um olhar questionador para ele.
Aquela interação estava chamando atenção das pessoas que antes estavam assistindo a partida improvisada de football, e estava claro que ele estava tentando impressionar o grupo de veteranos com quem ele estava jogando. Mas para azar do rapaz, eu não dava a mínima.
— Docinho, você está treinando para entrar no time? — eu fingi um tom deslumbrado, fazendo seu sorriso se alargar antes que minha expressão ficasse séria — nesse caso, é melhor você parar de me tocar antes que eu arranque a sua mão.
Sua expressão se tornou um pouco sem graça, tirando o braço que estava ao meu redor.
— Melhor assim — Eu murmurei, prestes a começar a me afastar.
— Me passa seu número — ele chamou.
— Nem em um milhão de anos — eu neguei.
Ele não parecia disposto a desistir, mas antes que pudesse falar qualquer coisa, uma voz masculina soou atrás de mim.
— Hey O'Donnel , agora você vai começar a nocautear as garotas para tentar se aproximar? Está tão desesperado assim?
Eu me virei, encontrando o amigo de Allie parado ali com postura quase arrogante, com uma das mãos no bolso de sua jaqueta jeans enquanto a outra mão segurava um aparelho celular.
— Cai fora, Davis — o rapaz murmurou, finalmente se afastando.
— Você deixou cair — Ele estendeu o celular pra mim — Christian Davis.
Eu peguei o aparelho de sua mão, me sentindo aliviada ao ver que não tinha sofrido nenhum dano na queda.
— Obrigada, Rosemarie Miller-Campbell, ou só Rose Campbell — eu suspirei me abaixando recolhendo o que restou do meu jantar, o jogando no lixo em seguida.
— Eu tenho uma fatia extra de pizza se você quiser — ele ofereceu, indicando uma árvore há alguns metros onde um saco de papel e um copo tinha sido abandonados, provavelmente quando o idiota me acertou.
Por um segundo eu considerei aquele convite, ele com certeza estava me usando para se aproximar da minha amiga, mas eu iria ganhar uma pizza grátis, então por que não?
— Claro — eu dei de ombros.
— Jax O'Donnel , ele tem o cérebro do tamanho de uma ervilha, nós estudamos juntos no High School — Ele apontou o babaca que tinha me atropelado antes — Sinto muito te informar, mas ele provavelmente não vai te deixar em paz.
— Que notícia encorajadora — eu murmurei, me sentando embaixo da árvore ao seu lado, abrindo uma mensagem da minha mãe.
"O que você vai ganhar com isso?"
"Ele me prometeu trezentos dólares se você aceitar"
Eu guardei o celular após enviar a mensagem, decidindo prestar atenção em Christian.
— Então, você é a amiga da Allie — ele comentou me oferecendo o copo.
— E você é o cara que está querendo transar com ela — eu devolvi pegando o copo de sua mão.
Ele franziu o cenho, me lançando uma expressão questionadora.
— Ela te falou isso?
— Não — eu tomei um gole do conteúdo, fazendo uma careta ao devolver para ele.
Christian pegou o saco, abrindo antes de tirar duas embalagens de pizza de dentro, me estendendo uma em seguida.
— Você deveria chamá-la para sair de uma vez, ela está esperando, e…— eu abri a embalagem, fazendo uma careta em seguida — Pizza de brócolis, sério? Você está aqui tomando chá verde e comendo pizza de Brócolis?
— Qual o problema? — ele mordeu um pedaço da própria pizza, parecendo gostar daquilo.
Aquilo só podia ser uma piada! Esse definitivamente não é o meu dia.
— Deixa eu adivinhar, você é uma daquelas pessoas com paladar infantil que acham que brócolis é ruim — ele ironizou.
— Eu não tenho paladar infantil por não gostar de um vegetal — eu murmurei.
— Sim, você tem. E isso é um pouco irônico para alguém que sonha em se tornar médica — ele me provocou.
O meu celular vibrou em meu bolso, mas eu ignorei, me virando para ele, erguendo ambas as sobrancelhas.
— Eu não vou me tornar médica, estudo artes visuais.
A informação parece tê-lo surpreendido de alguma maneira, Christian terminou de comer, colocando a embalagem vazia dentro do saco mais uma vez.
— Você veio para a universidade para brincar de colorir? Sério?
Eu senti uma onda de raiva começar a tomar conta de mim ao constatar que no fim, ele é apenas mais um babaca. E pensar que eu até estava achando ele um cara legal.
— E você no mínimo escolheu química depois de assistir muito Breaking Bad, não é? — Eu devolvi irritada.
Ele estreitou os olhos, me encarando com uma expressão desconfiada.
— Você não é nada parecida com sua amiga, sabia? — ele se esticou, pegando a pizza da minha mão, começando a comê-la antes de se levantar.
— Hey, você tinha me dado isso — eu ergui a voz ao vê-lo começar a caminhar em direção a entrada da moradia.
— E você agiu como uma criança mimada, então eu peguei de volta — ele devolveu parecendo não se intimidar por minha irritação.
Algumas pessoas que estavam ali pararam para observar nosso pequeno embate, e se ele pensa que vai ficar assim, está muito enganado!
Eu me levantei, pegando o saco de papel e o copo de chá verde que ele deixou para trás, caminhando depressa, o alcançando quando ele estava quase na porta da moradia.
Sem pensar duas vezes eu arremessei o copo em direção à sua cabeça, sorrindo ao ver seu corpo reagir quando o líquido gelado atingiu sua nuca. Christian se encolheu, se virando em minha direção com uma expressão irritada, enquanto todos paravam para ver o que estava acontecendo.
— Você esqueceu a droga do seu chá, seu babaca!
— Qual é o seu problema, sua maluca? — ele rosnou.
— O meu problema é o tanto de idiotas que estão cruzando o meu caminho hoje — eu devolvi antes de passar por ele, entrando no prédio ouvindo algumas risadas abafadas.
Eu caminhei até meu quarto, me jogando em minha cama em seguida. Ótimo, aqui estou eu, com fome e irritada. Como tudo pode piorar?
Eu me lembrei da mensagem de minha mãe, a abrindo, sentindo meu mau humor melhorar um pouco.
" Eu quero cem dólares. Aproveite o fim de semana e não beba demais"
Um pequeno sorriso surgiu em meu rosto ao ler sua mensagem, pelo menos os dois se divertiriam juntos. Decidida a dormir um pouco, eu fechei os olhos, mas meu momento de paz não durou muito, Allie entrou no quarto alguns minutos depois, parecendo prestes a levantar voo de tanta animação.
— Rose, você não vai adivinhar, eu estava conversando com o Liam sobre meu interesse em me juntar a Sigma Sigma Kapa, uma das irmandades mais exclusivas aqui do campus e ele conhece a presidente — ela esperou alguma reação positiva antes de prosseguir.
— Ele parece conhecer todo mundo — Eu bocejei.
— Ele prometeu me apresentar para ela em uma festa que vai acontecer hoje, então se arruma que a gente precisa ir — Ela estava extasiada.
Aquilo poderia ser interessante, eu ainda não tinha ido em nenhuma festa e não dispensaria a chance de me divertir, mesmo que não tivesse interesse nenhum em me juntar a nenhuma irmandade.
— Certo, mas eu quero comer alguma coisa antes — Eu me levantei, percebendo que talvez minha noite tivesse salvação.
Rose A festa do último final de semana teve bons resultados para Allie, que encantou a presidente da irmandade que ela tanto idolatrava com seu carisma incrível. Audrey Dixon era a evolução de suas amigas do High School, ela era perfeita e idolatrada por todos, e me deu a impressão de que faria qualquer coisa para manter as aparências. Foi aquela percepção que fez com que eu recusasse gentilmente a oferta de participar da quinzena infernal de iniciação na irmandade, para surpresa de Allie, que ficou extasiada com a oportunidade. — Rose, você tem certeza sobre isso? Entrar para uma boa irmandade é um benefício para toda a vida — Allie perguntou na quinta, após o término das aulas do dia enquanto arrumavamos suas malas para que ela se mudasse para a casa da Sigma Sigma Kapa. — Allie, não me leve a mal, mas eu não estou afim de abrir mão da minha vaga na moradia e me humilhar para dezenas de garotas que se consideram superiores. Eu estou bem aqui — eu neguei, fazendo Liam gargalhar.
Rose E Liam tinha razão, eu não tive notícias dela no dia seguinte e apenas voltei a encontrá-la no sábado, durante a festa que ele fez questão de me levar. Eu estacionei o meu Mustang 66 vermelho na porta da fraternidade, onde uma música alta soava. Algumas garotas de biquini passaram por nós, atraindo a atenção do rapaz. Eu peguei meu celular, ativando a câmera dianteira, checando minha aparência. Depois de passar as mãos pelos meus cabelos soltos, eu ajeitei o tecido florido da blusa que eu vestia, checando se o nó entre meus seios que a mantinha fechada estava firme. — Vamos lá, pequena aspirante a Michelangelo, esteja pronta para virar as cabeças por onde passar — ele piscou para mim antes de sair do carro. Não pude conter um pequeno sorriso ao ouvir aquele apelido ridículo, eu saí do carro, caminhando ao seu lado enquanto observava a movimentação ao nosso redor. Eu pude ver dois rapazes sendo barrados por não pertencerem a nenhuma fraternidade, e por um momento, pensei que o
Christian Eu bati a porta com força ao entrar no carro, o que eu fiz para merecer tudo o que estava acontecendo? Um misto de sentimentos dançava em meu interior. Por um lado eu estava surpreso, magoado e com o orgulho ferido com a atitude de Alicia, por outro lado, a presença de Rose conseguia aplacar aqueles sentimentos, já que a irritação por sua atitude abafava tudo o que aconteceu. — Hey, cuidado com a Brigitte — Rose ralhou antes de voltar a dirigir. Eu observei seu perfil enquanto ela dirigia, seus cabelos negros e espessos me impediam de ter uma visão clara de seu rosto, como se quisesse facilitar as coisas para mim, a garota colocou o cabelo atrás da orelha, me lançando um olhar enviesado. Eu não podia negar que ela era bonita, ela tinha traços perfeitos e delicados em seu rosto, mas para mim, toda aquela beleza era ofuscada por uma aura de petulância e prepotência que dominava o seu mau gênio. — Eu sinto muito pela situação na festa — Rose puxou assunto depois de dirig
Christian Nós fomos chamados, entrando na sala em seguida. Eu observei algumas fotos e artes espalhadas nas paredes enquanto Rose explicava para o tatuador, que era um rapaz apenas alguns anos mais velho que nós dois, o que ela queria. — Você vai ficar aqui com ela? — O rapaz chamou minha atenção. Em um primeiro momento pensei em negar, mas ao pensar na área que seria tatuada, não me senti confortável em deixá-la sozinha com um completo desconhecido. Não que nós dois nos conhecêssemos há muito tempo, mas eu decidi ficar mesmo assim. — Sim — Eu dei de ombros, recebendo um olhar divertido em troca. — E eu pensando que você tinha escolhido esse lugar porque ficaria bom, no fim, você só quer me ver sem blusa — Rose ironizou enquanto o tatuador lhe instruiu a tirar a peça e se acomodar na maca, onde tinha um lençol para ela se cobrir enquanto ele ajustava o desenho em seu computador. — Não foi por isso que eu escolhi — eu me aproximei dela, olhando em seus olhos. — Por que então? —
Rose Comecei a revirar meu armário em busca de uma roupa ainda enrolada em uma toalha após sair do banho. Eu tinha decidido aproveitar o domingo e dormir até tarde, me esquecendo que tinha combinado de sair com Liam e os outros. Eu tirei a toalha, me virando de lado em frente ao espelho para passar a pomada cicatrizante na tatuagem antes de colocar um novo curativo transparente sobre ela. Eu espalhei a pomada com delicadeza sobre a pele, resistindo a tentação de coçar a área, admirando o delicado desenho do girassol rodeado de duas margaridas, formando um pequeno buquê. — Ele é irritante mas tem bom gosto — eu contornei o pequeno desenho com a ponta do dedo. Coloquei o curativo com cuidado, sorrindo ao me lembrar de tudo o que aconteceu ontem, desde aquela festa desastrosa até o momento em que eu estive a um passo de beijar Christian. Eu com certeza teria feito se aquela dor irritante não tivesse recomeçado naquele momento. Christian Davis tinha despertado um misto de emoções
Rose Nós nos acomodamos na mesa, e não demorou para que um jovem garçom se aproximasse. — Van Derr Wall, o mesmo de sempre? — Apenas duas cerveja dessa vez, e suco de amora para as garotas — Ele decidiu. — Ele tem idade para beber? — O garçom olhou desconfiado para Theo. — E quem disse que é para ele? Eu vou beber as duas — Liam garantiu. Aquela era a desculpa mais ridícula que eu já tinha ouvido, mas parece ter convencido o garçom, que anotou os pedidos e se afastou após nos entregar o cardápio. — Você vai beber as duas? — eu ironizei. — Eu poderia pedir três, se você não tivesse feito uma tatuagem — Ele piscou para mim. — E a Sky? — Eu não bebo — ela explicou. — Ela pensa que bebidas alcoólicas são satanás em seu estado líquido — Liam provocou a amiga, que teve todo o prazer em ignorá-lo. Mais uma vez eu me peguei pensando em como era possível aqueles dois não serem um casal. E pela expressão exasperada no rosto de Theo, ele pensava o mesmo. — Eu poderia dizer que me su
Rose Nós voltamos para o campus era cerca de oito horas da noite e o pôr do sol pintava o céu de incontáveis tons de laranja. — Você é primo dela, e ela fingiu não te conhecer — Sky murmurou inconformada. Nós estávamos caminhando no estacionamento, voltando para a moradia relembrando a forma como Allie simplesmente ignorou nossa presença no restaurante mais cedo. — Ela estava com o Simmons, com certeza sequer se lembrava o próprio nome — Liam ironizou — Não é nada que eu não estivesse esperando. — E será permitido para ela se lembrar do próprio nome? Eu aposto que a partir de agora ela só atenderá por baby, ou qualquer outro apelido brega que ele colocar nela. — Não seja má, Rose. Nem todos conseguem ter o talento nato para apelidos como eu — Liam piscou para mim. Eu estava prestes a responder quando uma figura alguns metros a frente chamou minha atenção. Christian estava deitado embaixo de uma árvore com os olhos fechados, parecendo alheio ao mundo ao seu redor. Tentando resis
Rose — Como discorremos na aula anterior, o período Paleolítico superior foi um período agrafo, tudo o que se sabe sobre aquela cultura foi reconstruída a partir de objetos encontrados em várias partes do mundo, e não foi diferente com as primeiras manifestações artísticas. O homem caçador costumava pintar nas paredes das cavernas muito do que ele via na natureza. Aqui, por exemplo, podemos ver o tipo de pintura que faziam, essas mãos em negativo foram encontradas em uma caverna da França — Karen Martinez, nossa professora de história da arte mostrava cada um dos slides que tinha separado para a aula, enquanto eu tentava não dormir — Nessa época, utilizavam pó colorido, que faziam a partir de pedras trituradas e sopravam com bambu em torno das próprias mãos. Eu respirei fundo, inclinando minha cabeça para trás, observando o teto enquanto meus colegas tomavam notas de cada detalhe daquela aula. Eu estava com uma regata cavada, a irritação na área tatuada e a falta de roupas largas o s