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06 - O capitulo em que Christian é sequestrado

Christian

Eu bati a porta com força ao entrar no carro, o que eu fiz para merecer tudo o que estava acontecendo? Um misto de sentimentos dançava em meu interior. Por um lado eu estava surpreso, magoado e com o orgulho ferido com a atitude de Alicia, por outro lado, a presença de Rose conseguia aplacar aqueles sentimentos, já que a irritação por sua atitude abafava tudo o que aconteceu.

— Hey, cuidado com a Brigitte — Rose ralhou antes de voltar a dirigir.

Eu observei seu perfil enquanto ela dirigia, seus cabelos negros e espessos me impediam de ter uma visão clara de seu rosto, como se quisesse facilitar as coisas para mim, a garota colocou o cabelo atrás da orelha, me lançando um olhar enviesado. Eu não podia negar que ela era bonita, ela tinha traços perfeitos e delicados em seu rosto, mas para mim, toda aquela beleza era ofuscada por uma aura de petulância e prepotência que dominava o seu mau gênio.

— Eu sinto muito pela situação na festa — Rose puxou assunto depois de dirigir por alguns minutos em silêncio.

— Eu não preciso da sua caridade, Campbell. Você não precisa fingir que se importa — Eu devolvi em um tom rude.

Eu sabia que estava sendo ingrato, se não fosse ela, além de tudo eu teria que andar por quilômetros até chegar ao campus, já que preferi ir de carona para poder beber a vontade na festa, mas não conseguia manter minha guarda baixa ao seu redor.

— Nem se eu fosse a melhor atriz do universo eu conseguiria fingir que me importo com você — Ela me olhou com desdém.

— Então por que você está me sequestrando? Não deveria estar com a sua amiga tentando a sorte com um dos caras do time ou algo assim? — eu murmurei, observando a paisagem interiorana através da janela.

— Em primeiro lugar, ela era minha colega de quarto, não amiga — Rose me corrigiu — em segundo lugar, eu não tenho que tentar a sorte com ninguém, aqueles caras que teriam a sorte de estar comigo.

Não pude evitar uma risada descrente diante daquela fala. Ela realmente acha que é de bom tom falar algo assim?

— Sabe o que eu não entendo? Como você consegue entrar em espaços pequenos como esse carro com esse seu ego gigante — eu devolvi, recebendo um sorriso em troca.

— Além disso, a atitude dela foi ridícula, e como sua amiga eu não posso apoiá-la.

Eu franzi o cenho, me virando para ela erguendo ambas as sobrancelhas ao respondê-la.

— E quem disse que eu quero sua amizade?

— E quem disse que eu te dei opção? — ela olhou para mim com uma expressão vitoriosa.

É isso, ela é completamente maluca.

Foi quando algo chamou minha atenção, ao invés de seguir em direção ao campus, Rose pegou uma saída nos levando a rodovia, fazendo minha confusão aumentar.

— Esse não é o caminho do campus!

— Não, eu tenho um compromisso em Waterfall e você vai me fazer companhia — ela piscou para mim.

Isso só pode ser piada!

— Não vou.

— Olha, não é como se você tivesse outros planos ou estivesse disposto a saltar de um carro em movimento — Ela devolveu.

— Por que você decidiu ser minha amiga? Pensei que não me suportasse.

Rose respirou fundo, parecendo organizar seus pensamentos antes de começar a falar.

— E eu não suporto, você é arrogante, sarcástico, irônico e conseguiu me tirar do sério aquele dia — Ela apoiou o cotovelo na janela, passando a mão pelos cabelos enquanto segurava o volante com uma única mão, fazendo eu correr os olhos por seu corpo, não conseguindo evitar notar o quanto ela era sexy, mesmo sendo irritante.

— Você tem algum ponto?

Rose inclinou a cabeça para me olhar, dando um pequeno sorriso antes de concluir seu pensamento.

— Eu sou arrogante, sarcástica e irônica. E isso provavelmente vai fazer com que eu jogue coisas em você e tente te atropelar às vezes…

— Então você está dizendo que isso será algo rotineiro? — eu a interrompi.

— Mas não quer dizer que eu te despreze, como acontece com Jax O'Donnel. E eu odiei a forma como Allie te tratou hoje, apenas me mostrou que eu estava perdendo o meu tempo achando que ela tinha mudado e não era mais a vadiazinha perfeita e superficial que eu conheci no colégio — Rose suspirou, voltando sua atenção para a estrada — é claro que eu não sou tão maluca assim, e se você realmente não me quiser por perto, eu não vou insistir. Mas se eu fosse você, mostraria para todos aqueles babacas arrogantes que você é melhor que todos eles juntos.

Eu estreitei os olhos diante de seu discurso, não sabendo exatamente como me sentir com sua proposta, mas não podia negar que era intrigante.

— O que você planeja? — decidi sondá-la.

— Eu posso ver em seus olhos que no fundo você é como eu, Davis. Eu não sei o que aconteceu para você estar se controlando tanto e mantendo essa pose de antissocial, mas a gente pode mostrar para todos o quanto estão errados em te subestimar.

— Eu não estou disposto a entrar em nenhuma fraternidade estúpida e parece que isso é o que importa aqui, não é mais como no High School, Rose — eu devolvi, balançando a cabeça de maneira negativa.

— Não, não é. Mas eu sei que não importa fraternidades e irmandades, o que importa é a pessoa estar disposta a cometer algumas loucuras pelo caminho. E eu sei que você está — ela declarou sem me olhar.

Ela tinha razão, eu não podia negar. Mas também não estava disposto a me render tão depressa.

— Como você pode ter tanta certeza?

— Porque você é igual a mim, e eu sei que eu vim para a faculdade para me formar, mas também para ter aquela experiência maluca que vou fazer questão de esconder dos meus filhos algum dia para não correr o risco de corrompê-los — ela ironizou me fazendo rir.

Eu parei por um segundo, pensando no que ela estava me propondo. Estava claro que eu queria que meus anos de faculdade fossem memoráveis, apenas não estava disposto a me meter em uma confusão tão séria quanto a de dois anos atrás.

Mas eu poderia considerar a proposta dela, mesmo que não admitisse em voz alta.

— Ser igual a você não é nenhum tipo de elogio, Campbell — eu murmurei em resposta, recebendo uma gargalhada melodiosa em troca — além disso, nós não pertencemos a nenhuma fraternidade E essas festas quase sempre são exclusivas. Eu apenas não fui expulso hoje porque provei que ela tinha me convidado.

— Liam Van Derr Wall também não pertence a nenhuma fraternidade e ainda assim vai em todas as festas — ela devolveu.

— Isso é porque sabem que se ele for, vai atrair a presença de muitas garotas — Eu murmurei.

Sinceramente eu não entendia o que aquele cara tinha de tão interessante, muitas garotas com quem eu tinha aula sabiam muito sobre ele e faziam de tudo para conseguir sua atenção, e estavam no campus há poucas semanas.

— Então não será um problema, afinal as garotas adoram um cara misterioso de olhos azuis. Você só precisa trabalhar um pouco e se esforçar para não parecer um maníaco — ela me provocou.

— Quando você diz 'as garotas', está se incluindo? — eu virei meu rosto para ela com um sorriso sarcástico na tentativa de envergonhá-la.

Mas ao invés de observar seu rosto ficando vermelho e ela mudando de assunto como eu esperava, Rose voltou a rir, me lançando rápidos olhares divertidos com o canto dos olhos, dividindo a atenção entre a estrada e eu.

— Sinto muito, mas não — não sabia dizer se eu me sentia decepcionado ou não com aquela resposta.

— Olhos azuis não fazem o seu tipo então?

— Ahh longe disso, seus olhos são lindos. Um dos mais bonitos que já vi. Mas existe um problema — ela falou devagar, despertando a curiosidade em meu interior.

— Qual?

— Quando eu olho para você, eu sinto o desejo quase incontrolável de te atropelar repetidas vezes, a sua sorte é que eu nunca faria nada para machucar a Brigitte — ela sorriu de maneira inocente, me fazendo gargalhar.

— E eu é que pareço um maníaco?

Nós ficamos em silêncio depois disso, eu aproveitei o tempo que teríamos durante aquele trajeto até Waterfall para pensar em tudo o que estava acontecendo, me surpreendendo ao notar que aquele mal humor e sentimento negro que me dominou naquela festa estava diminuindo de maneira gradual.

— Quem é Brigitte? — eu soltei depois de um tempo em silêncio.

Ela já tinha falado aquele nome duas vezes, mas apenas naquele momento eu notei.

— Meu carro — ela respondeu com naturalidade.

— Você nomeou seu carro? Está falando sério?

— O que? Você nunca leu Christine? Todo carro precisa de um nome, e o mais adequado é que seja um nome feminino — ela deu de ombros.

Ótimo, depois de tentar me atropelar, ela usa esse exemplo.

— Você dirige um carro antigo e vermelho e tem Christine como inspiração? Estou começando a me preocupar — eu a provoquei.

— Não se preocupe, infelizmente a Brigitte não se regenera como a Christine e meu pai me mataria se eu voltasse para casa e ela estivesse com um arranhão sequer — ela devolveu com um olhar divertido.

— Seu pai? — eu decidi conhecê-la um pouco melhor.

— Meu avô comprou esse carro de presente para o meu pai quando ele entrou na faculdade, e ele me deu quando eu fui aceita na D.U. — ela explicou.

— É uma boa história — eu comentei.

Nós dois voltamos a ficar em silêncio, e logo notei que nos aproximávamos da entrada de Waterfall.

— Que tipo de compromisso você tem aqui? — Eu finalmente perguntei.

Rose apontou para o porta luvas, eu lancei um olhar questionador antes de abrir a porta do compartimento após ela me incentivar com o olhar, retirando alguns papéis dali.

— Escolhe um — ela pediu.

Eu observei diversos desenhos sem compreender o significado daquilo.

— O que eu estou escolhendo? — eu perguntei sem desviar o olhar dos desenhos.

— Minha tatuagem — ela explicou.

Eu a encarei sem saber como reagir diante daquela informação. Ela vai mesmo confiar em mim para escolher o desenho de uma tatuagem?

— Sério? E você quer que eu escolha?

— Por que a surpresa?

— Você acabou de me conhecer e quer que eu escolha o desenho que vai ficar gravado na sua pele para sempre — eu apontei folheando mais uma vez as opções.

Sua risada encheu o ambiente, ela me lançou um rápido olhar divertido antes de me responder.

— Qual o problema? Eu gostei de todos esses desenhos, apenas estou indecisa sobre qual escolher, não é como se eu corresse o risco de acabar com um unicornio zumbi tatuado na testa. Eu quero saber o que você acha que vai ficar melhor em mim — ela respondeu.

Eu separei duas opções que eu mais tinha gostado, antes de fazer a pergunta final.

— Onde você vai tatuar? — eu perguntei enquanto entrávamos na cidade

Rose suspirou, parecendo pensativa. Eu pensei que ela não me responderia, mas sua resposta veio após alguns segundos quando ela estacionou o carro junto ao meio fio.

— Vamos fazer o seguinte, escolhe o desenho e o lugar em que ele vai ficar — ela piscou para mim antes de sair do carro.

Eu pisquei atordoado alguns segundos antes de segui-la, ela mesmo vai me deixar escolher o lugar?

— Você está falando sério? — não tive dificuldade em alcançá-la, colocando as mãos no bolso enquanto caminhava ao seu lado.

— Eu não vou fazer nenhuma tatuagem no rosto — ela avisou.

Eu avistei a entrada do estúdio, me apressando para abrir a porta para que ela passasse. Após falar com a recepcionista, nós nos acomodamos em um sofá, esperando para que fossemos atendidos enquanto eu pensava no que ela tinha proposto antes.

— Então, já escolheu? — Ela começou a folhear um catálogo de artes para tatuagens.

— Qual o significado da tatuagem para você? — eu decidi descobrir um pouco mais sobre ela.

Rose suspirou, fechando o catálogo e colocando sobre minhas pernas antes de devolver em um tom irônico.

— Significa que eu tenho dinheiro e o tatuador tem um horário vago. Eu só quero um desenho bonito.

Eu abri o catálogo, folheando com desleixo enquanto observava o corpo dela, imaginando um lugar adequado para uma tatuagem.

— Me deixa escolher outra? — Eu indiquei o catálogo, fazendo ela arregalar os olhos.

— Eu não confio em você tanto assim, Davis.

— Eu escolho o desenho e te mostro, se você gostar, você faz — eu propus.

Rose pensou por alguns momentos antes de concordar com a cabeça. Ela tinha muitos desenhos bonitos, mas nenhum parecia combinar com o lugar que eu escolhi. Eu lhe mostrei um desenho de três flores acompanhando a linha da costela próxima ao seio.

— Uau, adorei — ela pegou o catálogo da minha mão, observando de perto.

Eu sorri satisfeito, o desenho ficaria ótimo nela, mas o principal motivo de minha escolha foi imaginar o quanto aquela tatuagem seria dolorosa, principalmente em alguém tão magra.

— Eu acho que vai ficar perfeita em você — eu pisquei para ela, sabendo que eu deveria alertá-la o quanto seria doloroso, mas não fiz.

— Sim, eu tinha pensado em algo como o ombro ou a coxa, mas essa é tão delicada — ela concordou.

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