Caminhei em direção ao espelho, ao ver o meu reflexo nele, há dias sem dormir, duas bolsas arroxeadas formaram-se abaixo dos meus olhos, agora não me importa mais ter belos olhos, tratados, cabelos penteados, escovados algumas vezes antes de dormir, a luta contra a insônia tarde a noite, tudo é tão vazio, tão sem vida sem ele aqui, sem suas canções poéticas e palavras incentivadoras, me sinto vazia, é como viver num mundo sem mim.
Desde que Jamie se foi, tudo ficou cinza, vazio, não saberei quais palavras dizer. As horas apenas passam, sem motivos, sem razões. Ele foi o meu primeiro amor, homens houveram, outros, tivera tantos, fantasiados de paixão ou qualquer nome que pudesse dar ou haver para uma aventura tola, mas depois que o meu olhar cruzou ao dele, que os meus olhos encontraram aqueles olhos azuis naquela tarde ensolarada, não houve outro olhar que me fizesse parar por alguns instantes interessada no que seria, por trás de um olhar, todos os homens se tornaram iguais aos meus olhos, apenas seres comuns, com o meu Jamie é diferente.
– Ainda pensando nele querida? – Virei a frente do espelho, vendo a minha sogra atrás de mim, sorri fraco, suspirei em seguida. — Deveria ao menos dormir Judie, eu sei amar o Jamie, mas seu sofrimento não irá trazê-lo de volta. – Neguei, eu não o deixei de amar, porque somente a sua matéria se foi, o seu amor ainda reside em mim. – Não deixei e nem deixarei de amá-lo Sarah, nunca deixarei, a sua morte foi apenas uma separação material, ele persistiria aqui dentro de mim.
Suspirou vindo até mim. – Sim, tens razão, ele se foi em corpo, mas olhe para você esta acabada, o que ele diria se a visse assim?– Olhei-me até virar-me para o espelho, sorri fraco. – Esta magra, muito magra, disseram que você não vai à academia a mais de um mês, sei que a morte do meu filho foi trágica, mas temos que seguir. Judie. – Suas mãos acariciando os meus ombros me fazem sentir que não estou sozinha, apesar de me sentir assim o tempo inteiro.
– Irei voltar, Sarah, ainda não tenho forças para sair daqui, para voltar e ele não... – Olhei para a sua cadeira, junto a mesa das anotações, sorri fraco, até ela não é mais a mesma com a sua partida tão precoce. Sarah caminhou até a mesma, ao tocá-la. – Não toque Sarah, deixei-a como estar, foi o último lugar que ele esteve antes de vir para os meus braços. – Pedi, mas as suas mãos percorreram a mesa, lado a lado, abriu a gaveta atentamente, observou as anotações.
– O que são estes papéis? – Dei de ombros, lhe olhando. – Os seus escritos, o Jamie escrevia muito, poesias, anotações de pequenos trechos que...
– Isso estaria no seu caderno e não numa gaveta, JudHie tem certeza que não sabe que se trata todos esses papeis? – Sorri fraco, já havia dito o que é. – Anotações, poesias e escritos habituais, pode parecer que o Jamie era organizado, mas ninguém... – Fora retirando os papéis, a medida que os olhava me olhava em reversas. – Judhie isto são... são contas? – Franzi o cenho ao me aproximar, como contas? – Não, não são... – Aproximei-me mediante fora, passando uma a uma, cartas e mais cartas brancas e amareladas, com selos caindo ao chão.
Caminhou até o sofá, sentou-se passando entre as mãos, as que foram caindo fui pegando, banco, aviso de débito, a medida que fui lendo apenas os títulos, estava mais difícil entender. – Não acredito a casa? – Ela vociferou, me fazendo levantar do chão. – O que tem a casa? – Indaguei receosa, sorriu nervosamente. – Como me pergunta o que tem a casa Judhie? Você deixou tudo nas mãos dele? Como pode confiar cegamente em alguém?
Assenti. – Em que mãos deixaria Sarah? Seu filho entende de fin... – Caminhei a me explicar até que parou de olhar-me, fitando os olhos nos papéis mais uma vez. – Tem apenas um mês para desocupar a casa, o que vai fazer? – Engoli em seco, arranquei a carta aberta em sua mão, deslizei os meus olhos rapidamente de um parágrafo a outro, em todas as cartas cobravam uma alta taxa de valores, um bom montante fora tomado em empréstimos.
– Aposto que não tem conhecimentos disto. – A frase fora dita num tom de reclamação, apenas neguei ainda olhando os papéis, até chegar a carta de desapropriação. – Ele... ele guardou isto de mim, mas… – Prendi os lábios em tensão, pela primeira vez Jamie me deixa com raiva sem haver dialogo. – Evidente que sim, Judhie! – As lágrimas vieram aos seus olhos, enquanto os meus buscam compreender o que esta acontecendo.
– Mas não é possível, o Jamie sempre foi ótimo com as contas, eu nunca precisei me preocupar, todas às vezes que lhe questionará, ele... – As palavras saíram em voz alta me deixando ainda mais nervosa. Ergui a mão deixando tudo de lado, elas não teriam valor agora, atirei todas no sofá. – O que vai fazer? – Neguei perdida, desorientada.
– Vá ao banco ver o que pode ser feito, ele está morto! – Joguei-me no sofá em seguida, sem forças ou coragem para nada. – Não tenho condição nem mesmo de pensar sobre isto, acha que o Jamie me deixaria nesta situação? – Revirou os olhos ao me escutar, bem, ela é sua mãe, mas uma mãe que dá preferência a nora ao invés do filho. – Estou indo, caso queira ir ao banco me avise! Irei com você querida!
Olhei-lhe pegando as sacolas, vários pensamentos vieram a minha cabeça, hipoteca, dívidas, Jamie morto, tudo é tão impossível que não há como fazer sentido, para mim, nada disso faz sentido. Peguei as cartas abaixo de mim, uma a uma, infelizmente não tenho, mas o meu amor aqui, se ele estivesse aqui eu não teria descoberto nada disso, ele estaria lá brigando por mim, por nossas coisas, olhei cada carta, cada data nelas, cada valor.
Suspirei fundo, notando que as lágrimas me vencem mais uma vez, ao rolar pelos meus olhos, antes viúva aos trinta, agora viúva desabrigada e endividada, o nosso padrão de vida sempre foi elevado, só não imaginava que seria tão caro desta forma, a tarde cessou, a noite chegou trazendo a escuridão e com ela mais uma vez a sensação de estar sozinha, a caneta no porta caneta não se move mais, tampouco a cadeira arrasta ao seu levantar continua imóvel, parada, sem um mero balançar.
A cama é fria, é vazia, sem suas mãos a me acariciar, me fazem sentir na pele a dor de perder, apenas quem já perdeu o seu grande amor pode entender, as lágrimas descem rotineiramente, nunca acreditei em almas, espíritos, mas adoraria que se ele pudesse vir até a mim, uma única vez se quer, que visse, me aquecesse com as suas palavras, colocasse para adormecer outra vez, e de repente ficasse tudo bem outra vez.
Mas por mais que eu tente, não consigo, é angustiante, é doloroso, não sentir a sua mão apertando os meus ombros, me perguntando como foi o meu dia outra vez. Trazer a xícara de chá quente, doce e delicioso capaz de aquecer até mesmo a alma que já se esfria por dentro, deslizo a mão pela cama, onde está o meu amor? Me pergunto angustiada, será que realmente existe um paraíso para pessoas boas como você?
Ou um inferno para as pessoas ruins? Conviver com pessoas boas e ruins após a morte dá no mesmo, já que temos que conviver com todos os tipos aqui, tendo que descobrir no dia a dia quem é quem. Me deito tentando me refugiar na minha solidão, alguns dizem ser liberdade, mas no meu solitário fim de noite é apenas tristeza, não é possível sentir nada além que tristeza mediante a tudo isso que me acontece. Rolo de um lado a outro na cama e nada acontece, tédio, exaustão pelo nada, pelo vazio que vaga dentro do quarto, dentro de mim, não há mais nós, apenas lembranças.
Ser o representante da família Valentim, não é nada ruim. Apesar da rotineira agenda cheia, normalmente dormir em um lugar e acordar em outro, não há muito o que reclamar, negócios sempre fazem parte da rotina de um mafioso, seja de armas, drogas, bebidas, mulheres sempre há negócios, restando pouco tempo para visitar o meu avô, o único familiar que realmente se importa comigo. — Como ele esta essa semana? — Chego a mansão Valentim perguntando ao seu acompanhante pessoal. Não permito que abra a porta do carro, tenho mania de limpeza, neste exato momento não faço ideia onde ele tenha colocado essas mãos. — Apresentou um pouco de cansaço ao caminhar pelo jardim, diminuímos a caminhada de uma hora para trinta minutos, senhor Hendricks. — Lamento, chegar a idade de sessenta e sete anos não parece ser uma atividade fácil, para quem bebeu e fumou bastante na sua juventude, além de ter perdido noites. — A alimentação? — A cada passo que dou em direção ao enorme saguão estilo xadrez, s
— Como um mês para desocupar a casa no mínimo? O imóvel está em meu... — Sinto a mão da minha sogra me tocar numa leve carícia, enquanto aflita me vejo perder o que não lutei para conquistar, mas foi o que me sobrou, arriscar ir a leilão rapidamente. — Não há uma proposta? Formas de re... O homem alto, loiro, cabelos lisos lambidos, penteados para trás, me olha negando algumas vezes, desliza a mão pelo crachá. — Não senhora Houston, já foi enviado a carta de despejo, em breve irá um avaliado... — Mas eu não recebi, foi o meu falecido esposo que fez todas essas transações...– Tento explicar em vão, o sarcasmo em seu rosto é nítido, ao ponto que me descontrolo. — A sua assinatura está no documento senhora… — Começa a dizer ainda alisando o crachá pendurando a um cordão azul em seu pescoço. – Eu só estou pedindo um tempo para que eu possa renegociar, qual parte você não ouviu? — Judhie! — Sarah tenta me acalmar, enquanto ainda penso que estou calma. — Eu só preciso de tempo pa
–– Hendricks fomos duas vezes a casa do Jamie, e em nenhuma delas, o encontramos, ao questionar a vizinha que perâmbulava por ali, a mesma me disse que há mais de um mês que ele esta morto. –– Deslizei a mão pelo queixo, olhando para Fernan de pé a minha frente, o gosto do uisque ficou um pouco amargo de repente. ––Não entendi corretamente.–– Indaguei me sentindo um pouco confuso. O mesmo assentiu ao me ouvir. –– O senhor Jamie Houston é falecido, Hendricks, o que faremos? –– O fitei na escuridão na sala, o que fazer quando uma pessoa morre e leva consigo uma dívida de sessenta mil euros, levei a ponta da minha lingua ao lábio superior. –– Tem algum famíliar? –– Ergueu os lábios num breve assentir de cabeça. –– Sempre ouvimos ele falar da sua esposa, tem uma esposa, a família mesmo não possui bens, nada que possa pagar. Pelo que me recordo, ele sempre enalteceu essa esposa, nunca a vi, nem mesmo me passou pela cabeça, pela idade que aparenta ter, um escritor falido, sem bens, sem im
Acordei com a claridade da luz entrando pelas janelas, minha visão ardeu num incomodo quase insuportável, coloquei a mão em minha testa ao perceber que aquecia, quanto tempo eu dormi? Me perguntei, ao sentar-me no sofá, olhei em volta, girei o dedo no ambiente arrumado, alguns flashs de um homem ter estado aqui a noite passada vieram. Não me lembro bem o seu rosto, seria apenas um sonho ou realmente veio alguém aqui?Levantei-me de olhos fechados, exagerei na bebida ontem a noite? Me pergunto ainda me sentindo tonta, longo tropeço na garrafa no meio da sala, evidente que sim. ––O tipo de coisas que você esta me levando a fazer Jamie. ––Ainda reclamo, subo a escada, mas ao me lembrar do estranho vou ate a porta, ao gira-la, vejo fechada, afirmo, foi apenas uma pesadelo a noite passada, quem viria até mim tão tarde a noite? Não, todos sabendo da minha situação, ninguém viria.Subo as escadas me arrependendo do que fiz a noite passada, mas felizmente eu dormir. ––Adormeci sem você, Jamie
–– Qual o problema com a viúva Hendricks? –– Olhei para Fernan a meu lado, não sou habituado a me envolver com qualquer mulher, a atração não acontece facilmente, além disso tenho meus receios, para quem já teve seus históricos de herpes, fica sempre o receio, o cuidado, um germe facilmente adentrado no sistema imunologico é facilmente para tornar-se uma doenca. ––Beleza! Sorriu virando-se para mim. –– O que? –– Assenti, por fim suspirei, dando-lhe certeza. –– Não é uma mulher tradicional da cidade, suas características, hábitos, são completamentes diferentes, tenho a sensação de conhecê-la de algum lugar, mas... por mais que eu tente. –– Então seria uma possível candidatar a gerar o bisneto que o seu avô tanto deseja?––Sorri de lado, neguei. –– A mulher é viúva, Fernan, pode ter seus atributos, mas é viúva, e com certeza meu avô deseja alguém de uma boa linhagem para carrega seu bisneto no ventre. ––Continuou seguindo ao volante, peguei o celular para me atér aos meus negócios, che
O mafioso simplesmente se foi, depois de perceber que não tenho nada a dar a ele, de repente se foi. Uma coisa ele tem razão, me matar seria um favor, reunir todas as caixas na sala. — Posso saber o que que esta acontecendo aqui? — O sorri ao escutar Sarah chegando de repente, fechando a porta. — Estou pensando em me preparar antes que o avaliador de imóveis venha. Abriu a boca em seguida, mostrando-se compreender o que estava acontecendo. — E para onde pretende levar todas essas coisas? — Engoli em seco, e em seguida neguei. — Como foi com ele Judhie? — Parei de empurrar a caixa indo em direção a escada. — Esteve aqui conversamos, me ofereci para trabalhar na sua boate como dançarina. —— Levou a mão a boca. — E? Com certeza aceitou, é boa no que faz, além de ter uma beleza natural, não tenho como aceitar a minha princesa trabalhando nestes tipos de lugares, Judhie.Neguei, suspirei fundo. — Que disse? Não agradaria aos seus clientes, assim me disse ele, nem me deixou mostrar o longo
O lado direito da minha face ardendo, a tapa me pegou desprevinido, era apenas uma proposta, uma teoria louca que foi pensada por dias. Meu avô não colabora, ele quer a droga do bisneto dele de qualquer maneira antes de morrer. Encontrar uma mulher que me interesse é díficil, todas elas sempre tem casos com mais de um homem, uma virgem me custaria o principal, minha liberdade. Quando não choramingam por atenção, querem carinho, dinheiro, tudo que quero é paz, ter o sossego da minha vida habitual, a mulher agora embaixo de mim, num vestido verde de tecido fino com pontilhos azuis, a maneira como movia-se tentando-se me excitava, ela me causou euforia desde que abriu a porta naquela noite, embriagada, não seria qualquer homem que a deixaria dormir em paz e vestida naquela noite. Segurando os seus pulsos, enquanto a mesma esbravejando não foi o que eu imaginei como proposta. — Seu frouxo, covarde, é assim que faz com que as mulheres se deitem com você? — Senti o cuspe bater em meu
Após a visita estranha do Valenciano, me vi fora de mim, apenas fechei a porta entrei pra dentro de casa em completo desespero, ele estava tentando ser gentil, mas não, nenhum deles são, peguei o meu celular disquei algumas vezes para a minha mãe. — Mãe por favor assim que ouvi este meu recado por favor liga pra mim, estou em apuros, o Jamie morreu, mãe, estou devendo a mafiosos, estou perdendo a casa, mãe por favor me liga. Este não foi o único recado, as mãos tremiam enquanto outros foram sendo deixados, a maneira como aquele homem me tocou, me contornou-se para baixo dele sobre o o sofá, lembrou-me do menor detalhes de todos, o que eu pensei que havia sido enterrado com o meu falecido marido. O atrito em nossos corpos, a maneira como ele me segurava com força, o perfume inebriante entrando em meu nariz, não era amor, jamais sentiria isso por outro homem. Quando o celular tocou sobre o sofá, corri para pega-lo, sorri ao ver o nome mãe na tela. — Oi mãe! — Atendi sentindo que a m