A proposta de um mafioso
A proposta de um mafioso
Por: Daniel Dejesus
Prólogo

Caminhei em direção ao espelho, ao ver o meu reflexo nele, há dias sem dormir, duas bolsas arroxeadas formaram-se abaixo dos meus olhos, agora não me importa mais ter belos olhos, tratados, cabelos penteados, escovados algumas vezes antes de dormir, a luta contra a insônia tarde a noite, tudo é tão vazio, tão sem vida sem ele aqui, sem suas canções poéticas e palavras incentivadoras, me sinto vazia, é como viver num mundo sem mim.

Desde que Jamie se foi, tudo ficou cinza, vazio, não saberei quais palavras dizer. As horas apenas passam, sem motivos, sem razões. Ele foi o meu primeiro amor, homens houveram, outros, tivera tantos, fantasiados de paixão ou qualquer nome que pudesse dar ou haver para uma aventura tola, mas depois que o meu olhar cruzou ao dele, que os meus olhos encontraram aqueles olhos azuis naquela tarde ensolarada, não houve outro olhar que me fizesse parar por alguns instantes interessada no que seria, por trás de um olhar, todos os homens se tornaram iguais aos meus olhos, apenas seres comuns, com o meu Jamie é diferente.

– Ainda pensando nele querida? – Virei a frente do espelho, vendo a minha sogra atrás de mim, sorri fraco, suspirei em seguida. — Deveria ao menos dormir Judie, eu sei amar o Jamie, mas seu sofrimento não irá trazê-lo de volta. – Neguei, eu não o deixei de amar, porque somente a sua matéria se foi, o seu amor ainda reside em mim. – Não deixei e nem deixarei de amá-lo Sarah, nunca deixarei, a sua morte foi apenas uma separação material, ele persistiria aqui dentro de mim.

Suspirou vindo até mim. – Sim, tens razão, ele se foi em corpo, mas olhe para você esta acabada, o que ele diria se a visse assim?– Olhei-me até virar-me para o espelho, sorri fraco. – Esta magra, muito magra, disseram que você não vai à academia a mais de um mês, sei que a morte do meu filho foi trágica, mas temos que seguir. Judie. – Suas mãos acariciando os meus ombros me fazem sentir que não estou sozinha, apesar de me sentir assim o tempo inteiro.

– Irei voltar, Sarah, ainda não tenho forças para sair daqui, para voltar e ele não... – Olhei para a sua cadeira, junto a mesa das anotações, sorri fraco, até ela não é mais a mesma com a sua partida tão precoce. Sarah caminhou até a mesma, ao tocá-la. – Não toque Sarah, deixei-a como estar, foi o último lugar que ele esteve antes de vir para os meus braços. – Pedi, mas as suas mãos percorreram a mesa, lado a lado, abriu a gaveta atentamente, observou as anotações.

– O que são estes papéis? – Dei de ombros, lhe olhando. – Os seus escritos, o Jamie escrevia muito, poesias, anotações de pequenos trechos que...

– Isso estaria no seu caderno e não numa gaveta, JudHie tem certeza que não sabe que se trata todos esses papeis? – Sorri fraco, já havia dito o que é. – Anotações, poesias e escritos habituais, pode parecer que o Jamie era organizado, mas ninguém... – Fora retirando os papéis, a medida que os olhava me olhava em reversas. – Judhie isto são... são contas? – Franzi o cenho ao me aproximar, como contas? – Não, não são... – Aproximei-me mediante fora, passando uma a uma, cartas e mais cartas brancas e amareladas, com selos caindo ao chão.

Caminhou até o sofá, sentou-se passando entre as mãos, as que foram caindo fui pegando, banco, aviso de débito, a medida que fui lendo apenas os títulos, estava mais difícil entender. – Não acredito a casa? – Ela vociferou, me fazendo levantar do chão. – O que tem a casa? – Indaguei receosa, sorriu nervosamente. – Como me pergunta o que tem a casa Judhie? Você deixou tudo nas mãos dele? Como pode confiar cegamente em alguém?

Assenti. – Em que mãos deixaria Sarah? Seu filho entende de fin... – Caminhei a me explicar até que parou de olhar-me, fitando os olhos nos papéis mais uma vez. – Tem apenas um mês para desocupar a casa, o que vai fazer? – Engoli em seco, arranquei a carta aberta em sua mão, deslizei os meus olhos rapidamente de um parágrafo a outro, em todas as cartas cobravam uma alta taxa de valores, um bom montante fora tomado em empréstimos.

– Aposto que não tem conhecimentos disto. – A frase fora dita num tom de reclamação, apenas neguei ainda olhando os papéis, até chegar a carta de desapropriação. – Ele... ele guardou isto de mim, mas… – Prendi os lábios em tensão, pela primeira vez Jamie me deixa com raiva sem haver dialogo. – Evidente que sim, Judhie! – As lágrimas vieram aos seus olhos, enquanto os meus buscam compreender o que esta acontecendo.

– Mas não é possível, o Jamie sempre foi ótimo com as contas, eu nunca precisei me preocupar, todas às vezes que lhe questionará, ele... – As palavras saíram em voz alta me deixando ainda mais nervosa. Ergui a mão deixando tudo de lado, elas não teriam valor agora, atirei todas no sofá. – O que vai fazer? – Neguei perdida, desorientada.

– Vá ao banco ver o que pode ser feito, ele está morto! – Joguei-me no sofá em seguida, sem forças ou coragem para nada. – Não tenho condição nem mesmo de pensar sobre isto, acha que o Jamie me deixaria nesta situação? – Revirou os olhos ao me escutar, bem, ela é sua mãe, mas uma mãe que dá preferência a nora ao invés do filho. – Estou indo, caso queira ir ao banco me avise! Irei com você querida!

Olhei-lhe pegando as sacolas, vários pensamentos vieram a minha cabeça, hipoteca, dívidas, Jamie morto, tudo é tão impossível que não há como fazer sentido, para mim, nada disso faz sentido. Peguei as cartas abaixo de mim, uma a uma, infelizmente não tenho, mas o meu amor aqui, se ele estivesse aqui eu não teria descoberto nada disso, ele estaria lá brigando por mim, por nossas coisas, olhei cada carta, cada data nelas, cada valor.

Suspirei fundo, notando que as lágrimas me vencem mais uma vez, ao rolar pelos meus olhos, antes viúva aos trinta, agora viúva desabrigada e endividada, o nosso padrão de vida sempre foi elevado, só não imaginava que seria tão caro desta forma, a tarde cessou, a noite chegou trazendo a escuridão e com ela mais uma vez a sensação de estar sozinha, a caneta no porta caneta não se move mais, tampouco a cadeira arrasta ao seu levantar continua imóvel, parada, sem um mero balançar.

A cama é fria, é vazia, sem suas mãos a me acariciar, me fazem sentir na pele a dor de perder, apenas quem já perdeu o seu grande amor pode entender, as lágrimas descem rotineiramente, nunca acreditei em almas, espíritos, mas adoraria que se ele pudesse vir até a mim, uma única vez se quer, que visse, me aquecesse com as suas palavras, colocasse para adormecer outra vez, e de repente ficasse tudo bem outra vez.

Mas por mais que eu tente, não consigo, é angustiante, é doloroso, não sentir a sua mão apertando os meus ombros, me perguntando como foi o meu dia outra vez. Trazer a xícara de chá quente, doce e delicioso capaz de aquecer até mesmo a alma que já se esfria por dentro, deslizo a mão pela cama, onde está o meu amor? Me pergunto angustiada, será que realmente existe um paraíso para pessoas boas como você?

Ou um inferno para as pessoas ruins? Conviver com pessoas boas e ruins após a morte dá no mesmo, já que temos que conviver com todos os tipos aqui, tendo que descobrir no dia a dia quem é quem. Me deito tentando me refugiar na minha solidão, alguns dizem ser liberdade, mas no meu solitário fim de noite é apenas tristeza, não é possível sentir nada além que tristeza mediante a tudo isso que me acontece. Rolo de um lado a outro na cama e nada acontece, tédio, exaustão pelo nada, pelo vazio que vaga dentro do quarto, dentro de mim, não há mais nós, apenas lembranças.

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