Jamile
Terça-feira, Said acordou cedo e pronto para encarar uma semana cheia de reuniões decisivas para que Sábado nos casássemos. Depois viajaríamos para Grécia, onde curtiríamos nossa lua-de-mel com Bashir.
Eu já tinha vomitado bastante, por isso eu ainda estava deitada vendo-o ajeitar a gravata em frente ao espelho.
Said se sentou ao meu lado na cama.
—Ficará bem?
—Sim.
—Hoje, não sairei do escritório. Qualquer coisa, peça para Abiá me ligar.
Eu sorri para ele.
—Habibi, gravidez não é doença.
Said me estudou como os olhos antes de perguntar:
—Está feliz?
Said me a amava. Era surreal termos o mesmo sentimento. Mas estávamos realmente apaixonados.
—Muito. Eu te amo, você me ama. Vamos nos casar. Estou gráv
Jamile O palácio estava cheio. Segundo Said, ele não tinha nenhum parente vivo. Da parte dele, só um amigo chegado viria e a Staff do seu trabalho participariam da festa. Já da minha parte, meus dois tios que viriam acompanhado de suas famílias. Meus pais e minha irmã com seu marido marcariam presença também. Ah, claro, sem contar com Zafir que também compareceria à cerimônia. O espetáculo estava armado. Só que dessa vez eu não seria motivo de riso. O ritual que levaria três dias faríamos em um dia. Afinal, eu não era mais virgem, era separada e estava grávida. Por mim, nos casaríamos e pronto. Mas Said não pensava assim. Para ele, a festa encerraria um capítulo da minha vida de humilhações. Mostraria a todos o meu valor. Segundo ele, todos veriam o amor que ele sentia por mim em seus olhos e isso seria um marco em minha vida e na vida de meus familiares. Quando deu uma hora da tarde, eu já estava pronta. Abiá me ajudou com o
As horas foram se arrastando e, conforme os minutos passavam, minha preocupação se intensificava. Allah! Eu deveria ter entrado com ela! Andei de um lado para o outro na sala de espera do hospital. —Said. Jamile é forte. Ficará tudo bem. —Abiá me disse com Bashir no colo. As lembranças do meu passado eram fortes demais. Desviei meus olhos dela. Bashir estava lá, me dizendo que tudo podia dar errado. Suando frio, derrubando lágrimas, morrendo de medo, minhas respirações ficaram cada vez mais profundas. A ansiedade dançando em meus olhos, apesar de todo o meu esforço para me manter calmo. A enfermeira entrou na sala de espera. —Nasceu. Uma linda menina. Mãe e filha passam bem. Trêmulo, eu desabei na cadeira. —Posso vê-la? —Perguntei ansioso. —Sua filha? —Não! Minha esposa. —Por enquanto não. Ela está na sala de recuperação. Só quando ela for para o quarto. Assenti. —E minha filha? P
Triste, cansada e acalorada, me sentei no banco. Fitei o pátio, a simetria dominava tudo. Rodeado por uma galeria de arcos, sustentado por quatro colunas em cada um dos cantos. Azulejos azuis e brancos reproduziam como um espelho os desenhos da fonte que ficava no meio dele.Enxuguei minhas lágrimas....Sequências indesejadas de fatos me levarão a muitos erros. Estava no meu sangue ser conquistada e venerada. Jamais passou pela minha cabeça que eu teria que conquistar o amor do meu marido. Ryan fez aquilo que eu esperava de Zafir, me olhou com paixão, me desejou. Agora tentava alcançar um estado de ânimo humilde e aceitar meu destino. Aprendi que a transgressão só leva ao arrependimento e à infelicidade. Passei o limite, fui atrás do proibido por ser orgulhosa.Burra!—Jamile! Por que está sentada aí? —Minha tia rabugenta disse no árabe. &mda
JamileAllah! Zafir não poupara despesas. O vestidoera realmente lindo. Fiquei na ponta dos pés em frente ao espelho, me imaginando com sapatos de saltos altos.Isso era passado. Engoli meu choro. Zafir jamais fez economia comigo...nada. Tudo que eu pedia ele me dava. Nossa casa proclamava o quanto éramos ricos.Allah! Agora acabou a riqueza e meu prestígio em ser a esposa de Zafir Youssef Xarif.Quando me casei, eu senti como se ele fosse educar um cavalo de corrida promissor, querendo me transformar na esposa perfeita. Mas não era isso que eu sonhava. Eu esperava que ele me amasse. Que ele me dissesse que me amava. Que seus olhos gentis, se tornassem quentes.—Deixe-me entender isso direito. A odalisca acompanha o quarto? —Ouvi uma voz grave nas minhas costas.Allah!Fechei os olhos. Aquela era a última coisa que que
A expressão era sempre ferina, ela estava constantemente mal-humorada. Sua voz sempre afiada para me atingir. Definitivamente, eu era uma impostora. Eles não estavam felizes comigo ali.Um eco da série de choques que eu sentira naquele dia provocou-me tremores por todo o corpo, mas ao mesmo tempo, minha ira rebelde também me invadiu e ergui meu queixo para dizer:—Não fiz de propósito.O silêncio impregnou o ambiente enquanto os olhos duros estavam fixos nos meus:—Não seja tão hipócrita a ponto de questionar minha palavra com respeito a isso, ou de querer discuti-la. Com o passado que carrega, duvido! Agora vai! Continue seu trabalho. Depois lave a louça e só então terá direito de comer o que sobrou.Eu assenti para ela sem discutir e pisando duro, voltei a fazer o meu trabalho.Allah! Dai-me forças!Amor era um sentimento do qual eu
Senti um alívio feroz quando deixei aquela casa. Quase chorei de felicidade. Na despedida, me deram um beijo no rosto de praxe, mas sem sentimento algum. Talvez até alívio. Como se cumprissem um protocolo. Raissa naturalmente não me beijou e de quebra me olhava com ódio nos olhos. Ao olhar para ela, me vi. Odiei Khadija por inveja, puro despeito. Agora eu pagava por isso.Estava deixando para trás um remoinho de humilhações, violência e abusos de autoridade. Lembranças que eu queria esquecer. Caminhei até a porta com Said, rumo a minha nova vida.Por que não a liberdade?Eu ansiava esquecer toda a injustiça sofrida com meus tios, que me atormentou durante um ano em que eu estive com eles. As portas se fecharam atrás de nós com estrondo. Fechei os olhos, lágrimas desceram dos meus olhos. Respirei fundo o ar fresco da manhã. Ouviu pela primei
JamileEu fui até o banheiro. E estava me sentindo nauseada com tudo isso. O sentimento de angústia que senti com suas palavras colaboraram muito para isso. Vi o quanto eu estava mudada. Se fosse outra Jamile, usufruiria com o que ele me daria. Sim, pois com certeza, sendo sua amante, eu teria muitas regalias e ofato de ele não seguir os costumes seria muito bem-vindo. Só que hoje eu pensava diferente. Eu estava vivendo as falas de Zafir " Espero que não enxergue o preço das coisas e sim o valor das pessoas. " Elas agora não eram mais como um eco na minha cabeça, elas desceram para o meu coração, e se fixaram na minha alma.Hoje eu queria ser amada. Tinha trinta e três anos nas costas. Não estava na flor da idade. Eu não era mais uma jovenzinha despreocupada, com aquela mentalidade que eu tinha uma vida pela frente. A idade já estava come&
Eu assenti para ele. Meu corpo doía clamando pelo dele, mas eu me mantive firme em afastá-lo de mim. Saímos da biblioteca. Algumas empregadas que limpavam o local pararam o que estavam fazendo por um breve tempo e me estudaram com os olhos.Atravessamos o vestíbulo, os passos ecoando no lindo piso de mármore branco e preto. Entramos num corredor com colunas trabalhadas. O sol entrava pelas janelas, cortinas lindas e leves balançavam com o vento. Grandes mosaicos decoravam as paredes e grandes abajures de cobre pendiam do pé-direito alto.Passamos por mais um ambiente que conduzia à parte externa. As rosas desabrochadas e o perfume me fizeram lembrar do jardim de rosas da minha antiga casa. Senti uma súbita pontada ao pensar em tudo que perdi com meu orgulho. Estava pagando meus pecados.Said se deteve diante de uma grande porta e a abriu para mim. O quarto era espaçoso. O pé-direito alt