Eu assenti para ele. Meu corpo doía clamando pelo dele, mas eu me mantive firme em afastá-lo de mim. Saímos da biblioteca. Algumas empregadas que limpavam o local pararam o que estavam fazendo por um breve tempo e me estudaram com os olhos.
Atravessamos o vestíbulo, os passos ecoando no lindo piso de mármore branco e preto. Entramos num corredor com colunas trabalhadas. O sol entrava pelas janelas, cortinas lindas e leves balançavam com o vento. Grandes mosaicos decoravam as paredes e grandes abajures de cobre pendiam do pé-direito alto.
Passamos por mais um ambiente que conduzia à parte externa. As rosas desabrochadas e o perfume me fizeram lembrar do jardim de rosas da minha antiga casa. Senti uma súbita pontada ao pensar em tudo que perdi com meu orgulho. Estava pagando meus pecados.
Said se deteve diante de uma grande porta e a abriu para mim. O quarto era espaçoso. O pé-direito alt
SaidSaí do quarto dela e fui em direção a sala. Com os nervos à flor da pele, caminhei pelo palácio pensativo. Eu a conhecia bem. Jamile era esperta, usava meu passado para me atingir. Eu não deveria me abalar, mas suas palavras conseguiram me tocar.Considerando sua situação, deveria ter um comportamento submisso, pedir desculpas. Entretanto, me encarava nos olhos, o queixo erguido de modo rebelde, os lábios carnudos apertados. Allah! Aqueles lábios eram para mim uma perdição! Essa mulher me deixava louco. Quanto mais ela me afastava, mais vontade eu tinha de tê-la para mim, domá-la.Se fazendo de vítima! Tudo encenação.Era bem melhor atriz do que eu supusera. Tanto que, às vezes, ela me tocava com sua vulnerabilidade, quase me deixando seduzir por seus encantos. Nessa hora meu instinto protetor crescia e a vonta
SaidAllah! Por que eu não a ajudava ir embora como ela queria?Nos dois anos, desde a morte de Raissa, eu me sentia um morto-vivo, infeliz. Não consegui mais olhar uma mulher com interesse, aos poucos eu estava levando minha vida, tentando superar tudo. No entanto, isso era maçante.Agora estava eu, perseguindo-a, me sentindo confuso. A querendo de qualquer jeito, mesmo que minha mente me condenasse que ela era uma mulher pouco confiável.Eu era o Sheik Haji. Eu não ficava louco e não perseguia mulheres. Mas eu não conseguia deixá-la ir. Isso não aconteceria. Eu acreditava que essa estranha fascinação iria acabar no momento que eu a tivesse na minha cama. Era isso que eu precisava para tirá-la dos meus pensamentos.Com determinação, eu andei com rapidez, a raiva incitava minhas pernas para frent
Said —Abiá. Dê todos os banheiros para ela limpar. Ela piscou para mim. —Todos? —Sim, você está surda? —Não, vossa majestade. Meu filho se movimentou nos meus braços querendo ir para o chão. Mas ele coçava os olhos demonstrando sono. —Chame a babá. Peça para ela fazê-lo dormir. Abiá apertou os lábios, contrariada. —Ela não consegue nem sair da cama. Está com dores na coluna. Allah! Eu queria dar uma lida em alguns papéis. —Tudo bem, eu faço ele dormir. Peça depois para Baraque levá-la ao médico. Ela precisa se recuperar para ficar com Bashir. Jamile nessa hora entrou na sala. —Vossa majestade precisa arrumar outra babá. Mesmo que ela se recupere, ela não irá agüentar o menino. E tem mais um agravante, ela está perto de se aposentar. Essa situação está ficando insuportável. A irritação era evidente nas suas palavras. Tal como
SaidDepois de uma hora, consegui fazer meu filho dormir. O coloquei na sua cama e fui até meu quarto. Entrei no banheiro, louco por um banho. Coloquei a banheira para encher enquanto fazia a barba. Meus pensamentos estavam caóticos. A verdade era que eu estava preocupado com meu filho. Tentando achar uma solução para o problema, mas me recusando a aceitar o que me fora proposto. Jamile não servia!Logo depois, entrei na água quente como eu gostava. Passei sabonete na região fétida do meu corpo o esfregando até que o cheiro saísse. Só então pude relaxar.Fechei os olhos.Minutos depois quando eu estava para sair da banheira a porta se abriu.Oh, Allah! Era ela... tão doce, ali estava Jamile, encarando-me com seus belos olhos negros quentes. Seus lábios estavam entreabertos e sua face delicada refletia sua surpresa.A
No dia seguinte acordei cedo fui até a cozinha para tomar café. Abiá surgiu com o garotinho no colo e me deu um comando dizendo que, depois que eu terminasse os banheiros, para eu varrer a varanda.Pelovisto, Said tinha ido trabalhar. Dei-me conta que não sabia absolutamente nada dele.Aliviada por poder transitar na casa sem esbarrar nele, iniciei meu trabalho. Quando o relógio marcou dez horas da manhã, eu já tinha limpado todos os banheiros. Estava indo para a varanda com a vassoura, quando Abiá apareceu com Bashir chorando.—Allah! Fique com ele. —Ela disse colocando o menino nos meus braços, ele cheirava mal.—Abiá, eu não posso.—Said não está aqui, e isso é um caso de urgência. Eu preciso sair. Ir ao supermercado.—Leve-o com você!—Allah! Não dá. A compra é
SaidMeus olhos diziam palavras que não expressei em voz alta: "Eu te possuo, eu quero que você me obedeça, você perturba meus sonhos e isso me aterroriza."Meu coração batia com desejo.Meus dedos formigavam com a vontade de tocá-la.Minhas narinas ainda sentiam o cheiro de seus cabelos, seu perfume estava ainda na minha roupa.Minha boca queria beijá-la.Minhas mãos e meu corpo queriam sentir sua pele.Eu queria estar dentro dela.Allah! Ela seria para mim um Oasis depois de muito andar no deserto. Uma bonança depois de uma luta na tormenta. Eu necessitava dela! Com raiva da tempestade de sensações que ela me causava, eu a acusei:—Lembre-se que você começou tudo isso quando foi me atiçar em meu quarto. Agora eu não posso nem pensar em você sem ferver com necessidade. E sabe qual &ea
SaidEu passei a semana ocupado. Minha mente visitando cenas que eu não queria lembrar. Enfiado no escritório nos últimos dias, só porque eu não conseguia pensar em outra coisa que o fato de Jamile estar no palácio.Insano tudo isso!Eu a queria, eu me odiava por querê-la. Nessa guerra dentro de mim mesmo, a única coisa que eu sabia era que eu não conseguiria mandá-la embora. Pensei muitas vezes nisso. Perdoar-lhe a dívida e lhe dar uma boa quantia em dinheiro. Assim, ela sumiria da minha vida.Contudo, era só eu pensar desse jeitoe algo se apertava dentro de mim, e imediatamenteeu rejeitava essa ideia. Eu me sentia como um drogado quando resolvia deixar a droga. Mas se antecipando a dor, desistia, sabendo que não conseguiria lidar muito bem com a abstinência.O que havia nela que me fascinava tanto?
SaidJamile se levantou da cadeira e seguiu de cabeça baixa em direção ao hall. Eu, como sempre, me escondi nas sombras com o coração martelando no peito.—Allah, me ajude, eu me arrependo tanto de não ter sido uma boa esposa, mas não posso fazer o tempo voltar atrás. —Ela disse baixo, a voz carregada com tristeza, enquanto caminhava.Meu coração se apertou com as palavras dela. Meu corpo todo estremeceu. Minhas emoções ficaram fora de controle.Allah! Jamile parecia estar realmente arrependida...Afastar-me foi uma decisão sábia?Abalado emocionalmente, antes que ela deixasse a sala, acendi o abajur. A luz me revelou. Jamile estacou e me fitou com os olhos arregalados, a respiração irregular.—Sheik.Não gostei de ouvir a forma como ela me chamou.