Na madrugada, deixando Margô aos cuidados do médico e de Joana, Maximiliano foi com os amigos ao quarto que tinha arranjado para Gilberto ocupar enquanto estivesse em Recanto Dourado. Lá, reunido com Beto, Lucas e Cristiano, conversaram sobre tudo que aconteceu ao irem ao Salão Real. — Temos que evitar que descubram que Margô matou o Orlando — Maximiliano iniciou recordando o ocorrido. — Havia uma mulher quando saímos do bordel. Ela pode ter visto o que aconteceu. — O que pensa fazer? — Pagar o silêncio dela. — E as outras? Talvez tenham visto algo. — Não creio. Estava escuro, dificilmente nos identificará. — Olhou para Cristiano. — Por enquanto, fique escondido aqui. Usarei a desculpa de procura-lo para achar essa jovem e falar com ela. — Sem problema, capitão! — Cristiano concordou intercalando uma massagem pelos pulsos marcados e feridos pelas cordas que o prenderam durante dias. — Há essa hora o lugar deve estar cercado pela polícia — Beto indicou. — Fingimos que nada sabem
Depois de dois anos presa, a liberdade brilhava no rosto de Maria, que aproveitava aquele novo dia como uma criança travessa. Logo pela manhã, com o estômago roncando, saiu em busca de algo para comer, encontrando a poucos metros do esconderijo em que passou a noite uma árvore carregada. Subiu com agilidade, apoiou o peso em um tronco e recolheu as frutas ao alcance da mão. Não era muito, mas enganaria a fome durante a caminhada até a fazenda. Felizmente estavam em uma época boa e os frutos estavam maduros. Sentada no alto da árvore, saboreou as maçãs, preparando-se para vencer a distância restante até a fazenda agora que o sol ajudava a se encontrar na floresta. Agora, a luz do dia e sem aquela chama causada pelo sonho de liberdade, Maria calculou o perigo da empreitada. Faltava muito para alcançar a fazenda e ainda tinha de se esquivar dos peões, de Tarcísio e de qualquer desconhecido que poderia estar à caça dela e das demais garotas do Salão Real. Outra opção era ir à cidade, p
Chamado para ir ao Salão Real logo cedo por Zack, gerente do Salão e único funcionário que não trabalhava apenas para comer, Tarcísio se surpreendeu ao encontrar Queiroz esperando-o na porta do estabelecimento. — O que houve? — Orlando foi assassinado — Queiroz urrou avançando até o capataz e o agarrando pelo colarinho. — E o funcionário dele me disse que o prisioneiro, que você trouxe até aqui, escapou e pode ser o assassino — esbravejou furiosamente. — E que culpa tenho — Tarcísio disse afastando as mãos de cima de si. — Mandei seu primo se prevenir ao máximo, por se tratar de gente do Gonzalez. — Depois que removeram o corpo, mandei meus policiais restantes dirigirem pelas estradas atrás do sujeito, mas temo que se escondeu na mata — Queiroz informou, acrescentando com ódio: — Várias garotas do Salão também fugiram, e levando a garota que conhece o Gonzalez. — Você é imbecil! Tinha que ter me avisado disso antes — bradou com irritação. — Temos que encontrá-los antes do Gonzale
Ao não encontrar a filha no café da manhã, Carmem foi até o quarto que Joana dividia com o noivo, descobrindo que estava ajudando a tratar de uma garota doente amiga de Maximiliano. Estranhando a informação, indicou a filha a imprudência em trazer mais pessoas aliadas a um homem de reputação duvidosa na casa de Kassandra, mesmo ele sendo seu noivo. Despreocupada, Joana continuou a intercalar panos úmidos pela face da garota usando a camisola dela, continuando a passar uma toalha úmida pela face da garota desacordada. Joana ergueu o olhar e, após um rápido cumprimento a mãe, falou para a empregada que estava ao seu lado atendendo seu chamado: — Preciso que busque uma sopa bem forte para ela comer ao despertar. Assim que a empregada partiu, Carmem perguntou olhando para a garota: — O que aconteceu? Quem é? — É Margô, uma órfã que estava sobre proteção de Donato em Sanmarino. Dei aulas para ela no colégio — respondeu, ainda intercalando panos úmidos para amenizar o calor que ainda
Antes de seguir nas buscas pelos demais fugitivos, Tarcísio ligou para Queiroz, alertando do perigo que corriam agora que resgataram a amiga de Maximiliano. — Esse desgraçado apareceu quando ia tirá-la do quarto — lamentou. — Crê que ela já falou tudo? — Quando sai ela estava inconsciente. Talvez morra antes de falar — previu, aconselhando em seguida: — Mas é melhor que esconda qualquer pista que Orlando deixou sobre a passagem dela no Salão Real. — Se está com a garota, talvez tenha sido ele o assassino. Se o pego, o mato. — Não é hora de bancar o valente. Agora que está noivo da senhorita Joana se tornou um incomodo maior que antes — advertiu. — Também encontraram Maria, na verdade, me disseram que Maximiliano a encontrou e a enviou ao irmão, com ordens que fique com ele. Irei até eles antes de prosseguir com as buscas, para que confirme para todos que foi ao Salão por vontade própria. — Pergunte se ela viu como Orlando morreu, quem o matou. — Perguntarei para todas que forem
Mesmo protegida pelo irmão e pela promessa de Maximiliano, Maria evitava olhar para Tarcísio. Da mesma forma queria ignorar o longo chicote nas mãos dele e as lembranças que trazia. O capataz entrou no galpão esbravejando a raiva com sua fuga, movendo o chicote enrolado na mão conforme falava. Maria simplesmente não conseguia deixar de encarar o objeto, com medo de que o usasse contra ela ou seu irmão. Seu consolo é que ele tinha conhecimento das ordens de Maximiliano. — Tudo bem! Que fique até o sujeito levar vocês dois para longe daqui, como o comparsa dele me disse que vai fazer — ele resmungou de má vontade. — Mas quero saber como fugiu e o que viu durante sua fuga. Notando o tremor da irmã, Gabriel contou o que ouviu horas antes: — Minha irmã somente fez como as demais garotas que escaparam, saiu correndo para longe daquele lugar. — E não viu o que aconteceu com Orlando? — Tarcísio questionou aos berros, movendo-se para perto de Maria. — Não vi nada! Ouvi os tiros e quando s
Depois de ouvir a história narrada pelos empregados, Bruno ficou impressionado com a atitude de Maximiliano e ainda mais com a aceitação de Joana. Uma moça quieta e delicada, que constantemente evitava sua aproximação, obedecia sem questionar as atitudes arrogantes de um ser repulsivo e grosseiro como o Gonzalez. Quando os recém-casados desceram para o café da manhã com os demais, Bruno continuava inconformado e, remoendo o rancor, relatou o que ouviu para Adriano e Dalila. — É um arrogante, abusado e se aproveita da sua boa vontade — comentou enfurecido. — Está mandando e desmandando como se fosse dono de Recanto Dourado. — E o que Joana disse quando ele decidiu manter a garota no quarto deles? — Adriano perguntou estranhando a cunhada aceitar facilmente essa situação. — Pelo que ouvi: Nada! Passou a noite com ele e a outra garota no mesmo quarto. Até estranhei. — Notando a expressão fechada do Orleans, complementou: — Seu amigo conseguiu envolver Joana. As lamúrias de Bruno enc
Como prometido, o médico voltou a examinar Margô, entregando a medicação que foi buscar após a primeira visita, logo deixando a jovem sob a vigilância de Joana. Tendo confirmado que Donato chegaria em algumas horas com novidades do caso dos amigos, Maximiliano voltou ao quarto junto de Beto a tempo de escutarem atentos as últimas recomendações do médico e pagar pela consulta particular e os medicamentos. — A pneumonia sempre é perigosa — o médico avisou do lado de fora do quarto guardando o dinheiro em sua maleta. — Com cuidado e tomando os medicamentos como recomendei ficará melhor. — Beto, acompanhe-o — Maximiliano pediu enquanto retornava ao quarto. Por alguns instantes, ficou no vão da porta observando a delicadeza com que Joana molhava um lenço na bacia posicionada perto da cama de casal, o torcia para retirar o excesso de água e, sentando no leito, o trocava pelo que cobria a testa de Margô. Maximiliano pegou uma cadeira e a aproximou da cama, sentando perto de ambas. — Lo