Mesmo protegida pelo irmão e pela promessa de Maximiliano, Maria evitava olhar para Tarcísio. Da mesma forma queria ignorar o longo chicote nas mãos dele e as lembranças que trazia. O capataz entrou no galpão esbravejando a raiva com sua fuga, movendo o chicote enrolado na mão conforme falava. Maria simplesmente não conseguia deixar de encarar o objeto, com medo de que o usasse contra ela ou seu irmão. Seu consolo é que ele tinha conhecimento das ordens de Maximiliano. — Tudo bem! Que fique até o sujeito levar vocês dois para longe daqui, como o comparsa dele me disse que vai fazer — ele resmungou de má vontade. — Mas quero saber como fugiu e o que viu durante sua fuga. Notando o tremor da irmã, Gabriel contou o que ouviu horas antes: — Minha irmã somente fez como as demais garotas que escaparam, saiu correndo para longe daquele lugar. — E não viu o que aconteceu com Orlando? — Tarcísio questionou aos berros, movendo-se para perto de Maria. — Não vi nada! Ouvi os tiros e quando s
Depois de ouvir a história narrada pelos empregados, Bruno ficou impressionado com a atitude de Maximiliano e ainda mais com a aceitação de Joana. Uma moça quieta e delicada, que constantemente evitava sua aproximação, obedecia sem questionar as atitudes arrogantes de um ser repulsivo e grosseiro como o Gonzalez. Quando os recém-casados desceram para o café da manhã com os demais, Bruno continuava inconformado e, remoendo o rancor, relatou o que ouviu para Adriano e Dalila. — É um arrogante, abusado e se aproveita da sua boa vontade — comentou enfurecido. — Está mandando e desmandando como se fosse dono de Recanto Dourado. — E o que Joana disse quando ele decidiu manter a garota no quarto deles? — Adriano perguntou estranhando a cunhada aceitar facilmente essa situação. — Pelo que ouvi: Nada! Passou a noite com ele e a outra garota no mesmo quarto. Até estranhei. — Notando a expressão fechada do Orleans, complementou: — Seu amigo conseguiu envolver Joana. As lamúrias de Bruno enc
Como prometido, o médico voltou a examinar Margô, entregando a medicação que foi buscar após a primeira visita, logo deixando a jovem sob a vigilância de Joana. Tendo confirmado que Donato chegaria em algumas horas com novidades do caso dos amigos, Maximiliano voltou ao quarto junto de Beto a tempo de escutarem atentos as últimas recomendações do médico e pagar pela consulta particular e os medicamentos. — A pneumonia sempre é perigosa — o médico avisou do lado de fora do quarto guardando o dinheiro em sua maleta. — Com cuidado e tomando os medicamentos como recomendei ficará melhor. — Beto, acompanhe-o — Maximiliano pediu enquanto retornava ao quarto. Por alguns instantes, ficou no vão da porta observando a delicadeza com que Joana molhava um lenço na bacia posicionada perto da cama de casal, o torcia para retirar o excesso de água e, sentando no leito, o trocava pelo que cobria a testa de Margô. Maximiliano pegou uma cadeira e a aproximou da cama, sentando perto de ambas. — Lo
Joana partiu apressada do quarto e, chateado com o comportamento de sua protegida, Maximiliano voltou para perto de Margô. — Porque falou daquela forma com a Joana? — O que tem com aquela mulher...? — Margô cobrou movendo-se devagar para sentar e sentir poucas dores. — Aquela mulher tem nome: Joana. E é minha noiva. Margô piscou confusa por alguns instantes, a informação dando voltas em sua mente enevoada pela debilidade e remédios, fazendo conexões que carregaram suas feições de revolta. — Noiva...? Vai se casar... com outra? Por quê? — Choramingou sentida. — Me casarei com Joana — ele respondeu seco, repetindo o nome para que ela o gravasse. — E deveria agradecer o cuidado que ela teve com você desde que te encontrei, no lugar de insultar. — Agradecer...? Agradecer por roubar meu homem?! — Margô questionou furiosa. Maximiliano massageou testa, vendo vantagem em Joana ter saído antes de ouvir aquela declaração comprometedora. — Sou seu amigo e nada mais que disso — disse fria
Impactada pelo ataque de Margô e se martirizando por deixa-la sozinha com Maximiliano no quarto, depois de fazer o pedido para levarem para a jovem, Joana decidiu caminhar. Seguiu pela trilha de cascalho demarcando o caminho até o jardim lateral, seguindo para seu canto favorito, abaixo do carvalho, quando Dalila barrou seu caminho. — Joana, temos que conversar — exigiu imperiosa. — Creio que não temos nada a falar — Joana negou-se prevendo que a irmã pretendia aborrecê-la. — É necessário — insistiu agitada. — Tem coisas sobre Maximiliano que precisa saber. Um lado de Joana mandou deixar Dalila com suas intrigas, mas a curiosidade foi mais forte e atendeu seu pedido. As irmãs seguiram em frente apressadas, sem reparar que a poucos passos atrás delas vinha Maximiliano. Tinha ido atrás de Joana, para explicar o rompante de Margô e acabou vendo de longe quando parou para falar com Dalila. Vendo que se afastavam, optou por segui-las discretamente. Elas foram para uma parte mais dens
Encarando seu rival mais perigoso, Maximiliano ocultou seu ódio e aversão por Adriano atrás de uma máscara de indiferença e frieza. Parado no vão da porta do escritório que acabará de abrir, franzindo o cenho por não esperar ver Maximiliano por perto quando Joana viesse ao seu escritório, Adriano observou o inusitado, e indevido, casal com aborrecimento. Por educação, o Orleans os cumprimentou com o mesmo ar reprovador que carregava desde que soube do compromisso. Para Maximiliano era óbvio que induziria Joana a desistir do casamento. — Joana me disse que quer falar com ela. — Sim — Adriano confirmou, seu olhar deixando claro que dispensava a presença do Gonzalez na tal conversa. — Então a deixo — Maximiliano declarou se afastando. Ardia de vontade de ficar, escutar o que diriam e ver com os próprios olhos o que Joana responderia, impedir de alguma forma que ela desistisse do casamento, mas agir assim não combinava com o capitão Maximiliano Gonzalez. Confiar também não, mas confi
Margô ficou sozinha, amargurando o noivado de Maximiliano, por longos minutos até o retorno do Gonzalez com Beto ao seu lado. — Comeu um pouco? — Maximiliano perguntou ao notar a vasilha de sopa na mesinha de cabeceira, que parecia intocada. — Não — ela respondeu. — Estou sem fome. Como para provar o contrário seu estômago decidiu se pronunciar. — Não é isso que sua barriga diz — Beto brincou. — Não comerei nada enviado pela mulher que quer roubar Maximiliano de mim. Beto riu, mas Maximiliano não sentiu um pingo de graça. — Coma de uma vez — mandou irritado. — Se permanecer doente terei de interná-la no hospital — ameaçou. Mesmo não sendo verdade, foi o suficiente para Margô pegar a vasilha e se alimentar, de início relutante, depois com avidez para cessar a fome que a abatia há dias. Apressado em obter informações antes que Joana retornasse ao quarto, e acabasse descobrindo algo comprometedor que a colocaria em risco, pediu para Margô as respostas que só ela podia oferecer so
Interpretando o papel combinado com os amigos, e atingido pela fúria causada pelo sofrimento deles – principalmente de Margô -, foi fácil para Maximiliano chegar ao Salão Real com o fogo da raiva luzindo nos olhos e o gelo circulando nas veias. Desceu do jipe e observou que não havia sinal de policiais por perto, obviamente, como imaginou, por se tratar de um comércio ilegal com claro aval de Queiroz, os policiais não se aprofundaram nas investigações. Sem controle sobre a própria força empurrou a porta com brusquidão. O som do choque da madeira contra a parede ecoou no salão vazio e fez uma mulher levantar-se do chão com uma escova, que até então usava para esfregar o piso. Seu olhar varreu o lugar até pousar em uma pessoa que descia as escadas resmungando sobre o barulho e a cabeça doer. Era o homem que atendia no balcão, e que Cristiano dominou em sua tentativa de fuga. Ao identificar o Gonzalez, o homem tentou correr de volta para o segundo piso, porém, com passadas largas e pe