Precisando conversar com sua mãe e saber um pouco mais sobre o estado do pai, que, passada a raiva, sentia ter prejudicado em um momento de exaltação, Joana passou em sua antiga moradia antes de ir para o trabalho. Também tinha a necessidade de desabafar toda a angústia pela prisão do marido e receber o carinho que só sua mãe lhe dava. — Estou desesperada, mamãe! Adriano ficou completamente louco — disse acompanhando sua mãe até a sala de estar. — Acho que, por causa desse desejo absurdo de se vingar casando comigo, ele ajudou na condenação do Max. — Quem disse isso? — Dalila questionou aparecendo no topo da escada. Tinha ouvido a campainha e, notando se tratar de Joana, apressou-se a se juntar a conversa em busca de informações sobre Maximiliano. — É o que ele deu a entender ontem, quando me disseram a sentença dada ao meu noivo. — Calma, Joana! — Carmem pediu segurando as mãos da filha com carinho. — Adriano seria incapaz de uma atitude como essa. É um homem bom. — Era bom ant
Relatórios de entradas e saídas dos livros na semana era a pior parte do serviço na opinião de Joana. Cansativos, exaustivos e repletos de detalhes que davam sono, ainda mais em uma pessoa que não dormia além de poucos minutos em dois dias. Mas era preferível a visita à sua frente. — Esse é meu local de trabalho, sinceramente preferia não discutir aqui — falou para o primo segurando um buque de rosas vermelhas. — Não vim discutir, vim trazer essas lindas flores para a mulher mais bela da cidade — Adriano revidou estendendo as flores. Observou os belos botões e, ignorando a beleza das rosas, ergueu os olhos azuis para os dele, de cor idêntica aos seus pelos laços entre suas famílias. Durante seis longos anos de relacionamento Adriano jamais lhe deu rosas e outros presentes sem ser seu aniversário. Aquele ato, aparentemente gentil e romântico, só podia ser para provocar Maximiliano. — Agradeço, mas deveria levar essas flores para a sua esposa — indicou friamente. — Ela não merece ne
Recebendo a visita de Joana e Donato, de mãos dadas com sua noiva, Maximiliano ouvia o que o advogado conseguiu se informar a respeito da acusação que restava. — Queiroz obteve imagens suas no dia do crime, saindo de dentro do Salão Real — o advogado Donato iniciou a com a notícia desagradável. — Essas imagens tinham sido anexadas também na acusação de ser sócio da vítima, uma vez que estava do lado de dentro e não invadindo o local. Alegação de sociedade que provei ser improcedente por falsidade da assinatura. Acostumando-se com as péssimas notícias, Maximiliano inspirou sentindo-se esgotado ao compreender que não havia modo de escapar, não sem uma investigação justa ou indicar quem de fato assassinou Orlando. — Nem tem mais necessidade de investigações, o juiz já me sentenciou — recordou desolado. — Uma violação dos seus direitos! Nem transcorreu o tempo mínimo permitido por lei para que se apresentem as provas, tampouco você foi levado em juízo para dar a sua versão dos fatos —
À noite seguiu-se uma reunião discreta na cabana do Gonzalez para planejar a melhor e mais segura forma de seguir as instruções passadas por ele. A reunião dessa vez não contou com todos os aliados do Gonzalez, somente com Donato, Joana, Lucas e Tereza. Para surpresa de Donato, e nenhuma do restante do grupo, Queiroz aumentou a fiscalização ao redor do bar Crista do Mar após a condenação de Maximiliano. Por escolha do grupo o enviado por eles foi Lucas, que tinha por missão passar o que combinassem aos demais, além de levar todas as informações que pudessem ser agregadas ao planejamento. Tereza apareceu com os dados da transferência. — Queiroz levará pessoalmente Maximiliano até o ponto de encontro da transferência. — Ponto de encontro? — Joana estranhou. — Não virão buscar o Maximiliano na prisão? — Por terra leva dias até o presídio estadual. Queiroz optou por pedir para encontrarem com eles no heliporto da cidade vizinha. De lá Maximiliano segue para o presídio — Tereza explic
Esgotada por todos os acontecimentos dos últimos dias, a maioria envolvendo seu cunhado, Joana pensou em se negar, inventar uma indisposição, mas, com receio que aparecesse em sua porta, optou em confirmar que iria. Pediu para Lucas levá-la até a casa dos Orleans. Chegando à residência, negou necessitar que ele a esperasse ou que Donato, que estava com eles na picape de Lucas, entrasse com ela. Tinha que falar com o primo a sós. Com irritação e cansaço, por ser tratada como um joguete, seguiu Shirley até a sala de jantar. Sobre a mesa de oito lugares haviam deliciosos pratos distribuídos em bandejas e duas jarras de suco. Adriano era o único no cômodo, na cabeceira da mesa, o prato vazio a sua frente e uma garrafa de conhaque pela metade ao seu lado. Ao entrar no cômodo, o fazendeiro a recepcionou com um sorriso doce, algo inesperado levando em consideração o caos que ele infligia à família de ambos, e especialmente a ela e Maximiliano. — Sente-se, meu amor! — Adriano pediu com sua
Abraçada a filha, Carmem levou Joana ao antigo quarto dela, sem tirar o braço de seus ombros nem quando se se sentaram na cama para conversarem. — O que houve? Aconteceu algo com seu noivo? Joana deslizou as mãos pelo rosto, removendo nervosamente as quentes lágrimas que escorriam por sua face, sendo imediatamente substituídas por novas. — Não... Foi comigo... — disse colocando as pernas sobre a cama sem se soltar do abraço acolhedor. — Adriano... — Arfou, forçando-se a manter a lucidez com muito esforço ao relatar o convite e pedido absurdo do Orleans. A desolação nublou as feições da jovem conforme relatava que Adriano, coberto pela fúria e dor da traição, voltou-se para ela com intenções obscenas e abusivas. — A bebida afundou a razão dele, só isso explica — Carmem murmurou horrorizada. — Eles abusam de nós há anos, mãe... estou cansada de sempre saírem impunes... de acharem que podem fazer o que quiserem... — Entendo como se sente, mas são nossa família. — Ninguém sabe como
De manhã, assim que acordou Joana avisou Gabriel que não estaria em casa, depois buscou entre as roupas que permaneciam na casa de seus pais algo para substituir as peças que usava antes de descer para tomar o café. Ajeitando suas vestes, Joana suspirou ao olhar-se no espelho. Reparou que sua pele, clara por natureza, estava terrivelmente pálida e com sinais de cansaço abaixo dos olhos. Tinha dormido um pouco melhor, mas não o suficiente. Arrumou o cabelo, passou as mãos pelo rosto, respirou fundo e, sentindo-se minimamente pronta para a nova batalha a sua frente, encaminhou-se para a sala de jantar. Ao entrar no cômodo, além de sua mãe, encontrou Dalila lindamente arrumada e perfumada. O contrário de sua aparência decadente. Talvez por isso Maximiliano guardasse em segredo as visitas da outra. Visita íntima, sua mente martelou dolorosamente. Afastou o pensamento perturbador. Tinha tantos problemas mais urgentes que as loucuras vaidosas de Dalila. Tinha de ser outra mentira maldosa.
Cansado, com uma forte dor de cabeça, Adriano permaneceu em seu quarto mesmo quando sua mãe o chamou para o café da manhã e depois para o almoço. Arrependido da noite anterior, enviou uma mensagem pedindo desculpas para Joana, mas ela não respondeu. Ligou e ela recusou a chamada. Decidiu dar tempo para ela se acalmar antes de tentar uma nova aproximação. — Filho, não pode passar o dia todo no quarto — Kassandra o repreendeu quando se negou a descer para o almoço. — Estou sem fome. — Tem de reagir, meu filho. — Preciso falar com Joana, mas tenho medo que se recuse a me ver se for ao trabalho dela. Kassandra fungou. — Tire-a de sua cabeça — pediu com aborrecimento crescente, suas palavras seguintes atingindo Adriano. — Agradeça que ela não fez queixa do seu ataque, pelo menos não até agora. Adriano se sentou. — Isso deve significar que me ama e se importa comigo. — Significa que, como todos dessa cidade, sabe que não permitiríamos que te processasse — Kassandra revidou. Poupou