Esgotada por todos os acontecimentos dos últimos dias, a maioria envolvendo seu cunhado, Joana pensou em se negar, inventar uma indisposição, mas, com receio que aparecesse em sua porta, optou em confirmar que iria. Pediu para Lucas levá-la até a casa dos Orleans. Chegando à residência, negou necessitar que ele a esperasse ou que Donato, que estava com eles na picape de Lucas, entrasse com ela. Tinha que falar com o primo a sós. Com irritação e cansaço, por ser tratada como um joguete, seguiu Shirley até a sala de jantar. Sobre a mesa de oito lugares haviam deliciosos pratos distribuídos em bandejas e duas jarras de suco. Adriano era o único no cômodo, na cabeceira da mesa, o prato vazio a sua frente e uma garrafa de conhaque pela metade ao seu lado. Ao entrar no cômodo, o fazendeiro a recepcionou com um sorriso doce, algo inesperado levando em consideração o caos que ele infligia à família de ambos, e especialmente a ela e Maximiliano. — Sente-se, meu amor! — Adriano pediu com sua
Abraçada a filha, Carmem levou Joana ao antigo quarto dela, sem tirar o braço de seus ombros nem quando se se sentaram na cama para conversarem. — O que houve? Aconteceu algo com seu noivo? Joana deslizou as mãos pelo rosto, removendo nervosamente as quentes lágrimas que escorriam por sua face, sendo imediatamente substituídas por novas. — Não... Foi comigo... — disse colocando as pernas sobre a cama sem se soltar do abraço acolhedor. — Adriano... — Arfou, forçando-se a manter a lucidez com muito esforço ao relatar o convite e pedido absurdo do Orleans. A desolação nublou as feições da jovem conforme relatava que Adriano, coberto pela fúria e dor da traição, voltou-se para ela com intenções obscenas e abusivas. — A bebida afundou a razão dele, só isso explica — Carmem murmurou horrorizada. — Eles abusam de nós há anos, mãe... estou cansada de sempre saírem impunes... de acharem que podem fazer o que quiserem... — Entendo como se sente, mas são nossa família. — Ninguém sabe como
De manhã, assim que acordou Joana avisou Gabriel que não estaria em casa, depois buscou entre as roupas que permaneciam na casa de seus pais algo para substituir as peças que usava antes de descer para tomar o café. Ajeitando suas vestes, Joana suspirou ao olhar-se no espelho. Reparou que sua pele, clara por natureza, estava terrivelmente pálida e com sinais de cansaço abaixo dos olhos. Tinha dormido um pouco melhor, mas não o suficiente. Arrumou o cabelo, passou as mãos pelo rosto, respirou fundo e, sentindo-se minimamente pronta para a nova batalha a sua frente, encaminhou-se para a sala de jantar. Ao entrar no cômodo, além de sua mãe, encontrou Dalila lindamente arrumada e perfumada. O contrário de sua aparência decadente. Talvez por isso Maximiliano guardasse em segredo as visitas da outra. Visita íntima, sua mente martelou dolorosamente. Afastou o pensamento perturbador. Tinha tantos problemas mais urgentes que as loucuras vaidosas de Dalila. Tinha de ser outra mentira maldosa.
Cansado, com uma forte dor de cabeça, Adriano permaneceu em seu quarto mesmo quando sua mãe o chamou para o café da manhã e depois para o almoço. Arrependido da noite anterior, enviou uma mensagem pedindo desculpas para Joana, mas ela não respondeu. Ligou e ela recusou a chamada. Decidiu dar tempo para ela se acalmar antes de tentar uma nova aproximação. — Filho, não pode passar o dia todo no quarto — Kassandra o repreendeu quando se negou a descer para o almoço. — Estou sem fome. — Tem de reagir, meu filho. — Preciso falar com Joana, mas tenho medo que se recuse a me ver se for ao trabalho dela. Kassandra fungou. — Tire-a de sua cabeça — pediu com aborrecimento crescente, suas palavras seguintes atingindo Adriano. — Agradeça que ela não fez queixa do seu ataque, pelo menos não até agora. Adriano se sentou. — Isso deve significar que me ama e se importa comigo. — Significa que, como todos dessa cidade, sabe que não permitiríamos que te processasse — Kassandra revidou. Poupou
Após as aulas de tiro, e Lucas partir deixando-a sozinha com Tereza, Joana sentou-se no primeiro degrau de três que levavam para a entrada da cabana, os olhos se perdendo no céu repleto de estrelas. — Sentirei falta daqui — comentou observando os pontilhados preenchendo a noite, ao fundo o som calmante das ondas. — Um dia voltará — Tereza a motivou sentando ao seu lado. — Acha mesmo? Tenho minhas dúvidas — retrucou abraçando suas pernas. — É minha melhor amiga, exijo que volte — Tereza brincou esperando diminuir a seriedade e tristeza nas feições de Joana. — Dessa última acusação é difícil o Maximiliano sair ileso. — Quando se é inocente, cedo ou tarde, se consegue provar. — Enfrentando um delegado corrupto e uma família capaz de tudo para condená-lo? — Joana questionou fitando a amiga com descrença. Tereza ficou em silêncio. Queiroz seria capaz de prender qualquer inimigo dos Orleans, inventando crimes ou qualquer desculpa para encarcera-lo por anos. E, no caso de Maximiliano,
De madrugada, dentro do Crista do Mar, os amigos de Maximiliano, juntamente com Joana, terminavam os últimos detalhes, definindo os horários e o local em que cada um do grupo teria de ficar, até serem surpreendidos por Margô, que atravessou a porta que separava a cozinha do salão. — O que todos vocês estão me escondendo? — Margô questionou. Observou a maioria com curiosidade, até olhar com animosidade em Joana. — Estão sempre trancados aos cochichos nos últimos dias. Quero saber o motivo. Sabendo que ela faria escândalo se não dissessem, Beto sanou sua dúvida. — Maximiliano irá fugir durante a transferência. — Quero ajudar também — a jovem se ofereceu ansiosa. — Sei atirar e posso ser útil. — Não pode ir — Beto disse, antecipando a reclamação dela. — Só atrapalhará. Erguendo o queixo, a jovem o encarou com desafio. — Eu vou ajudar na fuga com a permissão de vocês ou não — definiu lançando um olhar desafiante para todos, principalmente para Joana Ignorando o rancor persistente d
Retornando a cabana, ansiosa em estar novamente com o noivo, sem grades atrapalhando-os, Joana foi para o quarto, separar os poucos pertences que necessitaria para seguir Maximiliano pelo tempo que fosse necessário. No horário de seu almoço foi ao escritório de Donato, que fez outra tentativa para que mudasse de ideia e ficasse na segurança durante o resgate. — Mesmo disposta a segui-lo, ainda acho perigoso para uma jovem como você — preveniu, dando uma nova alternativa: — Fique em sua casa, em segurança. — Não se preocupe comigo — pediu com um sorriso tranquilo. — O grupo me colocou em uma posição segura, cuidando dos cavalos que usaremos depois que Maximiliano estiver livre. — Será arriscado ajudar no resgate e mais ainda permanecer escondida nas montanhas — Donato retrucou, colocando para fora a mesma dúvida que preenchia a mente dos demais desde que Joana insistiu em ir com eles. — Mesmo com toda precaução, correm diversos perigos e você não tem o preparo de Maximiliano e os ou
Obedecendo as indicações dos amigos de Maximiliano, Joana colocou calça, tênis e blusa de manga comprida em tons escuros, e usou uma bolsa para colocar algumas poucas peças de roupas para ela e o noivo e itens de higiene. Prendendo o longo cabelo em um coque baixo, juntou-se a Margô, Beto e Lucas no carro que os levariam ao local da emboscada, cada um com sua própria função dali em diante. Mesmo tendo estado presente na maior parte da definição da fuga, e aparecer no ponto de encontro, Donato não seguiria para o resgate. Ficaria em casa, focado em juntar tudo que necessitariam caso fossem incriminados na fuga, e também separava os relatórios contra a viúva Orleans para mostrar ao novo juiz em breve. Sua última contribuição foi pedir para Beto e Lucas protegerem Joana. Em questão de minutos, com Lucas dirigindo como um louco pelas estradas esburacadas, chegaram ao ponto de encontro. Joana e Margô mudaram de lugar com Baltasar e Gilberto, cuidando dos dois cavalos que levariam Maximil