Caroline encarou a mala à sua frente, tentada.
Contudo, para a surpresa de sua gêmea, num impulso abrupto, abriu a porta e saltou para fora do carro, correndo a esmo pela rua escura. Quando finalmente suas pernas cederam, sentou-se numa calçada qualquer e todo o peso da situação recaiu sobre seus ombros juntamente às lágrimas.
Sem dinheiro, sem casa para voltar, sem parentes… era ninguém.
Estava tão perdida em seus pensamentos que não percebeu alguém se aproximando por suas costas, gritou assustada ao ter seus cabelos agarrados e se debateu tentando se soltar, mas não conseguiu impedir seu algoz de nocauteá-la.
Algum tempo se passou e quando acordou, estava amarrada a uma cadeira, tonta e sentindo um gosto de sangue na boca. Não conseguia ver nada, seus olhos pareciam estar vendados, mas podia ouvir passos de alguém se aproximando.
– Você é burra pra caralh*, hein… – Uma voz masculina debochou fazendo Carline estremecer ao reconhecer como sendo um dos homens que havia invadido sua casa anteriormente.
– Onde está a porr* do dossiê? Ele continuou, questionando grosseiramente. – Já pegamos aquele put*, sabemos que está com você.
– Eu não sei… – Ela murmurou chorosa.
– Resposta errada! Ele exclamou antes de estapeá-la com as costas da mão.
E parecia prestes a repetir o gesto quando ouviu uma movimentação dentro da casa, olhou para trás e no mesmo instante que tocou a coronha de seu revólver, um disparo certeiro o acertou bem na testa, fazendo-o cair no chão com um estrondo, morto.
Caroline gritou assustada enquanto tentava se soltar, até que acabou caindo com a cadeira, continuou ouvindo novos disparos, parecia uma troca de tiros, e então, tudo ficou em silêncio. Gritou novamente quando mãos fortes a agarraram pelos ombros, então, sentiu seu corpo sendo desamarrado, apenas para ser jogado por sobre o ombro do homem que sabe-se-lá o que planejava fazer com ela.
Um pano úmido foi pressionado contra seu rosto, e num instante, perdeu os sentidos pela segunda vez. Quando acordou novamente, estava num lugar quarto que desconhecia, cheia de dores. Piscou algumas vezes, seus olhos se acostumando à claridade, olhou ao redor e se deparou com um homem ao seu lado, parecia estar checando seu soro.
– Q-quem é você? Caroline questionou, gaguejando rouca.
Ele terminou o que fazia, e então virou-se para encará-la, mostrando que tratava-se do guarda-costas de Meredith. Seu rosto permanecia sério, assim como seus olhos azuis acinzentados e frios, tão assustadores quanto a cicatriz sob a sobrancelha de um deles.
– Se continuar nesse ritmo, vai morrer! Sussurrou depois de um tempo, então virou-se para encará-la. – Sua liberdade vale tanto à pena assim?
Caroline apertou as mãos ao ouvir isso, envergonhada por ter deixado sua vida chegar a tal ponto e então, achou melhor se calar.
– Entenda, você morta é inútil para mim… - Meredith resmungou surgindo de repente, ostentando braços cruzados e um semblante irritado. – Não seja burra, Caroline.
Então, tão abruptamente quanto havia chegado, girou nos calcanhares, dando as costas para a irmã, apenas indicando com a cabeça que o guarda-costas a seguisse.
– Obrigada por me salvar… – Caroline sussurrou baixinho antes que ele fosse embora.
O guarda-costas apenas acenou com a cabeça e saiu.
“ É, acho que não tenho outra opção.” Caroline pensou consigo mesmo, já nem sentia tristeza, apenas um profundo sentimento de desolação.
Então o tempo passou. Depois de alguns meses seu corpo já havia se recuperado, e diferente do que esperava, estava se tornando uma cópia fiel de Meredith. A única coisa que mantinha de seu verdadeiro “eu”, era a personalidade.
Havia sido colocada num apartamento discreto, mas luxuoso. O guarda-costas, que havia descoberto se chamar Eduardo, vinha sempre durante a madrugada, deixava suprimentos e instruções do que deveria fazer, indo embora logo em seguida. Não trocaram palavra alguma. E assim, começou seu treinamento, precisava estudar sobre Meredith, ser ela.
Tarefa que se mostrou extremamente complicada pois, a verdade era que aquela mulher tinha conhecimentos avançados em ciências, economia e falava quatro idiomas.
Todos os dias lia os jornais, esperando alguma notícia de Jonathan, mas nada descobriu, o que a fez pensar que ele já estaria morto de fato.
Um dia, sem aviso, recebeu uma visita de sua irmã. Meredith estava acompanhada de uma outra mulher com uma pequena mala que foi posta sobre a mesa. Caroline sequer teve tempo de questionar nada, foi posta numa cadeira, rosto coberto por uma máscara cirúrgica, e logo, seus longos cabelos ruivos estavam sendo cortados num channel.
Ela já sabia que isso aconteceria, mas não conseguiu impedir os olhos de marejar, amava seus cabelos longos em cachos revoltos.
Pouco depois que a cabeleireira foi embora, duas grandes sacolas foram colocadas em frente à sua frente, encarou a gêmea por alguns segundos e então, as abriu, percebendo ser um longo e luxuoso vestido de seda cor de vinho, e na outra, uma caixa de sapatos.
– Come vanno gli affari?( como estão os negócios?) Meredith questionou abruptamente, olhando a outra de cima a baixo. Era um teste.
– In espansione (em expansão)... – Caroline respondeu ouvindo sua voz soar finalmente com o sotaque que tanto havia treinado.
Meredith fez uma expressão mínima de satisfação.
– Fique pronta, sairemos esta noite! A ruiva exclamou, mais para si do que para sua cópia.
– Para onde vamos? Caroline questionou ansiosa.
– Conhecerá seu noivo hoje! Meredith respondeu em tom neutro.
E teria ido embora sem dizer mais nada se a gêmea não tivesse segurado na ponta de seu paletó. Virou-se, encarando-a como se fosse uma barata, mas por algum motivo – que não demonstrou –, esperando pelo que tinha a dizer.
– Pode pelo menos me dizer quem é? Caroline pediu baixinho.
Meredith a observou por alguns segundos, então soltou um suspiro como se pensasse que aquilo era irrelevante. Porém, puxou seu celular, procurou por algo durante alguns segundos e então, mostrou para a outra mulher.
Ao ver a foto do tal noivo, Caroline arregalou os olhos surpresa, não podia acreditar em quem era aquele homem. Quando Meredith disse que o noivo estava doente e logo morreria, Caroline havia imaginado um velho decadente.
Não, Viktor Yakovich.
Não era um encontro de casal como Caroline havia imaginado. Ao invés disso, foram a um um evento de gala. Os olhos esverdeados da jovem observavam ao redor, tentando reconhecer alguma pessoa por baixo daquelas máscaras, mas não precisou de muito para perceber que tratava-se de advogados, médicos e políticos famosos. Ficou curiosa, se perguntando que tipo de situações os uniriam naquele lugar. Então, a fixa caiu: acordos ilegais. Parecia bem óbvio na verdade. A música mudou e a orquestra iniciou outra melodia indicando que mais um convidado havia chegado. Ergueu a cabeça, e se deparou com um homem no topo da escadaria. Alto, másculo, seus cabelos loiros, quase brancos destacando-se da máscaras e terno inteiramente negros. Era Viktor, tão bonito que a fazia esquecer todos os motivos pelos quais não deveria se casar com um desconhecido. “Se recomponha, Caroline.” Pensou consigo mesma, e tentou se distrair aceitando uma taça de champanhe de um garçom que passava. Caroline tornou a enc
Quando Caroline acordou, estava num quarto branco que logo reconheceu como sendo de um hospital. Ergueu o corpo meio atordoada, arfou sentindo dor e então tocou seu tórax vendo que estava todo enfaixado. Foi nesse momento que percebeu a presença de Eduardo, sentado numa cadeira ao lado da cama, com a cabeça pendendo para a frente.– Eduardo… – Chamou baixinho, ouvindo sua voz soando rouca.Quando ele ergueu a cabeça, um nó se formou na garganta de Caroline ao perceber os curativos e queimaduras em seu rosto e pescoço, podendo imaginar que não eram as únicas partes do corpo naquele estado. Parecia desolado.– Cadê a Meredith… ? Questionou baixinho, mesmo que temesse a resposta.– Ela se foi… – Eduardo respondeu depois de um tempo em silêncio.– O que? Caroline questionou chocada, não podia acreditar no que ouvia, mas logo seu rosto se contorceu numa expressão de tristeza. – Oh meu Deus…Antes que pudesse fazer mais perguntas, ela o viu saindo do quarto sem dizer nada, ele nem mesmo ten
A quinta sinfonia de Beethoven tocava no toca-discos enquanto Caroline perdia-se em pensamentos, sentada numa poltrona confortável, a casa em completo silêncio. Era estranho estar no lugar de sua gêmea, se sentia culpada, como se estivesse roubando a vida que a outra havia perdido.“Você queria tanto fugir disso… “ Pensou consigo mesma, sentindo um aperto angustiante no peito, mas dizia a si mesma que era o melhor a fazer.Observou ao redor, quadros de família adornavam os cômodos luxuosos, mas sem vida. Inicialmente, havia imaginado que a estranheza que sentia com os pais era por não conseguir enganá-los, porém, logo percebeu que, na verdade, eles eram apenas estranhos, sem proximidade ou carinho.O que só a fazia se perguntar ainda mais sobre ela mesma. Havia sido sequestrada?Provavelmente achavam que estivesse morta, mas era estranho como não havia fotos ou sequer tocavam no assunto.De repente, um arrepio escorreu por sua coluna quando ouviu uma voz feminina conhecida:“Você pen
Atenção!! Olá caro(a) leitor(a), este capítulo contém descrição gráfica de violência, depressão e suicídio, por favor, prossiga com cuidado ou pule o capitulo caso o afete. Enfim, boa leitura. – Segura isso pra mim… – Laura praticamente mandou. Hellen, a moça que a acompanhava, sequer teve tempo de negar, ou responder, pois, logo, as bolsas e livros estavam sendo jogados em seus braços. – Deveríamos passar o fim de semana na costa… – Laura resmungou, entretida enquanto editava uma foto para o i*******m. – Você não está planejando furar com a gente de novo, não? – Com certeza vai passar o fim de semana com aquela ficante que nem conhecemos… – Allen juntou-se à amiga na reclamação, seu tom era de puro deboche. – Poderia ao menos mostrar uma foto dela pra gente. Javier ouvia a reclamação dos amigos dando pouca importância, e teria permanecido assim se não tivesse percebido um estranho silêncio ao seu redor. Olhou em volta, seguindo os olhares dos outros estudantes e então percebeu o
Atenção!! Olá caro(a) leitor(a), este capítulo contém descrição gráfica de violência, depressão e suicídio, por favor, prossiga com cuidado ou pule o capitulo caso o afete. Enfim, boa leitura. Eliot caminhou desviando da pequena multidão que o cercava, curiosos, mas mais interessados em seguir com suas próprias vidas. Parou em frente à cena coberta por fitas amarelas e colocou as mãos dentro dos bolsos, observando a perícia trabalhar. – O que temos aqui? Questionou observando as manchas de sangue ainda no chão. – Rapaz, 16 anos, se jogou do terraço há uma hora… – A detetive, Marien, explicou lendo o que estava descrito na ocorrência. – Houve denúncias de bullying. – E o corpo? O homem inquiriu calculando a altura daquele edifício. – Não morreu, mas está em estado crítico… – Ela disse enquanto mostrava as fotos tiradas no momento do resgate. Eliot concordou maneando com a cabeça, então, ergueu seus olhos, ficando atento a um pequeno grupo de estudantes que os observava de lon
Como já era de se esperar, nada foi comentado pela família sobre o que aconteceu no colégio de Javier, e Caroline só acabou descobrindo por causa dos cochichos das empregadas. Contudo, o que de fato povoava seus pensamentos era algo mais urgente: iria conhecer a família de Viktor, e eles estavam preparando a cerimônia do casamento. A viagem de avião foi longa e era meio da noite quando, enfim, chegaram a Moscou, e assim, que colocou seus pés no solo russo, o vento frio deu as boas vindas a Caroline enquanto descia do avião segurando no braço do noivo. E mesmo com os flocos de neve cobrindo seus ombros, ele não demonstrava nenhum sinal de estar sentindo frio. Seus olhos cristalinos fitaram a futura companheira e então, como se lesse seus pensamentos, retirou o próprio casaco e colocou nela. Seguiram por uma longa estrada coberta por neve, rodeada de bosques escuros e árvores sombrias, que os faróis iluminavam parcialmente, e a única coisa que podia ouvir era o outro carro que vinha a
Supersticiosa como era, Caroline não conseguia ignorar o mau pressentimento que incomodava suas entranhas. Quis sugerir que mudassem a rota ou o destino, mas não conseguiu o fazer pois, ainda não se sentia tão à vontade com o noivo para falar de algo que considerava bobo. Porém, suas suspeitas de que algo estava errado foram confirmadas quando percebeu que Viktor também observava os outros transeuntes, e os seguranças ficavam mais próximos, com as mãos sobre o paletó, claramente prontos para pegar seus revólveres caso precisassem.Entraram no restaurante e sentaram-se num local reservado, que tinha vista privilegiada através de uma grande janela de vidro, mas que aparentava ser reservado. Parecendo tentar distraí-la, Viktor pediu um vinho para saborearem enquanto esperavam o prato principal. Trocaram algumas poucas palavras, coisas simples sobre a arrumação do casamento, jantaram e então, continuaram a viagem. Enquanto saiam do local, Viktor fez questão de que andassem de braços dad
Caroline observou a vista que tinha dos alpes, a beleza do lugar escolhido para a lua de mel era de tirar o fôlego. Seus olhos recaíram sobre a aliança no dedo anelar e lembrou da cerimônia ocorrida pouco tempo antes: luxuosa, deslumbrante e rápida - as famílias pareciam apressadas em casá-los -, talvez por conta do incidente.A Catedral de São Basílio era ainda mais imponente de perto, deixando-a toda arrepiada, caminhou pelo tapete coberto por pétalas vermelhas, acompanhada pelo pai e quando finalmente se viu diante do homem que a aguardava no altar, seu coração acelerou e seus joelhos tremeram.Não queria admitir, mas já havia se apaixonado por ele.Seus olhos verdes recaíram sobre a mão que lhe era estendida, ficou hesitante por um momento, mas quando finalmente a tocou, sentiu o aperto firme que foi capaz de sustentá-la. Deu um passo à frente, e aos poucos um sorriso se desenhou em seus lábios enquanto trocavam um olhar significativo.Ele poderia não amá-la, mas havia sido cativa