Não era um encontro de casal como Caroline havia imaginado. Ao invés disso, foram a um um evento de gala. Os olhos esverdeados da jovem observavam ao redor, tentando reconhecer alguma pessoa por baixo daquelas máscaras, mas não precisou de muito para perceber que tratava-se de advogados, médicos e políticos famosos.
Ficou curiosa, se perguntando que tipo de situações os uniriam naquele lugar. Então, a fixa caiu: acordos ilegais. Parecia bem óbvio na verdade.
A música mudou e a orquestra iniciou outra melodia indicando que mais um convidado havia chegado. Ergueu a cabeça, e se deparou com um homem no topo da escadaria. Alto, másculo, seus cabelos loiros, quase brancos destacando-se da máscaras e terno inteiramente negros. Era Viktor, tão bonito que a fazia esquecer todos os motivos pelos quais não deveria se casar com um desconhecido.
“Se recomponha, Caroline.” Pensou consigo mesma, e tentou se distrair aceitando uma taça de champanhe de um garçom que passava.
Caroline tornou a encarar a orquestra, fingindo desinteresse naquela beldade, mas foi impossível não se arrepiar ao sentí-lo se aproximando, até o cheiro de seu perfume era inebriante. Seus olhos se encontraram, ele claramente a seduzindo, pegou uma taça de champanhe também, e sugeriu um brinde.
– Você está linda… – Viktor sussurrou, ficando a poucos centímetros dos cabelos alheios. – Por que esse olhar?
Caroline abriu a boca para responder, mas foi interrompida quando um casal se aproximou, sorrindo abertamente, o homem era tão gordo que a máscara não conseguia cobrir seu rosto.
– Que bom vê-lo, caro amigo! Exclamou de braços abertos, como se esperasse um abraço.
– Bela festa, mr. Gray… – Viktor elogiou neutro, passou um dos braços ao redor da cintura da noiva e sorriu de canto. – Deixe-me apresentá-los, essa é Meredith Wolton, minha noiva.
Caroline trocou um aperto de mão com o recém-chegado, e logo, estava sendo arrastada pela mulher – que imaginou ser a esposa do político –, em direção à orquestra, sugerindo que deixassem os homens conversando enquanto apreciavam a música.
Caroline mal ouvia o que a mulher tinha a dizer, estava mais interessada na conversa que discorria ao seu lado:
– Então, como estão os preparativos para o carregamento? Mr. Gray questionava sem rodeios.
– A caminho… – Viktor respondeu sem dar muitos detalhes enquanto saboreava seu champagne.
– Você me repassou um tanto caro, há outros compradores interessados? Mr. Gray tornou a indagar parecendo incomodado com isso.
– Como vão os negócios com Donatello? Viktor inquiriu com tom sarcástico, mostrando que sabia não ser o único com quem o político estava fazendo negócios.
– Negócios são negócios! Mr. Gray sorriu de canto não parecendo se importar muito. – Mas no fim das contas, melhor do que perder negócios para os chineses, não? Não se pode querer tudo.
– Ora, essa cidade será minha! Viktor exclamou com um sorriso certeiro, claramente certo de suas palavras. – Já tenho a última peça que faltava.
Ao dizer isso, seus olhos voltaram-se à mulher que acreditava ser Meredith, que fingiu não notar por alguns segundos, antes de acenar sorrindo-lhe.
A orquestra então fez mais uma pausa, iniciando uma nova melodia logo em seguida, o que indicava que outro convidado havia chegado. Caroline ergueu os olhos em direção às portas de entrada e se deparou com um homem que entrava sorridente, acompanhado de uma garota jovem, muito jovem.
Quase que instantaneamente, Caroline recebeu um bip discreto, era sua deixa para sair de cena. Pediu licença e afastou-se, indo em direção ao toalete. Entrou na última cabine – como indicado na mensagem –, e encontrou uma bolsa escondida. Retirou seu vestido, substituindo por uma vestimenta de garçonete, peruca, ajustou a nova máscara e retornou ao salão, se misturando às outras pessoas.
Quando retornou à festa, Meredith já havia se tornado o centro das atenções, conversando sem timidez com todos aqueles políticos. O último homem que havia chegado agora estava a acompanhando, e pelos cabelos ruivos, imaginou que se tratava de um parente dela.
Ainda os observou por algum tempo e então, perdeu a gêmea de vista. Perambulou um pouco pela festa, esperando o chamado para que fosse embora. Porém, antes que pudesse o fazer, esbarrou num homem que ao vê-la, abriu um sorriso enorme, parecia estar bêbado.
– Você é a maior gostosa, deveria ser modelo… – Sussurrou sem nenhum pudor, parecia não conseguir manter as mãos longe dela.
– O-o senhor deve estar me confundindo com alguém… – Caroline murmurou num gaguejo, tentando escapar dele.
Então, saiu de fininho, fugindo do homem, e correu sem rumo pelos corredores, procurando por alguma porta de saída quando acabou esbarrando em alguém. Ergueu a cabeça lentamente e se deparou com Viktor, era a segunda vez que se encontravam.
Ele a segurava firme para que não caísse, mas sua expressão não era das melhores, como se estivesse irritado com o fato de ela ainda estar ali.
– Mil perdões… – Ela murmurou tímida, tentando mudar seu tom de voz para não ser reconhecida.
Mas não era isso que passava pela cabeça dele.
– Se não estiver aqui para acompanhar alguém, saia antes das 23h! Sussurrou sério, quase grosseiro.
– C-como… – Caroline gaguejou confusa.
Viktor pareceu ainda mais irritado ao ouvir isso.
– Pelo visto é apenas mais uma lerda contratada para se aproveitarem no fim da festa… – Ele reclamou, mais para si do que para ela. – A essa altura, todas as acompanhantes já saíram, ou encontraram seus parceiros…
Antes que ele pudesse terminar seu sermão, Caroline recebeu um novo bip duplo, indicando que deveria sair dali imediatamente, lembrou-se que Meredith havia dito algo sobre isso, que deveria encontrá-la no jardim.
– S-sim, senhor… – Ela murmurou, ainda sem encará-lo.
E então, fugiu.
Atravessou o jardim a passos largos, até que parou no estacionamento de um hotel luxuoso. Ainda no meio do caminho, viu Eduardo também se aproximando, segurando bebidas de alguma loja de conveniência. Caroline atravessou a rua para encontrá-los, porém, parou ao ouvi-lo gritar.
– Não se aproxime… – Ele gritou enquanto corria em direção ao carro.
Entrou no carro, arrancando o cinto de segurança de Meredith, a jogou por sobre o braço, porém, antes de conseguir fugir, uma explosão os jogou longe.
As chamas consumindo o carro foram a última imagem que Caroline teve antes de tudo se apagar.
Quando Caroline acordou, estava num quarto branco que logo reconheceu como sendo de um hospital. Ergueu o corpo meio atordoada, arfou sentindo dor e então tocou seu tórax vendo que estava todo enfaixado. Foi nesse momento que percebeu a presença de Eduardo, sentado numa cadeira ao lado da cama, com a cabeça pendendo para a frente.– Eduardo… – Chamou baixinho, ouvindo sua voz soando rouca.Quando ele ergueu a cabeça, um nó se formou na garganta de Caroline ao perceber os curativos e queimaduras em seu rosto e pescoço, podendo imaginar que não eram as únicas partes do corpo naquele estado. Parecia desolado.– Cadê a Meredith… ? Questionou baixinho, mesmo que temesse a resposta.– Ela se foi… – Eduardo respondeu depois de um tempo em silêncio.– O que? Caroline questionou chocada, não podia acreditar no que ouvia, mas logo seu rosto se contorceu numa expressão de tristeza. – Oh meu Deus…Antes que pudesse fazer mais perguntas, ela o viu saindo do quarto sem dizer nada, ele nem mesmo ten
A quinta sinfonia de Beethoven tocava no toca-discos enquanto Caroline perdia-se em pensamentos, sentada numa poltrona confortável, a casa em completo silêncio. Era estranho estar no lugar de sua gêmea, se sentia culpada, como se estivesse roubando a vida que a outra havia perdido.“Você queria tanto fugir disso… “ Pensou consigo mesma, sentindo um aperto angustiante no peito, mas dizia a si mesma que era o melhor a fazer.Observou ao redor, quadros de família adornavam os cômodos luxuosos, mas sem vida. Inicialmente, havia imaginado que a estranheza que sentia com os pais era por não conseguir enganá-los, porém, logo percebeu que, na verdade, eles eram apenas estranhos, sem proximidade ou carinho.O que só a fazia se perguntar ainda mais sobre ela mesma. Havia sido sequestrada?Provavelmente achavam que estivesse morta, mas era estranho como não havia fotos ou sequer tocavam no assunto.De repente, um arrepio escorreu por sua coluna quando ouviu uma voz feminina conhecida:“Você pen
Atenção!! Olá caro(a) leitor(a), este capítulo contém descrição gráfica de violência, depressão e suicídio, por favor, prossiga com cuidado ou pule o capitulo caso o afete. Enfim, boa leitura. – Segura isso pra mim… – Laura praticamente mandou. Hellen, a moça que a acompanhava, sequer teve tempo de negar, ou responder, pois, logo, as bolsas e livros estavam sendo jogados em seus braços. – Deveríamos passar o fim de semana na costa… – Laura resmungou, entretida enquanto editava uma foto para o i*******m. – Você não está planejando furar com a gente de novo, não? – Com certeza vai passar o fim de semana com aquela ficante que nem conhecemos… – Allen juntou-se à amiga na reclamação, seu tom era de puro deboche. – Poderia ao menos mostrar uma foto dela pra gente. Javier ouvia a reclamação dos amigos dando pouca importância, e teria permanecido assim se não tivesse percebido um estranho silêncio ao seu redor. Olhou em volta, seguindo os olhares dos outros estudantes e então percebeu o
Atenção!! Olá caro(a) leitor(a), este capítulo contém descrição gráfica de violência, depressão e suicídio, por favor, prossiga com cuidado ou pule o capitulo caso o afete. Enfim, boa leitura. Eliot caminhou desviando da pequena multidão que o cercava, curiosos, mas mais interessados em seguir com suas próprias vidas. Parou em frente à cena coberta por fitas amarelas e colocou as mãos dentro dos bolsos, observando a perícia trabalhar. – O que temos aqui? Questionou observando as manchas de sangue ainda no chão. – Rapaz, 16 anos, se jogou do terraço há uma hora… – A detetive, Marien, explicou lendo o que estava descrito na ocorrência. – Houve denúncias de bullying. – E o corpo? O homem inquiriu calculando a altura daquele edifício. – Não morreu, mas está em estado crítico… – Ela disse enquanto mostrava as fotos tiradas no momento do resgate. Eliot concordou maneando com a cabeça, então, ergueu seus olhos, ficando atento a um pequeno grupo de estudantes que os observava de lon
Como já era de se esperar, nada foi comentado pela família sobre o que aconteceu no colégio de Javier, e Caroline só acabou descobrindo por causa dos cochichos das empregadas. Contudo, o que de fato povoava seus pensamentos era algo mais urgente: iria conhecer a família de Viktor, e eles estavam preparando a cerimônia do casamento. A viagem de avião foi longa e era meio da noite quando, enfim, chegaram a Moscou, e assim, que colocou seus pés no solo russo, o vento frio deu as boas vindas a Caroline enquanto descia do avião segurando no braço do noivo. E mesmo com os flocos de neve cobrindo seus ombros, ele não demonstrava nenhum sinal de estar sentindo frio. Seus olhos cristalinos fitaram a futura companheira e então, como se lesse seus pensamentos, retirou o próprio casaco e colocou nela. Seguiram por uma longa estrada coberta por neve, rodeada de bosques escuros e árvores sombrias, que os faróis iluminavam parcialmente, e a única coisa que podia ouvir era o outro carro que vinha a
Supersticiosa como era, Caroline não conseguia ignorar o mau pressentimento que incomodava suas entranhas. Quis sugerir que mudassem a rota ou o destino, mas não conseguiu o fazer pois, ainda não se sentia tão à vontade com o noivo para falar de algo que considerava bobo. Porém, suas suspeitas de que algo estava errado foram confirmadas quando percebeu que Viktor também observava os outros transeuntes, e os seguranças ficavam mais próximos, com as mãos sobre o paletó, claramente prontos para pegar seus revólveres caso precisassem.Entraram no restaurante e sentaram-se num local reservado, que tinha vista privilegiada através de uma grande janela de vidro, mas que aparentava ser reservado. Parecendo tentar distraí-la, Viktor pediu um vinho para saborearem enquanto esperavam o prato principal. Trocaram algumas poucas palavras, coisas simples sobre a arrumação do casamento, jantaram e então, continuaram a viagem. Enquanto saiam do local, Viktor fez questão de que andassem de braços dad
Caroline observou a vista que tinha dos alpes, a beleza do lugar escolhido para a lua de mel era de tirar o fôlego. Seus olhos recaíram sobre a aliança no dedo anelar e lembrou da cerimônia ocorrida pouco tempo antes: luxuosa, deslumbrante e rápida - as famílias pareciam apressadas em casá-los -, talvez por conta do incidente.A Catedral de São Basílio era ainda mais imponente de perto, deixando-a toda arrepiada, caminhou pelo tapete coberto por pétalas vermelhas, acompanhada pelo pai e quando finalmente se viu diante do homem que a aguardava no altar, seu coração acelerou e seus joelhos tremeram.Não queria admitir, mas já havia se apaixonado por ele.Seus olhos verdes recaíram sobre a mão que lhe era estendida, ficou hesitante por um momento, mas quando finalmente a tocou, sentiu o aperto firme que foi capaz de sustentá-la. Deu um passo à frente, e aos poucos um sorriso se desenhou em seus lábios enquanto trocavam um olhar significativo.Ele poderia não amá-la, mas havia sido cativa
Sexta-feira e Manoela se via atarefada até o pescoço. Andava apressada pelo corredor, braços ocupados com roupas para passar, quando, de repente, sentiu seu corpo sendo agarrado e erguido do chão, soltou um gritinho com os susto, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, o homem que a segurava, a carregou para seu quarto.– Que susto… não faça isso! Ela murmurou quando ele finalmente a colocou no chão. – Alguém vai acabar nos vendo…O perigo daquela situação a deixava animada, mas o medo das consequências a mantinha sempre atenta.– Fod*-se! Ele resmungou dando de ombros enquanto roubava-lhe um selinho que logo, se transformou em beijos pelo pescoço.Javier sentiu o cheiro da pele da jovem por um tempo e quando, enfim, a encarou, havia um sorriso satisfeito em seu rosto.– Está usando o perfume que te dei? Questionou, sua voz rouca soando sedutora. – Gostei disso… – Bem, sim… – Ela confirmou sentindo o rosto esquentar, mesmo que não estivesse gostando muito de como aquilo parecia.