Quando Caroline acordou, estava num quarto branco que logo reconheceu como sendo de um hospital. Ergueu o corpo meio atordoada, arfou sentindo dor e então tocou seu tórax vendo que estava todo enfaixado. Foi nesse momento que percebeu a presença de Eduardo, sentado numa cadeira ao lado da cama, com a cabeça pendendo para a frente.
– Eduardo… – Chamou baixinho, ouvindo sua voz soando rouca.
Quando ele ergueu a cabeça, um nó se formou na garganta de Caroline ao perceber os curativos e queimaduras em seu rosto e pescoço, podendo imaginar que não eram as únicas partes do corpo naquele estado. Parecia desolado.
– Cadê a Meredith… ? Questionou baixinho, mesmo que temesse a resposta.
– Ela se foi… – Eduardo respondeu depois de um tempo em silêncio.
– O que? Caroline questionou chocada, não podia acreditar no que ouvia, mas logo seu rosto se contorceu numa expressão de tristeza. – Oh meu Deus…
Antes que pudesse fazer mais perguntas, ela o viu saindo do quarto sem dizer nada, ele nem mesmo tentou consolá-la. Alguns minutos se passaram e quando retornou, estava segurando um envelope de papel pardo, que a entregou logo em seguida.
– Você perguntou como eram tão parecidas… – Ele comentou repentinamente, e então apontou para o envelope. – A resposta é bem óbvia.
Caroline ainda o encarou por alguns segundos antes de abrir o envelope, hesitante puxou as folhas de dentro e só então percebeu se tratar de um exame de DNA que as relacionava com quase 100% de compatibilidade.
– Somos gêmeas… – Ela constatou, sussurrando para si mesma.
– Você tem duas opções agora… – Eduardo exclamou de repente, interrompendo os pensamentos alheios. – Pode retornar para a sua vida, fazer uma plástica e tentar não ir parar numa vala. Ou pode continuar se passando pela Meredith e me ajudar a pegar o desgraçado que a matou.
Era assustador como havia apenas ódio nos olhos dele naquele momento.
Contudo, não esperou por uma resposta. Depois de dizer isso, a deixou sozinha para que pensasse, pegou seu casaco e saiu do quarto sem dizer mais nada, dirigindo por longos minutos até parar no local onde havia acontecido o atentado. Encarou a cena cheia de fitas policiais, tudo ainda estava sob vigilância.
Apenas algumas horas haviam se passado desde o incidente, mas todo o fogo já havia sido extinto. Entre um cigarro e outro, Eduardo observava o que havia restado do carro que praticamente se resumia a cinzas, atento aos comentários dos policiais e transeuntes.
– Que horror, esses adolescentes cada dia mais irresponsáveis… – Uma senhora idosa murmurava para a outra enquanto também olhavam a cena.
– Verdade. Ouvi dizer que ambos morreram com a colisão… – A outra concordou com um olhar consternado.
Não era surpreendente, afinal o carro usado durante a festa não estava registrado no nome das empresas Wolton, e era fácil inventar uma história com algum poder. Analisou o ambiente com os olhos, percebendo a quantidade de pontos cegos, o lugar era perfeito para um atentado como aquele.
Que descuido.
Cerrou os punhos quando notou um beco que ficava a alguns poucos metros do local do acidente e foi naquela direção. Era fétido, e algumas bitucas de cigarro e garrafas de cerveja se empilhavam pelos cantos, os responsáveis por aquela festa já haviam ido embora restando somente um sem-teto que dormia enrolado num cobertor imundo.
O chutou, chamando sua atenção.
– O que você viu ontem à noite? Perguntou, vendo um misto de confusão e medo nos olhos alheios.
– Não vi nada, cara… – Murmurou o rapaz, que por baixo de toda a sujeira não devia ter mais do que dezesseis anos.
– Não me faça quebrar seus dentes antes de me responder… – Eduardo rosnou perdendo a paciência, e fechou o punho, mostrando que de fato socaria o garoto.
– E-eu só sei que o carro explodiu, não foi uma batida como disseram, tá legal… – Respondeu o sem-teto entre gaguejos, com medo.
– Viu alguém colocar algo no carro, talvez uma bomba? Eduardo tornou a indagar.
– Eles vão me matar, cara… – O garoto murmurou, olhando ao redor com medo, a expressão clara de alguém que sabia ter visto algo que não deveria.
– Olha aqui, é de mim que você deveria estar com medo! Eduardo exclamou dando um tapa – quase de leve – na cara do rapaz, mas que arrancou sangue.
– Foram os caras do B-12, é só o que eu sei, desculpa… não me b**e! Respondeu o garoto, colocando ambas as mãos na frente do rosto.
Eduardo não estava satisfeito com a resposta, mas o soltou. Ergueu-se, soltou uma baforada longa e se perguntou o que aquela gangue teria a ver com o acidente de Meredith, pois não fazia sentido.
– Some daqui! Exclamou muito sério se voltando para o garoto. – E vê se toma um banho.
Saindo dali, subiu em sua moto dirigindo por alguns metros antes de parar próximo ao conhecido esconderijo daquela gangue, enquanto os observava desmontando motocicletas, procurou por um cigarro, mas percebeu que havia acabado com todos.
Eles eram uma gangue de peixes pequenos, exibidos que ostentavam a marca da gangue em seus pescoços, apenas arruaceiros.
Um gosto amargo inundou sua boca assim que as lembranças ruins retornaram, balançou a cabeça negativamente, dizendo a si mesmo que não poderia desviar de seus propósitos e então, tornou a encarar os rapazes, sua vontade era entrar lá e arrancar a informação deles junto a algum sangue, mas se conteve, precisa ser prudente para pegar os peixes grandes.
– De quem partiu a ordem? Se perguntou olhando-os fixamente.
Quando estava prestes a sair dali sentiu seu celular vibrando no bolso, o pegou, reconhecendo o número, e atendeu, ouvindo em silêncio tudo o que a pessoa do outro lado da linha tinha a dizer.
– Você ‘tá’ bem? Perguntou a voz conhecida em tom preocupado. – Faz dias que não nos falamos…
– Não se preocupe comigo, se ocupe apenas dos seus estudos! Eduardo respondeu um tanto grosseiro e cortante. – Tenho que desligar agora.
Pouco antes de encerrar a ligação, ouviu um fungar baixinho, era sempre difícil, mas não conhecia outro modo de fazê-la ter uma vida normal. Algo que ele nunca pôde ter.
A quinta sinfonia de Beethoven tocava no toca-discos enquanto Caroline perdia-se em pensamentos, sentada numa poltrona confortável, a casa em completo silêncio. Era estranho estar no lugar de sua gêmea, se sentia culpada, como se estivesse roubando a vida que a outra havia perdido.“Você queria tanto fugir disso… “ Pensou consigo mesma, sentindo um aperto angustiante no peito, mas dizia a si mesma que era o melhor a fazer.Observou ao redor, quadros de família adornavam os cômodos luxuosos, mas sem vida. Inicialmente, havia imaginado que a estranheza que sentia com os pais era por não conseguir enganá-los, porém, logo percebeu que, na verdade, eles eram apenas estranhos, sem proximidade ou carinho.O que só a fazia se perguntar ainda mais sobre ela mesma. Havia sido sequestrada?Provavelmente achavam que estivesse morta, mas era estranho como não havia fotos ou sequer tocavam no assunto.De repente, um arrepio escorreu por sua coluna quando ouviu uma voz feminina conhecida:“Você pen
Atenção!! Olá caro(a) leitor(a), este capítulo contém descrição gráfica de violência, depressão e suicídio, por favor, prossiga com cuidado ou pule o capitulo caso o afete. Enfim, boa leitura. – Segura isso pra mim… – Laura praticamente mandou. Hellen, a moça que a acompanhava, sequer teve tempo de negar, ou responder, pois, logo, as bolsas e livros estavam sendo jogados em seus braços. – Deveríamos passar o fim de semana na costa… – Laura resmungou, entretida enquanto editava uma foto para o i*******m. – Você não está planejando furar com a gente de novo, não? – Com certeza vai passar o fim de semana com aquela ficante que nem conhecemos… – Allen juntou-se à amiga na reclamação, seu tom era de puro deboche. – Poderia ao menos mostrar uma foto dela pra gente. Javier ouvia a reclamação dos amigos dando pouca importância, e teria permanecido assim se não tivesse percebido um estranho silêncio ao seu redor. Olhou em volta, seguindo os olhares dos outros estudantes e então percebeu o
Atenção!! Olá caro(a) leitor(a), este capítulo contém descrição gráfica de violência, depressão e suicídio, por favor, prossiga com cuidado ou pule o capitulo caso o afete. Enfim, boa leitura. Eliot caminhou desviando da pequena multidão que o cercava, curiosos, mas mais interessados em seguir com suas próprias vidas. Parou em frente à cena coberta por fitas amarelas e colocou as mãos dentro dos bolsos, observando a perícia trabalhar. – O que temos aqui? Questionou observando as manchas de sangue ainda no chão. – Rapaz, 16 anos, se jogou do terraço há uma hora… – A detetive, Marien, explicou lendo o que estava descrito na ocorrência. – Houve denúncias de bullying. – E o corpo? O homem inquiriu calculando a altura daquele edifício. – Não morreu, mas está em estado crítico… – Ela disse enquanto mostrava as fotos tiradas no momento do resgate. Eliot concordou maneando com a cabeça, então, ergueu seus olhos, ficando atento a um pequeno grupo de estudantes que os observava de lon
Como já era de se esperar, nada foi comentado pela família sobre o que aconteceu no colégio de Javier, e Caroline só acabou descobrindo por causa dos cochichos das empregadas. Contudo, o que de fato povoava seus pensamentos era algo mais urgente: iria conhecer a família de Viktor, e eles estavam preparando a cerimônia do casamento. A viagem de avião foi longa e era meio da noite quando, enfim, chegaram a Moscou, e assim, que colocou seus pés no solo russo, o vento frio deu as boas vindas a Caroline enquanto descia do avião segurando no braço do noivo. E mesmo com os flocos de neve cobrindo seus ombros, ele não demonstrava nenhum sinal de estar sentindo frio. Seus olhos cristalinos fitaram a futura companheira e então, como se lesse seus pensamentos, retirou o próprio casaco e colocou nela. Seguiram por uma longa estrada coberta por neve, rodeada de bosques escuros e árvores sombrias, que os faróis iluminavam parcialmente, e a única coisa que podia ouvir era o outro carro que vinha a
Supersticiosa como era, Caroline não conseguia ignorar o mau pressentimento que incomodava suas entranhas. Quis sugerir que mudassem a rota ou o destino, mas não conseguiu o fazer pois, ainda não se sentia tão à vontade com o noivo para falar de algo que considerava bobo. Porém, suas suspeitas de que algo estava errado foram confirmadas quando percebeu que Viktor também observava os outros transeuntes, e os seguranças ficavam mais próximos, com as mãos sobre o paletó, claramente prontos para pegar seus revólveres caso precisassem.Entraram no restaurante e sentaram-se num local reservado, que tinha vista privilegiada através de uma grande janela de vidro, mas que aparentava ser reservado. Parecendo tentar distraí-la, Viktor pediu um vinho para saborearem enquanto esperavam o prato principal. Trocaram algumas poucas palavras, coisas simples sobre a arrumação do casamento, jantaram e então, continuaram a viagem. Enquanto saiam do local, Viktor fez questão de que andassem de braços dad
Caroline observou a vista que tinha dos alpes, a beleza do lugar escolhido para a lua de mel era de tirar o fôlego. Seus olhos recaíram sobre a aliança no dedo anelar e lembrou da cerimônia ocorrida pouco tempo antes: luxuosa, deslumbrante e rápida - as famílias pareciam apressadas em casá-los -, talvez por conta do incidente.A Catedral de São Basílio era ainda mais imponente de perto, deixando-a toda arrepiada, caminhou pelo tapete coberto por pétalas vermelhas, acompanhada pelo pai e quando finalmente se viu diante do homem que a aguardava no altar, seu coração acelerou e seus joelhos tremeram.Não queria admitir, mas já havia se apaixonado por ele.Seus olhos verdes recaíram sobre a mão que lhe era estendida, ficou hesitante por um momento, mas quando finalmente a tocou, sentiu o aperto firme que foi capaz de sustentá-la. Deu um passo à frente, e aos poucos um sorriso se desenhou em seus lábios enquanto trocavam um olhar significativo.Ele poderia não amá-la, mas havia sido cativa
Sexta-feira e Manoela se via atarefada até o pescoço. Andava apressada pelo corredor, braços ocupados com roupas para passar, quando, de repente, sentiu seu corpo sendo agarrado e erguido do chão, soltou um gritinho com os susto, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, o homem que a segurava, a carregou para seu quarto.– Que susto… não faça isso! Ela murmurou quando ele finalmente a colocou no chão. – Alguém vai acabar nos vendo…O perigo daquela situação a deixava animada, mas o medo das consequências a mantinha sempre atenta.– Fod*-se! Ele resmungou dando de ombros enquanto roubava-lhe um selinho que logo, se transformou em beijos pelo pescoço.Javier sentiu o cheiro da pele da jovem por um tempo e quando, enfim, a encarou, havia um sorriso satisfeito em seu rosto.– Está usando o perfume que te dei? Questionou, sua voz rouca soando sedutora. – Gostei disso… – Bem, sim… – Ela confirmou sentindo o rosto esquentar, mesmo que não estivesse gostando muito de como aquilo parecia.
Manoela enrolou e acabou não contando a verdade. Mas não esperava que a resposta de Javier fosse um tratamento de gelo, o rapaz simplesmente passou a agir como se não a conhecesse - ela não sabia, mas era a forma que ele havia encontrado para não surtar com a situação - no fim, ambos não sabiam como se comunicar. Um comportamento bobo que logo gerou um mal-entendido. A moça não podia estar mais deprimida, as coisas pareciam estar indo de mal a pior nos últimos dias. Não demorou muito para começar a se questionar sobre o relacionamento deles: Era somente mais uma? Ele havia se cansado? Para completar a tragédia, aquele dia estava especialmente difícil. A família estava preparando um jantar de aniversário do filho mais velho, e isso resultava em trabalho dobrado. Além disso, Rachel, a governanta, parecia especialmente interessada em retirar seu suor. Quando enfim, terminou de passar as roupas, seus cabelos grudavam no rosto de tanto calor, tentou prendê-los, mas o elástico arrebe