Atraente, másculo e milionário.
Assim era descrito Viktor Yakovich, o rosto russo que estampava as capas da Forbes e os gigantes telões da Times Square.Mas isso não tinha nada a ver com Caroline, ou pelo menos era o que ela pensava enquanto caminhava pela avenida movimentada. Quando finalmente chegou em sua casa, depois de um longo dia de trabalho, tirou o casaco de inverno e o pendurou no cabideiro enquanto se despia dos sapatos que apertavam seus pés. Soltou um suspiro de alívio e seguiu para a cozinha pensando no que deveria preparar para o jantar.Tudo normal. Se não fosse aquele mau pressentimento que a perseguia desde que havia acordado pela manhã.Contudo, a mulher não pôde pensar muito sobre isso, pois, de repente, tiros ecoaram próximo, e num instante, a porta pela qual acabara de passar foi ao chão num estrondo. Caroline arregalou os olhos, assombrada, pouco antes de correr escada acima, rezando para não ser ouvida, e numa decisão impensada, entrou no sótão, puxando a escadinha de cordas às suas costas num rompante.Nada aconteceu de imediato. Tudo o que Caroline conseguia ouvir era o som de sua respiração acelerada e seus violentos batimentos cardíacos. Tentou enxergar pela fresta na madeira, e para piorar sua agonia, contou quatro homens que depois de olhar ao redor, começaram a vasculhar pelos cômodos.– Estamos perdendo tempo aqui… – Um deles reclamou. – Ele deve ter se livrado de tudo.– Só cala a porr* da boca e acha a vadi*! Outra voz masculina mandou num tom irritado, e então, apontou para a bolsa e os sapatos deixados no chão. – Ela não foi com ele, podemos tirar alguma informação dela.– Se eu achar a vadi* posso ficar com ela? Um terceiro homem entrou na conversa, com um sorriso cheio de devassidão.Caroline engoliu em seco ao ouvir isso, sentindo um misto de nojo e pavor.Houve um momento de silêncio, e então, o último invasor se aproximou do grupo, trazendo consigo alguns documentos, mas balançou a cabeça negativamente, como se dissesse ao chefe que não havia encontrado o que procurava.De repente, uma ligação, e o homem que parecia ser o chefe trocou algumas poucas palavras com seu interlocutor antes de desligar e se voltar aos outros com uma expressão séria:– O filho da put* foi encontrado, vamos!Então, saiu da casa, sendo seguido pelos comparsas. Foram embora, tão abruptamente quanto haviam chegado. Caroline ainda esperou um pouco, temendo que fosse uma armadilha e que voltassem para pegá-la, então saiu de seu esconderijo, e correu para a sala, pegando seu celular. Enquanto tentava se comunicar com a polícia, a foto de seu namorado brilhou na tela do celular, ele estava ligando.– Jonathan, onde você está? Indagou, ouvindo sua voz soar fanha, estava quase caindo no choro. – Homens armados entraram aqui…– Não se preocupe, querida, já estou mandando um amigo de confiança para buscá-la! Ele respondeu num tom firme. – Você está bem? Está segura?Ela não respondeu, apenas secou as lágrimas.– Eu não queria que nada acontecesse com você, sinto muito! O homem começou a explicar, seu tom era de preocupação. – Eu vou cuidar disso.Caroline permaneceu em silêncio, apenas ouvindo.– Querida, preciso que você faça algo por mim… – Ele continuou depois de um tempo, e então, sua voz baixou de volume, quase sussurrando. – Vá até o meu escritório, você sabe a senha do cofre sob a mesa, certo? Pegue um pendrive, precisamos dele para nos proteger.Num surto de obediência, ela fez o que foi pedido. Entrou no escritório, desviando dos pedaços de vidro quebrado e se ajoelhou perto da mesa, empurrou a cerâmica que escondia o cofre e encarou o visor. Ela sabia a senha, era data de aniversário de namoro deles. Quando a pequena porta de metal se abriu, a mulher notou alguns documentos e o pendrive.– Você encontrou o pendrive? Jonathan questionou, ao fundo, chiados incompreensíveis.– Sim… – Ela respondeu observando o objeto em sua mão.Os chiados chamavam sua atenção, dessa vez mais nítidos, como se ele estivesse mais próximo à fonte daquele som, e então, finalmente ela os reconheceu. Eram chamadas de embarque, seu namorado estava num aeroporto.– Está indo embora… – Caroline constatou num sussurro, desolada.– Sei como isso parece, mas entenda…Ela não permitiu que ele se explicasse, e desligou em sua cara. Com o coração despedaçado, colocou algumas poucas coisas numa bolsa de viagem e se preparava para deixar aquela casa quando ouviu chamados.– Polícia! Uma voz firme gritou. – Alguém em casa?Era uma dupla de policiais que, ao vê-la, abaixaram suas armas. Não fizeram perguntas, apenas averiguaram se estava bem e logo, a levaram para a delegacia. Porém, não demorou muito para que Caroline passasse de vítima a possível cúmplice de um criminoso.Seu namorado era um maldito trapaceiro.No fim, Caroline se viu trancada numa sala de interrogatório, ouvindo, sem conseguir acreditar, todas as coisas pelas quais o homem a quem havia entregado seu coração estava sendo acusado.– Eu realmente não sei de nada… – Explicou desviando os olhos dos policiais para as algemas que apertavam seus pulsos. – Sou apenas uma professora do primário.– Quer mesmo que eu acredite que, todo esse tempo, você não percebeu nada do que seu namorado fazia? O detetive perguntou perdendo a paciência, e apontou as fotografias sobre a mesa.– Não estou mentindo… – Caroline tornou a negar.– Não seja burra… – O detetive resmungou parando a sua frente, dessa vez num tom menos altivo. – Você vai se ferrar sozinha se não entregar ele. Não houve resposta. Ela não sabia onde o namorado estava, muito menos sobre seus negócios, até pensou em falar sobre o pendrive, mas teve medo de assim, realmente ser incriminada. Jonathan queria aquilo, certamente era algo comprometedor.O detetive bufou de raiva, e então deixou a sala, dizendo ao outro policial para trancá-la numa cela de detenção.E assim foi feito. Caroline foi agarrada pelo braço e praticamente jogada numa cela, quase não havia fonte de luz, restando-lhe somente seus pensamentos.“Será que se eu tivesse família as coisas terminaram assim?” Se questionou recostando o rosto na parede fria, a verdade era que sempre estava tentando encontrar uma família nos homens com quem se relacionava.Mas no fim, eram todos danosos.Foi tirada de seus devaneios quando ouviu um som metálico, ergueu seus olhos e notou um policial parado à sua frente.– Levanta, sua fiança foi paga! Exclamou com grosseria.Caroline ainda tentou perguntar quem havia pago, mas logo percebeu que o homem não parecia afim de lhe dar qualquer resposta, e assim que colocou os pés nas ruas novamente, se deparou com um carro preto de aparência luxuosa.Suas pernas estremeceram ao pensar que poderia ser os criminosos de antes, pensou em correr de volta para a delegacia, mas travou no lugar quando um homem desceu do carro. Era alto e usava um terno preto, seu corpo musculoso e a expressão sério o faziam parecer assustador.– A senhora está à sua espera… – Explicou secamente.A porta foi aberta, e com um gesto, indicou que ela deveria entrar. Caroline olhou para dentro do carro, assustada, mas ao ver sapatos femininos vermelhos, percebeu que de fato, era outra mulher que a aguardava, então ficou mais tranquila, imaginando que ao menos sua integridade não estaria em perigo.Contudo, nem a estranheza daquela visita poderia prepará-la para o que viria a seguir. Ergueu a cabeça, um tanto tímida, e então, arregalou os olhos ao se deparar com uma versão sua, vestida luxuosamente e com os cabelos cortados num chanel perfeito.A mulher, que se chamava Meredith, retribuiu seu olhar com atenção, como se a analisasse, então, soltou um ‘tsc’, como se reprovasse a outra.– De perto é ainda mais incômodo… – Ela resmungou, mais para si mesma do que para a outra. – Enfim, você fará um trabalho para mim e será bem recompensada.Nesse momento, o guarda-costas se aproximou com uma maleta de couro preto, e ao abri-la, expôs as pilhas de maços de dinheiro em espécie, grande o suficiente para deixar qualquer um tentado a cometer um crime.– Q-quem é você? Caroline perguntou entre gaguejos, ainda em choque com a visão à frente, que mais parecia uma cena de filme.– Sua dicção é tão ruim assim? Meredith respondeu com outra pergunta, claramente ficando irritada por sua “cópia” ser tão “imperfeita”.– Não… – Caroline respondeu fazendo um esforço para não gaguejar.– Bem, me parece melhor do que apodrecer na cadeia por escolher um homem ruim. – Meredith explicou ignorando completamente as perguntas da outra.O guarda-costas colocou um contrato diante da moça, e uma caneta.– Como sabe tanto sobre mim? Caroline indagou evitando olhar para a mala, era tentador demais. – Que tipo de trabalho é esse?– Você só irá se passar por mim… – Meredith respondeu com displicência. – Case-se com o homem escolhido pelos meus pais. Você poderá desfrutar do luxo enquanto isso, e o contrato será encerrado quando ele morrer, o que não irá demorar muito.Caroline encarou a mala à sua frente, tentada.Contudo, para a surpresa de sua gêmea, num impulso abrupto, abriu a porta e saltou para fora do carro, correndo a esmo pela rua escura. Quando finalmente suas pernas cederam, sentou-se numa calçada qualquer e todo o peso da situação recaiu sobre seus ombros juntamente às lágrimas.Sem dinheiro, sem casa para voltar, sem parentes… era ninguém.Estava tão perdida em seus pensamentos que não percebeu alguém se aproximando por suas costas, gritou assustada ao ter seus cabelos agarrados e se debateu tentando se soltar, mas não conseguiu impedir seu algoz de nocauteá-la.Algum tempo se passou e quando acordou, estava amarrada a uma cadeira, tonta e sentindo um gosto de sangue na boca. Não conseguia ver nada, seus olhos pareciam estar vendados, mas podia ouvir passos de alguém se aproximando.– Você é burra pra caralh*, hein… – Uma voz masculina debochou fazendo Carline estremecer ao reconhecer como sendo um dos homens que havia invadido sua cas
Não era um encontro de casal como Caroline havia imaginado. Ao invés disso, foram a um um evento de gala. Os olhos esverdeados da jovem observavam ao redor, tentando reconhecer alguma pessoa por baixo daquelas máscaras, mas não precisou de muito para perceber que tratava-se de advogados, médicos e políticos famosos. Ficou curiosa, se perguntando que tipo de situações os uniriam naquele lugar. Então, a fixa caiu: acordos ilegais. Parecia bem óbvio na verdade. A música mudou e a orquestra iniciou outra melodia indicando que mais um convidado havia chegado. Ergueu a cabeça, e se deparou com um homem no topo da escadaria. Alto, másculo, seus cabelos loiros, quase brancos destacando-se da máscaras e terno inteiramente negros. Era Viktor, tão bonito que a fazia esquecer todos os motivos pelos quais não deveria se casar com um desconhecido. “Se recomponha, Caroline.” Pensou consigo mesma, e tentou se distrair aceitando uma taça de champanhe de um garçom que passava. Caroline tornou a enc
Quando Caroline acordou, estava num quarto branco que logo reconheceu como sendo de um hospital. Ergueu o corpo meio atordoada, arfou sentindo dor e então tocou seu tórax vendo que estava todo enfaixado. Foi nesse momento que percebeu a presença de Eduardo, sentado numa cadeira ao lado da cama, com a cabeça pendendo para a frente.– Eduardo… – Chamou baixinho, ouvindo sua voz soando rouca.Quando ele ergueu a cabeça, um nó se formou na garganta de Caroline ao perceber os curativos e queimaduras em seu rosto e pescoço, podendo imaginar que não eram as únicas partes do corpo naquele estado. Parecia desolado.– Cadê a Meredith… ? Questionou baixinho, mesmo que temesse a resposta.– Ela se foi… – Eduardo respondeu depois de um tempo em silêncio.– O que? Caroline questionou chocada, não podia acreditar no que ouvia, mas logo seu rosto se contorceu numa expressão de tristeza. – Oh meu Deus…Antes que pudesse fazer mais perguntas, ela o viu saindo do quarto sem dizer nada, ele nem mesmo ten
A quinta sinfonia de Beethoven tocava no toca-discos enquanto Caroline perdia-se em pensamentos, sentada numa poltrona confortável, a casa em completo silêncio. Era estranho estar no lugar de sua gêmea, se sentia culpada, como se estivesse roubando a vida que a outra havia perdido.“Você queria tanto fugir disso… “ Pensou consigo mesma, sentindo um aperto angustiante no peito, mas dizia a si mesma que era o melhor a fazer.Observou ao redor, quadros de família adornavam os cômodos luxuosos, mas sem vida. Inicialmente, havia imaginado que a estranheza que sentia com os pais era por não conseguir enganá-los, porém, logo percebeu que, na verdade, eles eram apenas estranhos, sem proximidade ou carinho.O que só a fazia se perguntar ainda mais sobre ela mesma. Havia sido sequestrada?Provavelmente achavam que estivesse morta, mas era estranho como não havia fotos ou sequer tocavam no assunto.De repente, um arrepio escorreu por sua coluna quando ouviu uma voz feminina conhecida:“Você pen
Atenção!! Olá caro(a) leitor(a), este capítulo contém descrição gráfica de violência, depressão e suicídio, por favor, prossiga com cuidado ou pule o capitulo caso o afete. Enfim, boa leitura. – Segura isso pra mim… – Laura praticamente mandou. Hellen, a moça que a acompanhava, sequer teve tempo de negar, ou responder, pois, logo, as bolsas e livros estavam sendo jogados em seus braços. – Deveríamos passar o fim de semana na costa… – Laura resmungou, entretida enquanto editava uma foto para o i*******m. – Você não está planejando furar com a gente de novo, não? – Com certeza vai passar o fim de semana com aquela ficante que nem conhecemos… – Allen juntou-se à amiga na reclamação, seu tom era de puro deboche. – Poderia ao menos mostrar uma foto dela pra gente. Javier ouvia a reclamação dos amigos dando pouca importância, e teria permanecido assim se não tivesse percebido um estranho silêncio ao seu redor. Olhou em volta, seguindo os olhares dos outros estudantes e então percebeu o
Atenção!! Olá caro(a) leitor(a), este capítulo contém descrição gráfica de violência, depressão e suicídio, por favor, prossiga com cuidado ou pule o capitulo caso o afete. Enfim, boa leitura. Eliot caminhou desviando da pequena multidão que o cercava, curiosos, mas mais interessados em seguir com suas próprias vidas. Parou em frente à cena coberta por fitas amarelas e colocou as mãos dentro dos bolsos, observando a perícia trabalhar. – O que temos aqui? Questionou observando as manchas de sangue ainda no chão. – Rapaz, 16 anos, se jogou do terraço há uma hora… – A detetive, Marien, explicou lendo o que estava descrito na ocorrência. – Houve denúncias de bullying. – E o corpo? O homem inquiriu calculando a altura daquele edifício. – Não morreu, mas está em estado crítico… – Ela disse enquanto mostrava as fotos tiradas no momento do resgate. Eliot concordou maneando com a cabeça, então, ergueu seus olhos, ficando atento a um pequeno grupo de estudantes que os observava de lon
Como já era de se esperar, nada foi comentado pela família sobre o que aconteceu no colégio de Javier, e Caroline só acabou descobrindo por causa dos cochichos das empregadas. Contudo, o que de fato povoava seus pensamentos era algo mais urgente: iria conhecer a família de Viktor, e eles estavam preparando a cerimônia do casamento. A viagem de avião foi longa e era meio da noite quando, enfim, chegaram a Moscou, e assim, que colocou seus pés no solo russo, o vento frio deu as boas vindas a Caroline enquanto descia do avião segurando no braço do noivo. E mesmo com os flocos de neve cobrindo seus ombros, ele não demonstrava nenhum sinal de estar sentindo frio. Seus olhos cristalinos fitaram a futura companheira e então, como se lesse seus pensamentos, retirou o próprio casaco e colocou nela. Seguiram por uma longa estrada coberta por neve, rodeada de bosques escuros e árvores sombrias, que os faróis iluminavam parcialmente, e a única coisa que podia ouvir era o outro carro que vinha a
Supersticiosa como era, Caroline não conseguia ignorar o mau pressentimento que incomodava suas entranhas. Quis sugerir que mudassem a rota ou o destino, mas não conseguiu o fazer pois, ainda não se sentia tão à vontade com o noivo para falar de algo que considerava bobo. Porém, suas suspeitas de que algo estava errado foram confirmadas quando percebeu que Viktor também observava os outros transeuntes, e os seguranças ficavam mais próximos, com as mãos sobre o paletó, claramente prontos para pegar seus revólveres caso precisassem.Entraram no restaurante e sentaram-se num local reservado, que tinha vista privilegiada através de uma grande janela de vidro, mas que aparentava ser reservado. Parecendo tentar distraí-la, Viktor pediu um vinho para saborearem enquanto esperavam o prato principal. Trocaram algumas poucas palavras, coisas simples sobre a arrumação do casamento, jantaram e então, continuaram a viagem. Enquanto saiam do local, Viktor fez questão de que andassem de braços dad