A manhã de quarta-feira trouxe uma trégua hesitante na chuva que castigara a cidade por dias, mas o céu permanecia cinzento, as nuvens pesadas pairando como um reflexo do turbilhão interno de Elena Carter. O sonho com Livia – "Ele vive por mim" – ecoava em sua mente como um tamborilar incessante, misturando-se ao peso do desenho de Victor, da anotação "Perdoe-me, eternamente," e da fúria dele ao pegá-la no escritório. O trigésimo andar da Blackwood Enterprises estava silencioso quando ela chegou, o blazer cinza amarrotado sobre os ombros como uma armadura que não escondia o cansaço – os olhos verdes opacos com a exaustão, as olheiras mais fundas, os cabelos castanhos presos num coque que parecia mais um ato de resistência do que cuidado. Jogou a bolsa na cadeira da sua sala, o som abafado ecoando no espaço pequeno, e foi direto para a copa, o café preto na caneca uma necessidade que ela mal sentia o gosto.O confronto com Victor no dia anterior a deixara com mais perguntas do que resp
— Um fardo? — repetiu ela, o tom firme, mas com uma vulnerabilidade que não conseguia esconder. — Isso não explica nada, Victor. Eu vejo você nos meus sonhos, vejo Livia, vejo o medalhão. Você não envelhece, não muda. O que é esse fardo? Por que você me olha como se eu fosse parte dele?Ele ficou em silêncio, os ombros rígidos sob o terno, os olhos cinza estreitando-se enquanto a encarava. Por um instante, ela viu – ou achou que viu – um lampejo de algo que não era frieza, algo que parecia culpa, mas ele escondeu rápido demais.— Você não entende o que tá pedindo — disse ele, a voz baixa, quase um sussurro, carregada de uma tristeza que a atingiu como um soco. — Pare de cavar, Elena. Não há nada pra você aqui.— Nada pra mim? — retrucou ela, a frustração queimando em seu peito como uma chama. — Você me puxa pra perto e me afasta, me olha como se eu fosse mais do que uma assistente, mas não diz nada. Quem é Livia? Por que eu sonho com ela? Para de se fechar, Victor. Me dá a verdade!El
A quinta-feira amanheceu com uma luz pálida que mal atravessava as nuvens densas sobre a cidade, o tipo de dia que parecia feito para segredos e sombras, como se o próprio céu conspirasse para esconder o que Elena Carter estava determinada a revelar. O sonho da noite anterior – Victor na floresta, o "Não posso parar" ecoando como um lamento preso no tempo – pulsava em sua mente como um tamborilar incessante, misturando-se ao peso do "fardo" que ele admitira carregar e da recusa em explicá-lo. Ela saiu do apartamento cedo, o ar úmido da manhã mordendo sua pele enquanto caminhava até a estação de metrô, o blazer cinza amarrotado sobre os ombros como uma armadura que não escondia o cansaço acumulado. As olheiras sob os olhos verdes eram mais fundas, quase como tatuagens de exaustão, e os cabelos castanhos, presos num coque frouxo, desfiavam-se com o vento, mas havia um brilho novo em seu olhar – uma mistura de ousadia e curiosidade que a impulsionava como uma corrente elétrica.O trajeto
Ela franziu a testa, a provocação dele colidindo com a desconfiança que crescia em seu peito, mas havia verdade no incentivo – ela sentia isso. Victor estava mais vulnerável, e ela não ia parar agora. Assentiu, um movimento lento e deliberado, e Damien se endireitou, ajustando a gravata frouxa com um gesto desleixado que parecia desafiar a seriedade do momento.— Boa sorte, detetive — disse ele, caminhando para a porta com um aceno casual, o sorriso torto ainda firme no rosto. — Me conta depois como foi o round dois.Ele saiu, os passos ecoando pelo corredor como um tamborilar que se dissipava lentamente, e Elena ficou sozinha, os pensamentos girando em torno de Victor – cada hesitação dele, cada olhar que traía o que ele não dizia, cada rachadura na armadura que ela estava determinada a explorar.---O resto do dia foi um exercício de provocações sutis, cada movimento calculado para testar os limites de Victor. Elena encontrava desculpas para entrar no escritório dele – um relatório
O resto do dia passou num estado de agitação controlada, os pensamentos de Elena girando em torno do confronto com Victor – o desejo nos olhos dele, a hesitação que se desfazia, o recuo que parecia doer mais a ele do que a ela. Ela terminou relatórios, respondeu e-mails, organizou a agenda da próxima semana, mas tudo era mecânico, uma fachada que escondia a tempestade em sua mente. Por volta das 17h30, foi à copa pegar água, o copo plástico tremendo em suas mãos enquanto o enchia no bebedouro, o som da água caindo um contraponto ao pulsar em seus ouvidos. O corredor estava vazio, o zumbido do ar condicionado misturando-se ao som distante de uma impressora, e ela aproveitou o momento para respirar, para organizar os pensamentos que giravam como um carrossel descontrolado.De volta à sua sala, sentou-se na cadeira, o couro rangendo sob o peso, e foi então que notou algo na mesa, um bilhete, dobrado ao meio, a caligrafia elegante e antiga idêntica à dos outros que ela encontrara antes.
— Eu deixei isso porque eu... — Ele parou, a voz grave falhando por um segundo, e respirou fundo, o peito subindo como se as palavras fossem um peso que ele mal conseguia carregar. — Porque eu não quero que você se machuque, Elena. Você tá se metendo em algo que não entende, e eu tô tentando te proteger. Você não vê isso?A voz dele saiu rouca, quase suplicante, e Elena sentiu o coração apertar, a admissão dele cortando-a como uma faca que ela não esperava. Deu um passo à frente, o espaço entre eles encolhendo, os olhos verdes brilhando com uma mistura de frustração e algo mais quente, algo que ela não queria nomear.— Proteger de quê, Victor? — perguntou ela, a voz subindo um tom, carregada de uma emoção que transbordava. — Você fala em perigo, mas não me dá nada pra entender! Eu sonho com ela – Livia – toda noite, e ela me disse essa noite que o que você teme é o que você é. O que isso quer dizer? Você me olha como se eu fosse mais do que uma assistente, mas me deixa no escuro. Para
A sexta-feira amanheceu com um céu cinzento que parecia pressionar a cidade, as nuvens pesadas pairando como um reflexo da determinação feroz que queimava no peito de Elena Carter. O sonho com Livia – "O que ele teme é o que ele é" – e a súplica rouca de Victor no dia anterior – "Eu quero te proteger" – giravam em sua mente como um redemoinho que ela não podia ignorar. Chegou ao trigésimo andar da Blackwood Enterprises com o blazer cinza amarrotado sobre os ombros, os olhos verdes brilhando com uma resolução que contrastava com as olheiras fundas que marcavam seu rosto, o cabelo castanho preso num coque bagunçado que ameaçava desmoronar. Jogou a bolsa na cadeira da sua sala, o couro gasto raspando contra o tecido puído com um som abafado, e ficou parada por um momento, os dedos tamborilando na mesa enquanto o plano tomava forma.Ela estava cansada de pedaços – bilhetes enigmáticos, olhares que diziam tudo e nada, recuos que deixavam mais perguntas do que respostas. Victor estava racha
— Então por que você veio, Victor? — perguntou ela, a voz baixando, carregada de uma emoção que ela não conseguia segurar. — Porque eu te chamei? Porque você quer me proteger? Ou porque você tá cansado de correr de mim?Ele ficou em silêncio, o peito subindo e descendo num ritmo que traía o controle que ele tentava manter, os dedos apertando a taça com uma força que fazia o vidro gemer. Os olhos cinza percorreram o rosto dela – os lábios entreabertos, as linhas de cansaço sob os olhos, o cabelo que caía como uma moldura – e ele respirou fundo, o som rouco enchendo o espaço entre eles.— Talvez seja tudo isso — disse ele, a voz grave e trêmula, as palavras saindo como se doesse arrancá-las. — Você me puxa, Elena, e eu não sei como parar. Mas eu deveria.A confissão a atingiu como uma onda, o desejo na voz dele misturado a uma tristeza que ela conhecia tão bem, e Elena sentiu o coração disparar, o calor subindo ao rosto enquanto o encarava, o espaço entre eles carregado de uma eletricid