O resto do dia passou num estado de agitação controlada, os pensamentos de Elena girando em torno do confronto com Victor – o desejo nos olhos dele, a hesitação que se desfazia, o recuo que parecia doer mais a ele do que a ela. Ela terminou relatórios, respondeu e-mails, organizou a agenda da próxima semana, mas tudo era mecânico, uma fachada que escondia a tempestade em sua mente. Por volta das 17h30, foi à copa pegar água, o copo plástico tremendo em suas mãos enquanto o enchia no bebedouro, o som da água caindo um contraponto ao pulsar em seus ouvidos. O corredor estava vazio, o zumbido do ar condicionado misturando-se ao som distante de uma impressora, e ela aproveitou o momento para respirar, para organizar os pensamentos que giravam como um carrossel descontrolado.De volta à sua sala, sentou-se na cadeira, o couro rangendo sob o peso, e foi então que notou algo na mesa, um bilhete, dobrado ao meio, a caligrafia elegante e antiga idêntica à dos outros que ela encontrara antes.
— Eu deixei isso porque eu... — Ele parou, a voz grave falhando por um segundo, e respirou fundo, o peito subindo como se as palavras fossem um peso que ele mal conseguia carregar. — Porque eu não quero que você se machuque, Elena. Você tá se metendo em algo que não entende, e eu tô tentando te proteger. Você não vê isso?A voz dele saiu rouca, quase suplicante, e Elena sentiu o coração apertar, a admissão dele cortando-a como uma faca que ela não esperava. Deu um passo à frente, o espaço entre eles encolhendo, os olhos verdes brilhando com uma mistura de frustração e algo mais quente, algo que ela não queria nomear.— Proteger de quê, Victor? — perguntou ela, a voz subindo um tom, carregada de uma emoção que transbordava. — Você fala em perigo, mas não me dá nada pra entender! Eu sonho com ela – Livia – toda noite, e ela me disse essa noite que o que você teme é o que você é. O que isso quer dizer? Você me olha como se eu fosse mais do que uma assistente, mas me deixa no escuro. Para
A sexta-feira amanheceu com um céu cinzento que parecia pressionar a cidade, as nuvens pesadas pairando como um reflexo da determinação feroz que queimava no peito de Elena Carter. O sonho com Livia – "O que ele teme é o que ele é" – e a súplica rouca de Victor no dia anterior – "Eu quero te proteger" – giravam em sua mente como um redemoinho que ela não podia ignorar. Chegou ao trigésimo andar da Blackwood Enterprises com o blazer cinza amarrotado sobre os ombros, os olhos verdes brilhando com uma resolução que contrastava com as olheiras fundas que marcavam seu rosto, o cabelo castanho preso num coque bagunçado que ameaçava desmoronar. Jogou a bolsa na cadeira da sua sala, o couro gasto raspando contra o tecido puído com um som abafado, e ficou parada por um momento, os dedos tamborilando na mesa enquanto o plano tomava forma.Ela estava cansada de pedaços – bilhetes enigmáticos, olhares que diziam tudo e nada, recuos que deixavam mais perguntas do que respostas. Victor estava racha
— Então por que você veio, Victor? — perguntou ela, a voz baixando, carregada de uma emoção que ela não conseguia segurar. — Porque eu te chamei? Porque você quer me proteger? Ou porque você tá cansado de correr de mim?Ele ficou em silêncio, o peito subindo e descendo num ritmo que traía o controle que ele tentava manter, os dedos apertando a taça com uma força que fazia o vidro gemer. Os olhos cinza percorreram o rosto dela – os lábios entreabertos, as linhas de cansaço sob os olhos, o cabelo que caía como uma moldura – e ele respirou fundo, o som rouco enchendo o espaço entre eles.— Talvez seja tudo isso — disse ele, a voz grave e trêmula, as palavras saindo como se doesse arrancá-las. — Você me puxa, Elena, e eu não sei como parar. Mas eu deveria.A confissão a atingiu como uma onda, o desejo na voz dele misturado a uma tristeza que ela conhecia tão bem, e Elena sentiu o coração disparar, o calor subindo ao rosto enquanto o encarava, o espaço entre eles carregado de uma eletricid
O sábado amanheceu com uma luz pálida que mal cortava as nuvens escuras sobre a cidade, o céu carregado parecendo segurar o ar em um suspense que ecoava o turbilhão dentro de Elena Carter. As palavras de Victor na noite anterior – "Se eu te beijar, você vai ver quem eu sou" – ainda queimavam em sua mente, o quase-toque dos lábios dele, o calor da respiração dele contra a dela pulsando como uma lembrança viva em sua pele. Ela acordou no sofá, onde desabara depois do jantar, a manta embolada aos pés, o apartamento silencioso exceto pelo gotejar lento da torneira na cozinha, um som que parecia zombar da inquietação que a consumia. Levantou-se com os músculos rígidos, o corpo pesado de uma noite mal dormida, e passou as mãos pelo rosto, os dedos tremendo enquanto tentava afastar o peso do que quase acontecera.Chegou ao trigésimo andar da Blackwood Enterprises antes do horário, o blazer cinza amarrotado sobre os ombros como uma armadura que não a protegia mais, os olhos verdes brilhando c
— Não consigo te tirar da cabeça, Elena — disse ele, a voz grave e trêmula, as palavras saindo como se doesse arrancá-las. — Ontem à noite... você me puxou pra um lugar que eu não sei como sair. Eu quase te beijei, quase te mostrei tudo, e não sei como parar isso. Você tá em todo lugar – aqui, na minha casa, nos meus pensamentos. O que você tá fazendo comigo?Ela ficou parada por um instante, o coração disparado enquanto as palavras dele batiam contra ela como uma onda, o tom cru e vulnerável cortando-a mais fundo do que esperava. Deu um passo mais perto, o espaço entre eles reduzido a quase nada, o calor do corpo dele invadindo o dela enquanto levantava o queixo, os olhos verdes fixos nos dele com uma determinação que queimava.— Eu não tô fazendo nada que você não queira, Victor — disse ela, a voz subindo um tom, carregada de uma frustração que transbordava. — Você tá aqui, me olhando desse jeito, dizendo essas coisas, mas sempre recua. Ontem você disse que me beijar ia me mostrar q
As luzes dos prédios piscando como estrelas presas em um céu artificial. Elena Carter estava em casa, o apartamento envolto em um silêncio que parecia vivo, o eco do sonho com Livia – "Ele vai te contar" – pulsando em sua mente como uma chama que não apagava. O dia no trabalho fora um campo de batalha silencioso – olhares que cortavam como facas, a vulnerabilidade de Victor exposta em cada hesitação, as palavras dele no escritório, "Eu não posso arriscar te perder", girando em sua cabeça como um grito preso. Estava largada no sofá, a manta embolada aos pés, os olhos fixos no teto rachado, quando o celular vibrou na mesa bamba, o som rasgando o ar como um trovão.Ela pegou o aparelho com mãos trêmulas, o coração disparando ao ver o nome dele: Victor Blackwood. A mensagem era curta, mas carregada de uma urgência que a fez pular do sofá: "Preciso de você no escritório. Agora. Não dá pra esperar." Elena respirou fundo, o peito apertado enquanto jogava a manta de lado e calçava as botas, o
Ela deu um passo à frente, o espaço entre eles encolhendo novamente, o calor dele invadindo o dela enquanto levantava o queixo, os olhos verdes brilhando com uma determinação que queimava o choque inicial. — Então você passou séculos achando que tava condenado a matar quem te ama? — perguntou ela, a voz suavizando, mas carregada de uma emoção crua. — E mesmo assim me beijou, Victor? Você correu esse risco comigo? Por quê? O que eu sou pra você que te fez jogar tudo isso fora? Ele ficou quieto, os olhos cinza arregalados enquanto as palavras dela cortavam o ar, o peso da pergunta colidindo com a confusão que o consumia. Deu um passo mais perto, as mãos subindo para o rosto dela novamente, os dedos tremendo enquanto roçavam a pele quente dela. — Porque não aguento mais isso sem você — disse ele, a voz grave e rouca, quase um rosnado que ecoava no peito dela. — Você me puxou pra fora de um buraco que cavei por séculos, Elena. Eu olho pra você e vejo ela, a força, os olhos, o jeito q