Isadora 🥀
O Som da minha perna sendo quebrada soou antes mesmo da dor vir, me impedindo de correr para que eu morresse ali mesmo, sem ao menos uma chance de ser socorrida. Machucada, estraçalhada e sozinha num viaduto vazio, os carros passavam por mim como se eu não fosse nada, mas quem vai ajudar uma bêbada seminua na rua essa hora da madrugada?As dores pelo meu corpo se faziam presentes, e eu sentia o toque de cada mão que passava por ele. Estava devastada quando uma senhora de uns 60 anos resolveu me ajudar, e me levou ao hospital mais próximo.— o que aconteceu com você? — Era o que o hospital inteiro me perguntavam, e eu não tinha forças pra falar nada referente ao que havia acontecido. — Você está drogada? Teremos que chamar a polícia!E chamaram, a polícia me interrogou do início ao fim, e eu me sentia envergonhada de denunciar tal ato. 8 homens me estupraram, os mesmo homens que eram meus colegas de classe.— Quer uma carona para casa, Isa? — Perguntou um deles, ao perceber que minha consciência já estava se esvaindo ao sair da fazenda, aceitei, afinal, que mal eles poderiam me fazer? Coé Isadora, são seus amigos de classe da faculdade, eles não lhe farão mal algum.E fizeram...— Disseram que você é virgem, é verdade? — Enojada com sua voz, e encurralada por 3 homens dentro de um carro, somente afirmei com a cabeça, mesmo quase desfalecida no banco carona.Meu corpo foi jogado com brutalidade para fora do carro, eu não entendia as reação que estava tendo, nunca coloquei uma gota de álcool na boca, apenas tomei uma água tônica que Marcelo fez questão de pegar para mim. Ingênua!— Vamos tirar a prova agora. Quero ver se essa boceta é tão apertada quanto de uma virgem é! — Lucas falava com um tom de ironia, era nítido o sarcasmo em sua voz, enquanto mais um carro parou à beira da rodovia, observando a movimentação dos homens ao meu redor. — Festinha particular, querem participar?As roupas foram rasgadas do meu corpo com o auxílio de uma faca, que penetrava minha carne na mesma intensidade, eu não sentia dor física, e de minha alma era bem maior.— Você é uma vergonha, Isadora. Olha seu estado! — Minha mãe gritava, sem pudor, mesmo sabendo que o hospital inteiro estava escutando. — Eu te avisei, uma menina como você criada dentro da igreja, se drogando e alcoolizada desse jeito. — Meu pai permanecia recuado atrás dela, ele nunca tinha voz dentro da nossa casa, tudo que minha mãe falava era o ponto final e ele não discutia pra mudar a situação. Mas seu olhar de pena sobre mim, queimava. — Vestida como uma puta, é isso que acontece!— Rosângela! — Meu pai gritou, constrangido com o show que ela estava dando, atraindo uma imensa platéia de curiosos. — Olha o respeito, estamos dentro de um hospital!— Respeito, Isaque? Ela mesmo não se deu o respeito, usando essa roupa e com essa companhia que andava. Eu não quero nem saber, quando você sair daqui, quero longe da minha casa. Uma filha como você, depois de tudo que eu sacrifiquei, só me deu desgosto. — Jogou essa bomba no meu colo e saiu sem nem olhar pra trás, sem um pingo de remorso. Minha mãe sempre foi fria, acho que eu e meu irmão viemos pra acabar com a vida dela, por que tudo que ela mencionava ter vivido antes do nossos nascimentos, parecia ter acabado com a nossa chegada.Já meu pai, passou por mim dando um beijo em minha testa e sussurrou que tudo ia ficar bem.Ele estava errado, por que depois daquilo, tudo piorou. E ele, tinha parcela de culpa, como marido, deveria ter coagido a esposa, e fez foi passar a mão na cabeça das atitudes dela comigo. Tudo bem, Isadora, você supera.A dor de ser penetrada sem um pingo de carinho, era horrível, ainda mais por 8 homens. Eles agiam como se estivessem em um rodízio de churrasco, no entanto, eu era o prato principal.— O que faremos agora? — Lucas pergunta os outros, após sair de dentro de mim e ejacular sobre minha barriga, todos eles, sem preservativo.Quão doentia é a mente de um homem que pensa em fazer isso com uma mulher? Quão prazeroso é assistir o desespero e a dor de uma mulher implorando pra Deus não a abandonar e que tudo aquilo fosse um pesadelo?Eu implorava em oração "Senhor, não deixe que nada de ruim aconteça comigo. Guarde minha vida embaixo de suas asas, e me permita viver!"— Vamos matá-la! — Indagou uma voz desconhecida.— Não, mano. Tá maluco? Nossas digitais estão nela, nosso sêmen. — Marcelo afirmou.— A gente enterra o corpo em algum terreno baldio! — O desconhecido afirmava com convicção, parecia já estar acostumado a fazer aquilo.— A família vai procurar por ela, e a polícia vai começar a investigar. E se acharem o corpo? — Eles conversavam entre si, como se eu não estivesse presente. Deitada entre a grama fria e molhada, sendo dor por todo meu corpo e um pequeno corte no lábio inferior, consequência de uma mordida de um desconhecido.Minhas costelas doíam, a minha visão embaçada me impedia de conhecer os outros envolvidos, mas 4 ali, eu conhecia bem, e conviviam comigo todos os dias.Eles me deixaram com uma fratura exposta na perna, como eles fizeram aquilo, eu não sei até hoje. Se não fosse por aquela senhora, eu realmente teria sangrado até a morte, ela foi meu anjo salvador.— Você não lembra de nada que aconteceu? — O médico pergunta e eu nego com a cabeça. — Você teve uma fratura exposta na perna direita e tem algumas costelas lecionadas. Isso é muito sério, Isadora. Você foi agredida?— Não. Acho que bebi mais do que deveria e acabei caindo!— Uma queda não lhe traria tantas consequências assim. Como foi que suas roupas foram rasgadas? — Perguntou desconfiado, e eu só queria que tudo aquilo acabasse.— Talvez fosse os galhos que estavam lá. Por favor, eu só quero ir pra casa!— Não dá, teremos que fazer uma cirurgia em sua perna para reparar os danos causados. Vai ficar aqui por uns dias, é maior de idade? — Afirmo com a cabeça, sentindo meu olhos pesar com as lágrimas. — Bom, só preciso que assine alguns papéis.Eu fiquei 1 mês no hospital, até sair e me dar conta que eu não tinha pra onde ir, mas ainda tinha minha avó na Rocinha, e foi pra lá que eu me refugiei.E não parou por aí, mas o resto vocês já vão entender.Final muito comum, mas esse não será o meu.Quando eu soube da gestação, eu quis desistir da vida. Pensava em suicídio 24 horas por dia, entrei numa depressão profunda a ponto de tomar três garrafas de café por dia, e pasmem, sou alérgica a cafeína. Eu não tinha coragem de amarrar uma corda em pescoço e me enforcar, nem mesmo pular nas profundezas de um rio, morrer afogado deve ser agonizante. Eu pensava em me jogar na frente de um carro, mas se tudo desse errado e então eu não viesse a falecer, ficaria vegetando sob um colchão d'água.Então eu tomava café, até onde eu podia, sei que logo me daria um choque anafilático, eu não correria para o hospital, e sabia que logo poderia ter um infarto do coração ou do cérebro, aí chegaria o fim de todo meu sofrimento.Mas essa minha ideia não deu muito certo, pois minha avó percebeu e constatou meu pai, que contou que eu era alérgica a cafeína e fez com que jogasse até mesmo a garrafa fora.Eu carregava um bebê dentro de mim, um bebê o qual eu nunca poderia amar, por ser fruto do pior d
Pires 🥋Encaro a porta de aço à minha frente, enquanto ouço as conversas do lado de fora. Eu poderia sair daqui em dois tempo, mas vou deixar eles viverem o momento de glória e acharem que são os fodões. Um erro de cálculo me colocou aqui, e estraçalhou a mão de um parceiro que eu nem sei se tá vivo pra contar história.Encurralado num quarto de poucos metros quadrados, uma cama de concreto com um fino colchão sob ela. As paredes mofadas e com várias assinaturas e nomes de facções. Só havia as grades da porta, nem uma entrada de ar por uma janela. Isso porque ainda estava na delegacia esperando minha transferência para o presídio.— Pires? — Pergunta o delegado que parou de frente pra porta, com as duas mãos dentro do bolso da calça, me olhando com desdém. — Não conheço ninguém com esse nome! — Afirmo, sem quebrar o contato visual que ele mantinha, tentando me intimidar, tem que se esforçar muito ainda.— Me falaram que é você. Comandante da Rocinha e envolvido num assalto a um car
Isadora 🥀Quando eu chego em casa, Frida ainda está dormindo e minha vó sentada na sala me esperando, já estava tarde, mas ela sempre fazia isso, tinha medo do que poderia acontecer comigo no caminho de volta pra casa. Eu também tinha medo, sempre tive, mas se eu deixar esse medo me dominar eu nunca mais saio de casa, e convenhamos que o caminho que eu quero seguir, não é daqueles que trabalham em home off, vou ter que sempre tá saindo de casa para resolver assuntos dos meus clientes.— Como foi lá? — Ela me pergunta, enquanto dou meia volta no sofá e sento para tirar os sapatos.— Foi estranho... Eu ia resolver a situação dele, mas ele quis ser preso, eu disse que ele era meu primeiro cliente. Não sei se não confiou no meu potencial ou está me desafiando, ele disse pra eu voltar daqui quatro meses e defender ele no tribunal quando eu me formar.— E isso não é bom? — Minha vó pergunta entusiasmada.— Talvez, vó. Mas acontece que o Rio de Janeiro é muito grande, eu nem sei para qual s
Pires 🥋Falei com Isadora algumas vezes antes do meu julgamento, porém estava confiante em seu trabalho. Quatro meses trancado sem ter recebido uma sentença, quatro meses longe da comunidade sabendo que tô fazendo falta pra caralho.Quando eu era moleque e vendia bala no sinal, eu via os engravatados passar e pensava que um dia, eu poderia ser igual a eles, mas eu mal tinha oportunidade para estudar, tá ligado? Aquilo ali era o sustento da minha família, então não tinha como eu perder tempo estudando quando eu deveria estar trabalhando para garantir o pão de cada dia. Minha mãe era uma viciada e meu pai, nunca ouvi falar.Éramos 3 irmãos contando comigo, mas todos eram mais novos que eu, então querendo ou não, a responsabilidade inteira caía em cima de mim. Minha mãe não se preocupava em arrumar alimentos para nós, mas minha maior preocupação era minha irmã mais nova, Bárbara. Eu descia cedo e só voltava a noite, e muitas das vezes meus irmãos estavam sozinhos esperando por mim, tiv
Isadora 🥀Do outro lado da calçada, encaro a entrada do tribunal apreensiva. Minhas mãos soam e eu não consigo conter o nervosismo que percorre meu corpo. Primeira audiência que eu participo já formada. Entrei para faculdade com uma bolsa de estudo aos 17 anos, me formei no ensino médio com um ano adiantada, fiz o vestibular e comecei a estudar. Estudei por 3 anos, até acontecer o que aconteceu comigo. Não gosto de lembrar, ainda sinto o peso de cada mão que me tocou, e guardo o rosto de cada um deles. Graças a Deus, eu nunca mais os vi na vida, eu não sei qual seria minha reação se caso batêssemos de frente. Aos 20, parei a faculdade, já tinha desistido de tudo e até mesmo da vida, mas eu tinha uma pessoa que precisava de mim aqui. Frida. Depois de muitas consultas com a psicóloga, consegui voltar e finalmente passar na prova da OAB, e hoje, após uma semana da minha formatura, ao 25 anos, sou uma advogada. Graças a mim e ao o meu esforço, graças a minha vó que nunca desistiu de m
Já do lado de fora do tribunal, algumas pessoas me elogiam pelo primeiro julgamento que eu participo, sinto meu rosto queimar de vergonha, eu não sei lidar com tantos elogios assim. Do outro lado da rua, em meio às movimentações de carros e a euforia do dia, Leonardo tenta falar no telefone com o meu celular, ligando para um amigo vir buscar ele. Suspiro aliviada e com a sensação de dever cumprido, aperto os olhos para evitar que eu chore por isso. Solto o cabelo e passa o mão entre os fios, odeio usar coque, sinto que aperta minha cabeça e eu já estava ficando louca lá dentro. Leonardo se aproxima, olha para a esquerda e direita, e então atravessa a rua vindo em minha direção. Ele sobe na calçada dando um pulinho e estende o celular para mim. Observo o pequeno aglomerado que se forma na frente do tribunal, nem todos tiveram um final feliz hoje. - Então... - Viro para trás, sentindo o olhar de Leonardo queimar em minhas costas - É assim que acaba, vencemos. Foi um prazer ser sua ad
Pires 🥋— Qual o nome do que te drogou? — ela me olha assustada sentada ao meu lado enquanto dirijo. Pressionando a bolsa em seu colo como se quisesse fugir dali. — Não precisa disso. — ela nega com a cabeça — A justiça divina tarda mas não falha. — Aqui não existe isso de justiça divina, olha por quanto tempo tu passou por essa merda e nada aconteceu com eles. Estão vivendo a vida como se nada tivesse acontecido e talvez, fazendo mais vítimas como você. — soco o volante atordoado com tudo aquilo e ela se assusta — Desculpa... Mas porra Isadora, olha para você, toda traumatizada, não suporta que te olhem mais de um minuto, não aguenta o toque de outra pessoa. Quer viver pra sempre assim?— Não, claro que não. Mas matando eles não vai mudar muita coisa Leonardo, para e pensa. — Eu tô pensando porra. Tô pensando em você e nas outras mulheres que passaram por isso e a porra de justiça divina não foi feita. Se você não me dizer o nome dele, juro p
— Não precisa dessa porrada forte mano, o cara já estava amarrado. Tu desmaiou ele no soco! — Carioca fala ao meu lado, enquanto dirijo de volta para o morro. — Isso não foi nem um terço do que vou fazer com ele e os outros arrombados que vão subir logo atrás. Antes de desmaiar o verme na porrada, fiz ele ligar pra cada um deles e marcar lá em cima no alto do morro, playboy engravatado agora subir o morro pra pegar uma branquinha e fazer a mente. Mas se não vier, eu vou atrás, terror nenhum pra mim. — Botou a cara pra bater no meio da rua, cheio de câmera de segurança. — Carioca falando já nervoso e acaba me estressando também — Se tu não era conheci até o momento, pode ter certeza que agora vai ficar. — Vai pesar minha mente mermo? — falo sem tirar o olho da pista e a toda tempo olhando pra ver se safado que sangra no banco do meu carro, não acordou — Tô pouco me fudendo se agora vou ficar conhecido. Mas agora não vai ser por assalto a carro forte, será por exterminador de jack,