Isadora 🥀
Do outro lado da calçada, encaro a entrada do tribunal apreensiva. Minhas mãos soam e eu não consigo conter o nervosismo que percorre meu corpo. Primeira audiência que eu participo já formada. Entrei para faculdade com uma bolsa de estudo aos 17 anos, me formei no ensino médio com um ano adiantada, fiz o vestibular e comecei a estudar. Estudei por 3 anos, até acontecer o que aconteceu comigo.Não gosto de lembrar, ainda sinto o peso de cada mão que me tocou, e guardo o rosto de cada um deles. Graças a Deus, eu nunca mais os vi na vida, eu não sei qual seria minha reação se caso batêssemos de frente.Aos 20, parei a faculdade, já tinha desistido de tudo e até mesmo da vida, mas eu tinha uma pessoa que precisava de mim aqui. Frida.Depois de muitas consultas com a psicóloga, consegui voltar e finalmente passar na prova da OAB, e hoje, após uma semana da minha formatura, ao 25 anos, sou uma advogada. Graças a mim e ao o meu esforço, graças a minha vó que nunca desistiu de mim.Pai, mãe, vocês não fazem parte dessa vitória. Ela é somente minha e vocês não tem do que honrar quando a pessoa, sou eu.As viaturas começam a chegar, de longe ouço as sirenes avisando que o comboio vem logo atrás com os detentos. Haverá mais de uma audiência, e não somente a de Leonardo. Respiro o ar puro, visto que o ambiente é cercado por árvores e flores, é bem bonito visualmente. Mas nada é capaz de anular tamanha ansiedade nesse momento.Tenho medo das minhas pernas falharem, da minha voz sumir e por um momento insano, tudo que eu aprendi durante esses longos anos, suma de forma misteriosamente da minha cabeça. Mas, eu consigo ouvir perfeitamente a oração de minha vó lá na rocinha, para que tudo ocorra bem. Oração tem poder, e quando ela vem de uma pessoa que te ama, ela estremece.O comboio entra pela lateral do tribunal, onde é apenas a passagem dos detentos e policiais fortemente armados. Eu subo a pequena escadaria até que tem até a porta de entrada, e o burburinho lá dentro já faz meu corpo se arrepiar automaticamente.Dou passos confiantes, fazendo uma oração mentalmente e pedindo para Deus não me abandonar nesse momento. Desencana, Isadora... Ele nunca te abandona.O tribunal já está composto, pelos juízes, advogados de acusação e defesa do delegado em questão, que Leonardo desacatou. Quando entro, todos os olhares são dirigidos a mim, eu apenas firmo os pés no chão e sigo até o meu lugar no tribunal, aguardando a entrada do réu.Ele entra, algemado com e com as mãos para trás, sua feição muda quando b**e os olhos em mim, como se quisesse gritar "eu confio em você."Ele se posiciona ao meu lado e eu apenas afirmo com a cabeça, enquanto o juíz inicia o julgamento. Seu corpo se mantém fixo e olhar concentrado, enquanto eu falta pouco sair correndo, mas não farei.Os jurados são selecionados, compondo o conselho de sentença. As instruções em plenário já foram ditas, e agora, a testemunha de acusação começa a dar seu depoimento, visto ser o próprio delegado do da prisão de Leonardo.Ele começa a contar tudo ao contrário do que havia acontecido, de acordo com o que aconteceu de fato, e eu só aguardando o meu momento de fala.Após todas as contestações, a palavra finalmente é passada a mim, e eu tento engolir a bola de golfe que se formou em minha garganta. Pigarreio e sinto o olhar de Leonardo em mim, mas me direciono a ele, por que sei que falharei se caso fizer isso, então início:— Excelentíssimo senhor doutor juiz presidente da Vara do Tribunal do Júri, é uma honra, doutor, trabalhar sob a presidência de Vossa Excelência. Excelentíssimo promotor de justiça, é uma honra também trabalhar tendo Vossa Excelência na parte adversa. — passo a língua nos lábios, a fim de conter o nervosismo aflorado, e então, continuo — Quero agradecer a confiança depositada por meu constituinte, pois acredito em sua inocência, e tudo aqui farei para que hoje seja feito justiça no seu caso.— Confio em você. — Leonardo sussurra entre os dentes, mas eu consigo ouvir perfeitamente a sua fala.— Senhores jurados, o fato hoje em julgamento, sem dúvida nenhuma, não é grave. O réu tem um álibi para o dia em questão, diante de Vossa Excelências. Veio aqui diante de Vossa Excelência e não se omitiu. Explicou os motivos que os levaram a este infortúnios de acusações sem provas devidamentes apresentadas. — o delegado me fuzila com os olhos do outro lado da sala, tenta me intimidar, mas permaneço firme. — No momento do crime, ao contrário do alega a acusação, meu constituinte saiu de casa na noite de 23 de agosto às 21h37 minutos, quando avistou uma movimentação suspeita e foi abordado pela polícia. Sem avisá-lo pelo qual motivo estaria sendo detido, ele foi encaminhado para a delegacia, onde a acusação oprimiu e tentou jogar crimes que não foram de sua autoria, em suas costas. — consigo explicar com clareza, tudo estudei durante a noite — As câmeras de seguranças ao redor da cena do crime, foram analisadas pelos peritos legais, por tanto consta que meu cliente, o réu presente, não teve nenhum tipo de envolvimento com o crime. Diante desses fatos afirmo, os senhores irão autorizar que o doutor juiz possa reduzir e dar justiça ao meu constituinte, que não é criminoso, nunca teve qualquer passagem pela polícia. Façam justiça!A acusação permanece calada, visto que não há mais nada do que rebater, já que as câmeras de seguranças afirmam que Leonardo não teve participação no crime.O júri conversam entre si, enquanto sinto minhas pernas trêmulas.— Estão os senhores jurados habilitados a julgar, ou precisam de mais esclarecimento? — O juíz pergunta em alto e bom som. — Peço a todos os presentes que fiquem de pé para a leitura da sentença. — sinto um frio percorrer minha espinha, e olho para Leonardo que observa todos ao redor — Agradeço ao Dr. promotor de justiça e ao Dr. defensor, pelo comportamento e pelas palavras a mim dirigidas. Agradeço também a polícia militar, aos servidores desta casa, ao público presente e, finalmente, agradeço aos senhores jurados, pela presença e pelo cumprimento do dever. O réu foi declarado inocente referente ao artigo 157, e o réu terá que pagar serviços comunitários durante 6 meses ao artigo 331. Aqui encerro, essa sessão.Solto o ar que nem me toquei que estava prendendo, e pela primeira vez depois de anos, eu abraço um homem e não sinto medo dele.— Conseguimos! — murmuro para Leonardo.— Você conseguiu, doutora. Esse mérito é todo seu, o mundão te espera lá fora com toda essa dedicação.Já do lado de fora do tribunal, algumas pessoas me elogiam pelo primeiro julgamento que eu participo, sinto meu rosto queimar de vergonha, eu não sei lidar com tantos elogios assim. Do outro lado da rua, em meio às movimentações de carros e a euforia do dia, Leonardo tenta falar no telefone com o meu celular, ligando para um amigo vir buscar ele. Suspiro aliviada e com a sensação de dever cumprido, aperto os olhos para evitar que eu chore por isso. Solto o cabelo e passa o mão entre os fios, odeio usar coque, sinto que aperta minha cabeça e eu já estava ficando louca lá dentro. Leonardo se aproxima, olha para a esquerda e direita, e então atravessa a rua vindo em minha direção. Ele sobe na calçada dando um pulinho e estende o celular para mim. Observo o pequeno aglomerado que se forma na frente do tribunal, nem todos tiveram um final feliz hoje. - Então... - Viro para trás, sentindo o olhar de Leonardo queimar em minhas costas - É assim que acaba, vencemos. Foi um prazer ser sua ad
Pires 🥋— Qual o nome do que te drogou? — ela me olha assustada sentada ao meu lado enquanto dirijo. Pressionando a bolsa em seu colo como se quisesse fugir dali. — Não precisa disso. — ela nega com a cabeça — A justiça divina tarda mas não falha. — Aqui não existe isso de justiça divina, olha por quanto tempo tu passou por essa merda e nada aconteceu com eles. Estão vivendo a vida como se nada tivesse acontecido e talvez, fazendo mais vítimas como você. — soco o volante atordoado com tudo aquilo e ela se assusta — Desculpa... Mas porra Isadora, olha para você, toda traumatizada, não suporta que te olhem mais de um minuto, não aguenta o toque de outra pessoa. Quer viver pra sempre assim?— Não, claro que não. Mas matando eles não vai mudar muita coisa Leonardo, para e pensa. — Eu tô pensando porra. Tô pensando em você e nas outras mulheres que passaram por isso e a porra de justiça divina não foi feita. Se você não me dizer o nome dele, juro p
— Não precisa dessa porrada forte mano, o cara já estava amarrado. Tu desmaiou ele no soco! — Carioca fala ao meu lado, enquanto dirijo de volta para o morro. — Isso não foi nem um terço do que vou fazer com ele e os outros arrombados que vão subir logo atrás. Antes de desmaiar o verme na porrada, fiz ele ligar pra cada um deles e marcar lá em cima no alto do morro, playboy engravatado agora subir o morro pra pegar uma branquinha e fazer a mente. Mas se não vier, eu vou atrás, terror nenhum pra mim. — Botou a cara pra bater no meio da rua, cheio de câmera de segurança. — Carioca falando já nervoso e acaba me estressando também — Se tu não era conheci até o momento, pode ter certeza que agora vai ficar. — Vai pesar minha mente mermo? — falo sem tirar o olho da pista e a toda tempo olhando pra ver se safado que sangra no banco do meu carro, não acordou — Tô pouco me fudendo se agora vou ficar conhecido. Mas agora não vai ser por assalto a carro forte, será por exterminador de jack,
Isadora 🥀Depois do dia de ontem, eu acordei com uma dor de cabeça insuportável. Muita coisa para processar rapidamente, sem falar que nunca na minha vida, um homem me trouxe na porta de casa ainda mais de carro. E como eu havia contado tudo do que aconteceu para Leonardo, eu tive que me abrir para minha vó. Ela esperou por esse dia por tantos anos, o tanto que ela chorou e eu chorei junto, não tá escrito. Mas de certa forma foi até bom, caramba, parece que uma tonelada saiu de cima das minhas costas, guardar um acontecimento como esse durante tantos anos, estava acabando comigo, literalmente. O meu psicológico ainda está um pouco abalado, acho que esse receio vai viver comigo pelo resto da vida. É inevitável. Porém, ontem tive uma conversa tão gostosa com minha vó, onde ela me deu tantos conselhos, para eu me abrir a novas amizades mas não confiar nelas, me permitir conhecer novas pessoas, nem todo mundo é um filho da puta. Olho para Frida que ai
Ele estaciona o carro em frente à escola de Frida, enquanto as outras crianças entram com seus pais, outros a van que trás. Sinto uma pontada em meu estômago e me lembro do café, as vezes eu me esqueço e até mesmo a minha vó esquece, e eu acabo tomando e sofro o dia todo com dor no estômago. Mas eu não tomo mais de propósito. — Tá sentindo o que? — Leonardo pergunta enquanto encara minha feição de dor, não é insuportável, mas é forte. — Tenho alergia a café. E tomei hoje, acabei me esquecendo. — Toma cuidado com isso. — Afirmo com a cabeça e ele olha para trás, onde Frida estava sentada observando o carro inteiro e sorrindo — Ei, pequena! — Ele chama sua atenção e ela desvia o olhar para ele — consegue mostrar pro tio qual deles fica implicando contigo?— Leonardo, não. São só crianças! — O repreendo. — Mas é assim que começa, aos cinco anos está implicando, aos dez passando a mão achando que é legal, e depois só Deus sabe onde vai parar. Então Isadora, sim. Sempre bom cortar o ma
Ps: Alerta de gatilho. Pires 🥋Elas estão abraçadas faz alguns minutos, que eu sinto meu estômago embrulhar vendo Isadora chorar mais uma vez, não faço a mínima ideia de que porra está acontecendo, porque minha vó não para de pedir desculpas a ela e até agora não sei o motivo. — Me desculpa mesmo, eu queria poder ter ficado com você aquele dia. Eu sentia que você precisava de alguém naquele momento, mas eu não pude ficar. — Minha vó fala com Isadora, enquanto passa as mãos em seu rosto. — A senhora não teve culpa. Mas salvou minha vida naquele dia. Muito obrigada, eu não sei o que teria acontecido se não tivesse me encontrado. — Encontrado onde? — Pergunto e a atenção das duas voltam para mim, porque até o momento, o mundo parecia ter se desligado e era como se existisse somente as duas. — Eu fui deixava no matagal para morrer, mas milagrosamente consegui me arrastar até o viaduto, mesmo droga e com a perna quebrada. — Sinto um nó na minha garganta com suas palavras — Sua avó fo
Isadora 🥀Ligo pra minha vó pegar Frida na escola, já está quase na hora dela sair e a vó de Leonardo me segurou mesmo na conversa, mas aí ela me disse que tinha homens armados na porta da escola e que era pra voltar depois para pegar as crianças, quando isso acontecia, eu já sabia que coisa boa não era. Suspiro fundo prendendo meu cabelo, enquanto a vó de Leonardo já encheu minha barriga com todas as coisas gostosas possíveis, casa de vó é sempre assim, né?— Agora você mora com sua vó? — ela me pergunta enquanto enche uma xícara de café e estende para mim. — Sim, eu, ela e minha menina. A porta da sala se abre e Leonardo passa por ela eufórico, mas seu semblante se acalma quando bate o olhos em mim. — Vou só tomar um banho, daí já te levo pra casa. Pode ser? — Seu olhar direciona a mim e eu afirmo com a cabeça — Ela não toma café, vó. É alérgica! — ele fala e sai, em direção a outro cômodo. — Sério?— Sim, descobrir depois de quase morrer quando criança. Tive choque anafiláti
Eu fico sem ar, sem reação e sem saber o que falar nesse momento. Eu já beijei outros garotos quando era mais nova, mas nunca beijei ninguém depois de tudo que aconteceu, essa é a primeira vez e eu me sinto... Estranha? Como uma adolescente que acabou de perder o bv. Por muito tempo eu me fechei, sempre que alguém tentava se aproximar de mim, eu recuava. Nunca deixei ninguém se aproximar de tal forma. O destinos nos prega peças que nunca estamos preparados, feito uma marionete com as cordas cortadas, ele decide para onde irá nos guiar, e nós só temos uma única opção: aceitá-las. Eu sou uma mulher que beirou a morte, conheci A maldade das ruas, e mesmo diante de todas essas coisas, eu ainda existo, eu ainda estou aqui. Eu consegui, nós conseguimos Isadora, pode descansar agora. Eu nunca imaginei esse turbilhão de sentimentos que estão a minha volta, nunca imagine que eu poderia está agora, sentindo a boca de um homem na minha sem eu ter que lutar por isso, negar ou me recuar. Min