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Capítulo 6 - deu certo

Isadora 🥀

Do outro lado da calçada, encaro a entrada do tribunal apreensiva. Minhas mãos soam e eu não consigo conter o nervosismo que percorre meu corpo. Primeira audiência que eu participo já formada. Entrei para faculdade com uma bolsa de estudo aos 17 anos, me formei no ensino médio com um ano adiantada, fiz o vestibular e comecei a estudar. Estudei por 3 anos, até acontecer o que aconteceu comigo.

Não gosto de lembrar, ainda sinto o peso de cada mão que me tocou, e guardo o rosto de cada um deles. Graças a Deus, eu nunca mais os vi na vida, eu não sei qual seria minha reação se caso batêssemos de frente.

Aos 20, parei a faculdade, já tinha desistido de tudo e até mesmo da vida, mas eu tinha uma pessoa que precisava de mim aqui. Frida.

Depois de muitas consultas com a psicóloga, consegui voltar e finalmente passar na prova da OAB, e hoje, após uma semana da minha formatura, ao 25 anos, sou uma advogada. Graças a mim e ao o meu esforço, graças a minha vó que nunca desistiu de mim.

Pai, mãe, vocês não fazem parte dessa vitória. Ela é somente minha e vocês não tem do que honrar quando a pessoa, sou eu.

As viaturas começam a chegar, de longe ouço as sirenes avisando que o comboio vem logo atrás com os detentos. Haverá mais de uma audiência, e não somente a de Leonardo. Respiro o ar puro, visto que o ambiente é cercado por árvores e flores, é bem bonito visualmente. Mas nada é capaz de anular tamanha ansiedade nesse momento.

Tenho medo das minhas pernas falharem, da minha voz sumir e por um momento insano, tudo que eu aprendi durante esses longos anos, suma de forma misteriosamente da minha cabeça. Mas, eu consigo ouvir perfeitamente a oração de minha vó lá na rocinha, para que tudo ocorra bem. Oração tem poder, e quando ela vem de uma pessoa que te ama, ela estremece.

O comboio entra pela lateral do tribunal, onde é apenas a passagem dos detentos e policiais fortemente armados. Eu subo a pequena escadaria até que tem até a porta de entrada, e o burburinho lá dentro já faz meu corpo se arrepiar automaticamente.

Dou passos confiantes, fazendo uma oração mentalmente e pedindo para Deus não me abandonar nesse momento. Desencana, Isadora... Ele nunca te abandona.

O tribunal já está composto, pelos juízes, advogados de acusação e defesa do delegado em questão, que Leonardo desacatou. Quando entro, todos os olhares são dirigidos a mim, eu apenas firmo os pés no chão e sigo até o meu lugar no tribunal, aguardando a entrada do réu.

Ele entra, algemado com e com as mãos para trás, sua feição muda quando b**e os olhos em mim, como se quisesse gritar "eu confio em você."

Ele se posiciona ao meu lado e eu apenas afirmo com a cabeça, enquanto o juíz inicia o julgamento. Seu corpo se mantém fixo e olhar concentrado, enquanto eu falta pouco sair correndo, mas não farei.

Os jurados são selecionados, compondo o conselho de sentença. As instruções em plenário já foram ditas, e agora, a testemunha de acusação começa a dar seu depoimento, visto ser o próprio delegado do da prisão de Leonardo.

Ele começa a contar tudo ao contrário do que havia acontecido, de acordo com o que aconteceu de fato, e eu só aguardando o meu momento de fala.

Após todas as contestações, a palavra finalmente é passada a mim, e eu tento engolir a bola de golfe que se formou em minha garganta. Pigarreio e sinto o olhar de Leonardo em mim, mas me direciono a ele, por que sei que falharei se caso fizer isso, então início:

— Excelentíssimo senhor doutor juiz presidente da Vara do Tribunal do Júri, é uma honra, doutor, trabalhar sob a presidência de Vossa Excelência. Excelentíssimo promotor de justiça, é uma honra também trabalhar tendo Vossa Excelência na parte adversa. — passo a língua nos lábios, a fim de conter o nervosismo aflorado, e então, continuo — Quero agradecer a confiança depositada por meu constituinte, pois acredito em sua inocência, e tudo aqui farei para que hoje seja feito justiça no seu caso.

— Confio em você. — Leonardo sussurra entre os dentes, mas eu consigo ouvir perfeitamente a sua fala.

— Senhores jurados, o fato hoje em julgamento, sem dúvida nenhuma, não é grave. O réu tem um álibi para o dia em questão, diante de Vossa Excelências. Veio aqui diante de Vossa Excelência e não se omitiu. Explicou os motivos que os levaram a este infortúnios de acusações sem provas devidamentes apresentadas. — o delegado me fuzila com os olhos do outro lado da sala, tenta me intimidar, mas permaneço firme. — No momento do crime, ao contrário do alega a acusação, meu constituinte saiu de casa na noite de 23 de agosto às 21h37 minutos, quando avistou uma movimentação suspeita e foi abordado pela polícia. Sem avisá-lo pelo qual motivo estaria sendo detido, ele foi encaminhado para a delegacia, onde a acusação oprimiu e tentou jogar crimes que não foram de sua autoria, em suas costas. — consigo explicar com clareza, tudo estudei durante a noite — As câmeras de seguranças ao redor da cena do crime, foram analisadas pelos peritos legais, por tanto consta que meu cliente, o réu presente, não teve nenhum tipo de envolvimento com o crime. Diante desses fatos afirmo, os senhores irão autorizar que o doutor juiz possa reduzir e dar justiça ao meu constituinte, que não é criminoso, nunca teve qualquer passagem pela polícia. Façam justiça!

A acusação permanece calada, visto que não há mais nada do que rebater, já que as câmeras de seguranças afirmam que Leonardo não teve participação no crime.

O júri conversam entre si, enquanto sinto minhas pernas trêmulas.

— Estão os senhores jurados habilitados a julgar, ou precisam de mais esclarecimento? — O juíz pergunta em alto e bom som. — Peço a todos os presentes que fiquem de pé para a leitura da sentença. — sinto um frio percorrer minha espinha, e olho para Leonardo que observa todos ao redor — Agradeço ao Dr. promotor de justiça e ao Dr. defensor, pelo comportamento e pelas palavras a mim dirigidas. Agradeço também a polícia militar, aos servidores desta casa, ao público presente e, finalmente, agradeço aos senhores jurados, pela presença e pelo cumprimento do dever. O réu foi declarado inocente referente ao artigo 157, e o réu terá que pagar serviços comunitários durante 6 meses ao artigo 331. Aqui encerro, essa sessão.

Solto o ar que nem me toquei que estava prendendo, e pela primeira vez depois de anos, eu abraço um homem e não sinto medo dele.

— Conseguimos! — murmuro para Leonardo.

— Você conseguiu, doutora. Esse mérito é todo seu, o mundão te espera lá fora com toda essa dedicação.

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