Acordei em uma cama desconhecida, em um quarto decorado com livros de moda e vestidos pendurados em araras. Me levantei devagar, tentando não fazer barulho, ainda não sabia onde exatamente me encontrava. Caminhei até a janela e abri as cortinas brancas, revelando uma vista incrível da Torre Eiffel. Ainda meio sonolenta, esfreguei os olhos para ter certeza de que não estava sonhando.
Ao meu lado esquerdo, deparei com meu reflexo no longo espelho que corria pela parede lateral do quarto. A pele morena, os cabelos longos e cacheados, os olhos pretos e as sardas no rosto. Eu não era eu mesma. Eu era Nira.
Comecei a me sentir tonta e confusa. O que estava acontecendo? Como eu fui parar no corpo de outra pessoa tão rápido? Isso nunca acontecia sem que eu escolhesse entrar, e eu mal havia saído do último corpo, não tive tempo de me recuperar. Sentei-me na cama com lençóis rosas, tentando me lembrar de como isso tinha acontecido. Lembrei-me vagamente de um flash de luz branca e, em seguida... eu estava aqui, em Paris, no corpo de Nira.
Eu sabia que precisava agir como se fosse Nira, para não levantar suspeitas. As memórias dela começaram a surgir em minha mente, ajudando a me orientar sobre quem ela era e quem eu deveria ser. Lembrei-me de que ela estava cursando moda e que tinha um namorado, chamado Miles. Morava em um loft sozinha, em uma cidade diferente dos pais, no qual os dois tinham um ateliê dos grandes. Nira trabalhava lá no seu tempo livre, como um Hobby.
Levantei-me e fui para o guarda-roupa, procurando algo para vestir. Encontrei um vestido florido e uma jaqueta de couro, ambos pareciam ser os preferidos de Nira. Me vesti e saí do quarto, explorando o apartamento.
Entro na sala de estar e fico imediatamente impressionada com a decoração. Uma TV plana ocupa a maior parede da sala, rodeada por um sofá rosa e almofadas combinando. Há também uma poltrona fofa do lado oposto da TV, um conjunto da decoração. A sala é bem iluminada com luz natural, graças às enormes janelas que se estendem até o teto e oferecem uma vista espetacular da Torre Eiffel, a mesma vista do quarto.
Decido dar uma olhada mais de perto e caminho até a sacada. As portas de vidro se abrem facilmente e me sinto atraída pela vista de Paris. A torre domina o horizonte, imponente e majestosa, iluminada pelo sol da manhã. O vento sopra suavemente em meu rosto, trazendo um cheiro delicioso de croissants frescos e café. Suspiro, me sentindo grata por essa oportunidade única de ver o mundo através dos olhos de outra pessoa. Se eu ainda fosse Ammy, estaria na Autrália, bem longe daqui, e ocupada demais para viver minha própria vida.
Olhando da sacada, consegui ver várias fotos de Nira e Miles juntos espalhadas pela mesa de canto. Eles pareciam felizes. Completamente felizes. Penso o que poderia haver de errado com eles. Mas como sempre, há algo a ser consertado. Algo relacionado ao amor, ou eu não estaria aqui.
Respiro fundo, tentando me acostumar com a ideia de estar em um lugar tão bonito, e me preparo para começar a viver a vida de Nira. Pela primeira vez, não sei o que está por vir, o que devo concertar ou me preocupar.
Pego o celular da garota de dezenove anos e começo a analisar sua agenda e horários de aula. Ela tem um curso de design de moda às 10h da manhã e, felizmente, já está vestida com uma roupa adequada para a aula.
Enquanto me preparo para sair do quarto, noto uma mensagem de Miles. Ele quer me encontrar em vinte minutos, no café. Respiro fundo e tento não deixar a ansiedade tomar conta de mim. Eu não sou a Nira, mas preciso agir como se fosse.
Saio do prédio e vou em direção ao nosso encontro..
Ao chegar no café, eu o vi sentado em uma mesa no canto, com um sorriso no rosto. Ele era ainda mais bonito do que eu lembrava nas memórias de Nira. Seus cabelos castanhos estavam arrumados de maneira elegante, seus olhos verdes esmeralda brilhavam com vida, e seu corpo magro e alto estava vestido com roupas que exalavam confiança e sofisticação.
Enquanto me aproximava, senti uma leve palpitação no peito. Eu tinha passado por isso tantas vezes, mas desta vez era diferente. Eu estava sentindo a atração que Nira sentia por Miles. Era estranho como meus próprios sentimentos podiam se misturar com os da pessoa cujo corpo eu estava ocupando. Eu sabia que era parte da minha missão, mas ainda assim era difícil controlar.
— Miles — digo com a voz um pouco trêmula. — Oi.
Ele se levantou e me cumprimentou com um beijo na bochecha.
— Nira, que bom te ver — disse ele. — Você está linda como sempre.
Sorri, tentando esconder o nervosismo que sentia.
Ele pareceu ficar sério de repente, e um choque tomou conta do meu corpo.
Eu agi de maneira errada? Era estranho pensar que fosse a primeira vez que parecia que ainda continuava em meu corpo, como Ammy, não ela.
Eu me sentei na cadeira em frente a Miles, tentando manter a postura elegante e confiante de Nira. Ele sorriu para mim e fez o pedido das bebidas para a garçonete. Enquanto esperávamos, ele me analisou com um olhar perspicaz.
Estamos no Les Deux Magots, um dos cafés mais icônicos de Paris. O ambiente é elegante e sofisticado, com uma decoração clássica e refinada. As mesas são de madeira escura e as cadeiras são estofadas em veludo vermelho, dando um toque luxuoso ao ambiente. As paredes são decoradas com espelhos e obras de arte. Consigo ter uma boa vista da rua de onde nós estamos.
— Você está diferente hoje — ele disse, inclinando a cabeça de lado. — Alguma coisa aconteceu?
Eu senti uma onda de pânico se espalhar pelo meu corpo, mais uma vez.
—Não, nada aconteceu — respondi rapidamente, tentando parecer casual. — Por quê?
Miles encolheu os ombros.
— Você parece... distraída, talvez. Eu só queria ter certeza de que você está bem.
Eu assenti, agradecida por ele não pressionar o assunto. Enquanto esperávamos pelas bebidas, nós conversamos sobre coisas banais - a aula de moda que Nira estava frequentando, o tempo em Paris, o último filme que ele assistiu.
Meu coração batia acelerado, quase saltando do peito, enquanto eu tentava manter a calma diante de Miles. Ele não podia saber que eu não era Nira. Eu não sabia como agir, como falar, como me comportar. Tudo em mim era Ammy, mas agora eu estava presa no corpo de outra pessoa, com sua vida, suas memórias, seus sentimentos.
Eu tentava seguir o ritmo da conversa, respondendo às perguntas de Miles com um sorriso educado e um olhar atento. Tudo em mim gritava para que eu fugisse dali, como se algo estivesse muito fora dos eixos, além do que deveria. Mas eu sabia que não podia fazer isso. Não agora. Pela primeira vez, eu apenas me sentia como a hospedeira, e não conseguia ver o que estava de errado e Miles, ou em Nira. Eles pareciam completamente perfeitos, juntos.
Enquanto ele se levantava para buscar nossas bebidas, eu aproveitei para respirar fundo e tentar me acalmar. Eu olhava ao redor do café, tentando me distrair com a beleza de Paris lá fora. Mas tudo o que eu conseguia ver eram os olhos verdes de Miles, me analisando, talvez me questionando.
Eu me perguntava como seria minha vida dali em diante, o que teria que fazer para manter as aparências, o que teria que esconder. Eu sentia um nó na garganta só de pensar em tudo o que ainda estava por vir.
Mas agora não era hora de pensar em problemas futuros. Agora era hora de ser Nira. E eu precisava ser perfeita. Eu não sabia quanto tempo ficaria presa aqui, e muito menos o que eu precisaria resolver, mas eu tinha de me adaptar rapidamente se quisesse evitar problemas. Para nós duas.
Depois do café com Miles, nós dois fomos juntos para a faculdade, eu ainda estava sentindo uma mistura de empolgação e nervosismo. Como Nira, eu era estudante de moda, mas eu nunca havia frequentado uma faculdade em Paris como ela havia. Ao chegar lá, vi que a maioria dos alunos eram franceses, e eu me senti um pouco deslocada, os ouvir falando era um pouco desconfortável para meu ouvido que estava tãoa cotumado com o inglês.Haviam várias mesas e cadeiras de madeira clara, cada uma equipada com uma pequena lâmpada e espaço para um laptop. O chão era de madeira polida, e havia um grande quadro-negro na parede da frente. A sala de aula estava tecnicamente silenciosa quando eu entrei, com apenas alguns alunos espalhados pelas mesas cochichando entre duplas, todos concentrados em seus laptops e anotações. Eu sentei em uma mesa vazia perto da janela e comecei a folhear o caderno de Nira para me preparar para a aula.Enquanto eu lia as anotações, percebi uma garota alta e elegante entrar n
Na manhã em que acordei, esperei ver o quarto azul, com o calor contra a pele, o canto dos passaros ao lado de fora, as ondas do mar se chocando contra as rochas. Mas, ainda sonolenta, abri os olhos devagar. Me sentei na cama, olhando ao redor do quarto que agora era meu.Eu ainda estava no corpo de Nira.Suspirei, sentindo uma mistura de desespero e resignação. Eu sabia que teria que continuar fingindo ser ela, pelo menos até encontrar uma maneira de voltar para o meu próprio corpo.Pelo menos, as duas aulas que tive pela manhã, não tive que pensar em como fingir ser Nira com Camille, e também não precisei tomar café da manhã com Miles e ter de sentir seus olhos verdes me acompanharem com um amor que inexplicavelmente eu não sentia de Nira por ele. Não que ela não o amasse, ela amava, muito. Mas eu estava vivendo com Ammy, em um corpo que não era meu. Eu não sentia nada por Miles, não da maneira que deveria, eu pouco tinha noção da vida de Nira.Apenas quando minha aula acabou, que e
Eu cheguei em meu apartamento inquieta. Estava apreensiva e preocupada com o que poderia acontecer. Eu sabia que estava no corpo de Nira por um motivo, e o que eu tinha descoberto não era nada bom. Tinha medo do que poderia acontecer se eu não conseguisse voltar ao meu corpo a tempo.Eu me sentei no sofá, tentando acalmar minha mente. Olhei para minhas mãos, as mãos de Nira, e senti um arrepio percorrer meu corpo. Eu não queria estar ali, não queria estar no corpo de outra pessoa. Mas eu sabia que precisava enfrentar a situação de frente, por mais que eu estivesse apavorada, não poderia deixar os dois sozinhos nisso, eu precisava fazer alguma coisa para intervir.Fechei meus olhos e respirei fundo, tentando me concentrar.Era difícil acreditar em algo assim, mas eu sabia que com tudo o que havia acontecido até agora, essa era uma possibilidade real. E se fosse verdade? O que aconteceria comigo e com Nira? O que aconteceria com Miles?Tentei controlar minha respiração, mas meu coração
Chegamos ao local do desfile com horas de antecedência, para nos certificarmos de que tudo estaria perfeito. Assim que chegamos, eu fiquei maravilhada com o local.O local do desfile era um palácio histórico, com arquitetura exuberante e um jardim bem cuidado. Havia cadeiras brancas organizadas em fileiras, um grande tapete vermelho e muitos fotógrafos aglomerados ao redor.Eu olhei para Camille e Miles, ainda sem acreditar que estava ali."Isso é incrível", sussurrei."E você é incrível, Nira", disse Miles, me dando um sorriso caloroso.Eu me sentia feliz por saber que era Miles ali, conversando comigo, empolgado ao meu lado, com os cabelos castanhos e os olhos azuis mais lindo do mundo. Mas me entristecia saber que ele não sabia que Nira não estava presente. Ela se lembraria de tudo o que eu quisesse deixar para ela depois. Nira estava adormecida dentro de seu corpo, enquanto eu vivia por ela.Nós seguimos o organizador até um salão luxuoso, onde fomos apresentados a outras pessoas
Odeio não saber o que estou fazendo aqui, e odeio ainda mais, saber que não estou sozinha, que divido o mesmo espaço de tempo com Hayden.Não faço mesmo, nem a mínima ideia do que o trouxe para cá. Já não o reconheço mais. Sei que entre seus planos não pode haver coisa boa, ou Hayden já teria deixado Miles viver a vida normalmente. Fico pensando em como devo fingir estar ao seu lado, para tentar enxergar onde ele quer chagar de fato. Quero saber o que ele pretende fazer, para que eu busque uma maneira de o impedir antes que tudo se perca de uma vez por todas, antes que eu volte para meu corpo original e não consiga voltar a tempo.Fecho os olhos com força, involuntariamente, e sou, sem querer, arrastada para mais uma lembrança, mas desta vez, não é uma de Nira, e sim, uma minha.Eu acabara de fazer vinte anos. Era um lindo dia ensolarado de 1861, eu estava usando um vestido de chita verde e branco, com babados e rendas na barra e nas mangas. Meus cabelos estavam presos em um tranças,
Depois de longas três horas, em que passei sentada em meu sofá, encarando a enorme vista que eu tinha da janela em minha frente, a porta de entrada soou algo como algumas batidas.Camille estava em reunião com a mãe dela em algum concerto que estavam juntas, e eu não esperava mais ninguém, principalmente depois da minha última conversa com Miles.Ainda envolvida em meus pensamentos, me levanto lentamente do sofá. A batida na porta me tira momentaneamente de minha introspecção, deixando-me curiosa e um tanto apreensiva.Com a mão estendida, seguro e giro a maçaneta, e meus olhos se arregalam de surpresa, meu corpo congela, o tempo para mais uma vez e eu não sei o que pensar, o que sentir ou o que dizer. É completamente diferente agora, e eu odeio isso, odeio muito. Minha mente luta, com palavras presas na garganta, para tentar entender se a cena que vejo é real, ou se é uma paranoia e estou criando situações irreais por me sentir assustada.Mas não, seus olhos me encaram, de uma forma
Antes mesmo de abrir os olhos, eu já sabia onde estava. O cheiro, o clima, totalmente familiares. Eu já estava tão acostumada com isso.Olhando ao meu redor, vejo o mesmo que vi por muitos e muitos anos. A cama está no centro do quarto, e ao lado desta, uma mesa de cabeceira exibe um abajur branco com desenhos de constelações. As paredes são pintadas de um azul que já se encontra quase que totalmente pálido, desbotado. Também há uma escrivaninha posicionada bem a frente da janela de vidro, onde papeis estão espalhados, onde ilustro qualquer pensamento, sentimento ou lembrança que não quero esquecer ou quero que esvaia de alguma forma.Encaro o tapete felpudo bem a minha frente. Ainda não acredito que fui lançada de volta para cá. Pela primeira vez em muito tempo, eu me senti completamente fraca, fora de controle. E agora, meu corpo doía, eu estava tão dolorida, que poderia jurar que esse corpo ficou abandonado na rua e foi atropelado incansavelmente por toneladas de caminhões.Levante
Andar a cavalo era uma das atividades que eu mais amava fazer no meu tempo livre, e acho que uma das vantagens de ainda não ter dado inicio em minhas missões, é que posso usar o tempo que ainda tenho para fazer isso.Tenho um cavalo branco que está comigo desde que sou criança. Seu nome é Lótus. Clarissa é minha melhor amiga, nós literalmente crescemos juntas, e fazemos tudo juntas. Na verdade, nós fazíamos. Agora, ando a cavalo ou sozinha ou com Hayden, raramente Clare tem olhos para outra coisa além do bonitão que fica cobiçando por aí. Ele se chama Asher, Asher Parker. Ele é mais velho que nós duas, está sempre treinando com os outros caras da sua idade, ele também ensina muitas coisas para os novatos. Acho que não existe alguém que brigue melhor que ele. Exceto Hayden, os dois andam treinando juntos ultimamente. Hayden é tão bom quanto ele, apesar de ser três anos mais novo. Estou andando a cavalo quando paro ao ver Hayden sorrindo para minha direção, se aproximando com uma espad