II

Depois do café com Miles, nós dois fomos juntos para a faculdade, eu ainda estava sentindo uma mistura de empolgação e nervosismo. Como Nira, eu era estudante de moda, mas eu nunca havia frequentado uma faculdade em Paris como ela havia. Ao chegar lá, vi que a maioria dos alunos eram franceses, e eu me senti um pouco deslocada, os ouvir falando era um pouco desconfortável para meu ouvido que estava tãoa cotumado com o inglês.

Haviam várias mesas e cadeiras de madeira clara, cada uma equipada com uma pequena lâmpada e espaço para um laptop. O chão era de madeira polida, e havia um grande quadro-negro na parede da frente. A sala de aula estava tecnicamente silenciosa quando eu entrei, com apenas alguns alunos espalhados pelas mesas cochichando entre duplas, todos concentrados em seus laptops e anotações. Eu sentei em uma mesa vazia perto da janela e comecei a folhear o caderno de Nira para me preparar para a aula.

Enquanto eu lia as anotações, percebi uma garota alta e elegante entrar na sala. Ela era alta, esbelta e elegante, com um sotaque francês muito charmoso que percebi assim que me cumprimntou com dois beijos nas bochechas. Ela usava uma camisa branca de seda e calças de linho. Seus cabelos loiros estavam presos em um coque baixo e ela usava brincos de ouro

Fiquei momentaneamente confusa, tentando me lembrar do nome dela, mas então me dei conta de que era Camille, a melhor amiga de Nira. Eu sorri de volta, tentando agir naturalmente.

Durante a aula, eu tentei me concentrar no que o professor estava dizendo, mas minha mente vagava, tentando puxar algumas memórias e lembranças de Nira e sua amiga Camille. Eu me lembrei de alguns momentos, foram breves, mas não suficientes.

Mas, ao mesmo tempo, eu senti como se estivesse invadindo a privacidade de Nira, tentando reviver suas memórias e experiências. Eu me perguntei se isso era certo, mas então lembrei que, enquanto estivesse no corpo de Nira, eu deveria agir como ela e viver sua vida. E isso incluía suas amizades e relacionamentos.

— Como foi o fim de semana no cruzeiro com Miles? —  sua pergunta foi sussurrada, e eu voltei minha atenção a ela.

— Foi um final de semana incrível. Eu nunca tinha feito um cruzeiro antes — respondi, tentando parecer o mais natural possível.

— Que bom que você gostou. Eu fiquei um pouco preocupada quando você não respondeu minhas mensagens — Camille disse. —  Mas então lembrei que estava com Miles —  piscou para mim.

— Ah, sim, desculpe por isso —  respondo, tentando não invadir a privacidade de Nira.

— Sem problemas. De qualquer forma, eu queria te perguntar sobre aquela ideia que tivemos na semana passada para o nosso projeto final. Você teve alguma outra ideia desde então? — Camille perguntou, mudando de assunto.

— Na verdade, eu tive uma ideia. Eu estava pensando em fazermos algo relacionado com moda sustentável — falei, me lembrando de uma conversa que Nira havia tido com Miles sobre esse assunto.

— Eu adoro a ideia! É tão importante falar sobre isso no mundo da moda. Nós vamos arrasar, gata — comemorou, animada.

Comecei a pensar que talvez Camille fosse um bom meio para que eu conseguisse descobrir algumas coisas sobre Miles, coisas das quais eu me esforçava e não conseguia me lembrar. Tinha de haver alguma coisa, ou eu não estaria aqui. Não poderia ser um erro... Mas todas as vezes que me esforçava para lembrar dele, era tudo bonito, tudo tão...perfeito. Eles não brigavam, estavam sempre se divertindo um com o outro, estudavam juntos, desenhavam e criavam roupas incríveis. Miles inclusive montou um desfile todo no aniversário de Nira, com todas as peças dela, bem em frentre a torre Eiffel. Ele fechou a torre por uma noite, só para ela, e para que pudessem jantar apenas os dois, com velas, vinho e rosas. Eu não via nada, absolutamente nada, nenhum motivo no qual me trouxesse aqui. Penso que talvez, pela primeira vez, um erro pudesse ter sido cometido. Provavelmente ao amanhecer, eu seria Ammy de novo, seria a garota de cabelos curtos e louro, comum de Cough, em uma vida monotona, até eu querer escapar ou ter um dever a cumprir. A verdade é que eu nunca escolhia exatamente para quem ir, mas pelo menos escolhia quando. Não era sempre, e normalmente acontecia com pessoas que estavam mais proximas de mim, era meu trabalho, desde que me entendo por gente. Não restaram muitos iguais a mim, mas já fomos um grupo bem grande, cada um com uma habilidade especial, até nos separem com uma guerra que não acabara nada bem em nossa audeia. Todos tivemos que nos separar, e ainda dei sorte de continuar com alguns. Fugi com minha família pouco antes de não termos mais chances. 

Mas com Nira foi tão rapido, que nem sei como meu corpo está, em vegetação, na cama, depois de um baque surpresa que me arrastou quilometros de distancia até Paris.

Depois de algumas horas, finalmente entro no refeitório da faculdade, uma enorme sala com mesas e cadeiras por toda parte, uma decoração moderna com paredes brancas e um piso de madeira clara. Há um enorme balcão com vários tipos de comida, desde sanduíches até pratos quentes, e ao lado dele, uma fila de estudantes espera para pegar suas refeições.

Vejo Miles e Camille sentados em uma mesa próxima à janela, com uma bela vista do jardim da faculdade. Eles acenam para mim, para que me junte a eles. O refeitório está barulhento com estudantes conversando e rindo ao redor, o cheiro de comida flutua no ar.

Quando me aproximei mais dos dois, pude notar Camille e Miles discutindo sobre o desfile que querem — que queremos — ir no fim de semana.

Sento-me com eles e pego minha bandeja. Observo Miles enquanto ele começa a comer, ele parece diferente do que estava de manhã. Ele está mais relaxado agora, rindo e brincando com Camille. Parece quase irreconhecível do que estava antes, tenso e curioso no café. Eu me pergunto se algo mudou ou se ele está escondendo algo. Eu tento me concentrar na conversa, mas minha mente continua voltando para Miles e para o que poderia estar acontecendo com ele.

— Nosso pai nos mostrou algumas peças da coleção que será apresentada — Camille estendeu o telefone na minha direção, para que eu conseguisse ver.

Nosso pai. Ok, ela e Miles eram irmãos, e quando busquei sobre nas memorias de Nira, eu descobri que Miles não era o filho biológico, mas os dois cresceram juntos. Camille e Nira são amigas desde o jardim de infancia, resumidamente, conhece Miles na mesma quantidade de tempo.

— Elas são lindas!

— Amor —  Miles se dirige a mim, segurando minha mão —, amanhã podemos sair da aula mais cedo e continuarmos o vestido que você projetou para sábado, acho que conseguimos terminar ainda hoje.

Ele está completamente diferente, ainda não estou convencida de que algo não está errado com ele, mas decido não insistir no assunto, afinal, com meus olhos, eu só o vi uma unica vez.

— Você tem sorte, porque comigo, Miles não quer fazer nada —  ela revira os olhos e ele ri, dando de ombros.

— Eu faço os desenhos bons, e Nira, ela costura muito bem —  ele rebate. —  Você é desajeitada e acha ruim toda vez que eu tento ajudar.

— Eu não sou tão boa assim — digo, sabendo que Nira também tem dificuldade em usar alguns tecidos e modelos de roupas na hora de usar linhas.

— Mas eu estou te ajudando com isso, você é ótima, Nira —  me afirmou.

— Ok, então, enquanto os pombinhos irão terminar juntos a obra divina do senhor Miles, eu vou estudar para nosso projeto, estou um pouco ansiosa, tudo bem por você? —  Camille me perguntou.

— Claro —  assenti, e procurei em minha bolsa, a pasta com os artigos que Nira havia separado e os entreguei para ela.

Eu queria ficar ansiosa para amanhã e para o tempo que teria com Miles, mas provavelmente, eu seria arrancada desse erro grafico no qual fui arrastada, e acordaria com Ammy novamente. Era o certo a ser feito, eu não deveria estar aqui. Nada de vestidos, nada de melhor amiga francesa e nada de desfiles para mim. 

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