Betina
Depois de me "sequestrar" do ônibus e me dizer que eu era muito ingrata e irresponsável por fugir de seus cuidados, ele me levou até um restaurante caro, onde comi lagosta pela primeira vez.
— O que vai fazer amanhã noite? — ele me questionou assim que paramos na frente do meu prédio.
— Marquei um jantar com minhas amigas — Elas queriam saber o que estava acontecendo em minha vida. Já que agora eu tinha seguranças particulares. — Preciso tentar explicar tudo isso — girei meu dedo e ele sorriu.
— Uma pena — o sorriso de Drake era sedutor.
Tudo que eu não imaginei foi vê-lo novamente, esperava qualquer coisa. Uma carta de agradecimento, uma caixa de bombons, um espumante. Mas não o próprio homem tentando fazer meus gostos. E que nome era aquele?
Drake!
Ele me explicou que era apenas um apelido para Diogo, já que quem lhe dera o nome foi a mãe e ele não tinha boas recordações dela.
— Podemos marcar outro dia — fiquei envergonhada por querer vê-lo de novo.
— O que sugere? —ele se recostou no banco.
Como poderia sugerir algo? Era uma simples musicista no começo de carreira que se sustentava dando aulas de piano. Não poderia levá-lo a locais chiques como ele fez comigo.
— Não sei, meus padrões são um pouco menores que os seus — ele riu e se virou para mim novamente.
— Não me importo com nada disso, desde que possa te ver de novo. Fiquei tempo demais afastado por conta dos ferimentos. — ele piscou e me senti derreter.
— Escolha algo para nós então. Não sou boa em escolher coisas. Sou uma menina que gosta de ficar em casa e ler livros enquanto coloca uma música clássica para tocar.
— Beethoven? — seus olhos brilharam com a revelação.
— Com certeza! — ele segurou minha mão — Bach, Mozar e tudo mais. — suspirei.
— Vou te levar a um concerto, tenho certeza que irá adorar — me empolguei ainda mais e apertei seus dedos.
— Promete? — parecia uma criança falando.
— Prometo, Betina — sorri de orelha a orelha. Eu queria abraçá-lo e agradecê-lo.
— Obrigada! — fiz menção de abrir a porta, mas Mor a fez por mim. — Eles são muito prestativos. — dei risada.
Sai do carro e Drake fez o mesmo parando ao meu lado na calçada.
— Aqui não parece um local muito seguro — ele olhou em volta e olhou para os seus homens.
— Foi o que pensei depois do que aconteceu com você, mas é tudo que posso me dar ao luxo de pagar — dei de ombros e seu olhar ficou um pouco mais sério — Mas obrigada pela carona e pelo jantar. — ele não se moveu e os três ficaram na calçada até que eu entrasse em meu prédio.
Parecia um sonho o que eu estava vivendo. Como dizia minha mãe, após a tempestade sempre vem a calmaria. Se é que podemos chamar Drake de calmaria.
Meu celular apitou e uma mensagem desconhecida chegou em meu celular.
"Não esqueça de trancar a porta, qualquer coisa me ligue! Drake"
Arregalei os olhos. Como ele tinha conseguido o número do meu celular?
Respondi a sua mensagem e adicionei seu número, mas nenhuma foto apareceu em seu contato. Não tinha tido coragem de perguntar o que ele fazia, para mim ele continuava com cara de grande empresário. Com seus carros pretos e seguranças, porém também tinha cara de mafioso.
Seus seguranças sempre me chamavam de bambina, o que me dava a entender que eles tinham um pezinho na Itália, mesmo que o português fosse perfeito.
Algo ainda não estava se encaixando e eu queria descobrir tudo sobre ele, mesmo que o tempo que ficássemos "juntos" fosse pouco.
Arrumei meu apartamento tentando não deixar nada para fazer no dia seguinte. Marquei com as meninas as 7 da noite para voltar cedo. Domingo eu teria que ir para a casa dos meus pais e não queria dormir muito.
O sono desta noite foi bem mais conturbado, mais do que o primeiro dia em que vi Drake sendo surrado. Desta vez eu estava lá e era ameaçada pelos mesmos homens. Eu podia sentir a dor e a agonia que afligia meu corpo e o desespero tomando tudo a minha volta. O gosto metálico tomava conta de minha boca e não via saída.
Drake apareceu como um herói, com os olhos em chamas e me salvou daquela agonia. Ele me protegeu quando mais ninguém me viu e cuidou de cada ferida com calma e delicadeza.
Acordei assustada com o impacto daquele sonho.
"O que estava acontecendo comigo?"
Terminei de me arrumar e já corri para a primeira aula que eu dava naquela manhã.
Meus sábados eram repletos de criancinhas fofas que estudavam em uma escola no bairro e que eu me voluntariava para ensinar. Na parte da manhã era a turma dos mais velhos e na parte da tarde dos mais novos. Eu adorava isso. Aprendi a tocar piano desta forma e resolvi que assim como fui ensinada por uma voluntária, eu passaria meus conhecimentos para frente.
Me despedi de todos 5horas da tarde e corri para casa, para me arrumar, já estava um pouco atrasada, já que o restaurante que Ana tinha sugerido era bem longe da minha casa e o horário de pico me faria o desserviço de aumentar o atraso.
Coloquei um vestido preto simples, porém colado que eu adorava, saltos blocos pretos e soltei os cabelos loiros.
Voltei para o quarto e peguei a pequena bolsa que repousava em cima da cama e peguei o celular sobre a mesa, pedindo um carro pelo aplicativo.
Esperei dois minutos até que um confirmou e abri para ver qual era o carro que estava vindo. Desci as escadas e esperei na entrada do prédio.
Era estanho não ver Mor e Mau ali me esperando. Mas é claro que agora que Drake estava de volta eles o acompanhariam em tudo. E era isso que eu queria desde o começo, não era? Queria minha liberdade de volta. Queria meu espaço.
O carro chegou e entrei.
—Boa noite — o homem falou assim que coloquei o sinto.
— Boa noite — respondi não dando muita atenção.
Ele começou a dirigir e respondi as meninas que eu já estava saindo de casa.
Olhei pela janela e vi que o céu estava um pouco mais escuro.— Parece que vai chover — falei mais para mim do que para ele.— É mesmo, o tempo aqui é sempre estranho — o homem me olhou pelo retrovisor. Não gostei muito do que percebi em seus olhos. Me senti incomodada com ele sempre olhava para trás, mesmo que eu não estivesse dizendo nada.— Vou pegar um atalho — ele falou me tirando de meus devaneios.— Não precisa, não estou com pressa — falei o mais rápido que pude — Por favor, continue no caminho sugerido pelo aplicativo — ele sorriu pelo retrovisor. Seus olhos eram negros e sua barba serrada. Os óculos de armação preta o faziam parecer inofensivo, mas estava começando a achar que tinha me colocado em uma enrascada.— Você vai ver, docinho, vamos chegar bem mais rápido — o carro virou em outra direção e o pânico se instalou em meu peito. — Senhor, pare o carro, eu não vou continuar essa corrida. — falei olhando para meu celular e printando a tela com as suas informações.— Nã
Betina Depois do dia em que quase fui estuprada pelo motorista louco do aplicativo, se tornou um hábito ter Drake sempre por perto, me cativando e me mostrando o quanto gostava de ficar comigo. Demorou um tempo para ele entender que eu não queria Mor e Mau me seguindo dentro da faculdade. Era desnecessário. Mesmo assim ele insistiu para que viesse me buscar todos os dias, não queria que eu andasse de ônibus coletivo, nem pegasse qualquer carro de aplicativo. Esse último se tornou extremamente proibido após o que aconteceu. Se não bastasse ele ainda me deu um celular novo, mil vezes melhor do que eu tinha e ainda conseguiu baixar tudo o que eu tinha no outro celular sem qualquer ajuda minha. Esse negócio de ser da máfia realmente tinha seus benefícios. Não que eu estivesse pensando em me juntar a eles, já que eu nem sabia que tipo de trabalho faziam. A única coisa que eu sabia era que eles sempre queriam mais. Mais glória, mais poder, mais sucesso. Drake se mostrava um homem
Fechei meus olhos esperando os golpes começarem. Eu já tinha visto aquela cena, mais vezes do que gostaria de contar apenas naquele mês.Primeiro elas me dariam golpes no estomago e depois no rosto. Fraca do jeito que eu era cairia no primeiro golpe se elas não me soltassem. Quando soltassem levaria chutes e mais chutes até que ficasse desacordada. Esperei por mais tempo do que imaginei que demoraria, mas nada aconteceu. Até suas vozes sumiram e resolvi abrir os olhos devagar para espiar.Mau estava segurando a mão da mulher que estava agarrada a meus cabelos e Mor encarava as outras duas com cara de quem iria matá-las.— Soltem-na — ele falou e me encostei na parede com as pernas bambas. Olhei através deles e vi Drake vindo em nossa direção com os olhos crepitando. Ele parecia maior do que realmente era.— O que estão fazendo aqui? — Mau perguntou ainda segurando o braço da primeira mulher.— Ela merecia uma lição — ela falou num tão mais baixo. Mesmo que estivesse intimidada por el
Drake — Quer ir comigo a uma corrida de carro hoje a noite? — seus olhos azuis me sondaram. Eu já tinha memorizado cada pedacinho dele. A forma como eles pareciam mudar de cor dependendo do reflexo do sol. A quantidade de riscos marrons que possuía, a forma que se mexiam dependendo do estado de espírito dela. — Uma corrida de carros? — era engraçado como as suas sobrancelhas se juntavam quando ela processava algumas das coisas que eu dizia. Nossos mundos eram tão diferentes que as vezes eu me esquecia. — Sim, hoje a noite vai acontecer uma corrida com vários lideres de clãs espalhados pelo Brasil. Pensei que talvez você quisesse conhecer um pouco mais sobre o meu mundo. Até agora só viu uma parte bem feia, digamos assim — eu não tinha qualquer problema com a forma que tudo tinha acontecido, mas entendia que para ela tudo era novo e assustador. Betina era uma menina ingênua, sem maldade e sem entendimento do que realmente o mundo dele representava. Ele queria mostrar tudo a ela, ma
— Senhor Giordano — Afonso Ricci, meu fiel amigo se aproximou cumprimentando. — Passei para vê-lo mais cedo, mas me disseram que teve um problema.—Nada com que deva se preocupar — falei sem comentar nada. A presença dela diria tudo.— Ouvi dizer que temos uma nova Lady — o olhei sério. — Não que eu tenha alguma coisa a ver com isso. Somente fiquei preocupado com sua procedência. — eu sabia que ele queria me alertar sobre o que poderia ser dito pelos outros, mas não me importei.— Ouviu certo, e estou disposto a cortar a língua do primeiro que a desrespeitar — vi o homem engolir em seco e assentir com a cabeça.— Claro senhor, ninguém faria algo assim — ele se afastou me deixando preso a meus próprios pensamentos.O garçom que nos servia trouxe meu vinho branco e o degustei antes de realmente tomá-lo. Não havia nada mais delicioso do que uma boa taça de vinho.Ou havia?Me virei assim que a porta do elevador se abriu e vi Betina em um vestido vermelho com
Lady B.O dia da corrida foi um divisor de águas para nós. Ele sabia que queria estar mais próximo a mim e eu dele e era difícil quebrar a vontade louca que nos consumia.Todos os dias ele ia me buscar na faculdade e passava boa parte da nossa viagem até minha casa me contando sobre como era viver em uma família regida pelas regras do Clã.Às vezes me perdia em pensamento imaginando como seria ser vista com ele dentro de sua casa, de seus costumes. Nunca tinha pensado muito a respeito do que a outra parte da relação teria que suportar para ficar comigo, mas entendi o que eu precisaria para estar perto de Drake.— Quero te levar comigo em uma viagem de negócios que vou fazer.— Viagem? — tínhamos acabado de passar pela avenida principal.— Tenho que conversar com alguns fornecedores e estou atrasado — me senti um pouco responsável por
DrakeVê-la tocar foi como voltar no tempo.Os acordes produzidos pelo instrumento o levaram a uma infância que a muito tempo ele não pensava. Onde não havia tantas responsabilidades, nem tantas preocupações.Quando menina, adorava explorar cada canto do bairro onde morava com os amigos, Mauricio e Leandro.Eles sempre foram unidos e nunca pensou em ter pessoas de sua confiança que não fossem eles.Eles viviam vadiando quando os pais os perdiam de vista. A bicicletas tinham que ser reformadas de tempos em tempos pela quantidade de aventuras que lhes proporcionavam.— Para onde vamos agora?? — Leandro questionou assim que chegamos no limite permitido.— Além — olhei para depois da avenida que cortava o bairro.— Do que está falando? — Mauricio, ou Mau como todos o chamavam agora, observou minha expressão.N&oacut
O tempo que passei com Drake em Salvador foi muito mais esclarecedor do que imaginei. Ele me contou um pouco sobre a sua vida, sobre como se tornou o Capo da Máfia Cacciatore, me explicou como funcionavam algumas das leis e me deu um panorama geral do que era o trabalho dele.Drogas.Drake era um dos principais fornecedores de Drogas do país, abastecendo São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.Ainda estava em dúvida sobre o que eu achava sobre isso e me questionei sobre meus valores e princípios já que meus pais sempre fizeram questão de me deixar bem ciente do que era certo e errado. Agora eu tinha dúvidas porque ele não parecia ser alguém ruim, ele só trabalhava com coisas ruins. Deitada na cama de meu quarto eu voltei ao dia em que toquei piano para ele. Me lembrei de cada expressão que vi em seu rosto, desde a surpresa até o fogo que se espalhou em seguida. Ainda assim ele não fez o que eu queria. Não me tomou em seus braços, nem me beijou ardentemente como parecia querer seus olh