Betina
Depois do dia em que quase fui estuprada pelo motorista louco do aplicativo, se tornou um hábito ter Drake sempre por perto, me cativando e me mostrando o quanto gostava de ficar comigo.
Demorou um tempo para ele entender que eu não queria Mor e Mau me seguindo dentro da faculdade.
Era desnecessário.
Mesmo assim ele insistiu para que viesse me buscar todos os dias, não queria que eu andasse de ônibus coletivo, nem pegasse qualquer carro de aplicativo. Esse último se tornou extremamente proibido após o que aconteceu.
Se não bastasse ele ainda me deu um celular novo, mil vezes melhor do que eu tinha e ainda conseguiu baixar tudo o que eu tinha no outro celular sem qualquer ajuda minha.
Esse negócio de ser da máfia realmente tinha seus benefícios. Não que eu estivesse pensando em me juntar a eles, já que eu nem sabia que tipo de trabalho faziam. A única coisa que eu sabia era que eles sempre queriam mais.
Mais glória, mais poder, mais sucesso.
Drake se mostrava um homem poderoso, nenhum dos seus subordinados me olhava por muito tempo quando eu passava. Não debatiam o que ele falava, muito menos eram desrespeitosos uns com os outros.
Um olhar bastava para que o ambiente a sua volta se aquietasse. Era intimidador.
O pior de tudo isso é que eu me sentia cada vez mais atirada por esse lado dele, o lado que ele me mantinha segura e ansiosa por saber mais, me mantinha interessada sem nunca ter ocorrido nada entre nós. Ele era o tipo de homem que eu sempre evitei por medo de sofrer.
Agora não tinha para onde correr, eu estava totalmente emaranhada em sua rede e não sabia como me afastar sem causar um dano permanente em meu coração.
— Já vai? — Ana me perguntou assim que a coordenação veio até a sala avisar que não teríamos a última aula.
— Vou esperar Drake lá no ponto de ônibus. — falei recolhendo meu material.
— Você ainda não me explicou exatamente quem é ele em sua vida. — e nem iria explicar. Eu simplesmente não sabia.
— É um amigo, já te disse. Me livrou de uma fria e devo muito a ele. — ela me analisou por cima dos óculos.
—Por que eu acho que você está escondendo alguma coisa, Betina? — Ana era minha amiga desde que comecei a estudar no Belas Artes. Foi a primeira que me estendeu a mão e a que me ajudou a encontrar um lugar para ficar. Eu sempre contei tudo a ela, mas agora não podia. Falar a natureza de Drake seria atestar que eu estava ficando louca por sair com uma cara perigoso que eu nem conhecia direito. — Não quer que eu te deixe em casa?
— Não, não se preocupe. Ele já deve estar a caminho. Mandei mensagem para ele — apontei o celular com a tela desligada e ela acreditou.
Eu não tinha mandado mensagem para ele ainda, porque não queria incomodá-lo. Mas em 40 minutos ele chegaria e eu poderia esperar por ele, como ele sempre fazia por mim.
— Tudo bem, Be, mas saiba que se precisar de alguma coisa é só me dizer. Somos amigas, não precisa se esconder de mim.
— Não estou. Que ideia é essa? — coloquei minha mochila no ombro e a olhei. — Eu só não sei o que temos. Não posso te contar nada por que ainda é novo e não definimos. — cruzei os braços — Estamos nos conhecendo. — ela abaixou os olhos não acreditando em mim — Prometo que quando definirmos o que existe entre nós você será a primeira a saber.
— Eu não tenho outra escolha se não acreditar em você — ela falou chateada e a abracei.
— Acredite em mim — supliquei e ela concordou.
Nos despedimos assim que saímos da sala, ela ia em direção ao estacionamento e eu ao ponto de ônibus.
Sentei colocando minha mochila ao lado e pegando meus fones de ouvido. Abri uma das plays lists que Drake tinha criado para mim e me deliciei com os acordes. Ele parecia saber o que mais me impressionava.
Retirei da minha bolsa meu caderno de anotações e uma caneta azul. Um arranjo de acordes estava se montando em minha mente e eu precisava marcá-lo antes que sumisse.
Desenhei cada nota como se o teclado do piano estivesse a minha frente, fiz toda a sequência e me deixei levar por toda a atividade que estava fluindo em minha mente. Eu amava quando isso acontecia, sempre me impressiona com a minha capacidade.
— Ali a vagabunda que sai com homem casado! — Ouvi o berro da mulher por cima da minha música, mas preferi não olhar. Provavelmente era uma coisa particular e eu não queria mais me envolver em problemas.
— Ela está nos ignorando mesmo? Não estou acreditando nisso — as vozes continuaram.
— Vamos dar uma lição nela, assim ela aprende que ninguém se mete com a famiglia — quando a terceira falou, foi que um sinal de alerta disparou em meu cérebro.
"FAMIGLIA!"
Não podia ser coincidência.
Fechei meus olhos esperando que fosse apenas um sonho.
Quando abri três mulheres se materializaram em minha frente. Uma mais linda que a outra e todas vestidas de preto. Com certeza faziam parte do grupo de Drake.
A que estava na frente era morena e me encarou com raiva batendo a mão em meu caderno e o fazendo desabar no chão.
— Não está ouvindo a gente falar com você — ela me puxou pelo colarinho da blusa e me fez ficar de pé.
— Me solte! — falei empurrando suas mãos de mim e ela riu.
— Ou o que? — a outra me segurou pelos cabelos, me abaixando e levei minhas mãos imediatamente para o cabelo.
— Vocês são loucas? — tentei me soltar, mas ela apertou ainda mais seus dedos.
— Louca é você de se meter com quem não deve.
— Do que está falando? Eu não estou entendendo! — mas na verdade eu começava a entender que talvez Drake não fosse tão santo assim.
— Vamos dar uma lição em você, assim você vai aprender a nunca mais mexer com homem casado! — elas me arrastaram para trás do ponto de ônibus rindo do meu desespero.
— Por favor, vamos conversar. Preciso entender do que estão falando. — tentei novamente me soltar mas as outras duas seguraram uma em cada braço.
— Não sabe? Mas vai saber já, já. Se mexer com uma, mexeu com todas. É assim que nós defendemos. Você é uma Bastarda que não respeita e não sabe nada sobre nós. Vamos te ensinar que o sangue está acima de tudo. — eu estava perdida. Não teria ninguém para me socorrer naquele momento.
Se eu soubesse que Drake era casado, nunca teria aceitado suas ofertas de se aproximar de mim. Nunca teria deixado nada do que aconteceu entre nós se estender. Eu teria me afastado, teria impedido.
"ELE NEM ALIANÇA USAVA!"
Fechei meus olhos esperando os golpes começarem. Eu já tinha visto aquela cena, mais vezes do que gostaria de contar apenas naquele mês.Primeiro elas me dariam golpes no estomago e depois no rosto. Fraca do jeito que eu era cairia no primeiro golpe se elas não me soltassem. Quando soltassem levaria chutes e mais chutes até que ficasse desacordada. Esperei por mais tempo do que imaginei que demoraria, mas nada aconteceu. Até suas vozes sumiram e resolvi abrir os olhos devagar para espiar.Mau estava segurando a mão da mulher que estava agarrada a meus cabelos e Mor encarava as outras duas com cara de quem iria matá-las.— Soltem-na — ele falou e me encostei na parede com as pernas bambas. Olhei através deles e vi Drake vindo em nossa direção com os olhos crepitando. Ele parecia maior do que realmente era.— O que estão fazendo aqui? — Mau perguntou ainda segurando o braço da primeira mulher.— Ela merecia uma lição — ela falou num tão mais baixo. Mesmo que estivesse intimidada por el
Drake — Quer ir comigo a uma corrida de carro hoje a noite? — seus olhos azuis me sondaram. Eu já tinha memorizado cada pedacinho dele. A forma como eles pareciam mudar de cor dependendo do reflexo do sol. A quantidade de riscos marrons que possuía, a forma que se mexiam dependendo do estado de espírito dela. — Uma corrida de carros? — era engraçado como as suas sobrancelhas se juntavam quando ela processava algumas das coisas que eu dizia. Nossos mundos eram tão diferentes que as vezes eu me esquecia. — Sim, hoje a noite vai acontecer uma corrida com vários lideres de clãs espalhados pelo Brasil. Pensei que talvez você quisesse conhecer um pouco mais sobre o meu mundo. Até agora só viu uma parte bem feia, digamos assim — eu não tinha qualquer problema com a forma que tudo tinha acontecido, mas entendia que para ela tudo era novo e assustador. Betina era uma menina ingênua, sem maldade e sem entendimento do que realmente o mundo dele representava. Ele queria mostrar tudo a ela, ma
— Senhor Giordano — Afonso Ricci, meu fiel amigo se aproximou cumprimentando. — Passei para vê-lo mais cedo, mas me disseram que teve um problema.—Nada com que deva se preocupar — falei sem comentar nada. A presença dela diria tudo.— Ouvi dizer que temos uma nova Lady — o olhei sério. — Não que eu tenha alguma coisa a ver com isso. Somente fiquei preocupado com sua procedência. — eu sabia que ele queria me alertar sobre o que poderia ser dito pelos outros, mas não me importei.— Ouviu certo, e estou disposto a cortar a língua do primeiro que a desrespeitar — vi o homem engolir em seco e assentir com a cabeça.— Claro senhor, ninguém faria algo assim — ele se afastou me deixando preso a meus próprios pensamentos.O garçom que nos servia trouxe meu vinho branco e o degustei antes de realmente tomá-lo. Não havia nada mais delicioso do que uma boa taça de vinho.Ou havia?Me virei assim que a porta do elevador se abriu e vi Betina em um vestido vermelho com
Lady B.O dia da corrida foi um divisor de águas para nós. Ele sabia que queria estar mais próximo a mim e eu dele e era difícil quebrar a vontade louca que nos consumia.Todos os dias ele ia me buscar na faculdade e passava boa parte da nossa viagem até minha casa me contando sobre como era viver em uma família regida pelas regras do Clã.Às vezes me perdia em pensamento imaginando como seria ser vista com ele dentro de sua casa, de seus costumes. Nunca tinha pensado muito a respeito do que a outra parte da relação teria que suportar para ficar comigo, mas entendi o que eu precisaria para estar perto de Drake.— Quero te levar comigo em uma viagem de negócios que vou fazer.— Viagem? — tínhamos acabado de passar pela avenida principal.— Tenho que conversar com alguns fornecedores e estou atrasado — me senti um pouco responsável por
DrakeVê-la tocar foi como voltar no tempo.Os acordes produzidos pelo instrumento o levaram a uma infância que a muito tempo ele não pensava. Onde não havia tantas responsabilidades, nem tantas preocupações.Quando menina, adorava explorar cada canto do bairro onde morava com os amigos, Mauricio e Leandro.Eles sempre foram unidos e nunca pensou em ter pessoas de sua confiança que não fossem eles.Eles viviam vadiando quando os pais os perdiam de vista. A bicicletas tinham que ser reformadas de tempos em tempos pela quantidade de aventuras que lhes proporcionavam.— Para onde vamos agora?? — Leandro questionou assim que chegamos no limite permitido.— Além — olhei para depois da avenida que cortava o bairro.— Do que está falando? — Mauricio, ou Mau como todos o chamavam agora, observou minha expressão.N&oacut
O tempo que passei com Drake em Salvador foi muito mais esclarecedor do que imaginei. Ele me contou um pouco sobre a sua vida, sobre como se tornou o Capo da Máfia Cacciatore, me explicou como funcionavam algumas das leis e me deu um panorama geral do que era o trabalho dele.Drogas.Drake era um dos principais fornecedores de Drogas do país, abastecendo São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.Ainda estava em dúvida sobre o que eu achava sobre isso e me questionei sobre meus valores e princípios já que meus pais sempre fizeram questão de me deixar bem ciente do que era certo e errado. Agora eu tinha dúvidas porque ele não parecia ser alguém ruim, ele só trabalhava com coisas ruins. Deitada na cama de meu quarto eu voltei ao dia em que toquei piano para ele. Me lembrei de cada expressão que vi em seu rosto, desde a surpresa até o fogo que se espalhou em seguida. Ainda assim ele não fez o que eu queria. Não me tomou em seus braços, nem me beijou ardentemente como parecia querer seus olh
— O que aconteceu? — ele se virou completamente para mim e fechei os olhos pensando em como dizer aquilo.— Meus pais estão aqui — abri meus olhos e vi que sua expressão não se alterou.— E isso é bom, não é? — ele estava cauteloso.— Eles estão suspeitando que algo está acontecendo em minha vida, que existe alguém bagunçando os meus planos — abaixei meu rosto para minhas mãos.— Talvez eles tenham razão — me assustei com seu comentário e o olhei séria.— Por que diz isso depois de tudo que tem me mostrado?— Eu sei o que sou, Betina, sei minhas origens — ele suspirou — Tudo em mim é intenso e as vezes temos que abrir mão de coisas que queremos apenas para salvá-la.— O que quer dizer? — fiquei apavorada, nós não tínhamos começado nada para ele falar de fim. Me aproximei dele e segurei seu rosto. — O que quer dizer com isso, Drake? — ele pousou suas mãos sobre a minha.— Quero dizer que talvez seus pais estejam vendo mais do que nós dois. — seus olhos se fecharam e senti uma pontada e
Foram 5 dias sem qualquer sinal de vida de Drake. Ele não me mandava mensagens, não respondia o que eu mandava, não atendia ligações, nem ia me buscar. Mor e Mau sempre davam algum tipo de desculpa e por fim acabei desistindo de ouvi-los, não tinha mais o que dizer. Ele não queria mais me ver e tudo bem. — Já voltou? — Meu pai estava sentado no sofá olhando alguns papeis que deduzi que fossem provas. Ele e minha mãe era professores e resolveram tirar uma semana para ficar com a filha querida. — Não tive a última aula — seus óculos estavam na ponta do nariz e ele me observou passar deixando minha bolsa sobre o sofá. — É só isso mesmo? — eu não sabia o que era ser monitorada a dois anos, desde que resolvi entrar na Belas Artes e fazer meu curso, deixando meus pais irem para a nova cidade onde eles tinham prestado concurso e passado. Agora minha vida amorosa estava um caos e eu nem podia me debulhar em lágrimas sem chamar atenção de ningu