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A garota dos Mafiosos
A garota dos Mafiosos
Por: BNLabaig
Capítulo 1 - O salvamento

— A polícia está aqui! — Grito com toda a força com uma sirene tocando em meu celular no máximo que consegui. 

Era assustador o que estava acontecendo tão próximo da minha casa. Sempre me disseram que ali era um bairro tranquilo, com baixa criminalidade e perfeito para uma mulher sozinha morar.

Pelo que eu estava vendo, fui enganada pelo corretor de imóveis e pela vizinhança apática. 

Ninguém mais estava vendo aquilo?

Era impossível que um homem estivesse sendo surrado por outros três brutamontes, emitisse sons de dor e lamúria e ninguém se compadecesse?

Estava alheia a tudo quando virei na esquina da minha casa e entendi o que estava acontecendo. Tive vontade de voltar correndo para o ônibus que acabava de me deixar no ponto. Lá pelo menos teriam outras pessoas que me ajudariam a fazer alguma coisa, mas ali, no final da tarde, não havia uma viva alma. Todas as janelas dos prédios estavam fechadas, as portas trancadas e a rua deserta. A única desavisada de toda essa situação fui eu. 

Justo eu!

Odeio sangue, odeio violência, odeio injustiça e aquilo era uma junção dos três.  

O homem estendido no chão não parecia um sem-teto. De longe eu podia ver que ele usava um terno caro, provavelmente ele foi assaltado e tentou reagir. Acabou que eu, a pessoa mais passiva do mundo, teria que ir ao seu socorro.

E sangue! Quanto sangue tinha a sua volta.

Me aproximei devagar com medo dos bandidos verem que era mentira a minha fala sobre a polícia. A sirene ainda tocava em meu celular, o que me dava uma falsa segurança e talvez fosse isso que tivesse mantido os vizinhos escondidos. Deveriam achar que realmente a polícia tinha chegado e não precisariam se importar com o que estava acontecendo. 

Com o coração batendo na boca, as pernas tremendo e as mãos agarradas ao celular, me aproximei devagar. 

"Ele pode estar morto, não pode? Ele teria morrido com a sucessão de socos e chutes que vi. Por sorte não havia armas, porque aí sim eu teria certeza de que ele estaria morto."

Me ajoelhei a sua frente tentando não desmaiar com a quantidade de sangue em sua face. O resto do corpo não parecia ter qualquer sinal de lesão, contudo por baixo da roupa, manchas pretas e roxas deveriam cobri-lo. 

Olhei novamente para ele que permanecia desacordado.

— Moço? — cutuquei seu ombro devagar — Moço? — falei sussurrando com medo de incomodá-lo. 

Seus gemidos me aliviaram de alguma forma, e peguei minha blusa dentro da bolsa para tentar tirar um pouco de sangue de seus olhos. Passei delicadamente por toda sua extensão e achei o local que estava minando a maior parte. Pressionei minha blusa em seu supercílio.

— SOCORRO! — gritei alto esperando que alguém viesse me ajudar — ALGUÉM ME AJUDA POR FAVOR! — uma dor arranhada desceu por minha garganta. — ELE PRECISA DE AJUDA! — meus olhos começaram a verter água enquanto eu continuava tentando chamar ajuda. 

Deixei a blusa em seu rosto e peguei meu celular do chão. Com as mãos cobertas de sangue acabei sujando a tela e não conseguia discar para a emergência. A esfreguei frustrada em minha calça e puxei de novo para tentar discar.

— Não! — o homem segurou forte meu pulso e me assustei soltando um grito de terror. — Não! — eu tremia. 

Seus olhos me avaliaram curiosos e pude encaixar a parte que faltava em minha memória a moldura de seu rosto. Os olhos verdes combinavam com o cabelo loiro palha que não estava tão tingido de vermelho. Mesmo com todos os machucados, lábios inchados e manchas roxas, ele parecia ser um príncipe de conto de fadas.

— Eu preciso chamar ajuda — tentei fazer minha voz soar — Você foi assaltado, está muito machucado, perdeu sangue!

— Não — ele falou novamente sem me soltar. Acabei soltando o celular e levando minha mão de volta a blusa que tinha saído do lugar. 

— O que eu faço então? — mas ele não precisou dizer nada. Um carro preto entrou na rua cantando pneus e parou onde nos encontrávamos. Fiquei ainda mais apavorada.

Quatro homens desceram e pararam a nossa volta.

— Eu disse que iria dar merda! — Um homem enorme com cara de mau falou, enquanto outro um pouco menor parou ao meu lado e me puxou pelos ombros me tirando de perto do homem de terno.

— O que vocês vão fazer? Ele precisa de um hospital. Precisa de ajuda! — falei assustada vendo os outros dois pegarem com cuidado o homem do chão e o levarem para o carro. 

— Não se preocupe, sabemos o que fazer — o que estava ao meu lado sussurrou em meu ouvido me fazendo pular.  Ele me soltou e se voltou para o carro.

— Obrigado — O maior disse sem ter certeza — Ainda não entendi como a bambina conseguiu fazer alguma coisa, mesmo assim — deu de ombros com uma cara de deboche e fechou a porta sem dizer mais nada, sumindo pela rua da mesma forma que entrou.

Me levantei pegando a blusa suja de sangue, meu celular e a bolsa jogada de qualquer jeito. Meus joelhos ainda tremiam com tudo que tinha presenciado.

Era assustador ver que assim como apareceram, eles sumiram, como em um passe de mágica. A única coisa que mostrava que aquilo era real, era as marcas do sangue no chão e em minhas roupas.

Corri para o apartamento para me livrar de tudo. Mal entrei e já fui direto para a lavanderia jogando tudo dentro do tanque e ficando apenas de calcinha e sutiã. Liguei a torneira e comecei a esfregar tudo tentando tirar aquelas manchas que já começavam a secar.

Quando pôr fim a água começou a ficar mais clara, joguei bastante sabão em pó e deixei de molho para depois colocar na máquina de lavar. Corri para o banheiro e me enfiei da forma que estava, embaixo do chuveiro tentando lavar todo aquele sangue do meu corpo e da minha mente.

Comecei a chorar após passar o choque de tudo o que tinha visto. Eu não sabia nada sobre os homens que o levaram, e se de alguma forma eles também fossem bandidos? E se eles matassem o homem de terno? 

Eu deveria ter chamado a polícia, deveria ter interrogado aqueles homens. Eu tinha que ter sido mais esperta!

Mas infelizmente não fui. Fui estupida de achar que eram seus amigos e agora me corroía por não saber se fui responsável pela morte de um homem.

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