A porta do quarto abriu abruptamente, fazendo-me dar um pulo na cama e olhar na direção da invasora. Ana tinha uma expressão exausta e os olhos cheios de raiva estavam prontos para invadirem o quarto junto de sua energia furiosa. Eu poderia dizer que aquilo era minha culpa, se ela não fosse rápida o suficiente para me gritar.
— Lana! — Sua voz saiu estridente, levando meus ombros a se encolherem. — Você não tem esse direito!Eu não tinha ideia do que ela poderia estar falando, mas deveria ser algo de muito ruim, mesmo que eu tentasse não errar em nada para que não precisasse ver aquele tipo de reação. Pensar nisso me levou a apenas suspirar.— Você pode usar mais as palavras e me explicar — falei por fim, desistindo de descobrir o que aquela doida estava querendo.— Eu te convidei para ir à balada e você me disse que não poderia, pois voltaria para à casa dos seus pais essa semana. — Ela caminhou pelo quarto falando de maneira nervosa enquanto suas mãos se agitavam no ar. — Eu super entendo, pois é um feriado prolongado e claro que você queria ver seus pais perfeitos. — Dessa vez ela fez aspas com os dedos na última palavra. — Aí chega hoje e você me manda mensagem avisando que está em casa e que não pretende sair!Recordei do mundo de perguntas que ela havia me feito no w******p e só então percebi que realmente havia mentido alguns dias atrás avisando de uma breve visita aos meus parentes. Eu até pensei em ir de fato para Santos onde meus pais moravam atualmente, mas eles não estariam em casa e eu não queria ficar encarando meu irmão com seu humor adolescente. Dei um longo suspiro ao observar a raiva da moça de cabelos cacheados e um vestido prata brilhante que iluminava bem suas curvas incríveis e a cor marrom da sua pele.— Aconteceu um imprevisto. — Menti e ela estreitou seus olhos, me dizendo que não seria enganada outra vez. Ergui as mãos em rendimentos. — Tudo bem, eu não quero ir para a balada e não quis te magoar com isso.Confessei, afinal. Ana me mostrou a língua como se fosse uma criança mimada e isso me fez rir alto. A garota não se importou comigo, apenas bateu seus pés para fora do quarto carregando seu enorme bico.Fechei o livro que lia enquanto observava à porta que Ana fez questão de não fechar. Eu sabia que ela iria me perseguir pelo resto dos meus dias até que eu finalmente fosse visitar meus pais, pois nesse momento ela iria pular em cima da minha mala e dizer: "Até que fim vai cumprir isso, né?"Suspirei pesadamente com esse pensamento e coloquei o livro em cima da mesa de cabeceira enquanto afastava as cobertas para me levantar. Eu iria me arrepender amargamente daquela decisão repentina, mas me arrependeria ainda mais se deixasse minha amiga bicuda e posso dizer que isso duraria muito tempo.Eu estava tentando seguir o conselho da psicóloga do trabalho, afinal ela havia me dito que o estresse que eu vinha sentindo era por causa de uma rotina sem distrações e que eu deveria tentar ouvir meus amigos. No caso, minha única amiga que estava de mal de mim naquele instante.Mordi o lábio antes de levantar e pensei se seria uma boa ideia sair das regras tão repentina e loucamente daquela forma. Poderia ser uma mudança muito radical para alguém como eu ou eu deveria mesmo começar exatamente assim. Jogando tudo para o alto e ligando o grande foda-se.Até então, eu nunca tinha parado para me divertir de verdade. Em algum momento da minha vida eu havia decidido que minha diversão era me dedicar ao máximo para ser a melhor pessoa que deveria existir e eu não larguei esse pensamento até ouvir que eu já tinha passado dos limites comigo mesma.Revirei os olhos quando senti o peso daquela decisão em minhas costas. Eu era a filha perfeita. Formada como a melhor aluna da escola. Fazia parte da diretoria geral de uma das maiores empresas do país. Dividia o aluguel com a filha do meu chefe em um dos apartamentos mais bonitos que já vi em toda minha vida e minha mãe estava tão orgulhosa com minhas conquistas que nossos parentes diziam que eu era a prima invejável da família.Uma noite saindo desse mundo incrivelmente perfeito, não iria destruir tudo o que eu havia construído e foi pensando assim que finalmente me levantei da cama caminhando até à sala onde uma garota de bochechas cheias e bico gigante.— Dá tempo de ir ainda? — Perguntei, já olhando para o relógio na parede que me indicou ser 10:45. Ana deu um pulo do sofá vindo em minha direção para se apoiar em meus braços cruzados.— Aí meu Deus! Claro que sim, está super cedo!— Cedo?— Mas você quer ir mesmo? — Ela perguntou ignorando meu questionamento.— Não — confessei, porém deixei o ar escapar. — Mas parece que vou enlouquecer se não sair e é provável que isso ocorra na empresa do seu pai.— E isso não é bom. — Ela falou e eu afirmei. — Que incrível, Lana! Você vai sair comigo então?— Só dessa vez.— Tranquilo! Agora vamos para seu quarto escolher uma roupa. — Ela me empurrava de volta ao meu quarto durante suas palavras enquanto eu me arrependia da decisão.— Ana…— Relaxa, amiga. Essa noite vou te transformar numa grande piranha gostosa.— Ana!Ela sibilou sem parar de me carregar até meu guarda roupas.A música estava exageradamente alta e as luzes neon tentavam invadir meu cérebro para fazer outra pista de dança dentro da minha cabeça. Ana havia escolhido um vestido vermelho para mim que vinha direto do seu guarda roupa safado. Algo que estava colado ao meu corpo como se fosse uma grande fita crepe vermelha com um laço gigante na bunda. Era como se eu estivesse embrulhada para presente.Posso jurar que minha colega de apartamento tentava me dizer algo, mas à música conseguia ser alta o suficiente ao ponto de estremecer até os órgãos do meu corpo.— O que?! — Gritei e Ana revirou os olhos aproximando-se do meu ouvido esquerdo para dizer.— Aqueles dois estão de olho em nós já tem um tempinho.Olhei na direção dos rapazes que ela havia mencionado e não muito longe de nós estavam um grupo de seis jovens aparentemente elegantes. A fisionomia deles não me era estranha, mas não me atentei tanto em querer descobrir o porquê. Resolvi apenas observar os homens que Ana citou e pude ver os dois no meio do grupo nos analisando.Um deles tinha a cabeça raspada. Um homem negro de olhos verdes que parecia estar voltando de uma longa viagem. Seu terno era preto e o paletó estava pendurado na cadeira em que ele se encontrava. Seus olhos claros não saiam de Ana enquanto ela tentava ser atraente como um canto de sereia no intuito de sair daquela balada com ele de vítima.— Você está caçando, né? — Falei quando a vi morder os lábios sem tirar os olhos do rapaz.— Não, amiga. Já achei à presa. — Ela acariciou o pescoço com a mão direita. — Agora estou hipnotizando ela para atacar.— Misericórdia. — Ergui o livro que eu teimei em levar e percebi que foi uma ótima ideia, pois pude abri-lo para cobrir meu rosto da vergonha que minha amiga me causava naquele momento.— Para de ser assim. — Ana me fuzilou com seus olhos em reprovação e tomou o livro da minha mão jogando-o na mesa. — Tem um gato te olhando também e você precisa transar.— Às vezes eu penso que você é minha fada do mal caminho. — Ana franziu o cenho e eu sorri sem graça. — Tipo fada madrinha, mas das coisas erradas.— Se ter um belo orgasmo com o bonitão de rabo de cavalo é coisa errada, então confia em mim e vai pro errado, amiga.Ela apontou com a cabeça para o homem que realmente tinha seus olhos presos em mim. Ana tinha razão, ele deveria ter o cabelo grande, mais ou menos na altura de seus ombros, pois o rabo de cavalo não era muito longo, mas dava um charme incrível para ele.Seus olhos eram pequenos e tão escuros quanto uma noite sem estrelas. Os traços do rosto eram marcantes. O queixo tinha um formato quadrado e as sobrancelhas ligeiramente anguladas. Os olhos eram menores que os meus e levemente arredondados. Já o nariz não era tão achatado quanto o meu, assim como os ossos da sua bochecha. Ele usava uma roupa muito parecida com a do seu amigo, mas não faltava nenhuma peça em seu corpo e estava tão bem alinhada que eu poderia jurar que aquele era um boneco perfeitamente colocado ali. Se ele não tivesse se levantado para caminhar em minha direção, eu diria até que era uma pintura.O rapaz careca chegou primeiro em nós enquanto seu amigo não tirava os olhos de mim, deixando-me constrangida.— Boa noite meninas — disse o outro e posso jurar que suas palavras eram apenas para minha amiga.— Será que podemos pagar uma bebida para vocês? — A voz do rabo de cavalo era macia, rouca e fazia minhas pernas tremerem. Gaguejei tentando responder que não.— Claro que podem! — Ana tomou a fala e os dois se sentaram. Pedi para Deus me tirar dali naquele instante, mesmo que eu não acreditasse em Deus. — Como se chamam, meninos?— Eu sou o Carlos e esse é meu amigo Lee Jung-suk. — Prestei atenção no nome do meu observador de voz sedutora e pensei que jamais conseguiria pronunciar como o amigo dele havia feito.— Lee — repeti em forma de cumprimento e ele sorriu para mim. Que sorriso lindo.— E vocês como chamam? — Foi a vez de Lee falar e droga eu sempre ficava sem voz quando ouvia a dele.— Prazer meninos. Sou Ana Carolina e essa é minha colega de apartamento Lana Guedes.— Prazer meninas! E então? — Carlos chamou minha atenção enquanto fazia um gesto sutil para o bartender. — O que querem beber?Depois de muito tempo, eu finalmente entendi o motivo da minha mãe ter pequenos ataques cardíacos em todas as vezes que alguém da nossa família vinha com a frase “e os namoradinhos, Lana?”. Para ser franca eu havia entendido todos os ataques dela, pois todos se resumiam a mim, acordando seminua ao lado de um desconhecido e posso dizer que isso é algo desesperador para qualquer um que pense nas suas filhas nessa situação.Mas ao menos eu havia entendido finalmente os surtos dela e os conselhos me implorando para jamais deixar que aquilo ocorresse comigo. Eu deveria ter ouvido ela.No entanto, já era tarde demais e enquanto eu abria os meus olhos para me deparar com um homem de peito exposto e olhos pesados de sono, eu também pensava em como aquilo ocorreu. Cheguei à conclusão quando a minha própria mente resolveu mostrar-me os fatos da noite anterior e tudo o que fiz foi deixar um gemido curto de culpa escapar.— Mas que… — antes que eu terminasse a frase, os olhos pequenos e escuros a
Ele tinha um sorriso sutil nos olhos enquanto eu passava as informações que meu chefe havia pedido. Precisei reunir todos os detalhes da empresa nos últimos meses e consegui resumir muita coisa em gráficos que improvisei no CorelDraw. Por sorte eu decorava muita coisa e foi possível deixar tudo preparado para o homem que não tirava seus olhos de mim durante aquela explicação.Ele acariciava minha mão de forma tão discreta que eu só percebia quando sentia o calor dela passando pela minha pele para pegar o papel que eu lhe entregava. Era uma situação constrangedora e obviamente ele fazia aquilo de propósito, pois seus olhos vibrantes sorrindo para mim não me deixavam suspeitar de outra coisa.— Acho que isso é tudo. — Coloquei os papéis que antes tínhamos espalhado pela mesa em uma pasta de papel pardo e deslizei o objeto sobre a mesa em direção ao homem.— Mas já acabou? — Ele falou e eu revirei os olhos.— Pode parar com isso? — Disse assim que o senhor Almeida cruzou à porta para fal
Ana correu para a sala do seu pai. Ele havia emitido um comunicado pelo auto-falante da empresa que percorreu todo o prédio até nos encontrar às escondidas no armário do zelador. Não falamos mais nada depois disso, pois cada uma foi para o seu lado terminar os afazeres do dia e tínhamos muito a ser feito.Durante o dia eu tentei evitar o senhor Lee Jung-suk e toda vez que o via passar por algum lugar que levaria até mim, fiz questão de me encolher em alguma mesa, me abaixar até sumir da sua vista ou virar o corredor entrando em uma sala aleatória. Em alguns momentos acabei surgindo em locais os quais precisei me desculpar pelo inconveniente até que minhas atitudes estranhas chegassem em quem eu não queria que soubesse de nada. — Lana. — A voz feminina aguda e autoritária chegou até meus ouvidos. Eu estava tentando me esconder entre o bebedouro e o banheiro masculino enquanto via ao longe o meu alvo conversando com alguns funcionários em meio ao corredor. Ele ouviu meu nome também, p
Posso jurar que estava ficando doente. Depois de duas longas semanas correndo atrás do senhor Jung-suk pelos corredores da empresa Almeida, eu finalmente tive um descanso. Meu chefe secundário iria voltar para a Coreia, pois tinha que cuidar de alguns negócios à parte. Isso me deixaria livre das suas ordens e nervosismos até que ele retornasse. O que não duraria muito, pois o senhor Almeida já havia nos dito que Lee Jung-suk estava se mudando permanentemente para o Brasil.Ao menos eu poderia respirar por uma semana até que ele voltasse com seus gritos.Lee se mostrou muito autoritário durante o trabalho. Gostava de tudo perfeito e se não estivesse como ele queria, tínhamos que refazer todo o serviço. No entanto, nada me incomodou, pois nosso acordo era realmente que ele me tratasse como tratava todos os demais fingindo que nunca tínhamos dormido juntos. Então ele seguiu seu roteiro e eu o meu.Porém, quando ele finalmente partiu me dando ar, eu senti meu corpo inteiro doer depois de
Eu havia chegado no consultório um pouco antes do meu horário marcado. Havia recebido os exames dois dias antes e não tive coragem de abri-lo.Por mais que Ana insistisse, eu havia enfiado o documento no fundo da bolsa enquanto assumia a postura de roedora de unhas.Resolvi marcar uma consulta para abrir o exame junto a um médico e se as nossas suspeitas estivessem certas eu já seguiria todo o processo. Ana fez questão de pagar para que eu passasse com a médica da sua família e lá estávamos nós duas esperando que o meu nome fosse chamado.Após convencermos o senhor Almeida que eu estava com uma virose forte, o que não foi difícil considerando a minha temperatura corporal subindo diversas vezes durante o dia de forma repentina e o meu rosto amarelado enquanto eu ficava tonta. Nesse momento eu fingia uma queda de pressão para mascarar os enjoos, cruzando os dedos para que ele nunca desconfiasse de nada.Eu não queria alarmar ninguém sem antes ter certeza do que acontecia com o meu corpo
Eu esperava que Lee pegasse um pouco mais leve no meu serviço depois de descobrir que eu não estava muito bem. Pensei que quanto mais rápido eu terminasse minhas tarefas, mais ele entenderia o quanto eu precisava de um tempo para mim. No entanto, meu chefe era uma pessoa extremamente detalhista e, mesmo que eu já tivesse dito diversas vezes que o relatório estava pronto, ele sempre me encaminhava mais arquivos para analisar e anexar no histórico. Em um momento, deixei que uma raiva repentina tomasse conta de mim e acabei imprimindo toda a papelada para caminhar pelo prédio com meus pés ágeis e nervosos. Bati a pilha de relatórios na mesa do homem sem lhe dar tempo de entender o que estava acontecendo e dei as costas para ele indo em direção a saída para não ouvir sua repreensão. Pensei que isso o havia enfurecido e que eu teria uma longa semana de suspensão deitada no sofá da minha sala, mas para o meu desespero ele se levantou da mesa para vir atrás de mim pelos corredores daquele a
— Você deixa? — ele me perguntou, e eu apenas sorri de maneira desesperada. — Deixa eu tentar ser algo para você?Minha reação foi o silêncio, pois eu não sabia o que dizer naquele instante e todas as palavras que passavam pela minha cabeça iriam acabar me tornando uma grande babaca novamente. Eu só pensei que tinha muito trabalho para fazer na empresa e que ficar ali falando com meu chefe só iria me atrasar ainda mais. Depois de conversar calmamente com Ana sobre o bebê, eu havia decidido que me concentraria no trabalho, mas a verdade é que esconder aquilo de Jung-suk tornou tudo impossível até que finalmente revelei a ele e senti um forte alívio tomar todo meu corpo. No entanto, essa sensação durou apenas alguns segundos, pois logo em seguida recebi aquela proposta do meu chefe que fez meu coração disparar e o desespero estranho me consumir dos pés à cabeça.— Por quê? — questionei-o então. Afinal não nos conhecíamos fora do trabalho, só havíamos dormido uma única vez e não fazia
Lee apertou meu corpo com tanto desejo que eu poderia flutuar muito facilmente ao sentir o deslizar das suas mãos macias. Sua boca parou de beijar a minha apenas para cair em meu pescoço, onde ele passou a mordiscar entre seus beijos quentes e delicados. Sua perna direita estava encaixada entre as minhas, segurando meu corpo contra a parede e roçando-se em meio aos seus sentidos. Aquilo me arrancou diversos gemidos que eu segurava prendendo os lábios um no outro, mas era inevitável. — Eu vou ser demitida — falei então, ao me lembrar que Aline tinha me ouvido claramente horas antes. O senhor Jung-suk parou de marcar meu corpo e trouxe seu olhar para o meu, podendo me analisar com cautela. — Ela vai ficar com os papéis na mão até o nascimento dessa criança.— Só se ela quiser ser demitida também.— Por que? Eu violei a política da empresa. — Eu cuido disso, tudo bem? — Ele disse e eu estreitei os olhos.— O que vai fazer? — Lee deu de ombros voltando ao trabalho de beijar minha pele e