O efeito borboleta

Depois de muito tempo, eu finalmente entendi o motivo da minha mãe ter pequenos ataques cardíacos em todas as vezes que alguém da nossa família vinha com a frase “e os namoradinhos, Lana?”. Para ser franca eu havia entendido todos os ataques dela, pois todos se resumiam a mim, acordando seminua ao lado de um desconhecido e posso dizer que isso é algo desesperador para qualquer um que pense nas suas filhas nessa situação.

Mas ao menos eu havia entendido finalmente os surtos dela e os conselhos me implorando para jamais deixar que aquilo ocorresse comigo. Eu deveria ter ouvido ela.

No entanto, já era tarde demais e enquanto eu abria os meus olhos para me deparar com um homem de peito exposto e olhos pesados de sono, eu também pensava em como aquilo ocorreu. Cheguei à conclusão quando a minha própria mente resolveu mostrar-me os fatos da noite anterior e tudo o que fiz foi deixar um gemido curto de culpa escapar.

— Mas que… — antes que eu terminasse a frase, os olhos pequenos e escuros abriram-se e com isso a minha respiração parou de ser controlada. O homem olhou-me de maneira confusa, parecia que nem ele se lembrava direito dos fatos, mesmo que parecesse que a sua visão clareasse conforme os seus olhos analisavam a minha expressão.

— Bom dia. — Ele disse e a sua voz fez aquele efeito no meu corpo. Causando-me tremedeiras que eu queria não sentir naquele instante. O rapaz franziu as sobrancelhas quando não respondia. — Você está bem?

— É… — Porque raios eu não conseguia falar quando ele se diria a mim era a principal pergunta que eu me fazia naquele momento e aquela pergunta também levava-me para outra. Se eu travava daquela forma com ele, como tínhamos ido parar na minha cama sem uma peça de roupas?

Apoiei a mão na cabeça alegando com aquele gesto que eu não conseguia processar nada devido à dor e acredito que ele entendeu o meu recado. Tentei lembrar-me do nome dele, mas parecia que tudo tinha ficado no primeiro copo do drink com o resto da minha lucidez, pois eu nem sabia dizer o que ocorreu depois de Ana dizer-me que ele e o amigo estavam olhando na nossa direção.

— Precisa de uma aspirina. — O homem voltou a dizer, após deixar-me um tempo nos meus pensamentos. Ele levantou-se rapidamente e com isso pude ver todo o seu corpo da forma que ele havia vindo ao mundo. Os músculos deslizavam suavemente por toda a sua pele, desde o pescoço até as coxas grossas, e observar isso fez-me puxar o edredom para cobrir o rosto.

— Ai meu Deus! — Gritei e percebi que os meus olhos estavam tão arregalados ao ponto de tentarem sair da minha cabeça. Eu havia reparado em algo que não deveria.

— Olha para alguém que não acredita em Deus, você chama muito por ele. — Ele disse e eu posso jurar que aquilo não era referente ao meu grito recente.

— Eu te contei isso, foi? — Perguntei. Tentei esconder o meu corpo com o edredom enquanto me sentava na cama e virava o rosto para o lado oposto do homem. Ele apenas afirmou com um som anasalado. — Acho que só ele existindo para criar um troço desse tamanho.

Eu falei tão baixo que tenho certeza que o intruso não ouviu, mas eu não ia tirar a prova disso olhando na sua direção.

— Toma. A sua cabeça vai melhorar. — Finquei os meus olhos na janela durante a sua frase. Eu queria realmente voltar a olhar para ele, mas minha vergonha falava mais alto. Ele bufou e deixou um riso escapar. — Eu já vesti as calças.

Senti uma palpitação enorme ao ver que ele tinha percebido os meus motivos para afastar os olhos e mesmo relutante, lutei contra tudo para voltar a olhá-lo. Realmente estava com a parte de baixo da sua roupa. Uma calça social verde-escura quase preta com um cinto grosso prendendo-a. O seu peito ainda estava à mostra para mim e pude ver os músculos fortes e tonificados. Seu abdômen era muito bem trabalhado formando gominhos na barriga que quase me fizeram babar.

— Meu Deus. — Deixei escapar e ele desceu os seus olhos para ver onde os meus estavam presos. Aquela visão dele encarando o seu próprio abdômen derreteu-me por completo.

Pigarrei tentando encontrar o meu eu racional para poder conversar com ele sem chamar por uma entidade.

— É… Nós… — Gaguejei, mas ao invés de continuar perdendo à fala decidi encarar aquele homem de uma vez por todas. — O que aconteceu?

— Você não se lembra? — Ele questionou e eu neguei ainda tentando fazer o meu cérebro voltar no tempo para descobrir o que ocorreu. — Bom, se eu disser acho que você vai chamar por Deus novamente.

— Tudo bem — peguei o robe que ele havia jogado na minha direção assim que o pegou na poltrona e vesti antes de levantar-me. — Está na hora de ir, certo?

— Ir? — Ele perguntou e eu abri a porta do quarto. Fechei-a logo em seguida quando vi a minha amiga nua deitada sobre a nossa mesa de jantar. — Ana!

— Lana do céu! — Respondeu-me ela do outro lado e ouvimos um som alto de algo caindo. Depois de muito movimento na sala e segundos torturantes olhando para o rosto bonito do homem na minha frente, ele resolveu quebrar o silêncio.

— Você não é do tipo que acorda com alguém, certo?

— Olha, não quero te ofender… — Dei um longo suspiro quando ele abriu os seus braços para enfiar as mãos na camisa. Cada movimento dele parecia acontecer como se eu assistisse a um comercial de perfumes em câmera lenta. Pigarreei outra vez. — Mas, não sou do tipo nem que sai de casa e na primeira vez que isso aconteceu eu acordei com você na minha cama. Alguém que eu nem lembro o nome, muito menos o que aconteceu. Você entende o quanto isso é estranho?

Ele apenas deixou um suspiro escapar e afirmou para minha pergunta. Aquela reação fez-me sentir raiva de mim mesma, mas era algo que eu já havia dito sem precisar e eu não sabia como reverter à situação.

— Ok, estamos vestidos. — Ana gritou do outro lado.

— Bom, acho que essa é a minha deixa. — Ele falou sem erguer os seus olhos para mim.

O homem bonito de pele hidratada aproximou-se, colocando a mão sobre a minha que ainda se apoiava na maçaneta.

— Me desculpa, eu não quis…

— Agir como uma babaca? — Ele interrompeu-me, parecia que tinha vasculhado a minha mente dizendo exatamente o que eu havia pensado. — Está tudo bem. Eu realmente preciso ir ou vou me atrasar.

Ele apontou para meu relógio em cima da mesa de cabeceira. O relógio mostrava que faltavam vinte minutos para as oito horas da manhã e eu também iria me atrasar se não me apressasse.

— Mas que merda! — Deixei que o homem bonito de olhos escuros se fosse enquanto eu corria para meu banheiro sem perder mais tempo.

Ana já estava buzinando para mim da entrada do prédio, ela gritava que o seu pai estava fazendo uma chamada de vídeo para lhe cobrar presença em uma reunião que iria começar dali dez minutos. Iríamos cortar pelas ruas paralelas à avenida Paulista ou não chegaríamos a tempo e isso fez-me correr do rall de entrada até à portaria. Assim que o porteiro abriu para me libertar do prédio, saltei no carro e deixei que a minha colega saísse disparada rumo ao nosso trabalho.

— Ele disse que você vai ser realocada, precisa apresentar os projetos da empresa para o novo sócio durante a reunião e parece que é você quem vai tomar conta do velho. — Ela avisou-me e revirei os olhos.

— Maravilha, outro babão nojento que vai querer olhar a minha bunda ao invés de ouvir as minhas ideias. — Reclamei e Ana sorriu. — Seu pai e essas bobeiras.

— Acho que ele comprou todos os acionistas desse jeito. Não duvido nada que a minha mãe pulou fora por causa dessa palhaçada. — Ela suspirou. — Mas olha pelo lado bom! Vai receber mais por isso.

— Não posso reclamar então.

Estacionamos na entrada do grande prédio comercial próximo à estação Trianon Masp. O manobrista veio rapidamente na nossa direção com o seu costumeiro sorriso curto enquanto nós duas tiramos as bolsas do banco de trás.

— Bom dia, senhoritas — ele cumprimentou-nos já recebendo a chave de Ana.

— Bom dia, Júnior. — Falei enquanto a minha amiga apenas deixava o pobre rapaz sem uma resposta. Ela pendurou-se no meu braço para me carregar rumo ao nosso destino, sem me deixar lembrá-la do flagra que lhe dei dias antes dentro do carro com aquele mesmo rapaz.

Faltava pouco tempo para nossa reunião e isso nos fez subir as pressas já indo em direção ao escritório de reuniões. Ana arrumou a minha roupa antes que o elevador se abrisse e eu fiz um positivo para ela quando fui questionada sobre a sua maquiagem.

— Meninas! — Cumprimentou-nos o pai de Ana. Um senhor de aproximadamente 50 anos de cabelos grisalhos e extremamente alto e magro. Os seus olhos eram caramelos e ele tinha um sorriso enorme no rosto que deixava as pessoas extremamente confortáveis.

— Bom dia, senhor Almeida. Como está? — Perguntei quando ele me abraçou.

— Ótimo! Quero apresentar o meu novo sócio para vocês.Venham. — Ele parecia muito empolgado com aquele negócio, pois o seu sorriso era ainda maior naquela manhã do que geralmente era. Isso era muito bom. — Eu movi você para ajudá-lo a se adaptar ao nosso cotidiano Lana, espero que não se importe.

— Não se preocupe, senhor Almeida. Vou ajudar em tudo o que ele precisar.

— Assim que se fala! — O senhor Almeida abriu as portas da sala de reuniões e isso fez-me parar estagnada na porta. Um homem de rabo de cavalo e olhos pequenos voltou a sua atenção para mim. Ele era maior do que eu me lembrava e os seus músculos pareciam querer saltar daquele terno. Recordei-me dele pela manhã sem uma peça e perdi completamente os meus sentidos. Aquilo não era nada bom. — Minhas lindas, esse é o senhor Lee Jung-suk. Comprou 27% das ações dessa emissora e o seu colega é o senhor Carlos Queiroz, o porta-voz da empresa de Lee no Brasil.

— Então essa é a sua funcionária exemplar, senhor Almeida. É um prazer conhecê-la. — Disse Lee, enquanto eu engolia em seco.

Tudo o que consegui falar a seguir foi algo que não saia mais da minha boca desde o momento em que acordei pela manhã e aparentemente, foi algo que disse à noite inteira para aquele homem de olhos hipnotizantes.

— Meu Deus.

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