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Controvérsias convenientes

Ana correu para a sala do seu pai. Ele havia emitido um comunicado pelo auto-falante da empresa que percorreu todo o prédio até nos encontrar às escondidas no armário do zelador.

Não falamos mais nada depois disso, pois cada uma foi para o seu lado terminar os afazeres do dia e tínhamos muito a ser feito.

Durante o dia eu tentei evitar o senhor Lee Jung-suk e toda vez que o via passar por algum lugar que levaria até mim, fiz questão de me encolher em alguma mesa, me abaixar até sumir da sua vista ou virar o corredor entrando em uma sala aleatória. Em alguns momentos acabei surgindo em locais os quais precisei me desculpar pelo inconveniente até que minhas atitudes estranhas chegassem em quem eu não queria que soubesse de nada.

— Lana. — A voz feminina aguda e autoritária chegou até meus ouvidos. Eu estava tentando me esconder entre o bebedouro e o banheiro masculino enquanto via ao longe o meu alvo conversando com alguns funcionários em meio ao corredor. Ele ouviu meu nome também, pois não estávamos tão longe e Aline falava alto demais para o meu gosto.

Engoli em seco, pois agora tinha a atenção da moça do RH em minhas costas e do oriental curioso.

Apertei os olhos quando ela soltou um pigarro. Apertei firmemente os papéis que segurava nas mãos enquanto meu ar forte embaçava meus óculos de armação fina. Soltei um suspiro.

— Aline… — Falei por fim, endireitando minha postura. Nesse instante meu olhar se cruzou com o do meu alvo que me deu um sorriso sutil sem tirar seus olhos do que acontecia comigo ali. Outro longo suspiro escapou de mim, então me virei para a mulher que me chamou.

Seus longos cabelos estavam diferentes naquela manhã. Ela tinha feito luzes recentemente e o tom castanho escuro iluminou as ondulações de suas madeixas com o loiro se misturando entre elas. Isso me fez sorrir abertamente encontrando uma saída da minha encrenca.

— Uau, senhora Franco. Eu amei o seu cabelo. — Usei minha a maneira formal para me referir a ela, apenas para enfatizar que eu estava admirada. As bochechas da mulher de terninho violeta tomaram um tom avermelhado que ela tentou esconder com sua papelada.

— Você achou? Eu fiquei com receio de pintar tudo, então optei pelas luzes e realmente adorei.

— Pois ficou maravilhoso! Eu já acho seu cabelo lindo, você sabe. — Não era mentira, eu adorava mesmo o tamanho do cabelo dele e admirava o quanto ele era bem cuidado. Fiquei impressionada por não ter perdido a hidratação com a coloração.

— Muito obrigada, Lana. Fico lisonjeada. — Ela deu uma risadinha, tirando as folhas da frente de seu rosto e então voltou a me analisar. — Já ia me esquecendo…

— Bom dia, senhoras. — A voz aveludada cortou Aline dando-me um certo alívio, mesmo que fizesse meu coração disparar por outra razão.

Dei outro longo suspiro enquanto me limitava a não olhar em sua direção para não ter um ataque do coração.

— Bom dia. — Falei seca, fixando meus olhos na mulher que havia acabado de arrumar sua postura tentando dar uma boa impressão ao nosso companheiro.

— Senhor Jung-suk. Como está sua exploração pela empresa? — Questionou ela. Eu me esforçava ao máximo para não olhá-lo, mas algo me dizia que ele sorria da sua maneira mais charmosa. Só de imaginar eu já estremeci.

— Ótima! Estava procurando a senhorita Guedes…

— Lana. — Corrigi o homem e ele bufou. Finalmente olhei em seus olhos amendoados e suspirei. — Me chame de Lana, não precisa ser tão formal.

— Bom — ele seguiu. — Estava procurando a Lana para resolver alguns assuntos, mas parece que ela estava fugindo de mim, como… como vocês falam aqui? — Lee pensou nas palavras que procurava até estalar a língua mostrando-nos que havia recordado. — Como o diabo foge da cruz.

Aline riu descontrolada da piada, mesmo que fosse óbvio que seu riso fosse falso. Era fato que todos ali estavam tentando agradar Lee Jung-suk o tempo todo e isso me deu náuseas. Deixei outro suspiro escapar.

— Do que o senhor precisa?

— Poderia me acompanhar? — Ele abriu caminho para voltarmos por onde ele tinha vindo e olhei desesperada para Aline pedindo-lhe com os olhos que me desse à suspensão que eu sabia que ela queria dar. O senhor Jung-suk pigarreou parecendo entender isso e olhou para a mulher. — A senhora se importa se eu tomar um tempo da secretaria Lana?

— Mas claro que não. — Ela sorriu. — Nosso assunto pode ser deixado de lado, fique à vontade senhor Jung-suk.

A mulher se afastou antes que eu pudesse agarrar seu braço e implorar que fosse levada dali. Isso me fez gemer como um gato em perigo. O homem na minha frente deu um sorriso travesso.

— Gosto desse som.

— Pode parar tá bom? Isso não é engraçado.

— Eu quero apenas tirar umas dúvidas, Lana. — Jung-suk disse meu nome de uma forma tão melodiosa que poderia me dar diabetes se fosse mais doce.

Segui o homem alto até à pequena sala que havia lhe sido designada. Alguém já havia decorado o local para o conforto do nosso novo sócio e suspeitei que tivesse sido Ana, afinal ela tinha um bom olho para decorações e seu pai só confiaria essa tarefa à ela. O senhor Jung-suk pareceu gostar do ambiente.

Eu poderia dizer que ele estava bem confortável ali, pois ele retirou seu paletó pendurando-o no suporte próximo da porta e depois caminhou em direção a sua mesa para se sentar apontando a cadeira em sua frente para mim.

— Então — pigarreei. — No que posso ajudar?

— Por que estava correndo e se escondendo pelos corredores? — Perguntou ele diretamente. Senti meu peito disparar, pois realmente achei que não tinha sido vista.

Pensei com calma em como iria falar com ele que o estava evitando e quando não achei formas de dar a volta nele, resolvi falar de uma vez.

— Estava evitando um inconveniente.

— Eu sou inconveniente?

— Não. Não é isso. — Suspirei. — Eu não estou bem com o fato de termos dormido juntos e estarmos trabalhando juntos. É complicado demais.

— Eu não te pedi em casamento.

— Eu sei, mas… — passei a mão direita no rosto, limpando a sensação estranha. — É que essa é a primeira vez que estou nessa situação. Eu não faço essas coisas.

— Sei disso. — Franzi o cenho enquanto o senhor Jung-suk pegava um pequeno relatório da sua pasta que estava em cima da mesa. — Eu pedi para pesquisarem sobre você. Descobri muita coisa, mas nada de rebeldias ou deslizes como o que ocorreu.

Observei-o folhear as páginas com fotos e informações minhas e me surpreendi que ele já tivesse tanto conteúdo tendo me conhecido à menos de 24hrs. Aquilo de certa forma era assustador.

— Não se preocupe. — Disse ele novamente. — Eu faço isso com todos com quem vou trabalhar, então já tinha essas informações antes de te conhecer na noite de ontem.

— Então vocês sabiam quem éramos na balada.

— Sim e tentamos fazer amizade antes que nos conhecessem como seus chefes. Eu só não esperava que fosse querer dormir com você. Você é muito interessante, Lana Guedes.

— Você poderia ter evitado todo esse constrangimento.

— Poderia se você me deixasse falar — ele pontuou e eu mordi o lábio. — Mas nós podemos evitar que continuemos nessa situação. Você não parece querer namorar alguém, então vamos apenas fingir que nada aconteceu.

Deixei o suspiro de alívio escapar. Por um instante senti meu peito parar de bater ao acreditar que seria demitida. Embora meu currículo fosse muito bom, eu demoraria muito para encontrar um trabalho como aquele. Isso é se tivesse. Gostava muito dos Almeida e Ana havia se tornado muito querida. Eu temi ter que me afastar de tudo por causa de uma noite de prazer à qual não me recordava muito bem.

Mas o alívio veio ao entender a proposta do senhor Jung-suk e pude me conter do medo finalmente.

— Seria ótimo. — Falei por fim e o homem sorriu.

— Então prazer em conhecê-la, senhorita Lana Guedes. — Ele me estendeu a mão em cumprimento e eu a apertei firmemente enquanto apagava as partes constrangedoras da minha mente para iniciarmos tudo do zero.

— O prazer é todo meu, senhor Jung-suk.

Apertei sua mão quente e senti uma vibração em meu interior que tratei de esconder para não demonstrar nunca mais o efeito que aquele homem causava em meu interior.

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