GiuliaNão dava para eu imaginar que, novamente, estava cometendo o erro de correr atrás de Dante Mitolli. Eu poderia mandar esse idiota para o inferno, mas não naquele exato momento, pois precisava dele e da sua proteção.Eu nunca tinha amado alguém como o amei, e talvez o amasse ainda, mesmo querendo muito exorcizá-lo da minha vida. Depois do amor que vivemos naqueles poucos meses em que jurei que ele mudaria, sofri com mais do que um término. Para Dante, não fui mais do que um corpo quente em sua cama.E depois de ele ter me largado sem uma justificativa, tive que me virar como pude para me manter em pé e longe do meu pai, pois dentro de mim uma filha estava sendo gerada e ele odiava os Mitolli. Eles eram os reis da cidade, mandavam em tudo; eram perigosos. E o homem que me pôs no mundo não passava de um pau mandado que os traiu e que jurava vingança a eles.Ao descobrir sobre a minha “traição” de me unir a Dante, ele me prometeu que me mataria junto com minha filha, de quem seu pa
GiuliaUm ano e cinco meses antesSer filha de um capo, um dos mais bem-sucedidos no mundo do tráfico, não era fácil. Eu era filha única. Bem, pelo menos era o que eu sabia. E como tal, não poderia sucedê-lo. O que eu achava bom, pois de nenhuma forma queria me sentar naquela cadeira.Porém, tendo sangue Santini, fui prometida em casamento para um dos seus protegidos e braço direito, Pablo Bell Monte. Eu o odiava desde então. Esse homem não via a hora de me ter em sua cama e eu o achava um verme que fazia de tudo para agradar meu pai. Não tinha interesse algum em me casar com ele, mas até o momento não possuía um plano para fugir desse compromisso.Estávamos no Complexo Mitolli, um dos lugares mais reservados de toda a cidade. A família achou que colocar seu exército bem ao lado da mansão seria uma estratégia de guerra. E até que era bem verdade, pois aquilo era considerado uma prisão ou fortaleza.Por mim, não estaríamos naquele lugar. Sempre odiei essa coisa de máfia, muito por cont
GiuliaDias depois— Não sei o porquê de tanta reclamação. — Antônia passava os dedos sobre as peças de roupas chiques expostas nos cabides de uma loja de marca. Ela era a minha única amiga e adorava comprar roupas e joias caras. — Tem tudo que deseja. Seu pai não economiza na sua mesada e aposto que Pablo também vai te agradar assim. Só basta você dar uma chance ao cara. Ele até que é gostosinho.— Você pode se casar no meu lugar — debochei, sentindo raiva do que ela falou. — Pablo é um machista de merda; só quer transar comigo e vai me tratar como um lixo depois do casamento.— Assim como todos, Giulia. Não pode se esquecer de que não estamos em um conto de fadas. Mas se eu fosse você, aprenderia a seduzir o homem e a fazer com que ele me venerasse, não desprezasse.— Se dependesse de mim, eu cortaria o pau dele só para não ter que me casar. — Bufei, cruzando os braços e me sentindo frustrada. — E não quero falar sobre isso.Eu não via o tempo passar. Minha amiga não parava de falar
GiuliaDias atuaisMeu plano só ia até a parte em que eu o encontrava, e ponto final. Eu sabia que os meus sentimentos pelo babaca iriam aflorar. Gostaria muito de ser aquela pessoa que sabe bem como esconder o que sente ou que o olharia como um simples idiota que me abandonou do nada.Entretanto, estar no mesmo lugar que Dante era difícil. Todas as vezes que estivemos juntos vinham, a todo tempo, à minha cabeça, torturando-me e fazendo com que minha guarda, a casca dura que tentei formar em torno de mim, desse uma quebrada bem na hora que eu deveria ser a durona.Dante estava nervoso, era bem visível. O que era estranho e surpreendente para mim, pois eram poucas as vezes que o víamos tendo algum tipo de sentimento que não fosse arrogância ou raiva.Foque, Giulia. Não pode fraquejar. Não se envolva emocionalmente, fale o que veio falar, peça o mínimo de coisas e saia.— Por que está aqui vestindo isso? — ele finalmente disse algo, usando um tom enojado e raivoso. Bem, não era difícil
DanteIsso não pode estar acontecendo, deve ser algum engano ou sonho louco.Giulia foi a única pessoa em toda a minha miserável vida que realmente amei. Amor era uma palavra forte para ser usada por mim. A última mulher que, algum dia, pôde me amar minimamente, morreu em um trágico acidente. A minha mãe não era de sangue. Essa era uma prostituta drogada que fez da minha existência, aos cinco anos de idade, um inferno.Nunca tive sorte para o amor ou uma família normal. Não que eu estivesse reclamando da minha vida com meus irmãos. Se não fosse por Paola, eu nunca teria uma família por quem lutar. Aquela mulher não me odiou por ser um bastardo do seu marido, ela me defendia e me amava. E era punida por isso. Meu pai era um tirano, filho da puta.Sempre disse a mim mesmo que nunca amaria ninguém, que eu não seria o escolhido e que alguém jamais me amaria de verdade. Então, em uma noite estrelada e fria, Giulia apareceu. Seus cabelos loiros estavam soltos e uma mecha caía sobre o seu ro
GiuliaA enorme casa de dois andares, piso escuro e detalhes em madeira era bonita, entretanto não deveríamos estar nela. Eu não queria dormir embaixo de um teto luxuoso, onde um Mitolli poderia entrar a qualquer momento.Dante sabia como mudar o jogo para o seu lado, e eu não seria a idiota de antes, que caiu no seu charme. O meu objetivo era me livrar dos homens que só me machucaram.Nina já estava mais quieta. Ela nem se importava mais com as mudanças de ares às quais era forçada graças à perseguição do meu pai.Nada era só "uma coisa" com esses mafiosos, sempre tiravam uma parte de nós. E, dessa vez, eu estava tentando mudar o rumo da minha vida. O melhor para a minha filha era ficar longe de Drakoy e dos homens que já tinham nos ferido.A noite foi longa. A menina de cabelos claros dormiu como um anjo ao meu lado, na grande cama macia de lençóis brancos.Assim que amanheceu, eu não sabia o que fazer. Não queria ficar mais do que meio segundo longe da minha filha. O medo me cercav
DanteNão consegui mais fechar os olhos e dormir depois da noite em que reencontrei Giulia. Saber que eu tinha uma filha era a coisa que mais me tirava o sono; não por ser um absurdo, mas por tudo que vinha com isso.Como se já não bastasse eu não fazer ideia de como um cara idiota como eu podia ser pai, vinha de brinde a ameaça de Marcos, que estava com seu orgulho ferido por conta disso.Estar perto delas me deixava estranhamente vulnerável, todavia eu precisaria demonstrar superioridade ao encarar aquele filho da mãe naquela noite. Vesti o meu melhor terno, pensando em toda a situação em que eu me encontrava desde a noite anterior. Giulia me odiava, com razão, e a criança em seus braços era o ser mais puro que eu já tinha visto na vida. Muitas vezes, eu já havia ficado com meus sobrinhos no colo, mas nunca imaginei que, em algum momento, seria a minha criança no meu colo. A responsabilidade de ser pai era uma das coisas que mais me botava medo, pois eu não sabia como fazer isso.
GiuliaMinha consciência repetia essa pergunta veementemente: "O que está fazendo, Giulia?". E eu não sabia como responder tão fácil. A única vez que achei estar certa foi naquele dia em que me vesti como uma vadia e pedi a ajuda dele. Só que eu não parava de pensar se essa foi a coisa certa a se fazer. Passei o dia andando de um lugar para o outro, tentando imaginar o que faria, como sairia dessa e como ficaríamos longe da cidade.Dante era um homem misterioso. O que era um charme lá no início, mas, no momento, era uma tortura. Deixar tudo em suas mãos não era nada legal. Ele fazia o que bem entendia, o que era bom para si mesmo, enquanto eu ficava naquela casa que mais parecia uma prisão particular, com uma garotinha minúscula nos braços, sem saber o que aconteceria com nossas vidas.A mulher que ele trouxe até que era simpática, mas me limitei a uma conversa superficial com ela e a me isolar em algum lugar da casa. Eu sabia que ali, eu não precisaria ficar sempre alerta em relação