capítulo 2

Giulia

Dias depois

— Não sei o porquê de tanta reclamação. — Antônia passava os dedos sobre as peças de roupas chiques expostas nos cabides de uma loja de marca. Ela era a minha única amiga e adorava comprar roupas e joias caras. — Tem tudo que deseja. Seu pai não economiza na sua mesada e aposto que Pablo também vai te agradar assim. Só basta você dar uma chance ao cara. Ele até que é gostosinho.

— Você pode se casar no meu lugar — debochei, sentindo raiva do que ela falou. — Pablo é um machista de merda; só quer transar comigo e vai me tratar como um lixo depois do casamento.

— Assim como todos, Giulia. Não pode se esquecer de que não estamos em um conto de fadas. Mas se eu fosse você, aprenderia a seduzir o homem e a fazer com que ele me venerasse, não desprezasse.

— Se dependesse de mim, eu cortaria o pau dele só para não ter que me casar. — Bufei, cruzando os braços e me sentindo frustrada. — E não quero falar sobre isso.

Eu não via o tempo passar. Minha amiga não parava de falar sobre sua vida e de como eu deveria agradecer pela minha.

Saí da loja sem nenhuma sacola, só com raiva e chateada por tudo. Paramos em uma cafeteria e eu pensei em tomar um café. Estávamos ao lado de fora, aproveitando o ar livre e o pouco sol.

— Vamos sair hoje à noite? — ela sugeriu.

Pelo menos isso me interessava naquele dia chato.

— Meu pai está bem ranzinza nesta semana por conta do meu desgosto em não querer me casar com Pablo, mas sair pode me ajudar e, talvez, ele querendo me agradar mais, possa concordar com isso.

Meu pai até que estava tolerante ultimamente. O que me deixava com a pulga atrás da orelha. Sempre que ele me dava algo, cobrava-me no futuro. Eu teria que ser bem mais esperta que ele se quisesse me livrar de todos os compromissos que ele poderia me dar.

***

Tive que mentir para ir àquela boate. Se meu pai soubesse aonde iríamos, obviamente, não me deixaria sair. O meu problema mesmo seria quando eu voltasse para casa, pois sabia bem que ele colocava seus homens atrás de mim e que ficava ciente de tudo que eu fazia.

Era arriscado provocá-lo quando ele estava sendo bem bonzinho, então eu sabia que minha libertinagem iria me render algumas punições. Contudo, fazia um tempo que eu não saía e ia a lugares assim.

Entrei no local, sentindo que deveria me comportar, porém nem tanto. Se eu iria ficar de "castigo", que fosse por me divertir o bastante.

Antônia era a filha de um burocrata mau-caráter que roubava de todos os lados. Por isso era tão rico. Ultimamente, ele estava na boca do povo e sendo acusado pelo óbvio, só que nem isso conseguia abaixar o temperamento da sua filha, que usufruía do dinheiro como se fosse uma fonte sem fim.

— Fiquei surpresa por seu pai ter sido tão.... bom em deixar você vir comigo — ela falou perto do meu ouvido, pois a música nos impedia de conversar normalmente.

— Eu não disse onde seria a festa. — Ri antes de tomar mais um gole da bebida cor-de-rosa, sabor morango, que pedi. — Minha noite não vai acabar bem.

— Vamos para a área VIP. Aqui está muito lotado. — Pegou-me pela mão e me conduziu às escadas da boate, que eram iluminadas com luzes fluorescentes neons.

Enquanto eu subia, olhava para todos que estavam lá embaixo se esfregando uns nos outros e bebendo álcool como se fosse água. Na área VIP podíamos conversar normalmente. Havia sofás confortáveis de couro, mesas, cadeiras, pufes e um bar exclusivo.

Antônia e eu ficamos olhando para as pessoas no andar inferior enquanto ela me contava mais sobre os escândalos do seu pai como se não fossem nada demais. Então, por cima dos seus ombros, eu o vi. Estava com dois outros homens. Acho que um deles era seu irmão Lorenzo. Mas ele, em particular, estava me encarando com um sorriso de canto.

Voltei minha atenção à minha amiga e tentei não parecer desconfortável, mesmo sabendo que ele ainda me observava.

— Preciso de algo mais forte. — Afastei-me dela e fui em direção ao bar.

Eu sentia frio na barriga só de pensar que ele estava ali e me encarava. Não fazia ideia do porquê estava desse jeito. Dante não queria nada comigo, nem eu com ele. Além disso, ele era pior que Pablo. Eu deveria manter distância de mafiosos, um abismo de distância.

— É uma surpresa vê-la aqui — a voz grossa e intimidadora soou ao meu ouvido como um vento gelado que me paralisou.

Aja naturalmente.

— Pelo que conheço de Marcos, ele não permitiria que sua única filha viesse a um lugar como esse.

Dei um leve sorriso, sentindo-me motivada a respondê-lo à altura.

— Meu pai é um homem inteligente, senhor Mitolli: me dá algo e pede outra coisa em troca. — Fiquei feliz por meu drink ter chegado rápido. — Além disso, não estou em um bordel. É só uma festa com minha amiga.

— Uma festa regada a muito álcool e drogas. — Levantou uma das sobrancelhas.

Eu não deveria olhá-lo tão de perto, como no outro dia. Ele possuía traços fortes e um charme que poucos tinham, que chamava a atenção. Todos sempre falavam que Dante era o mais parecido com o pai. E devo admitir que esse homem, apesar de ter mais que o dobro da minha idade, deixava-me atraída por ele e totalmente desestabilizada.

— Não preciso que cuide de mim. Ele já faz esse trabalho — falei antes de sair sem olhar para trás, ou perderia a mínima coragem que criei para o responder.

Confesso que, por dentro, fiquei orgulhosa de mim mesma. Poucas mulheres, creio eu, responderia ele desse jeito.

***

Minha melhor amiga, simplesmente, sumiu com algum carinha e me deixou a ver navios na área VIP. Quando saí do banheiro feminino, ela já não estava mais ali, e como era hora de eu ir, por saber que não deveria provocar meu pai mais do que já havia provocado, decidi ir embora.

Desci as escadas, com esperança de encontrá-la em meio à multidão. Todavia, conhecendo Antônia, eu sabia que ela já deveria estar agarrando alguém em algum lugar daquela balada barulhenta. Segui em frente, pronta para sair, quando uma pessoa me pegou pelo braço. Ela não fez mais do que isso.

Então olhei para trás e encontrei Dante, que, sem dizer uma palavra, conduziu-me para o lado oposto da saída. Nunca tinha me sentido tão indefesa e amedrontada. Não que ele pudesse fazer algo de ruim comigo, mas alguma coisa nele me despertava um instinto de fuga. Talvez fosse o meu cérebro tentando me alertar, só que, por ora, meu corpo foi simplesmente manipulado pelas boas vibrações que vinham daquele simples toque na mão.

Eu não sabia o porquê de tudo isso, só o segui. Então, em um determinado canto quase sem ninguém e iluminado por algumas luzes neons, ele não disse nada, somente me colocou contra a parede e me beijou. Achei estranho no início, entretanto fui inundada por uma sensação boa de calor e prazer. Suas mãos no meu corpo tocavam nas partes certas para me acender de vez.

Passei os braços em volta do seu pescoço enquanto uma de suas mãos em minha coxa subia pela saia fina e brilhosa que escolhi usar. Nada além de "mais e mais" se passava na minha cabeça. Eu tinha até me esquecido de onde e com quem estava.

E, de repente, foi um estalo de consciência que me acordou.

— Tenho que ir antes que meu pai venha e me carregue à força — falei, ofegante e bêbada com aquele beijo.

— Um minuto a mais ou a menos não vai fazer diferença. — Abriu em seus belos lábios um meio-sorriso.

— Acredite: a cada segundo, ele fica mais irritado — expliquei, não conseguindo parar de fitar a sua boca.

Sem me dar espaço, ele me beijou novamente, agora com mais rapidez e urgência, tirando-me o resto de ar que tinha em meus pulmões.

— Você agora é minha, Giulia Santini.

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