você pode sangrar até a morte que estou nem aí.

~~CAPÍTULO 3~~

KATHERINE

Ergui os ombros, sentindo o frio tranquilizador do metal contra a cintura, onde enfiara a pequena Beretta e cobri com um top amarelo simples. Além das chaves do meu Mustang conversível vermelho, eu não carregava nada, mantendo as mãos livres e o telefone no bolso das calças pretas largas.

Depois do último mês, tingi meus cabelos loiros para castanhos, tentando afastar os restos sombrios do encontro. Eu fazia isso com frequência mudava a cor do cabelo. Com tanto em minha vida que eu não conseguia controlar, eu gostava de dar as ordens quando se tratava da minha aparência.

Meus novos cachos escuros estão presos em um rabo de cavalo alto e meus óculos estavam empoleirados no nariz. Tinha dito ao meu marido que estava indo fazer compras na cidade, parti antes que os capangas dele pudessem me alcançar. Eu já havia feito isso várias vezes no passado para angariar nada além de olhares de advertência dele.

Francesco não se importava comigo, eu sou apenas sua esposa troféu quando precisasse de me para aparecer nos eventos, ele deixou muito claro que o divórcio não é favorável no nosso mundo, então eu deveria ficar quieta e viver minha horrível vida ao lado dele.

Com isso, o que eu poderia fazer além de irritá-lo toda vez que eu tivesse a chance de o fazer? Era menos sobre minha segurança e mais sobre o controle dele. Seu controle de seus homens, de meus movimentos, de controlar a moeda de troca do inimigo. Nós dois paramos de fingir que não sabiam a verdade há muito tempo. Eu parei de sentir a decepção há muito tempo. Isso me deixou em algum lugar entre destemida e imprudente.

Depois de pedir chocolate quente, entrei no carro e sai dirigindo pela cidade, até que notei um carro preto seguindo-me, diminui a velocidade para me certificar se realmente estou sendo seguida. Quando o carro também reduz a velocidade, eu soube nesse exato momento que eu estava com problemas.

Seguindo a minha intuição, continuei dirigindo em voltas, até que vi um canteiro de obras, estacionei o carro e desci entrando no canteiro de obras, dentro dos portões de ferro forjado que abrigavam o prédio único e incompleto da rua abandonada, olhei em volta, observando a área.

O sol estava baixo no céu, pronto para pular abaixo do horizonte a qualquer momento, lançando luz o suficiente para deixar o edifício projetar sombras longas e assustadoras no chão, o céu lentamente se esvaindo de roxo a cinza frio enquanto a lua esperava sair.

Eu podia sentir o vento esfriando na minha pele, fazendo um pequeno calafrio percorrer meus braços nus no frio, arrepios irromperam em sua pele como pequenos soldados se preparando para a batalha. Mas foi outra coisa que realmente a assustou.

Águias.

Dezenas delas.

Circulando pelo prédio, repetidamente, chamando uma às outras, a cacofonia de suas vozes se perdeu no bater das asas contra o vento.

O anoitecer estava chegando, e elas continuaram circulando o prédio alto, me dizendo alguma coisa sobre a estrutura. Não era um canteiro de obras comum. Em algum lugar do local havia um cadáver eu olhei para os pássaros, para o número deles mais de um cadáver.

Eu não deveria estar aqui.

Mas, eu precisava me livrar do meu perseguidor e voltar para o carro sem que ele perceba. Sua burra, sua burra.

Meus olhos vagaram para o prédio inacabado, erguendo-se alto no céu como um monstro em ruínas cercado por pássaros da morte. Eu estaria rindo muito com o óbvio clichê do cenário, se este fosse um filme que ela estava assistindo. A última coisa que eu queria agora era rir. Isso era realmente uma merda assustadora. E algo estava totalmente errado.

Ouvi passos vindo em minha direção, sem esperar, eu me agachei no chão atrás de alguns escombros e tirei a arma da cintura. Preparando-me, endireitando os braços, eu me preparei para mirar e atirar em um piscar de olhos. Meu coração trovejou em meu peito, minha respiração trabalhosa quando a adrenalina subiu por sua corrente sanguínea, tudo menos o som da minha própria respiração muito quieta.

Exceto pelas águias. Elas continuaram fazendo seus próprios ruídos, logo acima da cabeça no céu, cercando o prédio que cheirava a morte.

Eu precisava voltar para o carro.

Com os olhos voltados para o portão, medi a distância entre a pilha de escombros e percebi que estava a algumas centenas de metros de distância. Droga. Não havia como correr através do espaço aberto sem ser baleada se alguém já estivesse apontando para ela.

Pense.

Eu precisava pensar.

— Katherine

Eu fiquei sentada, ouvindo o desconhecido chamando meu nome, a voz dele vindo da direção do prédio.

— Nós não vamos machucá-la! Nós apenas queremos conversar!

Sim, e era um mico de circo.

Meu aperto ficou maior na arma.

Um tiro foi disparado. As águias ficaram selvagens.

Eu me encolhi com o barulho, meu olhar deslizando para cima para ver as águias voando ao acaso no caos, completamente frenéticas, e senti meu coração bater em conjunto com as asas. Eu esperei que o desconhecido falasse novamente, mas ele não falou. O medo em seu estômago se apertou.

— Eu prefiro você loira.

Minha respiração ficou presa na garganta com a voz que vinha de trás dela. A voz que eu não conseguia esquecer há um mês. A voz que sussurrou os modos de assassinato em minha pele como a carícia de um amante. A voz do uísque duro e do pecado.

Eu ergui o olhar, os olhos nivelando com o cano de uma Glock apontada diretamente para minha cabeça. Eu lentamente deixei meu olhar viajar até os dedos firmes, pelos antebraços expostos sob as mangas dobradas de uma camisa preta, musculosos, pelos ombros que eu sabia que possuíam força para me prender, inútil contra uma parede, por aquela sombra de barba desarrumada na mandíbula quadrada e, finalmente, os olhos. Azuis, olhos azuis. Seus olhos azuis, limpos de qualquer expressão.

Foi apenas um segundo dessas observações, um segundo de apreciação feminina antes que eu me permitisse lembrar quem ele era.

E balancei o braço para cima, apontando a arma para o coração dele, com a dele apontada para minha cabeça, em um impasse silencioso.

Levantando-se, meus olhos, não tremendo nos dele, meu braço não tremendo em meu aperto, inclinei a cabeça.

Seu rosto manteve a expressão estoica, os olhos estreitando-se um pouco. Nós ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas com as armas apontadas um para o outro, e eu me percebi que era inútil. Eu sabia que ele não me mataria. Ele teve muitas oportunidades no mês passado e não fez.

Ele não faria isso de novo.

— Nós dois sabemos que você não vai atirar em mim, então vamos remover as armas, certo?

Sugeri, sem piscar uma vez para dar-lhe qualquer oportunidade.

Seus lábios se curvaram, mas a diversão nunca alcançou seus olhos. Ele levantou o braço, puxando-o para trás, agitando a bandeira branca, e eu larguei a arma, sem tirar os olhos dele. No momento em que a minha arma caiu, ele entrou no meu espaço pessoal, colocando a arma entre os meus seios, o rosto a centímetros do meu, o cheiro do suor e da colônia que se misturavam no ar ao seu redor, cada mancha azul nos olhos dele, de alguma forma destacada, mesmo na escuridão que desceu ao seu redor.

Ele se inclinou lentamente, falando suavemente, seus olhos duros, nunca se movendo dos meus, suas palavras fazendo a respiração dela engatar um pouco em seu peito.

— Há lugares em seu corpo que eu conheço.

Ele falou, sua mão livre envolvendo minha nuca, seu aperto forte, apenas na periferia da ameaça, enquanto a arma ficava logo acima do meu coração acelerado.

— Lugares que você não conhece. Lugares onde eu posso atirar e machucar e você não vai morrer.

Ele se inclinou ainda mais, seu sussurro era apenas um sopro na minha pele enquanto o meu pescoço se esticava para manter os olhares bloqueados, a mão segurando a minha nuca, a altura pairando acima de mim, os olhos nunca se movendo nos meus.

— A morte não é o prato principal, querida. É a sobremesa.

Seus olhos endureceram ainda mais, seu tom frígido, seus dedos flexionando seu pescoço em aviso.

— Nunca cometa o erro de pensar que você me conhece. Pode ser apenas o seu último.

Meu coração batia no peito como um animal selvagem correndo pela vida toda. Embora meu peito se agitasse com algo que eu não queria ver, cerrei os dentes com a pura audácia do homem, a pura arrogância dele.

Fortalecendo a coluna, estiquei o braço antes que pudesse deter-me, a perna enganchada no joelho dele, o treinamento clássico de autodefesa ultrapassando meus sentidos por um momento. Eu puxei a perna enquanto empurrava o peso dele com o braço, derrubando-o no chão duro, meu triunfo queimando ao ver a breve surpresa cruzar seu rosto.

Em um piscar de olhos, ele estava de pé novamente, em um movimento ágil que a teria impressionado se ele fosse qualquer pessoa. Mas eu não terminei.

Desta vez, entrei no espaço pessoal dele, meu dedo passando por seus peitos duros sob a camisa preta de colarinho aberto, cutucando-o uma vez enquanto falava, a cabeça inclinada para trás para manter os olhos trancados, a voz mais fria do que a dele.

— Nunca cometa o erro de pensar que você me assusta. Será o seu último.

A mandíbula dele se apertou, os olhos fixos nos meus, a tensão era tão espessa entre nós que poderia cortá-la com uma faca de manteiga. Sua postura permaneceu gelada. Eu senti o fogo inundar suas veias enquanto seu peito arfava.

Outra voz interrompeu nosso momento tenso.

— Cheiro de sexo atingi minhas narinas.

Eu me virei, meus olhos encontrando Dante Romano parado a alguns metros de distância, seu corpo enorme envolto em um terno que estava completamente fora de lugar neste canteiro de obras e que pertencia à festa em que o vira no mês passado.

Seu cabelo escuro estava perfeitamente penteado, arrumado para trás na cabeça, expondo maçãs do rosto que modelos do mundo chorariam por ter iguais.

Perdendo a paciência, olhei ao redor da área, sem notar nenhuma outra alma viva nas proximidades. OK. Então, eu estava em um canteiro de obras abandonado com dois homens de renome, super reputados, de uma família da máfia.

— Por que estão aqui?

Eu perguntei, exasperada e realmente querendo entender tudo.

— Eu estava sendo seguida, como sabiam?

Eu olhei para os dois homens, ambos reputados, ambos cruéis, e vi o forte contraste entre eles. Não era nada que eu pudesse identificar, exceto a intensidade em torno de Pablo Romano que o outro homem não possuía. A intensidade com que ele me observava, com um rosto bonito, desprovido de qualquer expressão.

Eu me afastei da intensidade, olhando para Dante. Eu podia sentir a intensidade queimando sua pele onde os olhos de Pablo me tocavam. O olhar de Dante era fraco em comparação, ele está sério que o habitual.

Focando, eu cerrei os dentes.

Dante suspirou.

— O homem que estava te seguindo está morto.

Senti uma pontada no estômago, mas, nada mais. Eu não sabia o que aquilo dizia sobre me como pessoa. Eu queria se sentir mal. Mas, por alguma razão, eu não sentia.

Eu apenas assenti, sem dizer nada, sem saber o que dizer sem expor minha própria falta de reação à morte de uma pessoa.

Dante assentiu, falando, apertando minha mão enquanto Pablo permanecia calado ao lado dele, e simplesmente nos observava como um falcão.

— Tivemos informação, viemos salvá-la.

Dante começou enquanto olhava para seu irmão mais velho.

— Por que vocês vieram me salvar?

Eu perguntei, evitando cuidadosamente olhar para o outro homem silencioso.

Dante hesitou por um momento e, pela primeira vez desde o aparecimento de seu irmão, Pablo falou, naquele tom áspero e baixo.

— Porque não chegou a hora de você morrer.

Meu coração parou quando eu olhei para ele, erguendo as sobrancelhas.

— Explique.

Eu exigi.

Pablo Romano olhou de volta para me uniformemente, ou o mais uniformemente que pôde com aqueles olhos que estavam constantemente radiografando-me.

— Não explicarei nada.

Eu senti as sobrancelhas franzirem. Não entendi nada.

O toque de um telefone assustou o súbito silêncio da área, fazendo-me pular um pouco. Dante pegou o telefone, trocando um olhar com o homem silencioso, antes de se desculpar e sair na direção dos fundos. No momento em que ele virou a esquina, eu fui em direção aos portões onde meu carro esperava, ignorando o homem parado atrás de mim.

Eu joguei para trás sem interromper o passo, meu corpo inteiro vibrando com a tensão. Eu estava quase no carro quando, de repente, sem nenhum aviso, estava presa no capô, o mundo se inclinando quando o céu noturno apareceu, e junto com ele, o rosto de Pablo Romano. A mão dele agarrou as minhas, segurando-as acima da cabeça enquanto a outra empurrava meu estômago, mantendo-me plana no lugar.

Eu me encolhi. Ele não se mexeu.

Eu me contorci. Ele não se mexeu.

Eu lutei. Ele não se mexeu.

Tentando escapar das algemas ao redor dos pulsos, eu me choquei contra o capô de meu próprio carro, chutando as pernas para fora, tentando morder os braços dele, mas ele pairou sobre mim, sem me mexer, sem falar, com o queixo cerrado.

— Eu não quero te tocar mais do que você quer ser tocada.

Ele grunhiu bruscamente, sua respiração abanando meu rosto, seus olhos duros.

— Oh, por favor.

Revirei os olhos, um tom de sarcasmo pesado.

— Nas duas vezes em que nos encontramos, posso ver o quanto você detesta me tocar. Prender-me em superfícies planas é repugnante.

Seus olhos brilharam, um rosnado enrolando sua boca, colocando a cicatriz no canto do lábio inferior em foco.

— Você não é nada como as mulheres que eu gosto de prender. Eu certamente não as odeio.

— Você não me odeia.

Apontei.

— Não.

Ele balançou a cabeça, seus olhos endurecendo a cada segundo, resolvendo entrar neles quando eu o vi inalar pesadamente.

— Eu desprezo você.

Pisquei surpresa com o ódio em sua voz, as sobrancelhas franzindo. Eu sabia que nós não somos fãs um do outro, mas não esperava esse ódio dele.

Ele nem me conhece.

— Por quê?

Eu expressei a pergunta em sua cabeça.

Ele me ignorou, inclinando-se para mais perto, seus olhos azuis gelados, enviando um arrepio de medo pelo meu corpo, enquanto seus braços ficavam acima da cabeça, falando em voz baixa e forte.

— Eu não vou te matar apenas porque não quero essa porra de guerra.

Seu tom me fez estremecer. O olhar em seus olhos fez meu estômago revirar.

— Só porque eu não posso te machucar, não significa que não vou.

Eu olhei para ele, atordoada com a ferocidade de seu ódio.

— Você nem me conhece!

Ele ficou em silêncio por um longo minuto, a mão em seu estômago afundando, meu coração batendo forte com o pânico. Eu lutei e a mão dele parou, logo abaixo do umbigo, o gesto de um amante e não o inimigo, os olhos fixos em mim.

— Eu tenho pessoas que são minhas. Território que é meu. Nunca invada.

Sua mão inclinou-se um pouco mais abaixo do osso do quadril, a ameaça clara, fazendo meu pulso disparar, seus olhos grudados nos meus, sua voz um sussurro certo contra a minha pele.

— Lembre-se disso.

A porra da audácia dele! Atordoada, lutei com mais força contra ele, chutando as pernas para fora.

— Seu imbecil!

Ele se inclinou para mais perto, seus lábios quase nos meus ouvidos

— Gata selvagem.

O som de passos o fez me soltar. Ele se endireitou, seu rosto usando aquela máscara em branco como se nunca houvesse saído, como se ele não estivesse em cima de mim, como se ele não fosse o humano detestável que era.

Fiquei com as pernas levemente trêmulas, o peito arfante, os olhos brilhando para ele enquanto suas mãos se fechavam em punhos, meu corpo tremendo com a raiva que eu mal podia conter.

Dante entrou na área, olhando-me de cima a baixo, franzindo a testa.

— Você está bem?

Senti o queixo tremer, o coração nem perto da calma. A vontade de puxar a arma e atirar nele era tão profunda que quase me derrubou de joelhos. Balançando a cabeça, eu levantei o queixo mais alto, endurecendo a coluna e olhei diretamente para ele, um rosnado curvando a boca.

— Vocês dois podem sangrar até a morte que não estou nem aí.

Abrindo a porta do carro, eu olhei de volta para o homem que me transformou nessa bagunça em segundos, os olhos fixos nos dele.

— Fique longe de mim.

Eu vi algo cintilar nos olhos dele, enquanto nada cruzava seu rosto, algo que ele disfarçava antes que eu pudesse vê-lo, e eu me virei, entrando no carro, saindo da rua. Eu nunca olhei para trás no espelho retrovisor. Nunca me deixou focar em nada, exceto na maneira como eu segurava o volante. Nunca se deixou sentir nada além do sangue batendo em meus ouvidos.

Tudo tinha seu tempo. Eu teria o meu.

Talvez não amanhã. Talvez não no dia seguinte. Mas no dia seguinte a esse. Ou no dia seguinte àquele.

Um dia, algum dia, eu jurei, com toda a raiva pulsando em meu corpo, fazendo-me tremer até que eu não conseguia sentir os dedos segurando o volante com tanta força, a raiva fazendo meu corpo esquentar como nunca, a raiva fazendo-me choramingar para uma tomada.

Um dia, eu prometi, mataria Pablo Romano.

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