Lucine caminhou com cuidado pela aldeia adormecida, com passos leves, para não chamar a atenção para si. O luar iluminava o caminho entre as cabanas, mas ela se movia nas sombras, evitando os guardas lycans que patrulhavam o perímetro. Quando alcançou a borda da floresta, olhou para trás uma última vez. O perigo que ela iria enfrentar era imprevisível, mas sua determinação em salvar a todos era maior.A floresta estava quieta, exceto pelo sussurro das folhas ao vento. Lucine avançou lentamente, seus sentidos aguçados captando cada som, cada movimento ao seu redor. Se transformou e correu muito em sua forma de loba, visando afastar o perigo da aldeia.Quando já estava considerando que a distância era segura, ela parou e voltou a forma humana. De repente, um farfalhar de folhas à sua esquerda a fez parar. Seu coração disparou, mas ela manteve a calma. A voz que ecoou na escuridão fez seu sangue gelar.— Lucine…Uma voz profunda a chamou das sombras. — Finalmente poderemos nos apresentar
Todos a viram se aproximando da aldeia, e ela não fez questão de se esconder, afinal, teria que revelar tudo o que havia acontecido a todos. Os betas a encaravam, esperando respostas que não obtiveram, enquanto ela se dirigia diretamente ao conselho. Faltava pouco para amanhecer, certamente a notícia de que ela havia saído despercebida e agora voltava para a aldeia já havia se espalhado.Não demoraria muito para os anciões aparecerem para encontrá-la, mas quem chegou primeiro foi um Aram muito bravo.— Onde diabos você estava? No que pensava quando decidiu sair assim pela noite, com essa criatura nos espreitando? Perdeu o juízo Lucine?Lucine seguia em silêncio, sentada na cadeira que a ampara desde que chegou ali. Um cansaço enorme tomou conta de seu corpo, uma sensação de alívio e inquietação ao mesmo tempo. Se por um lado estavam aparentemente livres dos vampiros por algum tempo, a Quimera deixou claro que haviam diversos outros perigos que poderiam vir atrás deles, do seu clã, da
Ao final da reunião, Szafir os acompanhou até a cabana que estavam ocupando desde que haviam chegado ali.— Esse lugar já é apertado agora, imaginem quando chegar o bebê. Tem certeza de que não quer a sua casa de volta?— É claro que não, a cabana é pequena mas a porção de terreno não, planejo cercar e aumentar a casa. Vou aumentando peça por peça, até chegar em um tamanho adequado. Estaremos bem aqui Szafir, mas a promessa de respeito tem que prevalecer. Eu não vou aceitar que Lucine passe por nenhuma hostilidade.Aram foi muito claro com o amigo, que sorriu com seu comentário.— Que novidade, nem quando você dizia que a odiava permitia tal coisa, que dirá agora. Talvez leve um tempo, mas ninguém esqueceu tudo que Lucine já fez por esse clã. Eles amavam a sua Luna, tenho certeza que vão amar outra vez. Ainda mais agora que ela tem o apoio e a proteção do conselho.Lucine saiu da cabana e veio encontrá-los.— Está esquecendo do meu aliado vampiro, Alfa.— Desculpe, mas eu não tinha en
Ultimamente Aram detestava a visita do tio, na verdade, detestava qualquer visita que viesse interromper o seu bem-sucedido e satisfatório calvário de dor e autopiedade. Yasmina havia partido para a vida além da vida e ele merecia todo aquele sofrimento pois não a tinha protegido. A Deusa Lua o havia abençoado quando a colocou em seu destino e ele não fora digno daquela graça, às vezes, escolher permanecer vivo era muito mais difícil do que morrer.Agora ele teria que viver o resto de seus dias sob o peso de ter sido indiretamente responsável por sua morte e a dor de não ter mais a sua Luna destinada. Para viver seu suplício, ele só precisava ficar sozinho, o que era muito difícil, visto que ainda era o Alfa daquele clã, apesar de vir há meses negligenciando seus deveres. Ele não fazia questão de ouvir os muitos lamentos do tio, que vinha trazer notícias do conselho de anciãos. O homem disse a Aram que os mais velhos estavam a ponto de desistir dele e já estavam procurando uma saída p
A menina chegou ao vilarejo uma semana depois do acordo entre o Lycan e os lobisomens ser firmado. Aram mandou seus betas que possuíam melhor treinamento em combate para ir buscá-la, ele ainda não estava certo que aquele acordo não se tratava de alguma armadilha.Szafir era o beta de confiança de Aram, haviam lutado diversas batalhas e construíram juntos uma estabilidade para o clã. O amigo era um lobo de honra, em quem ele podia confiar. Se fosse realmente uma armadilha, ele era a pessoa certa para identificar e neutralizar o ataque.Porém, tudo ocorreu de forma tranquila. Quando o grupo de betas chegou no local indicado para pegar a garota, seu líder, Szafir, ficou muito impressionado com o aspecto da fêmea que seria a nova Luna da alcateia. Ela realmente parecia bastante jovem e assustada, era óbvio que não era uma convidada bem-vinda naquela matilha de lobisomens. Estava com as mãos e os pés amarrados e a boca amordaçada. Aquilo parecia um tanto exagerado, dado a constituição frág
Aram levou Lucine até a frente da casa e ali já havia uma pequena multidão. Uma mulher entregou a xícara de café a ele e o sal a Lucine, que foi instruída a temperar a bebida. Ela já havia ouvido falar desse costume antigo mas nunca havia presenciado, ficou surpresa em como o noivo conseguiu beber o café tão rapidamente, visto a quantidade de sal que ela havia colocado.Depois, foi preparado um grande banquete, cada membro do clã doava o que tinha disponível para a festa, que era sempre grandiosa. A sacerdotisa reuniu os noivos bem no centro do círculo de mesas, em que estavam a comida e os convidados, os fez ficar bem na frente dela e deu início a cerimônia. Como de costume, ela os abençoou fazendo reverência e preces à Deusa Lua e outras deusas ancestrais, a Deusa do amor e a Deusa da fertilidade. Para Lucine, aquilo era um espetáculo muito exagerado, era estranho como os Lycans haviam parado no tempo, seguindo tradições e costumes que os Lobisomens haviam abandonado há muito. Tod
Aram acordou cedo como era seu costume quando estava sóbrio. Olhou no celular e eram apenas sete horas, não tinha nada programado para esta manhã assim como para nenhum horário do dia. Todos esperavam que ele quisesse ficar sozinho com a esposa e aproveitar o máximo possível a lua de mel, o que estava bem longe da sua realidade.Não podia ficar na cama o dia todo, mas também não podia sair e ficar dividindo a sala com aquela fêmea que o lembrava de tudo o que ele queria esquecer. Lenha, lembrou que precisava cortar lenha. O inverno estava próximo e ele precisava reabastecer seu estoque de lenha seca. Isso certamente o deixaria ocupado no pátio de trás da cabana por pelo menos a manhã toda.Quando ele se vestiu e saiu do quarto, a encontrou ainda profundamente adormecida no sofá. Se aproximou mais e a sacudiu de leve para despertar.— Acorde garota, eu disse que você precisava levantar cedo e guardar as cobertas.Ela acordou assustada olhando para os lados, pareceu por um momento, não
Aram se sentiu observado, ergueu os olhos e a loba estava parada na porta da cozinha encarando-o. Ele podia sentir o cheiro do seu medo, e não entendia, já que ele nem mesmo a havia percebido ali. Quando a olhou mais tempo viu que ela havia trocado de roupa, vestia um conjunto de moletom que parecia ser 5 vezes maior que o seu tamanho. Que belo trabalho Szafir havia feito.— O que foi? Tem algo a me dizer?— Eu, eu queria saber se você não tem nenhuma tarefa que eu possa realizar, não quero ficar sentada no sofá olhando para as paredes.Ele apoiou a lâmina do machado no chão antes de responder à ela.— Você pode, sei lá, assistir televisão. Aproveite para pôr em dia seu programa favorito.— Eu não tenho mais um programa favorito.Ela respondeu a ele em tom bastante sério. Aram deu um longo suspiro, sabendo que não seria tão fácil se livrar da companhia dela.— Então você pode ir pegando toda a lenha que eu rachar e levar para a pilha que tem no galpão.Ele disse, apontando a grande co