Aram acordou cedo como era seu costume quando estava sóbrio. Olhou no celular e eram apenas sete horas, não tinha nada programado para esta manhã assim como para nenhum horário do dia. Todos esperavam que ele quisesse ficar sozinho com a esposa e aproveitar o máximo possível a lua de mel, o que estava bem longe da sua realidade.
Não podia ficar na cama o dia todo, mas também não podia sair e ficar dividindo a sala com aquela fêmea que o lembrava de tudo o que ele queria esquecer. Lenha, lembrou que precisava cortar lenha. O inverno estava próximo e ele precisava reabastecer seu estoque de lenha seca. Isso certamente o deixaria ocupado no pátio de trás da cabana por pelo menos a manhã toda. Quando ele se vestiu e saiu do quarto, a encontrou ainda profundamente adormecida no sofá. Se aproximou mais e a sacudiu de leve para despertar. — Acorde garota, eu disse que você precisava levantar cedo e guardar as cobertas. Ela acordou assustada olhando para os lados, pareceu por um momento, não se dar conta de onde estava. Passou a mão nos cabelos e tentou prendê-los em um coque improvisado, afastou as cobertas e levantou-se já começando a dobrar tudo. Aram se deu conta que ela ainda usava as vestes do casamento e que ela havia chego ali sem nenhum pertence. Precisava conseguir algumas coisas para ela vestir, teria que pedir ao szafir para providenciar. Então, enquanto ela arrumava a sala, ele colocou água para aquecer para preparar o café e mandou uma mensagem para o amigo. — Eu pedi que a trouxessem algumas mudas de roupa, você não pode usar esse vestido de casamento para sempre. — Obrigada, eu não tinha nada para trazer comigo. Ele fez seu café e indicou para ela fazer o dela. — As mulheres da aldeia deixaram a geladeira cheia de comida para não precisarmos cozinhar, pode pegar o que quiser e esquentar. Ela abriu a geladeira hesitando, não queria parecer desesperada mas estava faminta, não havia conseguido comer quase nada na festa devido à tensão de estar sendo observada, de uma forma pouco amigável, por todos. — Eu posso realmente comer qualquer coisa? Ela não conseguiu conter a pergunta pois, quando estava em poder da dupla de gamas, era frequentemente castigada por comer o que não devia da geladeira. Ele a encarou por um instante, como se não houvesse entendido a pergunta. — Foi o que eu disse, escolha o que quiser e esquente. — Obrigada. Ele tomou o café em silêncio, escorado na pia da cozinha, e ficou a observando comer, parecia que ela não se alimentava há meses, pelo apetite e também pela magreza do corpo. — Eu gostaria de saber onde se esconderam os fugitivos da sua matilha, por onde vocês andaram? — Em vários lugares que fossem o mais isolado possível. Acredito que o segredo deles para não serem apanhados era essa constante mudança. Ele ficou curioso com a resposta dela. — Quantos eles eram? — Apenas dois gamas, que fugiram enquanto você matava todo mundo, e me levaram com eles. — E o que exatamente aconteceu com eles depois desses meses? Ela achou melhor manter a história que havia inventado, afinal, precisava ser discreta quanto às suas habilidades. — Alguma coisa os atacou, talvez alguém que eles tenham roubado ou feito algum mal. Eu aproveitei a oportunidade e fui embora. Nesse momento bateram na porta, ele sabia que era Szafir com as roupas e foi atender. — Aqui está, foi o que consegui de última hora, nos próximos dias trago mais. Trouxe também uns sapatos. Me desculpe por não ter me antecipado, mas eu pensei que a última coisa que machos recém-casados poderiam pensar era em roupas para a sua fêmea. Ele arrancou a sacola da mão do amigo demonstrando impaciência. — Não precisa tentar ser engraçado, você sabe bem que este não é esse tipo de casamento. O outro macho sorriu em resposta. — Eu, meu amigo? Eu não sei de nada. Já vou indo para deixar o casal aproveitar. Aram entregou a sacola à Lucine, que esperava na porta que ligava a cozinha à sala. — Isso deve ser o suficiente por enquanto, pode se trocar no quarto. — Eu tenho uma pergunta, onde eu posso guardar as minhas coisas? Maldição, ele não havia pensado nisso. — Mais tarde eu vou liberar um espaço para você na cômoda que tem no meu quarto. Agora eu preciso cuidar da lenha. Aram disse e foi para o pátio, descarregar sua frustração com o machado. Lucine foi até o quarto do Alfa aliviada em poder tirar aquela ridícula roupa cerimonial. O que havia na sacola eram dois conjuntos de moletom, três camisetas e um par de tênis, nenhuma meia ou roupa de baixo. Ao menos ainda era melhor do que ficar nua, mas pensou que os pés provavelmente congelariam sem meias para aquecê-los. Vestiu uma das camisetas por baixo do conjunto preto, que era composto por um moletom no estilo canguru e uma calça larga. Calçou os tênis e guardou o resto na sacola outra vez. Estava perdida, não sabia o que fazer, não parecia ter nenhuma tarefa que precisasse ser feita, mas ela também não queria ficar sentada no sofá olhando para o nada. Resolveu ir procurar o Aram e verificar se ele tinha alguma tarefa para ela. Antes de ir para o quarto se trocar, havia visto ele saindo pela porta da cozinha, ela então pegou a sacola, largou no sofá e foi nesta direção. Quando saiu na porta, em direção ao que descobriu ser um grande pátio dos fundos, ela travou imediatamente. Ele estava despido da cintura para cima e usava um machado para rachar algumas toras de lenha. Ele empregava uma força maior do que a necessária na tarefa e olhava a madeira como se ela fosse um alvo que precisava ser exterminado. Com os movimentos seus músculos ficavam bastante evidentes. Toda aquela cena a fez voltar para a noite em que ela o viu na forma de besta, quando ele matou toda sua família. Naquela ocasião ela sentiu muito medo e tinha certeza que também morreria, porém, quando a fera se aproximou dela, apenas a encarou e recuou, indo atrás de algum outro lobo com menos sorte. Ela acreditava que havia tido um ataque de pânico depois disto pois só se lembrava de ser arrastada pelos gamas floresta adentro. Aquele monstro tinha tudo para habitar seus pesadelos e nunca havia sido assim, no entanto, agora estando tão perto dele e a mercê de sua raiva, Lucine sentiu um arrepio na espinha. Não tinha mais o que perder na vida, mas ele ainda podia fazê-la desejar que a tivesse matado como matou os outros, afinal, ela sabia bem o quanto machos poderiam ser cruéis quando queriam.Aram se sentiu observado, ergueu os olhos e a loba estava parada na porta da cozinha encarando-o. Ele podia sentir o cheiro do seu medo, e não entendia, já que ele nem mesmo a havia percebido ali. Quando a olhou mais tempo viu que ela havia trocado de roupa, vestia um conjunto de moletom que parecia ser 5 vezes maior que o seu tamanho. Que belo trabalho Szafir havia feito.— O que foi? Tem algo a me dizer?— Eu, eu queria saber se você não tem nenhuma tarefa que eu possa realizar, não quero ficar sentada no sofá olhando para as paredes.Ele apoiou a lâmina do machado no chão antes de responder à ela.— Você pode, sei lá, assistir televisão. Aproveite para pôr em dia seu programa favorito.— Eu não tenho mais um programa favorito.Ela respondeu a ele em tom bastante sério. Aram deu um longo suspiro, sabendo que não seria tão fácil se livrar da companhia dela.— Então você pode ir pegando toda a lenha que eu rachar e levar para a pilha que tem no galpão.Ele disse, apontando a grande co
Eles comeram em silêncio e quando terminaram, Lucine foi recolher os pratos para limpá-los. Aram segurou seu pulso quando ela foi tirar o dele.— Depois de fazer isso, me espera no sofá da sala.Ela fez como ele pediu enquanto Aram se dirigia ao quarto. Ele voltou com uma caixa de suprimentos de primeiros socorros e se sentou no mesmo sofá que ela, porém mais afastado.— Agora tira o tênis e coloca a perna no sofá.Ela o obedeceu, colocou o pé já sem a meia para cima do sofá, próximo de onde ele estava. Ele pegou a perna dela, colocou em seu colo e começou a examinar atentamente os ferimentos. Deu-se conta que existiam diversas cicatrizes, umas por cima das outras, o que significava que ela passou bastante tempo amarrada com as cordas a ferindo. Os machucados se curavam e outros eram abertos. Naquele momento ele soube que aquela fêmea havia passado por algo verdadeiramente ruim. Achou melhor não fazer qualquer comentário, lavou a região com soro e aplicou uma pomada com antibiótico.—
— Comida de cachorro? Como eu iria imaginar? Você nem tem um cachorro!Lucine tentou se explicar, visivelmente confusa.— Você chegou aqui ontem, como pode saber se eu tenho ou não um cachorro?— Onde está esse cachorro então, e porque não estava escrito no pacote que era comida de cachorro?Aram secou a boca com um pano de prato que estava no fogão. Apesar de tudo, o cozido não havia ficado com gosto tão ruim, apenas a textura estava estranha. Quando Yasmina morreu, ele não conseguiu ficar com o cachorro deles, o Eros. Szafir então levou o animal para a sua casa, para que fosse cuidado decentemente. Nas raras vezes que ia fazer compras, ele comprava comida para o animal e entregava ao amigo. Com os últimos acontecimentos, havia esquecido de entregar a ração a Szafir.— O cachorro não mora mais aqui, mas eu ainda levo comida de vez em quando. Bem, mas não importa, não têm como comer isso, vou fazer uns sanduíches.Ela começou a esvaziar os pratos de volta na panela.— Eu sinto muito A
Quando todos já iam se dirigindo ao galpão de suprimentos, Lucine ainda esperava Aram, que conversava com alguns homens mais velhos. O fato daquele beta ter vindo falar com ela, diminuiu um pouco o desconforto de se sentir odiada por todos ali presentes. Não que ligasse para a opinião de quem quer que fosse, mas sentir olhares afiados em sua direção não era agradável.Szafir também havia dado um bom conselho, que ela precisava trazer sempre na mente. Ele disse que Aram era um bom Alfa, mas que sua paciência não era conhecida por ser infinita. Que ela teria mais a ganhar se não o ficasse testando em embates e, de preferência, não oferecesse mais comida de cachorro para ele. Ela sorriu ao lembrar de sua fala descontraída. Ele havia dado o conselho e se retirado, deixando-a pensativa, instantes depois ela percebeu que o Alfa estava vindo até onde ela o esperava. Tinha uma
O tempo passou de forma amena, com o Alfa reconquistando o respeito do povo. Trabalhava igual aos demais na indústria de madeira, e nos dias livres ajudava no reparo das casas que necessitavam algumas reformas. Lucine não desistiu de aprender a preparar uma refeição decente, e com comida de verdade, que não era para cachorros, não foi tão difícil. Nos dias em que não ia para a madeireira, Aram ajudava bastante, com a casa e com as refeições.Lucine começou a gravar o rosto das pessoas, pois os via quase diariamente quando ia levar o almoço para o marido na fábrica. Com o passar dos dias, começou a receber alguns acenos de cabeça e até um até logo ou outro. O fato de ela ir todos os dias, pelo visto, estava fazendo as pessoas acreditarem que ela cuidava bem do marido.O fato do Alfa sempre a receber com um modesto, mas sincero sorriso, e demonstrar b
Em uma tarde em que ele não estava trabalhando, eles foram até uma pequena cidade que ficava próxima à aldeia, para comprar mantimentos. O lugar ficava a apenas 20 minutos de carro da aldeia, e possuíam um armazém bem abastecido e algumas lojas pequenas de roupas.Os dois foram primeiro ao armazém, passaram por um corredor de doces e ele percebeu que ela ficou olhando para uns chocolates que estavam na prateleira, porém não disse coisa alguma. Ele então, pegou alguns e colocou no carrinho de compras.— Você não precisa de nenhum produto específico, sei lá shampoo, desodorante?Ele perguntou, quando percebeu que ela não escolheria nada para si.— Estou bem com o que você tem em casa!Aram parou de empurrar o carrinho e a encarou.— Lucine, o shampoo do meu banheiro deve estar vencido a alguns meses! E você realmente planej
Lucine resolveu aproveitar que Aram estava na madeireira para usar o chuveiro do quarto com tranquilidade e tomar um longo e relaxante banho. Desde que ela passou a viver na cabana, não perdia uma oportunidade de tomar um banho quente. Como de costume, ela colocou uma música em um volume bem alto na televisão e se dirigiu ao banheiro, deixando as portas abertas para escutar a "Playlist" que havia selecionado.A tarde não poderia ter começado melhor, ponderou Aram irritado. Havia sofrido um acidente com a serra e acabou cortando o braço. Ele foi atendido por um médico, levou alguns pontos no antebraço e foi informado que não poderia trabalhar por alguns dias. Sem ter outra alternativa, voltou para casa.Quando chegou na cabana estranhou ao constatar que na tv estava tocando uma música em um volume muito alto e Lucine não estava em parte alguma, certamente ela deveria estar fazendo alguma tarefa l&a
Aram foi tomar banho maldizendo até o mais longínquo de seus antepassados. Definitivamente ele não passava de um grande pedaço de merda. Enquanto a água quente escorria pelo seu corpo, ainda estava chocado por tê-la visto nua. A verdade é que ela já não parecia uma criança, mas sim uma mulher, uma fêmea por quem seria muito fácil um macho sentir desejo.Como ele podia estar pensando assim, o que Yasmina diria se o visse agora? Graças à Deusa Lua que seu psicológico ainda estava bastante abalado e ele não expressou de forma física o quanto ficou impactado. Se tivesse ficado de pau duro ele certamente teria dado um soco que terminaria com a funcionalidade daquela coisa, se é que ainda restava alguma.Talvez fosse o tempo de convivência tranquila, e até uma certa parceria, que tivesse embaralhando suas ideias. O melhor era seguir seu p