Sombras no Império

Era manhã naquela terça-feira, quando, ao terminar uma reunião, Giovanni suspirou profundamente.

Sua mãe o ligava mais uma vez, e ele sabia o que ela diria: que sentia sua falta, que o amava.

No entanto, a cada ligação, a cada palavra reconfortante que ele já ouvira tantas vezes, uma sensação crescente de distanciamento se formava dentro dele.

Ana, com sua presença constante e seu carinho, parecia ter tomado o lugar que antes era reservado para a mãe, mas ainda assim, ele atendeu.

— Madre? — A voz de Giovanni estava calma, mas ele sabia que algo diferente estava prestes a acontecer.

Do outro lado da linha, a voz de sua mãe tremia. E, em um suspiro carregado de dor, ela revelou o inesperado:

Figlio mio, tuo padre è morto... (Filho, seu pai está morto...) — a voz dela falhou por um momento, como se uma parte dela ainda não acreditasse no que estava dizendo. Então, ela prosseguiu, com uma mistura de alívio e tristeza na voz: — Agora, tu pode tornare para casa.

As palavras da mãe de Giovanni reverberaram em sua mente. Ele ficou em silêncio por um instante, deixando a verdade se instalar lentamente. O homem que, por tanto tempo, lhe havia imposto um peso insuportável, não estava mais ali.

A morte de seu pai não trouxe a sensação de vitória, mas sim um vazio pesado e uma tempestade de emoções conflitantes.

A sua mente calou-se, depois de tantos anos, Giovani sabia que não teria respostas para tanto rancor, ressentimento, por mais que ele quisesse saber, nunca teria as respostas.

Deixando-o em silêncio, até que a sua mãe após insistentes chamados, desligou do outro lado, todos os esperavam em San Marino. 

                                                                 ****

Um acordo nupcial havia sido elaborado, e Antonella, apesar de seu desgosto, presenciou contra a sua vontade toda a preparação de sua irmã mais velha para se tornar esposa de Giovani Ferreti.

Antonella não concordava com aquilo, mas sentia-se impotente diante das expectativas familiares, da pressão de um destino que parecia predeterminado para Scarlett, uma vez ou outra questionando, porém, logo sendo silenciada.

O casamento com Giovanni Ferreti não era apenas uma união de duas pessoas, mas um pacto de interesses, poder e prestígio. E Scarlett, apesar da juventude, parecia resignada a seguir o caminho que lhe fora imposto.

Enquanto Antonella se concentrava em terminar o colegial, Scarlett era ensinada a ser a esposa que se esperava dela.

Passava horas aprendendo sobre etiqueta, como manter a postura à mesa, como preparar um jantar digno de grandes eventos e como agir ao lado de seu futuro esposo, como uma mulher que deveria ser respeitável, calma e submissa.

Era um mundo de formalidades, regras e pressões silenciosas, onde a felicidade pessoal de Scarlett parecia ser ofuscada pelo que ela deveria ser aos olhos da sociedade.

Enquanto Antonela era uma boa aluna, não se contentava com o mundo de convenções em que se via inserida. Ela se entregava aos livros, ao aprendizado.

Nas férias, enquanto Scarlett se preparava para os jantares e compromissos que definiriam seu papel, Antonella mergulhava em estudos, buscava a compreensão mais profunda do mundo, algo além das rígidas limitações de sua classe e de seu destino.

Enquanto sua irmã se transformava em uma imagem idealizada de esposa, Antonella sentia-se aprisionada entre os limites do que se esperava de uma mulher, mas sua mente sempre almejava mais, até que aos dezessete anos, após a sua aprovação no vestibular, a sua inscrição fora acolhida na primeira seleção na Università Bocconi.

Renomada faculdade em Milão.

Sendo afastada de sua família, embora, todos os finais de semana o destino fosse o mesmo, San Marino, dedicando-se aos estudos também em casa.

Era terça-feira, quando a notícia chegou, ainda sentada numa cadeira na cantina da Bocconi, Antonella sentiu as lágrimas escorrerem por seu rosto, suas mãos tremiam.

Um vazio em seu peito, se abria, seu tio Giuseppe, havia partido para sempre, a imagem de poder, controle e ascensão em sua mente se dissipava. San Marino e cidades vizinhas mergulharam num luto.

Temporário.

Embora, isso fosse o sinal de uma nova era, nada aconteceu, Giovani Ferreti para casa não retornou, os esforços do consigliere Pablo Bellini, o advogado eram demasiados, os pedidos de Irina Ferreti se arrastavam em ligações constantes, ao ponto de tornarem-se ameaçadoras.

A Cosa Nostra di Velenzi não tinha um don.

Sem uma mão de ferro sobre os negócios, Irina com o apoio de Pablo até tentaram, mas ninguém possuía a capacidade de Giuseppe Ferreti, ele, era um homem de negócios.

Somente para eles...

A cidade de San Marino, ganhava contornos diferentes, rostos novos, com a morte do Don Giussepe, que embora fosse o símbolo de uma organização criminosa, a ordem era mantidacom excelência em sua existência, sem ela, a violência aumentava, se tornava barbara, roubos, furtos constantes, sequestros além de abusos a mulheres, assassinatos.

A cidade se tornava símbolo de insegurança a cada dia, a cidade bela e pacata de San Marino tornou-se um lugar caotico, desgovernado, e assim se arrastou por meses, um, dois anos, ia para o terceiro, todos se viam desesperados, o governo não fazia muito pela cidade, logo aquela que sempre pertenceram aos milionários, que pouco se importavam com politica.

                                                             ****

A manhã de sexta-feira, passava calma, sem barulhos externos, nada acontecia em casa, Antonella  mais uma vez estava imersa nas páginas de um livro novo sobre direito, debruçada sobre o tapete na sala de estar, tentando encontrar alguma paz no meio das férias do sexto período na faculdade.

O tempo passava lentamente, e ela se perdia entre os termos e os conceitos jurídicos, como se cada página fosse um pequeno refúgio da vida cotidiana.  A leitura se tornava sua maneira de escapar, preencher o vazio das férias, que de outra forma seriam monótonas, até que começasse o estágio, ela não via a hora disso acontecer.

No entanto, o ambiente tranquilo da sala foi interrompido por gritos agitados que vinham da escada. Antonella franziu a testa, percebendo que Scarlett estava em um estado de alvoroço.

A jovem de cabelos loiros platinados, em seus saltos bege corria pelos degraus, seu rosto marcado pela excitação e seus olhos azuis brilhando como se estivesse à beira de uma revelação, Antonella já não a via a muito tempo assim.

— Ele está vindo! Ele está vindo! — A voz de Scarlett soava cada vez mais alta e desesperada, seus gritos se tornando mais intensos à medida que se aproximava.

Antonella interrompeu a sua leitura, fechando o livro, a curiosidade crescente tomando conta de si. O que estava acontecendo?

Scarlett finalmente chegou à sala, quase sem fôlego, mas com o sorriso iluminando seu rosto, como se a mera menção de "ele" fosse suficiente para arrancar a felicidade de seu coração. Antonella, agora com um sorriso, ergueu uma sobrancelha, tentando entender a situação.

— Ele está vindo, irmã, ele está voltando! — Scarllet exclamou, os olhos azuis brilhando, como se estivesse falando sobre um herói que retornava para salvar o dia.

Antonella não pôde deixar de sorrir, um sorriso pequeno, mas cheio de uma emoção silenciosa, talvez de antecipação ou até mesmo de um toque de diversão pela agitação de sua irmã.

Embora Antonella não entendesse completamente o motivo de toda aquela excitação, um novo ânimo tomou conta dela.

E, embora ela tentasse manter a compostura, a ideia de que algo novo estava chegando a fez parar de lado a monotonia de seus estudos, abrindo um espaço para a expectativa e a curiosidade.

— Quem está voltando, Scarlett? — Antonella perguntou, com um tom de voz que misturava o interesse com um toque de diversão, deixando claro que ela estava pronta para saber o que gerava tanto alvoroço.

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