A alegria de Scarlett era efêmera, se dissipando à medida que o dia avançava. Ao ouvir que a viúva Ferreti, Irina, logo se juntaria à sua irmã, Antonella sentiu um peso sobre os ombros. Ela sabia que as tensões na casa Bellini estavam longe de se acalmar.
Como de costume, Antonella pegou seu livro, o guardou na bolsa e, sem ser notada, saiu em direção a um lugar que conhecia bem: a praia.
Caminhar pela orla sempre lhe trazia uma sensação de tranquilidade que nada mais parecia oferecer. Naquela tarde, a ideia de caminhar até o café na praia parecia a melhor escolha, uma oportunidade para se afastar um pouco da tensão que sempre rondava sua casa.
Irina Ferreti, a viúva do antigo Don, havia se tornado um espinho em seu coração. Antonella não a suportava. E a viúva, por sua vez, deixava claro, com sua postura e atitudes, que Antonella e sua presença na família Bellini não tinham valor algum.
Antonella se opunha a cada movimento de Irina, principalmente no que dizia respeito à educação de Scarlett. Enquanto Irina tentava moldar a vida da irmã mais velha de acordo com as regras rígidas da Cosa Nostra, Antonella acreditava que Scarlett merecia algo mais, algo próprio, algo que fosse dela, sem as correntes do legado da família Ferreti.
Ela queria para Scarlett a liberdade de estudar, de ter uma vida própria, longe das imposições do casamento e do peso de sua linhagem. Para Antonella, era inconcebível que sua irmã fosse jogada no mesmo destino de submissão ao qual as mulheres de sua família, como Irina, estavam condenadas.
Mas cada palavra de Antonella parecia apenas enfurecer ainda mais Irina. A dama negra da Cosa Nostra di Velenza não tolerava a resistência de Antonella, e a tensão entre as duas se intensificava a cada encontro.
Naquela mesma tarde, Irina Ferreti se preparava para mais uma visita à residência dos Bellini. O chá, uma cerimônia aparentemente simples, era mais um momento de obrigação para Elena Bellini do que um gesto de cordialidade. Elena já não suportava as visitas repentinas de Irina, mas, como futura sogra da filha mais velha, Scarlett, sentia-se na obrigação de tolerar sua presença, ainda que o rancor crescesse a cada encontro.
Enquanto isso, dentro da casa dos Bellini, Scarlett, no conforto do sofá, também não conseguia se concentrar. A alegria que ela sentira com a chegada de seu noivo, ainda nas semanas vindouras, estava sendo abafada pelas tensões familiares.
O fato de seu futuro marido vir tão em breve parecia uma promessa de mudança, mas também uma razão para mais expectativas e, quem sabe, pressões. Embora ela estivesse ansiosa, algo lhe dizia que o futuro seria mais complicado do que imaginara.
Do lado de fora, enquanto os ventos salgados da praia acariciavam Antonella, um avião se aproximava. Não era um voo qualquer, mas um momento que mudaria o curso das coisas. Um homem de estatura alta, a pele bronzeada e os cabelos escuros com um brilho azulado, estava prestes a desembarcar.
O tempo passava sem que Antonella percebesse. As palavras fluíam diante dos seus olhos, enquanto a mente trabalhava sem parar, como sempre acontecia quando se deixava envolver em seus pensamentos. A praia lá fora, o som suave das ondas, e o calor do café se misturavam à sua solidão, ao vazio que ela sentia dentro de si. Quando finalmente levantou os olhos das páginas, o mundo ao seu redor a despertou de seu transe. A noite já havia se estendido, as últimas luzes do dia sumindo lentamente no horizonte. O lugar estava totalmente vazio, com os funcionários começando a arrumar as mesas para fechar. O garçom se aproximou de sua mesa, seus passos silenciosos no chão de madeira. Ele parecia hesitante, como se sentisse culpa, por interrompe-la. Quando Antonella olhou para ele, seus olhos cruzaram, e ele murmurou suavemente: — Senhorita... A expressão no rosto do garçom não passava despercebida. Ela olhou rapidamente para o relógio, um susto apertando seu peito ao perceber que já passava
Enquanto Antonella andava, chegando a porta de casa, sob os olhares de Domênico. Giovani Ferreti caminhava em direção ao bar, em que sempre vira seu pai entrar, ele sempre quiserá estar naquele bar, quando garoto, porém, todas as vezes que veio, seu pai, nunca o levava com ele.Antoni ao seu lado desta vez, sentia-se contrariado, Giovani havia lhe dito que viria a negócios, mas agora, buscava por diversão? Dentro do primo havia medo, duvidas, sobre a vinda de Giovani a este lugar, por ele, seu parceiro nunca poderia abandona-lo. Giovani Ferreti avançava com passos firmes em direção ao bar, sentindo a familiaridade do lugar envolvê-lo, como se as memórias de sua juventude o consumissem.O local, embora já desgastado pelo tempo, ainda exalava aquele cheiro inconfundível de mistério e poder, um refúgio de negócios e segredos. A porta de madeira escura estava entreaberta, e ao atravessar o umbral, Giovani sentiu uma onda de nostalgia misturada com uma certa repulsa.Mais mulheres semi-nua
O La Trattoria del Vento já não tinha a mesma atmosfera que Giovani lembrava. O ambiente, antes acolhedor, agora exalava desconfiança, especialmente para os turistas que ousavam entrar ali. Ele e Antoni se sentaram, sentindo os olhares pesados e desconfiados daqueles que frequentavam o lugar. O clima estava tenso, quase palpável, e não havia dúvida de que algo estava errado.A ruiva que os havia recebido na entrada se aproximou apressadamente de um homem sentado no sofá, rodeado por outros homens e mulheres. Giovani sentiu o peso do olhar do homem careca, de terno bege, que os observava com uma atenção especial. Sua expressão era séria, como se os analisasse em cada movimento. A ruiva disse algo ao homem, algo que claramente envolvia os dois, e, após ouvir, o homem retirou a mão que estava próxima de uma pistola, mas seu olhar ainda permanecia fixo em Giovani.Antoni, percebendo a tensão, foi o primeiro a quebrá-la. Com as mãos erguidas, tentou amenizar a situação:— Estamos em paz, am
Um novo dia começava, trazendo com ele a luz suave que invadia as janelas, iluminando o quarto de Antonella. Ela despertou lentamente, os olhos ainda pesados, tentando se ajustar à realidade do novo dia. Não imaginava que, no andar de baixo, sua família já estava reunida, e que uma presença peculiar estava prestes a mudar o curso da manhã.Após um banho rápido, Antonella se ocupou em arrumar seu quarto. As mãos se moviam mecanicamente enquanto seus pensamentos estavam longe outra vez. Quando finalmente desceu as escadas, com poucos tilintar de xícaras, parecia ser o único som. — Bom dia família! — Ela desceu os degraus sorridente, seu rosto lavado, usando um vestido florido folgado e o cabelo preso num coque simples. O som suave dos seus pés no chão de madeira contrastava com o silêncio pesado que se fazia na casa.Quando chegou à sala de refeições, ficou parada na entrada, surpresa ao ver que não estavam apenas seus pais à mesa. Sua irmã, Scarllet, sempre tão radiante, estava ali, m
Enquanto aguardava seu irmão descer, Antoni sentia que aquele não era o lugar adequado para ambos. Mulheres se aproximavam, ignorando a aliança de noivado no dedo dele, acariciando-o e sussurrando em seu pescoço.Até que o alívio repentino o tomou. — Ah! até que fim! — Ele se afastou rapidamente, tentando se livrar dos toques indesejados.Foi então que viu o homem de pouco mais de um metro e oitenta, com cabelos escuros lisos pouco banguçados, e pele bronzeada, descendo os degraus e ajustando a camisa. Giovani se sentiu aliviado temporáriamente, sorriu para o homem com quem foi criado. Após pagar a conta, os dois se dirigiram para a saída, sem imaginar que, na sala ao lado, um homem careca e cheio de tatuagens aguardava informações sobre eles. Porém, a mulher que havia destinado para fazer isto, estava demorando.Ao subir o quarto, encontrando-a na cama, ainda nua, sentiu-se aliviado.Aquele homem não lhe oferecia perigo, era apenas um estrangeiro, Moretti, gostou do que ouviu, mas n
— Estamos nas mãos deles, querida. Nunca vi a Irina tão receosa, com medo. — O pai finalmente admitiu, deixando cair a fachada de controle. — Desde que nos conhecemos, não sei se a morte do Giussepe a deixou assim, mas até eu tenho ligado várias vezes para o Giovanni. Ela tem me pedido, cobrado para ligá-lo. Estamos dependentes dele, de um cérebro, por mais que eu tenha estado ao lado de Giussepe todos esses anos...— O senhor é apenas um consigliere, pai. — A filha disse, com a dureza da verdade, e ele assentiu, parecendo ainda mais desolado.— Não adianta pensar, filha. É preciso ter uma mente forte, uma mão forte à frente de tudo isso. Os anos passaram, a criminalidade aumentou. Temos inimigos de vários lados... — Ele ergueu os olhos para Antonella, e algo inédito apareceu em seu olhar, era saudade do seu amigo, Giuseppe.— Estou com medo, Ella. Tenho medo do amanhã, medo de... — Ele não terminou, mas Antonella, o entendeu. Ela, a mais nova das filhas Bellini, não precisaria ser um
Os italianos sempre foram conhecidos pela sua resistência a estrangeiros, e Giovanni sabia disso perfeitamente ao sentir a pequena bolsa ser tirada de seus dedos com uma brusquidão.Seria isso o que ele se tornara? Um estrangeiro. Ele se perguntou, seus olhos fixos na mulher à sua frente. Embora ela fosse indiscutivelmente bela, Giovanni já estivera em Seattle e visitado outros lugares onde encontrou mulheres ainda mais deslumbrantes.Antonella tinha traços encantadores, mas não era uma beleza arrebatadora.Esse título sempre foi atribuído à sua irmã mais velha, e, desde que passou a viver sob os cuidados da viúva dos Ferreti, esse adjetivo parecia ter sido concedido somente aquela mulher da família, Scarlett, era vista, como quase uma divindade, um anjo.Seus cabelos longos quase brancos conferiam-lhe um charme peculiar, tão encantador quanto seus olhos azuis penetrantes. O rosto era uma verdadeira obra de arte, esculpido com perfeição. O nariz, bem delineado, exibia uma curvatura fin
Enquanto realizava compras com Serena, Antonella ainda lembrava da conversa com seus pais mais cedo, sentindo-se culpada pelo que poderia acontecer com Scarlett. Giovani era, para Antonella, um verdadeiro dilema. Se ele não voltasse, sua irmã poderia sofrer de amor rejeitado. Essa rejeição parecia óbvia, por ele não ligar para ela.Mas e se ele voltasse sendo um tipo de homem apaixonado por alguma estrangeira e não correspondesse aos sentimentos de sua irmã? Isso a perturbava de uma maneira que não suportava, desabafando com Serena, que compartilhava do mesmo pensamento.Enquanto isso, Scarlett, já em casa, parecia flutuar em um estado de felicidade que poucos poderiam entender. O vestido branco que usava, com amarrações delicadas que destacavam sua figura, juntamente com os cabelos loiros soltos, parecia refletir a pureza de seus sentimentos.Ela olhava para o carro que partia com os olhos de quem estava prestes a realizar seus maiores sonhos, o sorriso grato no rosto. Sua futura sogr