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3° capítulo — Amigos?

[Carol]

Andamos pela rua sem destino, até eu ter a ideia de ir ao parque. Ele concordou e seguimos para lá. Quando chegamos, tinha um degrau da rua para a parte da grama do parque, consegui tropeçar ali e machucar o pé.

— Ai! — resmunguei enquanto tirei o sapato. Meu dedo estava sangrando!

Que droga! Porque essas porcarias entram na minha frente? Tudo me faz tropeçar, até mesmo o vento... Agora estou sentada na calçada com o dedão do pé cheio de sangue. Ah! Não sei como ele aguenta, quando a pele cresce de novo eu consigo machucar outra vez. Meu corpo tem todo o trabalho de construir tudo ali e eu estrago na primeira oportunidade.

Estava reclamando e xingando tudo ao meu redor quando olhei para o lado e vi o Erick pegando alguma coisa com o cara do cachorro-quente. Ele voltou para onde eu estava.

— Toma, limpa isso. — Me entregou um guardanapo. Peguei da mão dele e coloquei no dedo.

— Vai ter sorte assim na casa do cacete! — falei irritada e ele riu. — Acho melhor você sair de casa de armadura daqui pra frente.

Continuamos andando quando parou de sair sangue. Paramos na grama, debaixo de uma árvore e nos sentamos. Conversamos bastante, ele era um menino legal, apesar de andar comigo.

Preciso dizer que na volta para casa eu caí de novo? Ai que mico! Na hora de subir as escadas do prédio, tropecei e caí de quatro ali. Eu não sei porque o azar me procura... E o Erick é tão fofo que não riu de mim como o Fabrício faz, me ajudou a levantar e perguntou várias vezes se não tinha me machucado. Falei que não, mas com certeza ele ficou perguntando devido ao roxo que ficou no meu joelho. Eu nem percebi isso, mas também, já estou acostumada.

****

Passou um tempo depois que o conheci. Eu e o Erick, viramos grandes amigos apesar de às vezes eu quase matá-lo com meu azar, mas ele não parecia se importar com isso. Na verdade, ria bastante.

Desde que o Erick chegou, o Wallace nunca mais implicou comigo, bom, só uma vez quando o Erick faltou à aula e ele me irritou por causa disso e a gente só trocou uns socos e eu ganhei uma suspensão de dois dias, mas isso não é nada, né?

Estava em mais um dia entediante de aula quase dormindo como sempre, esperando a hora do recreio e ela finalmente chegou! Ah! Como é doce o barulho do sinal da escola, mesmo sendo do recreio.

Eu e o Erick fomos os últimos a sair da sala. Estávamos indo para o recreio e quando chegamos à escada, caí. Rapaz qual o problema da escada comigo? Mentira, o problema sou eu mesmo. Tropecei no meu pé e saí rolando as escadas. Lembro de ver tudo rodando e sentir uma dor terrível na cabeça. Depois ver o Erick me mostrando sete dedos. Como ele fazia isso? Me mostrou apenas uma mão! Fiquei assustada, é sério...

Quando voltei a mim, ele me ajudou a levantar e sentar no banco.

— Você está bem mesmo? — Tinha um olhar preocupado. Espera... Ele está segurando minha mão?

— Estou bem... — Mentira estava com uma dor de cabeça penetrante.

— Tem certeza?

Acho que eu não sei mentir muito bem. Concordei com a cabeça e senti os lábios dele nos meus. Sim, ele me beijou. Mas que porr* é essa? Quando ele fez isso, senti um frio na barriga, uma sensação estranha...

Quando nos separamos, eu não sabia o que fazer e saí correndo dali. Eu sei, podem dizer que eu fui infantil, mas ele me assustou, não imaginava que fosse fazer isso comigo. Logo comigo? Ele deve estar louco.

Saí correndo para o lado de fora e fiquei no meu buraco preferido pensando e me castiguei por sair correndo. Como eu sou idiota!

Meu buraco é bem aconchegante, sabe? É um lugar no fim do colégio onde ninguém vai. Chamo de buraco porque era quase uma toca de coelho grande. Sempre ficava lá dentro me escondendo da escola. Não quis voltar para a sala quando o sinal tocou. Estava com vergonha, não porque ele me beijou, mas sim porque eu corri. Como sou imbecil!

Acho que vou morar aqui, sabe? Não tenho cara para sair. Como vou fazer? Posso me esconder agora, mas ele mora ao lado da minha casa! É impossível se esconder.

Perdida em meus pensamentos, ouvi passos. Quem descobriu meu esconderijo?

— Ah você está aí.

Olhei pra cima e o vi. Droga por que foi achar meu esconderijo?

— Some daqui, perturbação! — falei para o Wallace que me olhava com as mãos na cintura.

— Sai daí logo garota!

Coitadinho está achando que manda em mim?

— Vou sair quando eu quiser!

Ele sorri. Que garoto irritante! Espera... Ele está... Descendo aqui? Está brincando comigo, né?

Não era brincadeira, ele desceu. Como se atreve a entrar no meu buraco?

— Não vê que está apertado aqui? — perguntei irritada.  Ele estava sentado de frente pra mim. Logo levantou e sentou ao meu lado. Qual o problema desse cara?

— Melhorou?

— Vai embora.

O olhei de lado e ele não parava de me olhar. O que essa peste quer?

Ele respondeu a minha pergunta quando se atreveu a colocar as mãos no meu rosto e me beijar. Mas que droga está acontecendo hoje? Diferente de com o Erick eu reagi. Esquentei minha mão na cara dele, deve ter doido bastante, porque minha mão ficou bem vermelha.

Saí do buraco soltando fogo pelas orelhas e desci rápido, quando cheguei perto do portão da escola, Erick estava parado nele com minha mochila na mão. Que ótimo! Se você sabe o que é ironia né? Agora já está feito e vou lá, até porque aquele idiota está vindo atrás de mim bem irritado e eu estou com tanta dor de cabeça que uma briga agora, eu perderia na certa. 

Quando cheguei um pouco mais perto do portão, Erick me olhou, mas eu comecei a ver tudo embaçado...

 [Erick]

Nossa, até eu estava querendo dormir nesse dia, a aula estava bem chata. Quando o sinal tocou, Carla fez um sinal de glória com os braços, ela é terrível. Saímos da sala para ir ao pátio e ela caiu da escada, não sei como conseguiu isso, mas conseguiu. Desci correndo quando a vi caída no fim da escada desmaiada, mexi em seu rosto e a vi abrindo os olhos. Perguntei quantos dedos tinham na minha mão mostrando os cinco e ela respondeu sete. Não estava bem e estava na cara.

Quando vi que estava mais lúcida, a ajudei a levantar e sentamos no banco. Eu via que tinha alguma coisa errada, mas ela não me contava o que era.

De uns tempos pra cá, não sei o que está acontecendo comigo, esse jeito doidinho e atrapalhado dela, me chamou bastante atenção. Gosto muito de ficar com ela, nos tornamos grandes amigos. Às vezes ela me assustava com algumas coisas, mas nada terrivelmente assustador. Só um pouquinho... Mas não sei, nunca senti tanta vontade de ficar com uma pessoa como sinto de ficar com ela.

Me vi tão perto que a beijei... Sei que foi repentino, mas fazer o quê? Ultimamente ela tem mexido comigo de uma maneira que nem eu entendo. Ver ela tão próxima e frágil me tirou de mim. Mas ela correu. Será que a assustei?  Procurei por toda a escola e não a achei. Será que foi embora e deixou as coisas na sala? Do jeito que era louca, poderia dizer que sim. Droga! Não poderia ter feito isso!

Se não quiser mais falar comigo depois disso?

Ela não apareceu para a aula, perguntei ao moço do portão e ele não a viu saindo, então está na escola e não saio daqui sem ela! Quando bateu o sinal para ir embora. Peguei minhas coisas e as dela e fui para o portão.

Um tempo depois a vi se aproximando, parecia perturbada. Nossa foi tão ruim assim meu beijo? Fiquei olhando ela chegar, estava vindo rápido e logo começou a andar devagar. Não entendi nada, ela veio andando, colocou um pé na frente do outro e caiu no chão. Na hora achei que fosse normal porque ela cai mesmo, mas quando vi que caiu e ficou, corri pra ela virando-a de barriga pra cima e estava desmaiada! Fiquei desesperado e vi o Wallace correndo para dentro da escola. E logo a diretora veio correndo com ele. Começou a juntar aquele monte de curiosos em volta e a diretora me pediu para pegá-la e colocar no carro dela para levá-la ao hospital.

Estava no banco de trás do carro com Carol nos braços, apavorado e a diretora nos levando ao hospital. Chegando lá eu a peguei e a gente entrou com ela. Os médicos a colocaram em uma maca e a levaram para dentro. Fiquei na sala de espera e a diretora foi resolver os assuntos com o hospital. Afinal de contas, Carol passou mal dentro da escola então é responsabilidade dela. Um tempo depois a diretora se juntou a mim. Que espera agoniante...

— Aconteceu alguma coisa com ela, Erick? — perguntou a diretora me vendo batucar a cadeira de nervoso.

— Bem... Ela caiu da escada.

Ela arregalou.

— Por que você não me avisou?

Eu sou um monstro, eu sei...

— É porque ela estava bem.

— Ela deve ter batido a cabeça!

Ótimo! Me sinto bem melhor agora, obrigado.

— Mas ela não reclamou de nada.

Ficamos em silêncio na sala. Até que um médico veio em nossa direção e disse que ia ter que fazer uns exames em Carol, porque ela disse que estava com muita dor de cabeça e que tinha caído da escada. A diretora me olhou, me fuzilando.

— Preciso da autorização dos familiares dela.

— Vou avisar agora mesmo. — disse a diretora pegando o celular. Ela tem o número do Fabrício no celular?

Minutos depois, o Fabrício chegou.

— O que foi agora? — ele estava bem nervoso. O médico disse que teria que fazer um uma ressonância magnética em Carol porque ela tinha batido a cabeça. Fabrício concordou e o médico entrou.

Ficamos esperando. Um tempo depois ele voltou. Dessa vez com a Carol. Eu estava sentado no banco roendo as unhas de nervoso e quando o vi voltando com a Carol, levantei rápido olhando ela com preocupação, estava pálida.

— O que ela tem? — Fabrício perguntou. Mexia as mãos freneticamente.

— Constatamos um pequeno coágulo na cabeça dela, mas não se preocupem, como é pequeno, com remédios ele se dissolve. — Entregou um papel a Fabrício — Os remédios que ela vai ter que tomar. — Ele explicou tudo que ela teria que fazer e o dia que teria que voltar lá. E fomos embora.

Ela e o Fabrício foram para casa e eu para a minha. Não vou falar nada sobre o beijo hoje, ela precisa descansar.

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