Depois da briga, tanto eu como Aura ficamos alguns dias em casa. Apesar do choque inicial, Tia Victoria insistiu que nós precisávamos de um descanso, e ela não estava errada. Apesar dos meus pais estarem muito menos irritados, as coisas na minha casa ainda estavam um pouco estranhas e na casa de Aurora não era diferente. Além do clima tenso e pesado que a volta de Theo gerou, Evangeline e eu estávamos estranhos, estranhos demais. A irmã de Aurora mal me olhava, me ignorava boa parte do tempo e eu não conseguia entender o porquê dela estar chateada, mas sabia que aquilo não era só por causa da briga. Então, decidi deixar que Eva viesse falar comigo quando estivesse pronta, apesar de estar me corroendo por dentro, completamente nervoso com a possibilidade da garota que eu gostava de verdade decidir nunca mais falar comigo de forma decente, já que tudo o que trocamos nos últimos nove dias se resumiam a cumprimentos secos e sem vida. — Será que você pode pelo menos fingir que gosta d
DANTE Quando a semana seguinte chegou, a primeira pessoa que vi foi Clay. Enquanto eu seguia para meu armário, o vi caminhando em minha direção, já quase que completamente curado dos hematomas que, com certeza, a briga havia deixado. Ele parecia muito à vontade, mesmo que o assunto “briga” ainda fervilhava pelos corredores. O vi acenar para mim e, quando achei que ele passaria direto, o capitão do time de basquete parou ao meu lado, se encostando no armário que havia à minha direita e suspirando. O encarei por alguns minutos, percebendo a indecisão estampada no rosto dele e suspirando, não entendia o porquê dele desconfiar tanto de mim. — E aí — Clay começou, acertando um soquinho em meu ombro. — Queria falar com você, podemos ir lá fora? Acho que te devo explicações. O capitão parecia tímido e sem jeito, pela primeira vez, estava vendo os traços da pessoa tímida que todos diziam que ele era. Suspirei pesadamente, encarando-o por alguns instantes antes de indicar a saída com
AURORA Voltar à escola foi mais tranquilo do que achei que seria. Sabia que as fofocas ainda estavam rolando, que todos ainda estavam comentando sobre o que aconteceu no baile, mas não me importava mais, Theo não apareceria de novo e eu ficaria bem, com toda certeza eu ficaria bem. Mal prestei atenção nas aulas, estava aérea e distraída, então, mal percebi o tempo passar. Quando o sinal soou, avisando que era hora de ir para casa, não demorei a sair ainda recebia alguns olhares e, apesar de todos se esforçarem para fingir que nada estava acontecendo, eu sabia que todos estavam curiosos. Uma curiosidade que se arrastava desde o primeiro ano. Segui pelas escadas e caminhei em direção ao meu armário, enfiando meus livros lá dentro e pegando minha bolsa, colocando-a nas costas e batendo a porca com certa força, me virando somente para encontrar Dante atrás de mim, algo que me assustou. — Caralho! O que está fazendo atrás de mim como se fosse um fantasma? — perguntei, meio mal
— Aurora! — A voz de Evangeline, que agora me parecia extremamente irritante, me obrigou a abrir os olhos. — Aurora, acorda! — Ela chamou novamente, batendo insistentemente na porta do meu quarto, me fazendo cobrir a cabeça com a grossa coberta e afundar meu rosto nos travesseiros.Evangeline era minha irmã mais nova e, apesar da sua idade, costumava ser muito madura. Na maioria das vezes, era madura demais. Tinha somente quinze anos, porém, às vezes, parecia que ela era a mais velha e eu a adolescente.— Você vai se atrasar. — Ouvi um suspiro do lado de fora, provavelmente ela estaria passando as mãos nos cabelos agora, irritada com a minha demora. — Não vou te chamar mais. — O som de seus passos foi ficando cada vez mais distante, até que tudo ficou silencioso novamente, então me levantei. Esse era o nosso ritual matinal, ela vinha me acordar todos os dias, eu me recusava a levantar, ela ia embora e só então eu me levantava. Saí de baixo dos cobertores a contragosto, o clima estava
Meu pai abaixou o jornal, sorrindo para mim e voltando a ler. Ele nunca foi um homem de muitas palavras, o senhor Becker expressava as coisas da forma dele. Normalmente era bem quieto, talvez fosse culpa de sua profissão, ele escutava tanto as pessoas, que talvez isso tenha o deixado muito introvertido. Assim como minha mãe, ele era conhecido e renomado, mas como psicólogo. Os dois eram o casal perfeito e costumavam trabalhar juntos, haviam até lançado um livro há algum tempo. Costumavam fazer longas viagens durante o ano, então, momentos como esses não eram tão comuns. — Achei que ia casar, gracinha. — Olhei para o fogão e vi Clay com um pedaço de pão a caminho da boca e um sorriso despojado.Ele era meu melhor amigo, todos os dias vinha me buscar em casa para irmos para escola e sempre chegava mais cedo para tomar café com minha família. Sentia como se o conhecesse desde sempre, porém, não era bem assim. Nos conhecemos quando eu tinha nove anos e ele oito, Clay foi se consultar com
— Diferente de você, Aurora, seu amigo é pontual — provocou Eva, rindo enquanto terminava seu café. — Agora anda, não quero me atrasar por sua causa, de novo. — Ela revirou os olhos para mim, ajeitando a mochila sobre os ombros.— Calada, praga — falei para minha irmã, rindo em seguida e recebendo um olhar de reprovação da minha mãe. — É só um apelido carinhoso mamãe — disse, observando dona Victoria unir as sobrancelhas e me encarar com desconfiança por alguns instantes.Evangeline sempre ia conosco para a escola e normalmente, ela se atrasava por isso. Eu nunca fui uma pessoa muito pontual. Ela odiava minha falta de talento e vontade de seguir os horários, mas como tinha uma “quedinha” pelo Clay desde que começou a se interessar por garotos, o que não tinha muito tempo, valia o esforço e o estresse.— Sua irmã tem razão — Clay falou, tomando seu último gole de suco e ajeitando sua mochila nos ombros, enquanto eu bebia sem pressa uma xícara de café. — Precisamos ir.— Que foi beija-f
AURORAAs garotas falavam todas juntas, e eu não entendia nem dez por cento do que elas queriam realmente dizer. Clay me olhava e ria da minha desgraça, mas logo fez uma careta ao ser arrastado por um grupo de garotos. Os meninos me deram um bom dia em um coro meio desorganizado e levaram meu amigo para longe. Voltei a prestar atenção nas garotas, olhando-as enquanto conversavam, falando algo sobre alunos novos, festas e sobre os acontecimentos do fim de semana. Seguimos pelos corredores e, enquanto eu caminhava em direção ao meu armário, o grupo de meninas tagarelava sobre o baile e sobre como estavam ansiosas para o evento. Claro que aquele assunto renderia conversas para toda a manhã, por sorte, logo o sinal tocaria e todas nós precisaríamos ir para nossas respectivas salas, o que era um grande alívio no momento.— Aurora! — Ouvi uma voz bem conhecida me chamar, me virei para poder olhá-la e, como sempre, ela estava completamente exagerada.Quem usa um salto tão fino às oito da ma
Sharon e Dillam eram o típico casal de status. De longe percebia-se que o relacionamento deles era tóxico, para ambos, na verdade. Poucos sabiam, mas Sharon abdicava de muitas coisas para estar ao lado de seu capitão e manter sua posição social na hierarquia escolar do Saint’s Paul. Eu só não entendia o porquê disso tudo, afinal, em breve o colegial não vai passar de uma mera lembrança divertida ou traumática. — Claro — falei, forçando um sorriso. — Resolveremos tudo antes da sua festa. — Tinha vontade de correr, minha primeira aula logo começaria e minhas conversas com Sharon nunca eram as mais saudáveis. — Tenho que ir agora — falei para a garota, tentando não soar rude demais ou muito apressada.— Até mais, querida — ela disse, beijando minhas bochechas novamente, se afastando e seguindo para um grupo de garotas que vinha logo atrás de mim. — Merda! — resmunguei ao olhar no meu relógio e perceber que estava quase dez minutos atrasada.Corri até meu armário jogando minhas coisas