A assassina
A assassina
Por: Satila Sousa
PROLOGO

A música ecoava pelas paredes grosas, as luzes brilhavam em tons de vermelho, azul e verde, na pista de dança as pessoas se apertavam e moviam-se no ritmo das batidas.

- Hoje a casa está cheia. – Laila grita para ser ouvida.

- E a noite mal começou. – digo desanimada enquanto pego as bebidas e as entrego para os clientes no balcão.

- Se anima, noites assim rendem muitas gorjetas. – minha amiga responde animada.

- Só se for para você. – encaro seu enorme decote V e reviro os olhos.

- Não faz mal deixar que olhem. – ela dá de ombros. – Você deveria tentar, sua roupa é muito comportada para quem trabalhar no bar.

- Não quero nenhum idiota achando que tem direito de fazer alguma coisa só por causa da minha roupa.

- É para isso que temos eles. – sigo seu olhar até os homens de terno nos cantos da boate, olhos atentos e sérios observando tudo a procura de alguma confusão.

- E o que virou aquele lance com o Luís? – pergunto focando em um dos seguranças em particular.

- Você sabe como ele é, quer ter uma namorada, casar e criar uma família. – ela suspira. – Eu não sirvo para isso.

- Você nem tento Lai. – coloco uma mão sobre seu ombro e lhe olho com carinho.  – Ele é um cara legal. – entrego o copo com vodka para um homem alto de olhos escuros profundos e magnéticos, ele acena e sai sem dizer nada. – Um obrigado seria o bastante. - reclamo em voz baixa.

- Eu não quero machucar ele. – sua voz sai triste e pesada, resolvo não insistir no assunto.

Copo após copo, cliente após cliente, a boate vai enchendo cada vez mais, as meninas correm de mesa em mesa tentando atender todos, atrás do bar as coisas ficavam caóticas.

- Preciso de um ar. – grito quando percebo que o movimento diminui.

Encolho meu corpo na blusa grossa assim que saio pela porta dos fundos para o beco, o vento gelado atinge minhas pernas descobertas.

- Odeio esse vestido. – reclamo pela roupa impropria para o tempo. Respiro fundo, me encosto na parede e vejo a fumaça sair por minha boca. – Que frio.

- Vamos levar você para outro lugar. – olho na direção da rua e vejo dois homens conversando animados com uma mulher.

- Vão me levar para onde? – ela pergunta com a voz embargada.

- Para um lugar onde podemos continuar com a diversão. – o outro responde animado.

Eles passam por mim sem perceber minha presença. “ Isso não é da sua conta Camille.” Digo para mim mesma.

- Vocês são amigos do meu irmão? – a moça pergunta confusa.

- Isso mesmo. – um deles responde com pressa olhando desconfiado para os lados.

- Eu não conheço vocês. – a mulher para por um segundo encarando com atenção os homens.

- Amiga, eu saio por um minuto e você já arruma confusão. – digo em voz alta saindo do beco e parando ao seu lado. – Desculpe rapazes, ela sempre fica assim quando bebe muito. – dou um sorriso amarelo e pego na mão dela. – Vamos voltar, os meninos estão te procurando. – ela me encara assustada.

- Camille. – meu nome sai de seus lábios com alivio.

- Vem Mel. – digo em voz baixa. – Vou levar você para dentro.

- Ela veio com a gente. – o homem mais baixo reclama segurando meu braço.

- Obviamente ela não sabe quem vocês são. – o encaro com nojo.

- Como você mesmo disse, ela fica confusa quando bebe muito. – um sorriso frio se abre em seus lábios finos.

- Isso não lhes da o direito de leva-la.

- Ela quis. – o outro responde com raiva.

- Que tal você vir também? – o homem baixo da um passo na minha direção segurando meu braço com força.

- Me solta.

- Não vai adiantar nada você gritar, estamos muito longe dos seguranças. – olho pela rua vazia a procura de alguém.

- Vou ter que acabar com vocês então.

- Cami... – Melissa ainda estava assustada e grogue pelo seja lá o que aqueles homens tinham dado a ela.

- Vai ficar tudo bem. – tento tranquiliza-la.

- Você vai fazer o que? Jogar os sapatos em mim? – a risada grossa do homem arranham meus ouvidos.

- Eu vou matar você se não tirar esses dedos nojentos de mim agora. – ele me encara surpreso por alguns segundos.

- Gostaria de ver você tentar, vadia.

Sinto o impacto da sua cabeça na minha assim que o certo, ele cambaleia para trás sem equilíbrio.

- Você vai morrer. – ele grita furioso, o rosto manchado de sangue.

- Duvido muito. – me coloco na frente de Melissa que parecia assustada e paralisada.

Com raiva o homem avança na minha direção com passos lentos e pesados, me desvio dos golpes o deixando mais irritado.

- Acabe logo com isso. – o outro reclama sem paciência indo na direção da mulher atrás de mim.

- Não mesmo. – me coloco na sua frente. – Mais um passo e você morre junto com o seu amigo.

- Me poupe. – ele desfere um soco na minha direção, desvio e acerto seu estomago.

- Você vai me pagar, sua puta. – ele da alguns passos vacilantes para trás com as mãos na barriga. – Você não faz ideia de quem somos. – ele ameaça.

- Vocês não sabem quem eu sou. – pego o soco inglês escondido no forro do casaco e sinto o frio do metal nos meus dedos. – Cansei de brincar. – ouço o som oco dos ossos quebrarem em seu rosto, o sangue saindo pela boca machucada, desesperado o outro homem vem em minha direção na esperança de ajudar o amigo, com um chute acerto seu peito o fazendo cair.

- Camille. – Melissa grita desesperada me fazendo virar na hora que  uma garrafa acerta minha cabeça.

- Agora você vai morrer. – minha cabeça gira e dói, dou alguns passos vacilantes me apoiando na parede, respiro fundo, a visão clareando aos poucos.

- Você vai se arrepender disso. – digo furiosa. – Já faz muitos anos que ninguém me acerta assim. – sorrio.

Deixo a adrenalina e a raiva correm meu corpo, meus músculos se contraem retendo energia, sinto a força correr por mim como uma corrente elétrica, minha visão fica turva, meu corpo se move com agilidade e rapidez, sinto a textura da pele do homem sendo dilacerada com o golpe, o sangue quente nos meus dedos, o cheiro de ferro no meu rosto, ouço os ossos protestarem a medida que eram quebrados.

- Camille. – paro ofegante quando Melissa segura meu braço. – Você vai matar ele desse jeito. – ela me encara assustada e olha para o corpo caído no chão.

- Vamos sair daqui. – coloco a mão machucada no bolso da blusa de frio, seguro seu braço e a levo para a parte da frente da boate.

- Você está bem? – ela me encara preocupada assim que paramos.

- Vou ficar. -  sinto a dor aumentar a medida que a adrenalina se vai. – Você esta bem? – a olho com atenção, agora Melissa parecia um pouco mais sóbria, mas seus olhos ainda brilhavam por causa da droga.

- Vou ficar.

- Finalmente achei você. – ela se ira quando um homem alto vem em nossa direção. – Tiro os olhos de você por um segundo e você some. – ele diz furioso se aproximando.

- O que você quer? – seguro o braço de Melissa a colocando atrás de mim em modo de defesa, minha mão aperta o soco inglês no bolso, os dedos doloridos.

- Quem é você? – ele me encara dos pés a cabeça, a mandíbula serrada, o corpo rígido.

- Eu perguntei primeiro. – digo ríspida. Olho ao redor para ver quantas testemunhas teria caso o matasse ali.

- Ele é meu irmão. – olho por cima do ombro e vejo a moça sair da minha proteção. – Estamos seguras com ele. – ela caminha um pouco vacilante na direção do homem. – Andrea, essa é Camille, ela estuda comigo e acabou de salvar a minha vida.

- Da próxima vez, fique de olho nela. – a dor latejante estava me deixando de mal humor.

- O que aconteceu com você? – ele dá um passo na minha direção e segura meu rosto.  

- Nada que eu não possa resolver. – afasto sua mão. – Só cuide dela. – saio na noite fria desesperada para chegar em casa.

Pego o telefone e mando mensagem para Laila avisando que estava passando mal e não poderia voltar, antes de guardar o aparelho o vejo vibrar.

- Por que você não atente a porra desse telefone, Camille? – a voz furiosa do outro lado da linha faz meu coração se acalmar.

- Tentaram me matar. – respondo com tranquilidade.

- Como você está?

- Viva.

- Quantos corpos?

- Eu não matei eles. – sinto o salto afundar no gelo amontoado ao longo da calçada. – Mas se não forem para o hospital agora, acredito que não amanhecerão vivos. – levo os dedos a minha testa e sinto o corte arder.

- Você está ferida?

- Fui pega de surpresa, foi só isso.

- É melhor você descansar. – Marco respira fundo do outro lado da linha. – Você tem duas semanas mi rosa.

- Antes disso nosso pai terá a cabeça do capo em sua mesa. – vejo minha respiração virar fumaça no ar frio.

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