Cambaleio tentando manter o equilíbrio, meu peito doendo em reposta ao chute.
- Está ficando enferrujada? – sua cabeça pende levemente para o lado, os olhos verdes afiados piscando em uma tentativa inútil de parecerem inocentes. – Esses meses como a cachorrinha dos Mancini te deixou mal acostumada.
- Você sempre falou demais. – recupero meu equilíbrio, o ar queimando a medida que entra nos pulmões. – O que você quer?
- Estava muito entediada em casa, vim brincar. – as mãos ágeis retiram as adagas das costas e as rodam nos dedos finos, as laminas afiadas brilhando, o ar assovia com os cortes e as investidas contra mim, meus movimentos são rápidos mais um pouco lentos, minhas narinas ardem quando uma das laminas passam rente ao meu nariz.
- Veneno. – observo. Tento manter o máximo de distância possível das facas.
- Você é o serviço da vez, priminha. – um sorriso afiado cresce nos lábios vermelhos. O fato de ser seu alvo faz com que Dominique se dedique mais para me matar, ela usa todo seu peso contra mim. Mesmo na defensiva, meus movimentos começavam a ficar lentos, meus olhos percorrem a sala a procura de algo que poderia usar como arma, aproveito a ânsia e a empolgação da mulher a minha frente e lhe dou um soco no rosto, os olhos me fuzilam furiosos, um rosnado baixo sai entre os lábios cerados. O ódio transborda do pequeno corpo fazendo seus ataques ficarem descoordenados, me
desvio e ataco sempre que possível, minha intenção era chegar na cozinha onde poderia usar algo como arma. – Você vai morrer Camille. – ela ameaça. Meus olhos param no molho de chaves em cima da mesinha perto da porta, os aros de metal que prendiam as chaves serviriam como arma, pego a pequena luminária ao lado do sofá e jogo na sua direção, a mulher se agacha e encara perplexa os cacos no chão. – Achou mesmo que ia me acertar com isso? – ela me encara surpresa.
- Eu só precisava te distrair. – fecho o punho nas chaves e sinto o metal frio dos aros nos meus dedos, com força acerto seu rosto, vejo o liquido vermelho escorrer pelos lábios, ela cospe no chão claro. – Isso vai ser um saco pra sair. – reclamo da mancha na cerâmica.
- Belo golpe. – Dominique me dá um sorriso vermelho. – Agora você entrou na brincadeira.
- Pode vir. – movimento os ombros e braços para aquece-los, meu coração batia violento contra o peito, o sangue corria a mil em minhas veias, minha mente gravando e prevendo cada movimento.
Cada golpe trocado entre nos duas fazia parte da terrível e difícil dança que definiria quem permaneceria viva, Dominique era ágil e rápida, com a falta de pratica, meus movimentos ficaram lentos, mas ainda conseguia ser mais rápida que ela. Deixo que ela chegue perto o suficiente, dou um pulo e acerto seu rosto com meu pé, ela cai quebrando a mesa de centro, por alguns segundos a mulher permanece caída, os olhos fechados, o peito subindo e descendo com a respiração, o rosto sujo com o próprio sangue. Me permito relaxar, abro minha mão sentindo os dedos cortados pelo metal arderem, meu peito ardia com o ar que entrava, minha mandíbula protestava à medida que os músculos sediam a dor.
- Descansa ai. – falo quando ouço os gemidos de dor da minha prima. Caminho em direção a cozinha, meu olho esquerdo ardia e estava inchado de mais para que eu conseguisse ver alguma coisa, abro o frízer, a pele quente é recebida pelo ar gelado. Meu corpo
arde e queima quando a faca corta a pele, o pouco ar que entreva fica preso no peito, minha mão corre em direção ao ferimento, encaro os dedos que pingavam vermelhos.
- Nunca baixe a guarda. – uma figura deformada que antes era Dominique me encara, os olhos gelados, o rosto inchado sem expressão. – Sua dor vai acabar logo. – ela promete. Sinto minhas pernas cederem ao peso do corpo, o som oco do impacto com o chão ecoa, minha visão ficando difusa. – Me desculpa. – ela se agacha na minha frente, os olhos verdes brilhando, seriam lagrimas? Dominique se levanta e caminha em direção ao fogão, acende e pega um pano, vejo o fogo tomar conta do tecido assim que ela o j**a na sala. – Não posso deixar rastros, mas você vai estar morta antes que o fogo tome conta de tudo. – sua voz era baixa e triste. – Adeus Cami. – deixo meu corpo relaxar no chão frio, depois de tantos anos, aquele seria meu fim, nada mais justo do que morrer da mesma forma que havia matado tantas pessoas, a imagem de Marco preenche minha mente.
- Me perdoe. – sussurro com o resto de energia que ainda tinha.
Caminho em direção ao meu carro, as pessoas saindo da boate, aos poucos o estacionamento ficando vazio, entro para fugir do frio. Meus olhos acompanham a mulher que se encolhe no casaco grosso, sua imagem se perde no carro escuro.- Por que eu falei com ela daquele jeito? – encosto a cabeça no volante frio. – Idiota. – me repreendo.Ligo o carro e dirijo até a Paradise.- Senhor. – o segurança me encara surpreso pelo horário. – Já estamos fechando. – ele informa.- Tudo bem. Tenho as chaves das portas dos fundos. – ergo o molho de chaves.- Sim senhor. – ouço o clic da porta sendo trancada assim que entro, encaro o salão vazio e silencioso. Era estranho ver a boate vazia depois de tantas noites lotada.O som dos meus passos na escada de metal ecoa pelo lugar, entro na minha sala, tiro o paletó e o jogo no pequeno sofá de couro, pisco os olhos par se adaptarem a luz quando a ligo, sento a mesa e ligo o computador. Analiso os papeis, as informações sobre os investimentos, os gastos, os
Ouço os pneus cantarem no cascalho a frente da minha casa, salto do carro deixando o motor ligado, abro a porta de trás e com cuidado tiro Camille de la.- Mi vida, não me deixe. – imploro em um sussurro. O sangue ainda jorrava de seu corpo agora pálido e frio. – Onde está o médico? – pergunto assim que passo pela porta da frente.- Esta chegando, mas. - Ottavio congela com a visão a sua frente.Precisa leva-la para cima, agora. – meu irmão abre espaço para que eu suba. – Coloque-a aqui. – ele abre uma porta e eu entro, o quarto era claro, os lençóis brancos cobrindo a grande cama. – Precisamos achar o ferimento. Pegue uma toalha molhada, tem muito sangue. – assim que eu a coloco na cama, Ottavio começa a retirar a roupa de Camille. No automático eu sigo as ordens do meu irmão mais novo, corro para o banheiro, pego uma toalha pequena e coloco em baixo da torneira ligada, deixo o tecido macio se ensopar com a agua.- Aqui. – entrego a toalha molhada para Otto que com as mãos ágeis come
Minha cabeça latejava incessantemente, aperto os olhos e pisco inúmeras vezes para adaptar minha visão a luz forte. - Ele vai morrer também? – ouço a voz distante de Melissa chegar arrastada aos meus ouvidos. - Ele está se recuperando. – era possível ouvir os gestos cansados de Ottavio ao andar devagar pelo quarto. - Já tem quase um dia que ele não acorda. – a preocupação carrega as palavras de Bartolomeu. - Ele perdeu muito sangue, mas vai ficar bem. – o segundo irmão estava cansado, mas preocupado demais para se permitir dormir. - Ainda não chegou o dia que vocês vão se livrar de mim. – minha garganta se fechar e queima com cada palavra. - Puta merda, Andrea. – Otto passa a mão pelo rosto derrotado. - Preciso de um pouco de água. – me forço para sentar na cama, sinto os músculos se contorcerem com os movimentos. – Sinto que um trator passou por cima de mim, e mais umas cinco vezes só para garantir. – uma risada seca sai por meus lábios. - Aqui. – Mel se senta ao meu lado na c
- Muitas famílias morreram assim, gerações inteiras foram dizimadas, exterminadas. Famílias poderosas, tanto quanto a nossa. – as informações ditas por Ottavio torna as situações mais difíceis.- Eles nunca ousaram pisar aqui. – sinto minha cabeça doer com a pressão na mandíbula.- Mas agora parecem serem audaciosos de mais para isso. – o olhar de Otto demonstrava a mesma preocupação que eu sentia.- Os Rivera estão ficando audaciosos. – olho por cima do ombro e encaro o rapaz deitado na cama, os cachos castanhos ficando grandes, os olhos fechados, a cabeça deitada sobre um dos braços e o outro com a mão apoiada preguiçosamente sobre a bariga. – Ouvi boatos de que Lorenzo quer dominar toda a América do Sul. Todos os territórios, sem exceção. – o ar fica cada vez mais pesado. – Todos sabemos que a única pessoa que carrega o título de anjo da morte trabalha para ele, o único ser humano no mundo frio e vil o suficiente para matar sem piedade, o assassino mais bem treinado que já ouvimos
Sinto a água quente esquentar minha pele enquanto desce pelo meu corpo, apoio a cabeça na parede e deixo a constância rítmica do chuveiro relaxar meus músculos. Começo a fazer lentamente uma lista do que sabíamos desde aquela noite.1. Os Rivera estão querem tomar o poder de todos os territórios;2. Eles têm um assassino frio e cruel que não se importa com quem vai morrer;3. Nós somos os alvos;Minha cabeça doí com todos os pensamentos que rondam, os Rivera eram aliados do meu pai enquanto ele ainda estava vivo, mas desfiz essa relação quando assumi o posto de capo. Eles são poderosos e vis, nos últimos anos ganharam territórios com muito derramamento de sangue, eu também consegui impor meu poder sobre o meu território durante os 13 anos que estive na liderança, mas nunca fiz o que eles fazem.As imagens dos corpos nos relatórios de Bart preenchem minha mente, meu peito doí, famílias inteiras mortas, pais, filhos, irmãos, primos, crianças, a foto de um bebê morto em seu berço me da n
Minhas pálpebras pesavam a medida que tentava abri-las, minha garganta queimava, todo meu corpo se contrai com a dor que se espalha.- Mel? – a voz sai arranhada e baixa, um sussurro. A mulher parada perto da janela se vira surpresa na minha direção.- Cami. – ela corre e se ajoelha ao lado da cama. – Meu Deus Cami. – Melissa segura minha mão, os olhos cor de âmbar brilhando com as lagrimas que descem pesadas por seu rosto. – Tivemos tanto medo. – as palavras saem cortadas entre os soluços.- O que...? – tento me levantar, mas minha cabeça gira e meus músculos grita de dor.- Não se esforce. – ela pede se levantando. – Vou chamar o Otto, ele vai ver como você esta. – secando as lagrimas e com um enorme sorriso minha amiga sai do quarto me deixando sozinha.Meus olhos correm pelo comodo, a luz forte do sol entrando pela janela grande, o ar era leve e limpo, na mesa ao lado da cabeceira havia um jarro com flores roxas dentro, o bip baixo chama minha a tenção para as máquinas do outro la
Encaro a parede ao fundo por alguns segundos que duram uma eternidade.“Um mês”Obrigo meus pulmões a se encherem de ar, o peito doendo pelo esforço.- Como ainda estou viva? – meu olhar caminha pelo quarto, rosto por rosto, todos apreensivos, com medo. – Eu deveria estar morta.- Ottavio é um ótimo médico, e tivemos a ajuda de um amigo da família. – Andrea quebra o silêncio, a voz grossa e baixa, os olhos focados em mim, em cada movimento, gesto, demonstração de dor.- Como vim parar aqui? – me forço a sentar na cama novamente.- Por favor, fique sentada. – seu rosto se contrai como se cada movimento meu lhe causasse dor. – Você ainda não esta cem por cento, precisa descansar. – o homem pede com carinho, sinto meu rosto esquentar com o excesso de atenção.- And está certo. – encaro Ottavio e dou um sorriso discreto ao ouvir o apelido que os irmãos deram ao capo. – Você precisa descansar, se hidratar e se alimentar também. – ele levanta e retira a bolsa de soro quase vazia. – Seu corp
Sinto o ar refrescante da geladeira assim que a abro, meus olhos correm pelos itens organizados nas prateleiras, verduras, frutas, legumes, e bebida.- Vou querer uma. – vejo os dedos finos e delicados de Melissa passarem por mim e agarrarem uma garrafa escura. – Precisamos fazer de tudo para ela ficar aqui. – o tom de voz preocupado refletia o amor que sentia pela amiga. – Foi nossa culpa o que aconteceu com ela. – a menina se encosta na ilha localizada no centro da cozinha, os irmãos curvados sobre a mesma.- Já estamos cuidando disso, Mel. – pego o que preciso e fecho a geladeira.- Ela está mesmo segura? – os olhos ambar perdidos se focam em mim.- Eu prometo que todos aqui vão dar a vida para mante-la segura. – retiro uma faca d suporte, a lamina brilhando, a luz que inundava o lugar.- Bom, agora já chega dessa conversa melancólica. – Bartolomeu ergue o corpo, a ergia ao seu redor mudando. – Camille deve estar morrendo de fome. – ele pega um tomate e observa. – Quer ajuda?– sua