CAPITULO 4

Pisco os olhos para me acostumar com as luzes da boate, a música alta tocando pelas paredes, com o passar das horas o lugar enchia mais, o cheiro de álcool e perfume se misturando na multidão.

“Como você está?” – mando a mensagem para Melissa.

“Com dor, mas já tomei o remédio.” – a tela brilha quando a resposta chega.

“Deixei comida na geladeira, tem sopa no fogão.”

“Obrigada.” – a mensagem vem acompanhada por carinhas felizes.

- Como está sendo morar com a princesinha Mancini? – Laila pergunta com sarcasmo. Já fazia algumas semanas que estávamos morando juntas.

- Mel é um pouco mimada, devo admitir. – dou uma risada baixa. – Mas ela é uma boa pessoa.

- Você não quis morar comigo quando ofereci. – minha amiga torce o nariz e diz emburrada.

- Eu tive meus motivos para aceitar morar com ela. – termino de limpar os copos e os coloco na bandeja.

- Ela tem dinheiro e pode te oferecer uma casa confortável. – Laila diz com sarcasmo.

- Acredite, a última coisa que eu me preocupo agora é com dinheiro. – sinto uma alfinetada no peito ao ver o que Laila pensava de mim. – Vou atender algumas mesas, licença. – saio de trás do balcão e caminho pelo salão lotado, as pessoas se espremendo na pista de dança ou gritando para serem ouvidas apesar do som alto. Respiro fundo e sinto as batidas da música reverberarem dentro de mim, por um segundo me vejo dentro de uma sala escura, as vozes ao meu redor sendo abafadas pela melodia suave da música que minha mãe cantava todas as noites para mim e meu irmão. Sinto meu peito se apertar com a saudade e com o pavor de estar naquela sala de novo, sinto as mãos no meu corpo.

- Camille. – encaro nervosa o homem que segurava meu braço, os olhos pretos me analisando preocupados. – Você está bem? – seu aperto era leve e gentil, porém firme.

- Sim. – respondo começando a voltar a mim, fugindo das minhas lembranças. – Sim, estou bem. – ele solta meu braço, mas seu olhar ainda demonstrava preocupação. – Você gostaria de pedir alguma bebida? – volto ao trabalho.

- Whisky duplo com gelo. Estarei esperando naquela mesa. – ele indica uma cabine de canto vazia e reservada.

Observo a mulher caminhar agilmente entre as pessoas como um gato, o vestido apertado moldando cada curva de seu corpo. Alguns outros clientes a paravam no meio do caminho para fazer seus pedidos e com dificuldade ela consegue voltar ao balcão do bar.

O que eu vim fazer aqui?” pergunto a mim mesmo assim que sento na mesa que deixo sempre reservada.

- Vai voltar lá hoje de novo? – Ottavio pergunta assim que me vê parado a porta. – Ela vai desconfiar. – sinto meu irmão sorrir atrás de mim.

- Estou indo apenas analisar um possível local de compra, sabe que quero ampliar a Paradise. – olho por cima do ombro. – Os nossos negócios estão crescendo, precisamos dessa fachada.

- Sei. – o tom desconfiado de Otto revira meu estomago. Será mesmo que esse era meu único motivo para estar naquele lugar todas as noites?

Tenho minha resposta assim que entro na boate movimentada, passo pela porta e a primeira coisa que meus olhos procuram é ela. Por alguns segundos tudo fica silencioso e em câmera lenta. Existia apenas ELA.

Agora estou aqui mais uma vez sentado nessa mesa, meus olhos acompanhando cada movimento de Camille. Desde o dia que a vi parada na frente de Melissa, a cabeça sangrando e o olhar gélido e desafiador, sabia que ela tinha algo diferente. Eu esperava que fosse alguma espiã enviada pelos inúmeros rivais que conquistei em todos esses anos de trabalho, alguém que se aproximava da minha irmã por achar que ela seria o elo frágil da família, mas estavam enganados.

Porém, nesses últimos meses percebi que estava enganado. Camille não era nenhuma espiã ou oferecia qualquer ameaça a minha família. Ela era gentil, educada, atenciosa e sempre cuidava de Mel como se fosse uma irmã. Me senti aliviado ao ver que Melissa havia encontrado alguém que se aproximou por quem ela é, e não apenas pelo poder que nossa família tem.

Ao longo desse tempo algo dentro de mim crescia, no início achava que era apenas gratidão e uma possível boa amizade, mas percebi que não. A necessidade que tinha de vê-la, ouvir sua voz, sentir seu perfume, ficou cada vez mais urgente, então me vi todas as noites sentado nessa mesma mesa apenas para vê-la de longe, comecei a dar a desculpa que compraria o lugar, mas meus irmãos sabiam que não era verdade. Eu estava ali por ela.

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