- Vai mesmo morar com ela? – a preocupação carregava cada palavra.
-Assim eu consigo ficar mais perto deles, saber se posso mesmo fazer isso.
- Você já fez isso inúmeras vezes mi rosa, o que tem de diferente agora?
- Eu não sei. – me sento sobre a sombra de uma arvore. – Você disse algo a ele?
- Nunca diria nada que colocasse a sua vida em perigo, mas ele está desconfiado, disse que você está demorando demais para terminar isso, vai mandar alguém atrás de você. - Marco parecia desesperado. – Não vale a pena se arriscar por essas pessoas Cami.
- Me mande as coisas que você descobriu, ai eu decido se acabo logo com isso ou não. – meu irmão fica em silencio.
- Ok. Mas se seus planos mudarem, eu preciso saber. Não vou conseguir te proteger se as coisas fugirem do meu controle, mi rosa.
- Eu sei hermano, eu sei. – respiro fundo.
- Preciso ir, não posso ficar muito tempo.
- Vou ficar esperando os arquivos.
- Tudo bem. Se cuida Cami. – a voz sai preocupada e temerosa.
- Você também Mac. – a linha fica muda.
O resto da semana passa lento e vagaroso. Todo tempo livre que tenho passo analisando os documentos que Marco havia me mandado. Vejo as fotos espalhadas pela pequena mesa de centro, na tela do computador as informações necessárias para que eu tomasse a minha decisão.
- Chegamos. – Melissa grita assim que passa pela porta do meu pequeno apartamento, apressada fecho o notebook e guardo as fotos em uma pasta. – Meu Deus amiga, que bagunça. – ela olha ao redor, as caixas empilhadas, as malas cheias de roupas. – Meninos, podem levar tudo para baixo. – ela ordena fazendo seus irmãos entrarem.
- Vou cobrar o frete. – Bartolomeu reclama assim que pega uma caixa, os músculos se flexionando com o peso.
- Vocês não precisavam ter vindo. – digo. – É pouca coisa, eu poderia ter descido.
- Até parece que ela ia deixar a gente em paz se isso acontecesse. – Ottavio revira os olhos e levanta uma caixa como se fosse uma folha de papel.
- Para que serve ter irmãos tão fortes assim se eu não puder usa-los. – Mel dá de ombros.
- Estou me sentindo um objeto assim. – Bart reclama.
- Menos conversa e mais trabalho. – a moça ordena.
- Não me sinto confortável com isso Mel. – observo os dois rapazes levarem minhas coisas escada a baixo.
- Se sinta grata por eles quererem ajudar. – ela cruza os braços. – Vamos mesmo morar juntas. – vejo o enorme sorriso iluminar o rosto dela.
- Vamos sim. – olho pelo canto do olho para as coisas em cima da mesinha. – Pode deixar que essas coisas eu levo. – digo assim que Bart indica que mexeria nelas. – Ainda não terminei de arrumar. – me explico.
- Ok, vou deixar essa com você. – ele sorri aliviado pelo trabalho ter terminado.
Apressada eu junto tudo e coloco de qualquer jeito dentro da mochila.
- Que a nossa nova vida comece. – Melissa anuncia animada.
Ficamos a tarde toda arrumando a nossa nova casa, Ottavio e Bartolomeu carregavam desanimados todas as coisas da irmã.
- Meu Deus Melissa, suas coisas não acabam nunca. – o menino mais novo reclama assim que coloca uma caixa no chão. – Isso aqui é o que, chumbo?- ele coloca as mãos nas costas para alongar a coluna.
- São apenas alguns dos meus sapatos. – ela cruza os braços como se não fosse nada demais.
- Boa sorte para arrumar tudo isso.
- Aonde você vai? – a mulher questiona o irmão.
- Você pediu ajuda com a mudança, a arrumação fica por conta de vocês. – ele passa pela porta fugindo do olhar severo da irmã.
- Bom, precisamos arrumar o máximo de coisas que conseguirmos. – olho as horas na tela do telefone. – E eu preciso trabalhar hoje a noite.
- Vai me deixar sozinha na nossa primeira noite na casa nova?
- Até parece que você vai ficar aqui, ainda mais em uma noite de sábado.
- Bom... pensei mesmo em dar uma saída pra relaxar um pouco. – ela se explica.
- Então vamos começar logo com isso. – indico as inúmeras caixas e malas espalhadas pela sala. – Se não você não vai achar uma calcinha nessa bagunça.
Pisco os olhos para me acostumar com as luzes da boate, a música alta tocando pelas paredes, com o passar das horas o lugar enchia mais, o cheiro de álcool e perfume se misturando na multidão.“Como você está?” – mando a mensagem para Melissa.“Com dor, mas já tomei o remédio.” – a tela brilha quando a resposta chega.“Deixei comida na geladeira, tem sopa no fogão.”“Obrigada.” – a mensagem vem acompanhada por carinhas felizes.- Como está sendo morar com a princesinha Mancini? – Laila pergunta com sarcasmo. Já fazia algumas semanas que estávamos morando juntas.- Mel é um pouco mimada, devo admitir. – dou uma risada baixa. – Mas ela é uma boa pessoa.- Você não quis morar comigo quando ofereci. – minha amiga torce o nariz e diz emburrada.- Eu tive meus motivos para aceitar morar com ela. – termino de limpar os copos e os coloco na bandeja.- Ela tem dinheiro e pode te oferecer uma casa confortável. – Laila diz com sarcasmo.- Acredite, a última coisa que eu me preocupo agora é com d
Meus pensamentos se perdem no olhar distante de Camille a segundos atrás, a forma involuntária que seu corpo se encolheu com meu toque. Uma dor estranha aperta meu peito, eu não queria que ela tivesse medo de mim.- Tem certeza que está bem? – pergunto assim que a moça coloca o copo sobre minha mesa, as pedras de gelo boiando na bebida. Os olhos azuis não pareciam mais perdidos, mas também não tinham o brilho de sempre, agora eram como as pedras de gelo no whisky, frios, afiados, perigosos.- Apenas cansada. – ela solta um suspiro, a voz sobressaindo a música alta. – Sabe como é a rotina puxada. – seus lábios se contorcem em um meio sorriso desanimado. – Odeio essa roupa. – a garçonete comenta assim que um homem passa por trás tocando seu corpo. – Não precisa fazer nada. – as palavras saem com um aviso implícito assim que Cami percebe minhas intenções. – Você é dono de uma boate, sabe como são os clientes. Eu preciso ir, se precisar de mais alguma coisa é só acenar. – vejo seu corpo p
- Eu disse para não fazer nada. – percebo a presença de Camille e da outra moça atrás de mim, me viro. – Comprar a boate se enquadra nessa condição. – ela ergue a cabeça, os olhos demonstrando a tempestade que continha dentro de si.- Vocês estão bem? – analiso as duas mulheres, minha atenção redobrada na moça a minha frente. – Não podia deixar que ele agisse assim com você... – minha mente registra a última palavra com urgência. – Vocês. – corrijo.- Tire o resto da noite de folga. – sua voz sai carinhosa e cheia de atenção para a moça que permanecia escondida atrás de si. – Eu cubro seu turno. – agradecida a moça acena com a cabeça e sai apressada. – Não gosto da ideia de trabalhar para você. – os olhos azuis voltam para mim, a cabeça levantada mostrava que aquela mulher não se assustava com qualquer coisa.- Achei melhor não comentar. – aos poucos a confusão ao nosso redor diminuía.- Não confunda as coisas só porque sou amiga da sua irmã.- Sou um homem de negócios, sei separar a
Cambaleio tentando manter o equilíbrio, meu peito doendo em reposta ao chute.- Está ficando enferrujada? – sua cabeça pende levemente para o lado, os olhos verdes afiados piscando em uma tentativa inútil de parecerem inocentes. – Esses meses como a cachorrinha dos Mancini te deixou mal acostumada.- Você sempre falou demais. – recupero meu equilíbrio, o ar queimando a medida que entra nos pulmões. – O que você quer?- Estava muito entediada em casa, vim brincar. – as mãos ágeis retiram as adagas das costas e as rodam nos dedos finos, as laminas afiadas brilhando, o ar assovia com os cortes e as investidas contra mim, meus movimentos são rápidos mais um pouco lentos, minhas narinas ardem quando uma das laminas passam rente ao meu nariz.- Veneno. – observo. Tento manter o máximo de distância possível das facas.- Você é o serviço da vez, priminha. – um sorriso afiado cresce nos lábios vermelhos. O fato de ser seu alvo faz com que Dominique se dedique mais para me matar, ela usa todo s
Caminho em direção ao meu carro, as pessoas saindo da boate, aos poucos o estacionamento ficando vazio, entro para fugir do frio. Meus olhos acompanham a mulher que se encolhe no casaco grosso, sua imagem se perde no carro escuro.- Por que eu falei com ela daquele jeito? – encosto a cabeça no volante frio. – Idiota. – me repreendo.Ligo o carro e dirijo até a Paradise.- Senhor. – o segurança me encara surpreso pelo horário. – Já estamos fechando. – ele informa.- Tudo bem. Tenho as chaves das portas dos fundos. – ergo o molho de chaves.- Sim senhor. – ouço o clic da porta sendo trancada assim que entro, encaro o salão vazio e silencioso. Era estranho ver a boate vazia depois de tantas noites lotada.O som dos meus passos na escada de metal ecoa pelo lugar, entro na minha sala, tiro o paletó e o jogo no pequeno sofá de couro, pisco os olhos par se adaptarem a luz quando a ligo, sento a mesa e ligo o computador. Analiso os papeis, as informações sobre os investimentos, os gastos, os
Ouço os pneus cantarem no cascalho a frente da minha casa, salto do carro deixando o motor ligado, abro a porta de trás e com cuidado tiro Camille de la.- Mi vida, não me deixe. – imploro em um sussurro. O sangue ainda jorrava de seu corpo agora pálido e frio. – Onde está o médico? – pergunto assim que passo pela porta da frente.- Esta chegando, mas. - Ottavio congela com a visão a sua frente.Precisa leva-la para cima, agora. – meu irmão abre espaço para que eu suba. – Coloque-a aqui. – ele abre uma porta e eu entro, o quarto era claro, os lençóis brancos cobrindo a grande cama. – Precisamos achar o ferimento. Pegue uma toalha molhada, tem muito sangue. – assim que eu a coloco na cama, Ottavio começa a retirar a roupa de Camille. No automático eu sigo as ordens do meu irmão mais novo, corro para o banheiro, pego uma toalha pequena e coloco em baixo da torneira ligada, deixo o tecido macio se ensopar com a agua.- Aqui. – entrego a toalha molhada para Otto que com as mãos ágeis come
Minha cabeça latejava incessantemente, aperto os olhos e pisco inúmeras vezes para adaptar minha visão a luz forte. - Ele vai morrer também? – ouço a voz distante de Melissa chegar arrastada aos meus ouvidos. - Ele está se recuperando. – era possível ouvir os gestos cansados de Ottavio ao andar devagar pelo quarto. - Já tem quase um dia que ele não acorda. – a preocupação carrega as palavras de Bartolomeu. - Ele perdeu muito sangue, mas vai ficar bem. – o segundo irmão estava cansado, mas preocupado demais para se permitir dormir. - Ainda não chegou o dia que vocês vão se livrar de mim. – minha garganta se fechar e queima com cada palavra. - Puta merda, Andrea. – Otto passa a mão pelo rosto derrotado. - Preciso de um pouco de água. – me forço para sentar na cama, sinto os músculos se contorcerem com os movimentos. – Sinto que um trator passou por cima de mim, e mais umas cinco vezes só para garantir. – uma risada seca sai por meus lábios. - Aqui. – Mel se senta ao meu lado na c
- Muitas famílias morreram assim, gerações inteiras foram dizimadas, exterminadas. Famílias poderosas, tanto quanto a nossa. – as informações ditas por Ottavio torna as situações mais difíceis.- Eles nunca ousaram pisar aqui. – sinto minha cabeça doer com a pressão na mandíbula.- Mas agora parecem serem audaciosos de mais para isso. – o olhar de Otto demonstrava a mesma preocupação que eu sentia.- Os Rivera estão ficando audaciosos. – olho por cima do ombro e encaro o rapaz deitado na cama, os cachos castanhos ficando grandes, os olhos fechados, a cabeça deitada sobre um dos braços e o outro com a mão apoiada preguiçosamente sobre a bariga. – Ouvi boatos de que Lorenzo quer dominar toda a América do Sul. Todos os territórios, sem exceção. – o ar fica cada vez mais pesado. – Todos sabemos que a única pessoa que carrega o título de anjo da morte trabalha para ele, o único ser humano no mundo frio e vil o suficiente para matar sem piedade, o assassino mais bem treinado que já ouvimos