Respiro fundo e tento abafar o som alto dos clientes impacientes na fila, coloco a xicara na cafeteira industrial e vejo o liquido escuro preenche-la, a fumaça aromatizada tomando o ar.
- Seu café. – coloco a frente da moça que mantinha os olhos presos a tela do computador.
- Obrigada. – ela responde sem animo.
- Hoje está bem cheio. – me viro e vejo meu chefe terminando de preparar um pedido e entregando a um cliente que sai assim que paga.
- Segunda de manhã é sempre assim. – sorrio. – Pelo menos o tempo passa rápido.
- Pensei que você amava esse trabalho. – ele brinca.
- Claro que sim, esse é o melhor trabalho do mundo, posso beber todo café que conseguir, levo os doces que sobra para casa e ainda posso dormir no apartamento aqui em cima.
- Trabalho melhor do que esse não há, Cami. – Conner abre um sorriso sedutor. – E você ainda tem a oportunidade de passar o dia todo comigo.
- Não poderia ter mais sorte. – reviro os olhos e rio baixo.
- Seus clientes preferidos chegaram. – sigo seu olhar na direção da porta por onde um casal entra e se senta na mesa perto da vitrine com vista para a rua. – Vai lá, eu cuido desses aqui. – ele respira fundo e volta sua atenção para a meia dúzia de pessoas do outro lado do balcão.
- O mesmo de sempre? – pergunto assim que me aproximo da mesa.
- Acho que vou querer um expresso duplo hoje. – a moça me olha sorridente através dos óculos escuros.
- Viro a noite de novo Mel?
- Não conta para ninguém. – ela coloca um dedo na frente dos lábios pedindo silencio.
- Até parece que nossos irmãos não sabem o que você faz. – o homem revira os olhos e volta sua atenção para o cardápio. – Acho que vou querer o mesmo. – seus olhos chocolate me focam com atenção. – E o seu número. – os lábios rosados se abrem em um sorriso sedutor que faria qualquer uma ficar de pernas bambas.
- Como se você já não tivesse meu número, Bart. – anoto os pedidos. – Já volto com o café de vocês.
Em poucos minutos volto com as xicaras fumegantes.
- Você sempre salvando o dia. – Melissa segura o café como se sua vida dependesse dele.
- Andrea ainda vai me matar por sair com você. – Bartolomeu fuzila a irmã com os olhos.
- Deixa de ser medroso Bart. – ela reviro os olhos. – Cami senta ai.
- Não posso, meu chefe está bem ali. – indico Connor com o polegar.
- Ei gatinho. – a mulher grita chamando a atenção de todos. – Ela vai tirar cinco minutos de descanso viu.
- Só não sequestra ela como da última vez. – Connor me encara e da uma piscada.
- Não prometo nada. – Mel grita em resposta. – Pronto, senta ai. – ela puxa uma cadeira abrindo espaço para mim na mesa. – Você não apareceu na festa. – seus lábios fazem biquinho.
- Tinha que trabalhar hoje cedo, e daqui a pouco temos aula.
- Nem me fale nisso. – ela apoia a testa sobre a madeira da mesa. – Bart você pode ir no meu lugar? – seus olhos cor de âmbar piscam na tentativa de amolecer o coração do irmão mais novo.
- Nem fudendo Mel.
- Você é um péssimo irmão.
- Meus cinco minutos estão acabando Mel. – aviso.
- O apartamento está pronto. – ela anuncia, seu ânimo voltando com tudo.
- Pensei que só ficaria pronto no final da semana.
- Pedi um pouco de urgência na entrega. Fiquei com medo de você desistir.
- Você vai mesmo levar ela embora? – Connor para ao nosso lado equilibrando vários copos e pratos em uma bandeja.
- Ela não pode ser sua para sempre gatinho. – Melissa diz como se fosse algo obvio. – A não ser que você a peça em casamento logo. – um sorriso zombeteiro crescia em seus lábios rubi.
- Como se eu já não tivesse tentado. – ele suspira desconsolado.
- Bom, agora ela é minha. – Melissa dá um sorriso triunfante sobre o homem triste que sai para atender os clientes. – Ele ainda é apaixonado por você. – encaro minha amiga surpresa.
- Ele só estava brincando.
- Ele é caidinho por você. – Bart levanta os olhos do telefone. – Qualquer um vê isso.
- Ainda não sei porque você não ficou com ele. – Melissa apoia o queixo na mão, os olhos brilhando de desejo. – Eu já teria provado ele todinho.
- Porque ela não é como você Mel. Nossa Camille está à espera do cavaleiro de armadura brilhante. – Bartolomeu anuncia com um ar de ingenuidade.
- Se existisse um cavaleiro de armadura brilhante, eu até poderia pensar em dá uma chance, mas até achar um tenho que matar os meus dragões e monstros sozinha. – me levanto e coloco a cadeira no lugar. – Meus cinco minutos acabaram, vão querer mais alguma coisa? – pego o bloco de pedidos.
- Sai comigo amanhã à noite, posso ser seu cavaleiro de armadura brilhante. – os olhos de Bart brilham com um desejo contido e diversão.
- Você é um fofo, Bart. Mas prefiro você como o bobo da corte. – dou uma risada baixa.
- Assim você magoa meu pobre coraçãozinho. – ele coloca a mão sobre o peito e aperta com força.
- Temos que ir, quero dormir um pouco antes da aula. – Melissa termina o café – Te vejo na faculdade, e depois vamos começar a nossa mudança. – ela diz animada.
- Preciso ir pra boate hoje à noite. – começo a retirar as xicaras.
- Mulher, assim você vai ficar rica sabia, ou vai morrer de cansaço antes disso. – minha amiga me encara com reprovação.
- Algumas pessoas precisam trabalhar Mel. – respiro fundo sentindo o cansaço do tempo sobre mim. – Infelizmente não nasci rica.
- Mas poderia ser, e eu te faria a mulher mais feliz do mundo. – Bartolomeu se levanta e segura minha mão. – Casa comigo? – por um segundo sinto o ar ao meu redor congelar, os olhares de todos em mim.
- Assim você pode fazer com que alguém acredite que você quer mesmo se casar comigo. – rio.
- É você tem razão. – ele solta minha mão e olha ao redor. – Era só uma brincadeira pessoal, podem voltar todos aos cafés. – ele anuncia. Com o clima ainda tenso pelo pedido de mentira, o silencio é quebrado com o sino da porta que se abre, uma rajada fria entra junto com o cliente.
- Achei vocês.
- Por que ainda não foram para casa? – encaro o homem alto dos pés a cabeça, os olhos escuro pareciam cansados e fundos pelas noites mal dormidas, a mandíbula rígida pela preocupação, os ombros largos tensos por carregar o peso de proteger os irmãos.- Resolvemos passar para ver a Cami, e tomar um café. – Melissa sorri para seu protetor como uma criança que finge não ter feito nada de errado.- Não vi você na Paradise ontem a noite. – os olhos escuros esmagam Bartolomeu que se encolhe levemente, se eu não estivesse acostumada com a típica discussão dos Mancini, jamais teria percebido isso.- Alguém tinha que cuidar dela. – ele indica a irmã.- Se não vão pedir mais nada, eu vou nessa. – me viro na tentativa de fugir dessa encenação.- Camille. – meu nome sai grave e lento de seus lábios, um arrepio percorre minha espinha.- Andrea. – concerto a postura e o encaro nos olhos.- Quero um expresso duplo para a viagem por favor. – a tempestade que a poucos tornava seus olhos tenebrosos hav
- Vai mesmo morar com ela? – a preocupação carregava cada palavra. -Assim eu consigo ficar mais perto deles, saber se posso mesmo fazer isso.- Você já fez isso inúmeras vezes mi rosa, o que tem de diferente agora?- Eu não sei. – me sento sobre a sombra de uma arvore. – Você disse algo a ele?- Nunca diria nada que colocasse a sua vida em perigo, mas ele está desconfiado, disse que você está demorando demais para terminar isso, vai mandar alguém atrás de você. - Marco parecia desesperado. – Não vale a pena se arriscar por essas pessoas Cami.- Me mande as coisas que você descobriu, ai eu decido se acabo logo com isso ou não. – meu irmão fica em silencio.- Ok. Mas se seus planos mudarem, eu preciso saber. Não vou conseguir te proteger se as coisas fugirem do meu controle, mi rosa.- Eu sei hermano, eu sei. – respiro fundo.- Preciso ir, não posso ficar muito tempo.- Vou ficar esperando os arquivos.- Tudo bem. Se cuida Cami. – a voz sai preocupada e temerosa.- Você também Mac. – a
Pisco os olhos para me acostumar com as luzes da boate, a música alta tocando pelas paredes, com o passar das horas o lugar enchia mais, o cheiro de álcool e perfume se misturando na multidão.“Como você está?” – mando a mensagem para Melissa.“Com dor, mas já tomei o remédio.” – a tela brilha quando a resposta chega.“Deixei comida na geladeira, tem sopa no fogão.”“Obrigada.” – a mensagem vem acompanhada por carinhas felizes.- Como está sendo morar com a princesinha Mancini? – Laila pergunta com sarcasmo. Já fazia algumas semanas que estávamos morando juntas.- Mel é um pouco mimada, devo admitir. – dou uma risada baixa. – Mas ela é uma boa pessoa.- Você não quis morar comigo quando ofereci. – minha amiga torce o nariz e diz emburrada.- Eu tive meus motivos para aceitar morar com ela. – termino de limpar os copos e os coloco na bandeja.- Ela tem dinheiro e pode te oferecer uma casa confortável. – Laila diz com sarcasmo.- Acredite, a última coisa que eu me preocupo agora é com d
Meus pensamentos se perdem no olhar distante de Camille a segundos atrás, a forma involuntária que seu corpo se encolheu com meu toque. Uma dor estranha aperta meu peito, eu não queria que ela tivesse medo de mim.- Tem certeza que está bem? – pergunto assim que a moça coloca o copo sobre minha mesa, as pedras de gelo boiando na bebida. Os olhos azuis não pareciam mais perdidos, mas também não tinham o brilho de sempre, agora eram como as pedras de gelo no whisky, frios, afiados, perigosos.- Apenas cansada. – ela solta um suspiro, a voz sobressaindo a música alta. – Sabe como é a rotina puxada. – seus lábios se contorcem em um meio sorriso desanimado. – Odeio essa roupa. – a garçonete comenta assim que um homem passa por trás tocando seu corpo. – Não precisa fazer nada. – as palavras saem com um aviso implícito assim que Cami percebe minhas intenções. – Você é dono de uma boate, sabe como são os clientes. Eu preciso ir, se precisar de mais alguma coisa é só acenar. – vejo seu corpo p
- Eu disse para não fazer nada. – percebo a presença de Camille e da outra moça atrás de mim, me viro. – Comprar a boate se enquadra nessa condição. – ela ergue a cabeça, os olhos demonstrando a tempestade que continha dentro de si.- Vocês estão bem? – analiso as duas mulheres, minha atenção redobrada na moça a minha frente. – Não podia deixar que ele agisse assim com você... – minha mente registra a última palavra com urgência. – Vocês. – corrijo.- Tire o resto da noite de folga. – sua voz sai carinhosa e cheia de atenção para a moça que permanecia escondida atrás de si. – Eu cubro seu turno. – agradecida a moça acena com a cabeça e sai apressada. – Não gosto da ideia de trabalhar para você. – os olhos azuis voltam para mim, a cabeça levantada mostrava que aquela mulher não se assustava com qualquer coisa.- Achei melhor não comentar. – aos poucos a confusão ao nosso redor diminuía.- Não confunda as coisas só porque sou amiga da sua irmã.- Sou um homem de negócios, sei separar a
Cambaleio tentando manter o equilíbrio, meu peito doendo em reposta ao chute.- Está ficando enferrujada? – sua cabeça pende levemente para o lado, os olhos verdes afiados piscando em uma tentativa inútil de parecerem inocentes. – Esses meses como a cachorrinha dos Mancini te deixou mal acostumada.- Você sempre falou demais. – recupero meu equilíbrio, o ar queimando a medida que entra nos pulmões. – O que você quer?- Estava muito entediada em casa, vim brincar. – as mãos ágeis retiram as adagas das costas e as rodam nos dedos finos, as laminas afiadas brilhando, o ar assovia com os cortes e as investidas contra mim, meus movimentos são rápidos mais um pouco lentos, minhas narinas ardem quando uma das laminas passam rente ao meu nariz.- Veneno. – observo. Tento manter o máximo de distância possível das facas.- Você é o serviço da vez, priminha. – um sorriso afiado cresce nos lábios vermelhos. O fato de ser seu alvo faz com que Dominique se dedique mais para me matar, ela usa todo s
Caminho em direção ao meu carro, as pessoas saindo da boate, aos poucos o estacionamento ficando vazio, entro para fugir do frio. Meus olhos acompanham a mulher que se encolhe no casaco grosso, sua imagem se perde no carro escuro.- Por que eu falei com ela daquele jeito? – encosto a cabeça no volante frio. – Idiota. – me repreendo.Ligo o carro e dirijo até a Paradise.- Senhor. – o segurança me encara surpreso pelo horário. – Já estamos fechando. – ele informa.- Tudo bem. Tenho as chaves das portas dos fundos. – ergo o molho de chaves.- Sim senhor. – ouço o clic da porta sendo trancada assim que entro, encaro o salão vazio e silencioso. Era estranho ver a boate vazia depois de tantas noites lotada.O som dos meus passos na escada de metal ecoa pelo lugar, entro na minha sala, tiro o paletó e o jogo no pequeno sofá de couro, pisco os olhos par se adaptarem a luz quando a ligo, sento a mesa e ligo o computador. Analiso os papeis, as informações sobre os investimentos, os gastos, os
Ouço os pneus cantarem no cascalho a frente da minha casa, salto do carro deixando o motor ligado, abro a porta de trás e com cuidado tiro Camille de la.- Mi vida, não me deixe. – imploro em um sussurro. O sangue ainda jorrava de seu corpo agora pálido e frio. – Onde está o médico? – pergunto assim que passo pela porta da frente.- Esta chegando, mas. - Ottavio congela com a visão a sua frente.Precisa leva-la para cima, agora. – meu irmão abre espaço para que eu suba. – Coloque-a aqui. – ele abre uma porta e eu entro, o quarto era claro, os lençóis brancos cobrindo a grande cama. – Precisamos achar o ferimento. Pegue uma toalha molhada, tem muito sangue. – assim que eu a coloco na cama, Ottavio começa a retirar a roupa de Camille. No automático eu sigo as ordens do meu irmão mais novo, corro para o banheiro, pego uma toalha pequena e coloco em baixo da torneira ligada, deixo o tecido macio se ensopar com a agua.- Aqui. – entrego a toalha molhada para Otto que com as mãos ágeis come