CAPITULO 1

Respiro fundo e tento abafar o som alto dos clientes impacientes na fila, coloco a xicara na cafeteira industrial e vejo o liquido escuro preenche-la, a fumaça aromatizada tomando o ar.

- Seu café. – coloco a frente da moça que mantinha os olhos presos a tela do computador.

- Obrigada. – ela responde sem animo.

- Hoje está bem cheio. – me viro e vejo meu chefe terminando de preparar um pedido e entregando a um cliente que sai assim que paga.

- Segunda de manhã é sempre assim. – sorrio. – Pelo menos o tempo passa rápido.

- Pensei que você amava esse trabalho. – ele brinca.

- Claro que sim, esse é o melhor trabalho do mundo, posso beber todo café que conseguir, levo os doces que sobra para casa e ainda posso dormir no apartamento aqui em cima.

- Trabalho melhor do que esse não há, Cami. – Conner abre um sorriso sedutor. – E você ainda tem a oportunidade de passar o dia todo comigo.

- Não poderia ter mais sorte. – reviro os olhos e rio baixo.

- Seus clientes preferidos chegaram. – sigo seu olhar na direção da porta por onde um casal entra e se senta na mesa perto da vitrine com vista para a rua. – Vai lá, eu cuido desses aqui. – ele respira fundo e volta sua atenção para a meia dúzia de pessoas do outro lado do balcão.

- O mesmo de sempre? – pergunto assim que me aproximo da mesa.

- Acho que vou querer um expresso duplo hoje. – a moça me olha sorridente através dos óculos escuros.

- Viro a noite de novo Mel?

- Não conta para ninguém. – ela coloca um dedo na frente dos lábios pedindo silencio.

- Até parece que nossos irmãos não sabem o que você faz. – o homem revira os olhos e volta sua atenção para o cardápio. – Acho que vou querer o mesmo. – seus olhos chocolate me focam com atenção. – E o seu número. – os lábios rosados se abrem em um sorriso sedutor que faria qualquer uma ficar de pernas bambas.

- Como se você já não tivesse meu número, Bart. – anoto os pedidos. – Já volto com o café de vocês.

Em poucos minutos volto com as xicaras fumegantes.

- Você sempre salvando o dia. – Melissa segura o café como se sua vida dependesse dele.

- Andrea ainda vai me matar por sair com você. – Bartolomeu fuzila a irmã com os olhos. 

- Deixa de ser medroso Bart. – ela reviro os olhos. – Cami senta ai.

- Não posso, meu chefe está bem ali. – indico Connor com o polegar.

- Ei gatinho. – a mulher grita chamando a atenção de todos. – Ela vai tirar cinco minutos de descanso viu.

- Só não sequestra ela como da última vez. – Connor me encara e da uma piscada.

- Não prometo nada. – Mel grita em resposta. – Pronto, senta ai. – ela puxa uma cadeira abrindo espaço para mim na mesa. – Você não apareceu na festa. – seus lábios fazem biquinho.

- Tinha que trabalhar hoje cedo, e daqui a pouco temos aula.

- Nem me fale nisso. – ela apoia a testa sobre a madeira da mesa. – Bart você pode ir no meu lugar? – seus olhos cor de âmbar piscam na tentativa de amolecer o coração do irmão mais novo.

- Nem fudendo Mel.

- Você é um péssimo irmão.

- Meus cinco minutos estão acabando Mel. – aviso.

- O apartamento está pronto. – ela anuncia, seu ânimo voltando com tudo.

- Pensei que só ficaria pronto no final da semana.

- Pedi um pouco de urgência na entrega. Fiquei com medo de você desistir.

- Você vai mesmo levar ela embora? – Connor para ao nosso lado equilibrando vários copos e pratos em uma bandeja.

- Ela não pode ser sua para sempre gatinho. – Melissa diz como se fosse algo obvio. – A não ser que você a peça em casamento logo. – um sorriso zombeteiro crescia em seus lábios rubi.

- Como se eu já não tivesse tentado. – ele suspira desconsolado.

- Bom, agora ela é minha. – Melissa dá um sorriso triunfante sobre o homem triste que sai para atender os clientes. – Ele ainda é apaixonado por você. – encaro minha amiga surpresa.

- Ele só estava brincando.

- Ele é caidinho por você. – Bart levanta os olhos do telefone. – Qualquer um vê isso.

- Ainda não sei porque você não ficou com ele. – Melissa apoia o queixo na mão, os olhos brilhando de desejo. – Eu já teria provado ele todinho.

- Porque ela não é como você Mel. Nossa Camille está à espera do cavaleiro de armadura brilhante. – Bartolomeu anuncia com um ar de ingenuidade.

- Se existisse um cavaleiro de armadura brilhante, eu até poderia pensar em dá uma chance, mas até achar um tenho que matar os meus dragões e monstros sozinha. – me levanto e coloco a cadeira no lugar. – Meus cinco minutos acabaram, vão querer mais alguma coisa? – pego o bloco de pedidos.

- Sai comigo amanhã à noite, posso ser seu cavaleiro de armadura brilhante. – os olhos de Bart brilham com um desejo contido e diversão.

- Você é um fofo, Bart. Mas prefiro você como o bobo da corte. – dou uma risada baixa.

- Assim você magoa meu pobre coraçãozinho. – ele coloca a mão sobre o peito e aperta com força.

- Temos que ir, quero dormir um pouco antes da aula. – Melissa termina o café – Te vejo na faculdade, e depois vamos começar a nossa mudança. – ela diz animada.

- Preciso ir pra boate hoje à noite. – começo a retirar as xicaras.

- Mulher, assim você vai ficar rica sabia, ou vai morrer de cansaço antes disso. – minha amiga me encara com reprovação.

- Algumas pessoas precisam trabalhar Mel. – respiro fundo sentindo o cansaço do tempo sobre mim. – Infelizmente não nasci rica.

- Mas poderia ser, e eu te faria a mulher mais feliz do mundo. – Bartolomeu se levanta e segura minha mão. – Casa comigo? – por um segundo sinto o ar ao meu redor congelar, os olhares de todos em mim.

- Assim você pode fazer com que alguém acredite que você quer mesmo se casar comigo. – rio.

- É você tem razão. – ele solta minha mão e olha ao redor. – Era só uma brincadeira pessoal, podem voltar todos aos cafés. – ele anuncia. Com o clima ainda tenso pelo pedido de mentira, o silencio é quebrado com o sino da porta que se abre, uma rajada fria entra junto com o cliente.

- Achei vocês.

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