Ester Tagarelava sobre seu livro andando pela cozinha com o avental rosa de Antonia com hello kittys por todos os lugares, o cheiro estava uma delícia, minha irmã cozinha tão bem quanto escrevia. Essa história em especial era sua grande paixão, ela a amava tanto que nunca esteve bom o bastante, enfim ela finalmente terminou. Bateram a porta em sua cara diversas vezes, ela não desistiu, correu atrás de seus sonhos e conseguiu um contrato com uma editora famosa. Sabe aquele livro que quase me matou em sonho? Sim, esse mesmo. Agradeci por seu entusiasmo silenciosamente, assim elas não notaria o quão acabada eu estava. Ainda mais que o normal. Tentei esconder minhas olheiras com corretivo e minha meu humor com um sorriso. Até agora estava dando certo.— …Acreditam que queriam mudar todo o enredo? Já não bastasse as mudanças que fizeram, meu editor é um pé no saco. O bom disso é que ele foi chutado hoje de manhã para Santa Catarina, a fofoca está super quente, fui a primeira a saber.
Mal prestei atenção nas aulas, precisava muito daquela promoção, Tessa vinha segurando as pontas por muito tempo, mesmo que ela começara a ganhar bem, eu não podia jogar todas as responsabilidades nas costas dela. Sabia que ela gastaria cada centavo para pagar a cirurgia de Antonia, esperar na fila do SUS por dois longos anos sem a menor estimativa de quanto tempo mais ela precisava esperar tornava cada mês um tormento. Tempo era um luxo que tia Antonia não tinha. Ela era como uma mãe para nós, não íamos deixar ela morrer, e para pegar um empréstimo tão alto eu precisava da promoção. A mulher cheia de vida e muito implicante criou seis filhos homens e todos eles esqueceram que tinham mãe. Uma coisa sobre tia Antonia, não era só pelo carteiro que ela esquecia que estava doente e corria, o telefone fixo também, cada chamada do telemarketing e ela se jogava na esperança de que fosse um de seus filhos. — …terra para Mari. — Oh! Sim, eu vou assistir a palestra, você vai também? — perg
Suspirei, irritado por ver que ela havia deixado a porta aberta novamente, me agachei paa pegar as duas notas de despejo do chão, guardei-as junto com as chaves no bolso e empurrei a maçaneta. O apartamento dela cheirava a morango, baunilha, tão suculenta, minha boca saliva apenas de imaginar degustar tal sabor. Tirei meus sapatos e chamei Batman estalando a língua, o grande gato rajado não apareceu, ele deveria estar profanando a cama dela, satisfeito de ter seu amor e devoção. Liguei a luz da cozinha sem medo, Kess tinha um sono tão profundo que eu poderia fazer uma vitamina de banana agora mesmo deixando o liquidificador na potência máxima e ela não acordaria, as pílulas que Kess tomava dopariam um cavalo. Guardei algumas coisas que ela havia esquecido em cima da mesa dentro da geladeira, enchi os dois jarros com água também, deixados na prateleira sem uma gota d’água. inspirei mais uma vez o cheiro dela, todo o lugar cheirava a sobremesas, incluindo os jarros de água. Tirei
Nós nunca deveríamos ter criado aquela história. Eu jamais deveria tê-los feito sofrer, as coisas que imaginamos e escrevemos naquelas páginas era para ser algo divertido para duas adolescentes com hormônios à flor da pele passarem o tempo, e não sermos os monstros da história de duas crianças. Os dois irmãos que eu passaria a amar mais que a mim mesma, eu os fiz se transformar nas criaturas que eles mais odiavam. O meu eu inocente, sem conhecimentos das barbaridades que lhes aconteceriam chegou em casa, um apartamento minúsculo para encontrar Ester debruçada, escrevendo ferozmente no seu notebook roxo, ela estava editando a história que criamos anos atrás. Como toda boa história deve começar, com chamas, caos, gritos e sangue. Foi assim que começamos: Mais uma noite que não consegui dormir, meu irmão mais novo não sabia das coisas que estavam acontecendo e caiu feito pedra no travesseiro, ele não costumava ter medo, entretanto, esses últimos dias, Claus tem dormido comigo, ele
Minha melhor amiga me olha por um longo tempo depois de ler o primeiro capítulo que criei, a ideia inicial não era essa, eu só… derramei toda maldade que eu estava sentindo naquele papel e criei isso. As palavras fluíram sem muito esforço, precisava colocar para fora o que se encontrava entalado. — Não gostou? — Está bom, realmente bom. — Por que está com essa cara então? — perguntei desconfiada. — É a única que eu tenho — ela ri — Falando sério, você matou toda a família deles! Muito cruel. Para sua sorte são apenas personagens — respondeu abrindo seu fichário, agora era a minha vez de avaliar seu trabalho, nossas histórias se complementam e eu estava encarregada de criar um passado sombrio para um ser sombrio e sarcástico. Peguei o fichário que Ester me estendeu, totalmente desconfiada da cara que ela fazia, cheia de expectativa e levemente tendenciosa. O cateter nasal dela, nem se quisesse poderia esconder. — Eu vou me arrepender de ler isso — murmuro para mim mesm
— Está liberada, vá ao hospital, não esqueça de pegar atestado para a tarde de hoje — eu ranjo os dentes, mas fico calada, não tem como ele manipular quantos dias de atestado eu vou pegar, afinal só um médico pode avaliar quantos dias é que eu preciso. Antes que eu posso sair de fininho meu gerente diz o que eu temia: — Acho que terei que repensar sua promoção Maria. Não pude impedir o tique nervoso nos meus olhos, ele seriamente estava me dispensando? Eu aguentei anos de abuso dos clientes, um funcionário idiota sempre comia meu lanche, se espreitando na copa, e ele me fazia trabalhar na reposição de produtos, pegando caixas pesadas, na zeladoria, no caixa, eu fui contratada para ficar no guarda volumes de merda, sentada! pelo amor de Deus! Meu gerente me olha com pena, eu sei que esse desgraçado só está só fingindo, é a mesma cara que ele faz para os clientes. Seguro minha mão dolorida e rosno de dor. A única coisa que desejo é arrastar a cara dele no asfalto, mas infelizme
Por um momento achei que Fernando viria atrás de mim, olhei para trás com a esperança de ve-lo sair da casa. Andei a passos lentos, esperando a porta se abrir, e ele correr atrás de mim, na verdade contava com isso. Depois de uma eternidade virei à esquina, me senti um lixo por cogitar voltar. Não imaginava minha vida sem ele, apressei o passo. A qualquer momento minha dignidade poderia falhar e eu voltar. Eu sabia que era errado, mas os sentimentos não se importam, eles só queriam mais daquela doce droga chamado carinho, Fernando parecia sentir quando eu estava tensa e fazia cafuné, os olhos dele eram calorosos e atentos, ela sabia tudo sobre mim, e isso me fez sentir um estranho vazio, como ele pôde quando sabia o quando eu tenho pavor de ser deixada para trás. O sentimento que mais temia voltou naquele momento com tudo, o abandono, não mais enxergava nada, com o mar tempestuoso nos meus olhos. Corri, só queria chegar em casa e me apossar da cama de Ester. Queria me sentir segura
Por nossas condições nada sadias dificilmente presenciávamos brigas em Santa Bárbara, não por falta de motivos, nossas energias eram melhor utilizadas em outras atividades, mas eu nunca vi sangue, mesmo quando recebia medicamento nas veias ou quando um colega se machucava, nunca ví porque, de alguma forma, sentia o cheiro antes que o líquido vívido jorrasse para fora e olhava para o outro lado. O destino resolveu mediar essa situação com juros abusivos, pois eu estava no meio de algo sangrento, cerrei os olhos tentando me situar depois da queda. O que presenciei próximo a mim assemelhava-se a um set de ação, não entendia que tipo de arma usavam para fazer rasgos profundos na pele de seus oponentes obrigando a cor escarlate a sair, respingando em todos os lugares. Eles estavam usando as próprias mãos? Como isso era possível?! A sinuosa luz da lua avermelhada se espelhou no rio fazendo juz a um aquífero de sangue.O que poderia descrever como tudo, exceto como homens, lutavam às