CAPITULO 03

Madson Cox

Desperto sentindo sua respiração calma nos meus cabelos, uma das mãos dele segura minha cintura como se temesse que eu fosse embora a qualquer momento, e é isso mesmo que irá acontecer dentro de alguns instantes. Me viro para ver seu rosto lindo de traços fortes e rústicos. 

— Meu peão lindo de capa de revista — aliso sua barba rala, e ele continua dormindo serenamente. Tudo isso foi bom enquanto durou, agora eu preciso focar no meu futuro. Um futuro no qual posso ter ao meu lado um homem como o Owen, e sei  que o que vou fazer irá quebrar seu coração, mas é necessário. Mas já não posso, está na hora de crescer, de ver a vida em outra perspectiva. — Eu sinto muito meu peão, eu amei cada momento com você, mas está na hora de eu trilhar o caminho pelo qual fui destinada. Eu jamais deixarei de amar você, e espero que um dia  me perdoe.

Me levanto bem devagar e recolho minhas roupas. Coloco o vestido e depois a jaqueta de couro e as botas. Retiro a carta da bolsa e coloco por cima do amontoado das roupas dele, parada na porta da pequena cabana o encaro uma última vez e saio sem  olhar pra trás. Saio dirigindo indo em direção a fazenda chorando e sentindo uma dor insuportável no coração, eu estou deixando o homem que amo para trás. Ainda é de madrugada, não devem nem passar das quatro da manhã ainda, o tempo passou tão rápido que não me dei conta. É sempre assim quando estou com o Owen.

Chego na fazenda e estaciono meu jipe depois de me acalmar. A casa escura e silenciosa me recebe quando abro a porta principal, tiro as botas e caminho em direção às escadas bem devagar para que ninguém me ouça. Quando eu estava percorrendo o segundo degrau a luz da sala é ligada e eu quase levo um susto. Minha mãe. 

— Estava em mais dos seus encontros com aquele peão sujo e suado que fica mendigando a sua atenção? — Me viro para encara-la — não sei em que momento você olhou para aquele pobretão, mas fico feliz que finalmente tenha dado um ponto final nessa história que não levará a lugar nenhum. E espero que a partir de hoje você pense muito bem nas suas ações Madison, espero que seu envolvimento com esse rapaz tenha servido de lição. 

— Sim mãe, a senhora tem razão. Meu envolvimento com ele nunca teria chegado a lugar nenhum. 

— Tomara que seu pai nunca descubra. Ou terá um grande desgosto se souber. Arrume suas malas que em dois dias você irá pra Londres passar uma temporada com seus tios e suas primas, e amanhã receberemos a visita dos Wilson — sem mais a escutar continuo subindo as escadas até chegar no meu quarto. Me jogo na cama e fico pensando no ocorrido. Em tudo o que aconteceu na minha vida desde o dia que conheci Owen nos estábulos da fazenda. E do quanto tudo isso poderá influenciar meu futuro.

Owen Ramirez

Tateio a velha cama em busca do corpo quente da Madison mas apenas sou recebido pelo espaço vazio e frio. Fico em alerta e então desperto atento olhando em volta procurando por ela. 

— Madison?! — Chamo por ela, mas a única coisa que recebo como reposta são alguns barulhos de insetos noturnos e de alguns galos cacarejando a distância. Onde será que ela está? Me levanto da cama e começo a colocar minhas roupas, quando eu estava pegando a camisa para vesti-la vejo um papel caindo. Parece uma carta da Madison. 

Owen, sei que os últimos dois anos emque ficamos juntos foram os melhores, eu também gostei muito de tudo o que esse tempo pôde nos proporcionar. Mas está na hora de sermos realistas e cada um seguir o seu caminho. Nós nunca teríamos futuro, e você sabe. Nossas classes sociais são um obstáculo para qualquer coisa séria entre nós. Espero que você me entenda, por favor não me procure mais. Ache uma mulher que te ame de verdade. Porque o que nós tivemos foi apenas sexo. 

Adeus

Madison 

Eu mal consigo raciocinar direito com essas palavras ainda reverberando na minha mente, estou quase perdendo o chão o ar e até a droga da minha sanidade, isso não pode acabar assim. Ela não pode me deixar sem mais nem menos, sem uma explicação plausível. Eu não aceito esse término, por isso vou agora mesmo pedir a mão dela no patrão, ele eu sei que é mais sensato e não irá me negar isso, não depois de eu ter sido o primeiro homem na vida da filha dele. 

Sem pensar muito seguro a camisa a carta e as chaves da camionete para ir embora. Mas antes que eu pudesse dar três passos após atravessar aporta sou recebido por um soco forte que me j**a no chão e me deixa meio confuso ainda sem entender o que está acontecendo. Eu mal pude reagir e comecei a receber chutes nas costas e na barriga, tento proteger a cabeça desses socos, mas não adianta muito, eles me pegaram desprevenido e o que posso fazer nesse momento é proteger os lugares mais frágeis.

— Anda,  segurem esse desgraçado — meus braços são erguidos por dois homens encapuzados, tento me soltar mas não consigo pois já estou meio fraco e eles estão me mantendo ajoelhado. O homem a minha frente que parece ser o chefe está parado arregaçando as mangas, e vejo um sorriso sádico em sua boca. Mesmo em meio a escuridão e ele vestindo aquela máscara preta. 

— O que vocês querem? Eu sou apenas um peão não tenho dinheiro cara — ele não respondeu, apenas me deu mais dois socos que fizeram minha boca sangrar, o sangue é tanto que até me engasgo buscando respirar devagar. 

— Não queremos roubar você peãozinho, sabemos que não tem nada a oferecer, é tão pobre que se quer tem onde cair morto. Só queremos nos divertir um pouco — e então ele me deu um soco no abdômen, e depois disso desferiu incontáveis socos no meu rosto, em algumas vezes acertando a minha orelha que ficou zumbindo como o inferno. Quando achei que eles iam me cortar finalmente pararam de me bater e me jogaram no chão de terra como se eu fosse um lixo, meu rosto foi de encontro com o chão, comecei  a tossir por causa da terra que estava entrando na minha boca. Meus olhos estão  inchados que eu mal conseguia  ver um palmo a minha frente. 

Todo o meu corpo está doendo, eu sinto tanta dor que até  lágrimas molham meu rosto  fazendo os machucados  do rosto arderem, vejo o exato momento em que os três homens caminham em direção a um carro, dão partida e me deixam ali no chão machucado, gemendo de dor e impossibilitado de me mover pra qualquer coisa que for. 

Desperto ouvindo algumas vozes ao redor. Tento abrir meus olhos mas meus músculos faciais se contraem provocando uma dor dilacerante. Vou esforçando meus olhos até que consigo mantê-los abertos. 

— Meu filho graças a Deus que você acordou — minha madrinha se aproxima e senta na borda da minha cama, e só agora me dou de que estou no meu quarto. — Está sentindo muita dor? 

— Um pouco. Não se preocupe madrinha eu vou ficar bem — ela chora e começa a insultar os bandidos que me atacaram. 

— A gente já nem pode andar no meio da noite nessas terras que já somos atacados meu Deus — eu realmente estou quebrado. Precisei da ajuda do meu padrinho e do meu melhor amigo pra chegar no banheiro. Tomei um banho e eles praticamente tiveram que me vestir com uma calça de moletom, não tem pior coisa do que homem precisar de outras pessoas para se vestir, isso acaba com a dignidade de qualquer um. 

Quando eles finalmente me colocam na cama eu agradeço, não que eu não pudesse fazer todas essas coisas sozinho, mas fui aconselhado a não fazer esforço, principalmente hoje que estou tomando a medicação forte. Minha madrinha trás uma sopa e começa a me dar a mesma atenção que ela me dava quando eu era adolescente e ficava doente. 

— Não precisa me tratar como um bebê madrinha. Eu ainda posso comer por conta própria. 

— Você sabe que não me importo. Eu gosto de cuidar dos homens da casa. Sei muito bem o quanto vocês ficam birrentos quando estão doentes — ela começa a me dar a sopa  na boca enquanto o Charles fica fazendo piadas e me chamando me bebezão. Quando a madrinha vai embora eu finalmente posso perguntar para meu melhor amigo sobre a minha mulher. 

— A Madison veio me ver? — Pergunto em espectativa. Eu ainda não engoli aquela história de separação e cada um seguir seu caminho, não foi assim que pensei em nós dois no futuro. 

— Eu não sei como te dizer isso mas preciso dizer, afinal de contas eu sempre te falei que esse envolvimento com a filha dos patrões não daria em nada. Só traria problemas pra você Owen — continuo olhando pra ele aguardando a resposta para a minha pergunta — e não, a sua querida princesa não veio te ver. E olha que você dormiu o dia inteiro. Esquece ela Owen, eu li a carta que ela te deixou, estava nas suas coisas quando eu fui te procurar na cabana, estavam todos preocupados porque você não voltava para casa. Aí fui te procurar no vosso ninho de amor e achei você desmaiado naquele chão de terra fritando no sol da manhã. 

— Eu não posso Charles. Ela é a mulher da minha vida, não posso se quer imaginar respirar sem ter ela por perto. Levar essa surra não doeu nada se comparado ao momento em que li aquela carta. Eu preciso falar com ela Charles. 

— Owen acorda. Ela deixou muito claro que não pode ficar com você porque você não passa  de um peão que não tem onde cair morto, sem ofensas. Ela está aguardando algum desses riquinhos filhos de uma figa para se casar e até já achou... — imediatamente me viro pra encara-lo. — Merda

— O que você disse? — Já posso sentir meu corpo  reclamando pelo meu súbito esforço de me levantar da cama, mas não me importo. — O que você quer dizer Charles, fala logo. 

— Tarde ou cedo eu ia te dizer mesmo. Eu sinto muito cara, mas hoje eu vi a sua querida Madison passeando com um engomadinho pela fazenda. Sabe aqueles tipos engravatados que andam sempre com o queixo erguido como se fossem os donos do mundo? Deu pra entender que eles se dão bem. 

— Isso não é possível. A minha Madison não faria algo  assim comigo — não depois de tudo o que vivemos juntos, de todas as promessas que fizemos — eu preciso ver ela. 

Me calo assim que a porta do meu quarto é aberta e meu padrinho entra por ela junto com o xerife. Dou meu depoimento mas o xerife faz perguntas tendenciosas querendo saber o que fazia ali a aquela hora da madrugada, se tinha algum inimigo declarado. Ou se tenho alguma dívida não paga. 

Eu não estava entendendo o rumo daquelas perguntas estranhas, eu apenas disse o que aconteceu. Escondi o fato de ter tido um encontro com uma mulher, sei que se tivesse dito isso ele teria perguntando o nome  e obviamente que eu não daria o nome. 

— Muito bem Owen. Nós iremos investigar o ocorrido. Por favor não saia da cidade — olho para meu padrinho e para meu amigo sem entender nada. Quando o xerife se vai meu padrinho me olha sério e pede que o Charles vá embora. 

— Agora desembucha. 

— Eu não fiz nada de errado padrinho. Isso eu te garanto. O senhor me conhece e sabe que eu nunca me envolveria com coisas erradas. Eu simplesmente fui surpreendido por três bandidos quando estava saindo do meu encontro, só isso. — Meu padrinho assente me dá boa noite e diz pra eu descansar. Ele é praticamente um pai pra mim, jamais faria algo para o prejudicar. Ele e meu avô eram grandes amigos, quando meu avô morreu eu já sabia para onde deveria ir, sempre fomos apenas eu meu avô e minha mãe. Os dois me deixaram e agora só tenho meus padrinhos, e jamais faria algo que os magoasse. Eles são os pais que nunca tive.

Quando os remédios resolveram fazer seu trabalho eu não consegui lutar contra isso e acabei pegando no sono instantemente. 

No dia seguinte eu acordei melhor, com menos dores e disposto a voltar ao trabalho aos poucos, e também com o objetivo de falar com ela. 

Depois de me vestir, tomei o café da manhã com minhas ideias fervilhando na cabeça. Não me aguentando mais de ansiedade eu caminho até o quarto e pego a caixinha que contém aquele singelo anel de noivado. Sem querer perder mais tempo caminho até a casa grande cumprimentando alguns colegas que lamentam o ocorrido. Até que me cruzo com o capataz e seu grupo 

— Nossa Owen que surra você recebeu hein — todos eles riem, mas o que diz no fim me chama minha atenção — toma cuidado com o que você anda fazendo, não esqueça que você e seus padrinhos moram nessas terras por caridade. De um momento para o outro podem ficar até sem teto. 

Saio andando em direção a grande casa ainda pensando nas palavras do capataz, poucas vezes entrei ali. Peões não têm autorização pra frequentar a casa grande, apenas os que estão sempre em contato com o patrão. Resolvo usar a entrada dos fundos, e tal como era de se esperar encontro minha madrinha na cozinha. 

— Owen? Aconteceu alguma coisa meu filho? Está sentindo dor? Seu padrinho está bem? Aquele velho torrão aprontou não foi? E o que está fazendo aqui parado estando machucado desse jeito garoto?

— Não madrinha, o velho não fez nada não. Nem aprontou e eu estou bem  — falo olhando a porta que provavelmente leva para os outros cómodos da casa. 

— Então o que está fazendo aqui? Não era suposto você estar de repouso? — Ela indaga com as mãos na cintura. 

— Sim, eu estou bem. Não preciso ficar mais acamado como se fosse um inválido — ela revira os olhos e continua cortando os legumes — a senhora sabe se a patroa está em casa? 

— Ela deve estar na cidade, você sabe como ela gosta de fazer essas coisas de caridade com a igreja — ela está falando da senhora Cox, mas não é essa que eu procuro. — Eu vou pedir leite lá nos rapazes, vê se volta pra casa e descansa. 

Ela sai sem imaginar a minha rebeldia. 

Caminho pela sala enorme e silenciosa, vejo uma escada e resolvo subir até o andar de cima, estou ouvindo vozes de mulheres rindo. Pelo corredor vejo uma das portas entreaberta e sei que é do quarto da Madison.

— Madie, Você é mesmo má. Você não ouviu que o pobrezinho foi espancando? 

— E o que você quer que eu faça Lisa? O meu lance com o Owen foi bom enquanto durou. Está na hora de cada um seguir seu caminho e você mas do que ninguém sabe o que a minha rebeldia implica — engulo em seco ao ouvir suas palavras assim tão secamente. Ponho minha mão por cima do bolso da calça e posso sentir a caixinha que contém o anel. 

— E você vai mesmo pra Londres sem ao menos se despedir dele? Ele aparece te amar de verdade — o quê? Como assim Londres? 

— Mas eu não o amo. Era só sexo Lisa. Ele me deu os melhores orgasmos e foi bom enquanto durou. Ele vai superar o término, preciso pensar no futuro. E você devia fazer o mesmo ao invés de ficar suspirando pelos cantos toda vez que vê aquele aprendiz de veterinário passando. Por isso continua virgem. 

— O nome dele é Charles, e é o melhor amigo do Owen. Você não devia falar assim Madison. Isso é cruel. 

— Não sou cruel Lisa, a vida é que é cruel. 

Sem chão, e sem entender muito bem o que acontece a minha volta eu resolvo não falar com ela ainda, preciso ir pra minha casa e organizar minhas ideias, mas não posso deixar a única mulher que fui capaz de amar escapar dessa  forma das minhas mãos.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo