CAPITULO 05

Madison

 

Quatro anos depois

Nova Iorque

— Você tem certeza que é isso que você quer? — Ouço a advogada me perguntando quando me entrega os papéis para eu poder ler. E na verdade não sei o motivo de ela estar me perguntando isso se é para isso que ela foi contratada, pra defender os meus interesses. Suspiro e dou mais uma conferida nos papéis, eu já devia ter feito isso há muito tempo. Isso não é mais sobre mim, os últimos anos me ensinaram isso. 

— Tenho sim doutora. Isso é o melhor — falo meio triste encarando a imensidão da maior cidade do país pela janela do edifício. De imaginar que tudo o que eu mais queria na adolescência era vir morar em Nova Iorque e ter um marido rico. Mas cá estou eu agora, com vinte e cinco anos e assinando os papéis do divórcio após aturar várias e várias traições, maus tratos e humilhações. Eu não podia mais suportar aquela situação. — O advogado do Mathew disse mais alguma coisa? Eles ainda vêm?

Ele ainda não assinou os papéis. Mas para ele, se divorciar não faz diferença nenhuma, provavelmente está ocupado com o trabalho, como sempre esteve desde o dia em que nos casamos. É incrível o quanto a vida pode esconder certas façanhas das pessoas, fui uma iludida e paguei durante quatro anos cheios por isso. 

No meio de tudo isso, a única coisa que trás sentindo pra nossa vida é a minha filha, minha princesa. Ela é praticamente o ar que eu respiro, é só por ela que estou me divorciando, não posso cometer o erro de colocá-la num lar onde ela não será feliz, hoje em dia não me importo de ser mãe solteira. 

— O meu colega assim como o senhor Walker ainda não compareceram. Mas... 

— Bom dia. — Somos interrompidas pela chegada de dois homens — meu futuro ex marido e seu advogado, — finalmente iremos resolver isso de uma vez por todas. Por favor sejamos rápidos tenho mais o que fazer. Deixei vários compromissos pra poder estar aqui.

Ele e seu ego enorme como sempre o acompanhando. É óbvio que ele sempre tem mais o que fazer. Quando contei que queria me divorciar ele nem se opôs e muito menos demonstrou algum tipo sentimento por isso. Digamos que Mathew é como o grande rei dos negócios aqui em Nova Iorque, o trabalho dele é comprar empresas a beira da falência fazê-las lucrar e depois vendê-las cinco vezes mais caras. Ou seja, ele é um homem muito poderoso e milionário, esse é um dos motivos que faz com que minha mãe praticamente me trate mal nos últimos tempos, mas eu não podia mais aguentar aqueles maus tratos. 

Os berros por tudo ou nada, as intimidações, os empurrões contra parede, as puxadas de cabelo. Sabia que dali íamos evoluir para t***s, socos e cintadas. Resolvi cortar o mal pela raiz. Desde o dia que minha filhinha me flagrou chorando no banheiro, nunca vou esquecer esse dia, a carinha triste que ela fez, o jeito que me acalentava. Nesse dia eu descobri mais uma de suas traições, ele simplesmente disse que eu não era nada e por isso tinha que ficar calada. Ele disse que procurava fora o que não tinha em casa, a paixão e o fogo.

E de certa forma ele tinha razão, eu nunca fiz uma faculdade, eu apenas cuidava da casa e me cuidava para ficar bonita para o meu marido e principalmente eu cuidava da minha filha. Não queria babá nenhuma, eu queria ser uma mãe presente na vida dela, ela é tudo o que eu tenho e dinheiro nenhum no mundo irá me separar dela.  

Quando o juiz perguntou o motivo do divórcio eu falei de tudo o que aconteceu no nosso casamento, obviamente que o Mathew negou tudo, ele teve o apoio da víbora da mãe. E como o juiz era praticamente do círculo de amizades dele, as acusações foram negadas. Para todos ele é um homem íntegro e eu sou a esposa histérica que não sabe o quer da vida, é impressionante o que o dinheiro pode fazer. 

— E agora que estamos nos divorciando você vai voltar para aquela fazendinha no fim do mundo pra voltar a fazer vinhos? — Ele pergunta enquanto aguarda que seu advogado termine de ler os papéis — o bom de tudo isso é que você sairá sem um tostão. E fique sabendo que cada centavo que eu mandar para Beatrice eu vou monitorar por conta própria. Não pense que vai usar a criança para me tirar dinheiro — essa é outra coisa que o juiz estipulou, que ele deveria pagar a pensão alimentícia para Trice. Eu não podia negar, era uma boa quantia, eu não tenho emprego, não sei fazer nada para além de ser dona de casa. E esse dinheiro vai me ajudar a criar minha filha, eu não quero ouvir o tempo todo minha mãe falando sobre dinheiro. 

Pelo menos isso, ela tem de garantia. 

— Vamos assinar isso de uma vez. Tenho uma reunião em vinte minutos e odeio, me atrasar para algo que realmente importa — ele puxa os papéis e os assina. Eu já os tinha assinado. Em alguns dias estaremos oficialmente divorciados. 

— Muito bem. Agora que ambos já assinaram, o resto pode ser acordado entre os dois mais pra frente. Falo exatamente sobre como será a gestão da pensão e sobre os dias de visita do meu cliente a filha de vocês — era isso ou ele ia também querer cismar em tirar minha filha de mim. 

— Sobre isso eu e a Trice vamos para Houston amanhã cedo. Eu quero passar uma temporada com ela — eu nunca mais voltei pra Houston desde a noite que fui embora a quatro anos. A Trice conhece os avós, eles vêm de vez em quando pra Nova Iorque nos visitar, minha amiga Lisa que por acaso está casada, também veio um par de vezes me visitar. E acho que já passou da hora da minha filha conhecer a fazenda, toda vez que conto sobre os animais e o campo ela fica com aqueles olhinhos azuis arregalados de tão impressionados. Já imagino a carinha dela quando ver todos aqueles animais, até um cavalo ela já ganhou do meu pai, apesar dele não estar  com a saúde muito boa sei que vai amar ter a neta por perto pra ensina-la cada coisa. 

Parece que a fazenda não está passando por um bom momento, e isso está afetando a saúde do meu pai, esse é um dos motivos que me fez querer deixar minha vida aqui em Nova Iorque e voltar pra fazenda. Os vinhedos morreram e já alguns meses não produzimos mais vinhos, apenas algumas culturas continuam sendo produzidas.

— Hum tanto faz. Só me avisa quando voltarem. — Ele pega o sobretudo preto  e sai andando colocando os óculos escuros sem ao menos se despedir. Me despeço da advogada e saio andando rumo ao apartamento onde estou ficando com a minha filha nas últimas semanas. As malas estão quase  prontas. Não posso negar estou animada de poder voltar pra casa. Mas também sinto muita insegurança, Mathew me humilhava dizendo que casei com ele por dinheiro, esfregava na minha cara que eu era interesseira. Várias vezes eu me senti inferior, indigna de qualquer coisa boa. Na verdade eu mesma não me achava digna de muita coisa na vida. 

Principalmente depois do que eu fiz. Eu nunca fui essa mulher segura e empoderada que todo mundo via, e isso ficou ainda pior quando me casei com o Mathew, nosso casamento era na base da submissão e várias vezes eu me vi pensando que era um castigo de Deus por eu ter quebrado o coração de um homem tão bom quanto o Owen. 

O meu Owen. 

Aonde quer que ele esteja deve estar me odiando, se ao menos tivesse uma oportunidade de poder me desculpar. 

Céus! 

Resolvo parar de remoer o passado, isso sempre me deixa pensativa e não quero estar com esse semblante perto da minha filha. 

Quando chego no apartamento sou recebida por um pequeno furacão. 

— Mamãe — largo minha bolsa no chão e pego ela nos meus  braços e começo a fazer cócegas na barriguinha dela, ela ri como nunca — para mamãe, senão meu coração vai parar aí eu vou cair durinha no chão e ter um taque cadia. 

De todas as palavras difíceis que existem ela cismou com ataque cardíaco. Cumprimento a moça que ficou encarregada de cuidar da minha filha enquanto eu estava fora. Ela é uma das funcionárias da casa do Mathew, uma das poucas pessoas  a quem eu confiava os cuidados da minha filha. 

— Mamãe olha desenhei o Matt.

— E quem é o Matt? — Pergunto sem entender nada. Me abaixo na altura dela e dou um beijo na testa dela. Ela me entrega o desenho 

— O meu cavalo mamãe — ela fala de um jeito dramático como se eu fosse a lerda que não entende nada. 

— Ha tá. 

No dia seguinte

Houston, Texas

Não sei como pude ficar tanto tempo longe deste lugar. Um lugar tão lindo de ar puro e cheio de cor, muito diferente do clima melancólico e ar pesado de Nova Iorque. E está tudo como eu me lembro, os campos estão lindos cheios de alguma plantação apesar da fazenda não estar nos seus melhores momentos, ainda não me dei tempo de visitar tudo, mas amanhã vou sair numa empreitada para ver como está cada canto das terras, meu pai me disse que resolveu dar um ar mais modernizado para fazenda e trazer novas culturas também assim como o maquinado. 

O que eu acho muito bom, grandes produtores de cereais e frutas ou vegetais estão investindo muito no mercado de produtos orgânicos hoje em dia, e sei que se ele fizer isso também terá muitos lucros. Estou aqui para ajudar e espero ser útil. 

— E então como foi a viagem? — Saio do meu devaneio quando escuto minha mãe me fazendo a pergunta. 

— Foi tudo bem. Apesar da Trice não ter ficado muito sossegada no percurso. Ela queria ficar o tempo todo andando no avião mas não podia — minha mãe me olha com aquela cara de quem vai dizer algo que tenho certeza que não vou gostar.

— Se ela estivesse no jato do pai, com certeza faria o que ela quisesse sem se preocupar em quebrar nada. 

— Mãe não começa tá bom? — Pergunto passando a mão na testa — a senhora precisa aceitar de uma vez por todas que meu casamento com o Mathew acabou, e não há mais volta. 

— Eu nunca vou aceitar isso. Eu tinha arranjado o marido perfeito pra você. Se não tivesse sido tão estúpida sua filha seria a única herdeira, mas agora que o pai está solteiro, com certeza alguma interesseira irá engravidar dele só pra prende-lo — se tornou praticamente impossível ter uma conversa com minha mãe. 

— A senhora está mais preocupada com a herança do que com nosso bem-estar. Eu contei pra você sobre as traições do Mathew, contei as coisas horríveis que ele fazia comigo quando brigávamos. Eu sinto muito mas eu não ia ficar a espera de levar uma tapa na frente da minha filha pra sair daquele casamento — ela me olha com a cara emburrada e não responde mais nada. 

Continuo observando minha filha que brinca com um coelhinho branco muito fofo ao lado do avô, meu pai está meio abatido e isso está me preocupando, quando falávamos pelo celular ele dizia não ter nada com me se preocupar. Ele me enganou.

— A senhora não acha que meu pai está um pouco abatido mãe? 

— Sim já reparei. Mas ele é um teimoso. Ainda acha que tem trinta anos — ela fala revirando os olhos. Somos interrompidas por uma das funcionárias que pergunta o que deve ser feito para o almoço — fale para Mary preparar lombo de porco defumado com vegetais. 

— Mary? E o que aconteceu  com a Marisa? — Estou praticamente fervendo de curiosidade. Será que ela e o marido foram embora com o Owen? Não tenho coragem de perguntar nada sobre ele. 

— Ela e o marido se aposentaram uns meses depois que aquela delinquente foi embora. — Ela abana o leque enquanto olha para o campo, como se falar de Owen fosse algo tão insignificante que não mereça sua atenção, mas ele não é um simples delinquente, pelo menos para mim — eles vivem bem pelo que ouvi. De vez enquanto o velho ajuda o seu pai em algumas coisas da fazenda. 

— Háah — tomo um gole do suco de laranja e fico remexendo no celular tirando inúmeras fotos da minha filha. 

— Mad — me viro e me meus olhos se deparam com uma Lisa sorridente subindo as escadas da varanda. Me levanto e vou até ela para abraça-la. — Uau, como você está linda. Melhor ainda de quando te vi no meu casamento a seis meses. — Ela me olha com admiração, mas eu a estou admirando ainda mais, ela está tão linda e tão adulta. Até as roupas dela mudaram. O estilo dela agora á mais elegante.  

— Você está linda. Com certeza é a esposa de um senador da república — a família da Lisa está muito envolvida na política a, no fim ela se casaria com alguém do meio politico também.  — Uma pena que enquanto você entra no seu casamento eu estou saindo. 

— Eu sinto muito que tenha acabado assim. — Ela lamenta tocando minha mão enquanto nós sentarmos no sofá — meu Deus a Beatrice está tão lindinha. 

Silly Roberts

Gente eu escrevi um capitulo muito longo e não coube aqui, mas eu dou um jeito. De volta a cidade nova, será que ela vai realmente curtir o novo estilo de vida numa cidade rural. será que ela saiu de um casamento toxico pra se meter em outro lugar ainda mais pior.

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